E aí, doc! Vamos explorar mais um tema essencial? Hoje o foco é a Presbiacusia, a perda auditiva progressiva relacionada ao envelhecimento, causada pela degeneração das estruturas do ouvido interno.
O Estratégia MED está aqui para descomplicar esse conceito e ajudar você a aprofundar seus conhecimentos, promovendo uma prática clínica cada vez mais eficaz e segura.
Vamos nessa!
Navegue pelo conteúdo
Definição de Presbiacusia
A presbiacusia é a perda auditiva progressiva associada ao envelhecimento, caracterizada por uma degeneração das estruturas auditivas. Trata-se de uma perda neurossensorial bilateral e simétrica, afetando inicialmente frequências altas (acima de 2000 Hz), com posterior impacto na discriminação da fala, podendo levar a isolamento social e depressão.
O processo envolve alterações celulares e vasculares, incluindo redução da mitose celular, acúmulo de lipofucsina, hipóxia coclear e formação de radicais livres, que danificam o DNA mitocondrial e comprometem o neuroepitélio auditivo. Há também degeneração da cóclea, das vias auditivas centrais e do labirinto posterior, além da perda progressiva de neurônios cocleares e vestibulares.
A prevalência aumenta com a idade, afetando cerca de 25% dos indivíduos entre 65 e 75 anos e até 60% dos maiores de 70 anos. Fatores como tabagismo, exposição ao ruído, doenças metabólicas e uso de fármacos ototóxicos podem agravar o quadro. Não há cura, mas aparelhos auditivos e terapias antioxidantes, como o possível uso do resveratrol, estão sendo estudados para minimizar seus efeitos.
Desenvolvimento da Doença
A presbiacusia se desenvolve de forma progressiva ao longo do envelhecimento, sendo resultado de múltiplos fatores celulares, metabólicos e vasculares que comprometem a função auditiva. O processo inicia-se com alterações na cóclea e nas vias auditivas centrais, levando à perda auditiva neurossensorial bilateral e simétrica, predominantemente em frequências altas.
Com o avanço da idade, ocorrem mudanças degenerativas, como a redução da capacidade de mitose celular, acúmulo de lipofucsina e alterações químicas no fluido intercelular. A hipóxia coclear, causada pela diminuição do fluxo sanguíneo e pela formação de radicais livres, provoca lesões no DNA mitocondrial e gera mutações que reduzem a eficiência bioenergética das células auditivas.
Além da cóclea, a degeneração atinge a estria vascular, responsável pelo suprimento de oxigênio e nutrientes ao sistema auditivo, e o labirinto posterior, afetando estruturas vestibulares como os otólitos saculares e utriculares.
A perda neuronal ocorre tanto na cóclea quanto nas vias auditivas centrais, com uma estimativa de redução de até 50% dos neurônios do núcleo coclear dorsal e ventral aos 80 anos.
Inicialmente, a perda auditiva não interfere na comunicação, pois as frequências da fala são preservadas. No entanto, com a progressão do quadro, surgem dificuldades na discriminação de consoantes e no entendimento da fala, podendo resultar em isolamento social e impacto na qualidade de vida.
Classificação de Presbiacusia
A classificação da presbiacusia foi proposta por Schuknecht, que descreveu diferentes tipos com base nas alterações histopatológicas observadas no sistema auditivo de idosos. Segundo o autor, a perda auditiva pode ser atribuída a danos específicos em estruturas como as células ciliadas, os neurônios auditivos, a estria vascular e a membrana basilar.
Presbiacusia sensorial
A presbiacusia sensorial ocorre devido à degeneração progressiva das células ciliadas externas, localizadas na cóclea. Essas células são responsáveis pela amplificação e detecção de sons, especialmente nas altas frequências. A degeneração ocorre predominantemente na região basal da cóclea, afetando inicialmente os sons agudos.
Com o avanço do quadro, o indivíduo pode perceber dificuldades para escutar sons mais finos, como vozes femininas, campainhas e avisos sonoros. Apesar da perda auditiva, a compreensão da fala pode permanecer relativamente preservada nos estágios iniciais. No entanto, por se tratar de uma degeneração celular irreversível, o quadro tende a se agravar progressivamente.
Presbiacusia neural
A presbiacusia neural resulta da degeneração dos neurônios do gânglio espiral, que transmitem os sinais auditivos da cóclea para o cérebro. A perda auditiva nesse tipo pode ser leve, mas a principal queixa dos pacientes é a dificuldade em compreender a fala, especialmente em ambientes ruidosos.
Mesmo quando os sons são amplificados, a discriminação das palavras continua prejudicada. Isso ocorre porque os neurônios responsáveis pela transmissão dos estímulos auditivos não conseguem processar os sinais de maneira eficiente.
Esse tipo de presbiacusia pode estar associado a doenças neurodegenerativas, como a doença de Alzheimer, e compromete significativamente a qualidade da comunicação do paciente.
Presbiacusia Metabólica (Estrial)
A presbiacusia metabólica está relacionada à degeneração da estria vascular, uma estrutura da cóclea que mantém o potencial elétrico necessário para o funcionamento adequado das células auditivas. A redução desse potencial compromete a transmissão dos estímulos sonoros, resultando em perda auditiva progressiva.
Diferente dos outros tipos, a presbiacusia metabólica afeta de maneira mais homogênea todas as frequências, incluindo sons graves e médios. Como resultado, a percepção auditiva se reduz globalmente, mas a discriminação da fala pode permanecer relativamente preservada. Esse tipo de presbiacusia pode ter um componente genético e tende a progredir mais lentamente.
Presbiacusia mecânica (Coclear Condutiva)
A presbiacusia mecânica ocorre devido ao enrijecimento das membranas cocleares, especialmente a membrana basilar, dificultando a propagação das ondas sonoras dentro da cóclea. Esse endurecimento compromete a eficiência da transmissão mecânica do som, levando a uma perda auditiva progressiva.
Ao contrário da presbiacusia sensorial, que afeta mais as frequências agudas, a presbiacusia mecânica pode afetar todas as faixas de frequência de maneira gradual. O indivíduo pode perceber que os sons parecem abafados e menos nítidos, mesmo quando estão em volume adequado. O avanço desse tipo de presbiacusia é lento, mas progressivo.
Presbiacusia mista
A presbiacusia mista ocorre quando há a combinação de dois ou mais dos tipos mencionados anteriormente. Dessa forma, o paciente pode apresentar características tanto de perda auditiva em frequências específicas quanto dificuldades de discriminação da fala.
Esse tipo de presbiacusia costuma ser mais severo, pois envolve múltiplos mecanismos de degeneração auditiva. O tratamento é mais desafiador e pode incluir o uso de aparelhos auditivos ou outras formas de reabilitação auditiva para minimizar os impactos da perda auditiva na comunicação.
Diagnóstico de Presbiacusia
O diagnóstico da presbiacusia deve ser realizado por meio de uma investigação detalhada da história clínica do paciente, considerando fatores como hábitos pessoais, condições metabólicas, cardiovasculares, imunológicas, exposição ao ruído e uso de substâncias ototóxicas. A identificação de fatores desencadeantes ou agravantes é essencial, e exames laboratoriais gerais devem ser solicitados para uma avaliação abrangente.
Exames audiométricos
A audiometria tonal é um exame fundamental para o diagnóstico, revelando uma perda auditiva neurossensorial bilateral, geralmente simétrica e mais acentuada nas frequências agudas. A progressão da perda ocorre lentamente a partir dos 55 anos, com uma média de 5 a 6 dB por década.
A audiometria vocal auxilia na avaliação funcional da audição, analisando a discriminação vocal. Pacientes com presbiacusia podem apresentar regressão fonêmica, em que a capacidade de compreensão da fala é menor do que o esperado para os limiares auditivos tonais. Para uma avaliação mais precisa, esse exame deve ser realizado com ruído competitivo em campo livre.
Pesquisa de reflexos auditivos
Os reflexos do estapédio podem indicar comprometimento auditivo. No entanto, sinais de recrutamento, que normalmente confirmariam alterações cocleares, podem estar ausentes. Reflexos auditivos normais ou com limiares elevados são encontrados com frequência e sugerem que diferentes regiões do sistema auditivo podem contribuir para a perda auditiva no idoso.
Testes objetivos e função cognitiva
Exames como os potenciais evocados auditivos de médias e longas latências são utilizados para avaliar a função auditiva e cognitiva no idoso. O P300, em especial, tem sido relevante para diferenciar a presbiacusia de outras condições, como a demência. No idoso, observa-se um aumento na latência da onda P300, indicando um atraso no processamento da memória auditiva, mais do que um déficit puramente auditivo.
Veja também!
- Resumo de queilite angular: diagnóstico, tratamento e mais!
- Resumo sobre Glândulas Salivares: anatomia, função e mais!
- Resumo sobre síndrome de Ménierè: definição, tratamento e mais!
- Resumo sobre Barotrauma de ouvido: definição, manifestações clínicas e mais!
Referências!
PHMA, Fábio de Rezende; BENTO, Ricardo Ferreira (ed.). Manual de residência em otorrinolaringologia. Barueri, SP: Manole, 2018. ISBN 978-85-204-5066-6.