Resumo sobre Torção Ovariana: definição, tratamento e mais!
Fonte: UpToDate

Resumo sobre Torção Ovariana: definição, tratamento e mais!

E aí, doc! Vamos explorar mais um tema essencial? Hoje o foco é a Torção Ovariana, uma condição ginecológica aguda causada pela torção dos ligamentos que sustentam o ovário, o que compromete o fluxo sanguíneo para o órgão. Essa torção pode levar à isquemia e necrose tecidual, configurando uma emergência cirúrgica que exige reconhecimento e manejo rápidos.

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Vamos nessa!

Definição de Torção Ovariana

A torção ovariana é uma condição ginecológica aguda que ocorre quando o ovário gira parcial ou completamente sobre seus ligamentos de sustentação, como o ligamento infundibulopélvico, também chamado de ligamento suspensor do ovário, e o ligamento útero-ovariano. 

Essa torção provoca obstrução do retorno venoso, o que leva à congestão e ao edema do ovário, podendo evoluir para comprometimento do fluxo arterial, isquemia e, em casos mais graves, necrose do tecido ovariano.

Em muitos casos, a tuba uterina também é envolvida nesse processo, caracterizando a chamada torção anexial. O ovário possui um suprimento sanguíneo duplo, proveniente das artérias ovarianas e uterinas, e a interrupção desse fluxo compromete sua viabilidade. 

Por colocar em risco a integridade e a função reprodutiva do órgão, a torção ovariana é considerada uma emergência cirúrgica que requer reconhecimento e intervenção imediatos para evitar danos permanentes.

Torção ovariana e tubária demonstrando ingurgitamento vascular acentuado, bem como aumento de tamanho e distensão. A anatomia foi restaurada e ambas as estruturas foram salvas, apesar da aparência não viável. A seta grossa mostra o ovário torcido e aumentado (viável). A seta tracejada mostra a tuba uterina aumentada (viável). A seta indica a fímbria aumentada da tuba uterina (viável). Fonte: UpToDate

Fisiopatologia da Torção Ovariana

A torção ovariana ocorre quando o ovário gira sobre seus ligamentos de fixação, principalmente o ligamento infundibulopélvico e o ligamento útero-ovariano. Esse movimento rotacional provoca compressão dos vasos sanguíneos contidos no ligamento infundibulopélvico, comprometendo o retorno venoso e linfático, além de, progressivamente, reduzir o fluxo arterial para o ovário.

Inicialmente, o retorno venoso é o mais afetado, já que as veias têm paredes mais delgadas e são mais suscetíveis à compressão do que as artérias. Com isso, ocorre acúmulo de sangue e líquido no interior do ovário, levando a edema e aumento do volume ovariano, o que agrava ainda mais a compressão vascular. Com a continuidade desse processo, o fluxo arterial também se torna insuficiente, resultando em isquemia, necrose tecidual e hemorragia local.

A torção pode variar em gravidade conforme o número de voltas realizadas e a intensidade da torção dos vasos. Observa-se que o ovário direito é mais frequentemente acometido, possivelmente devido ao maior comprimento do ligamento útero-ovariano direito e ao efeito protetor do cólon sigmoide no lado esquerdo da pelve, que reduz a mobilidade do ovário esquerdo.

Etiologia da Torção Ovariana

A torção ovariana pode ocorrer em mulheres de qualquer idade, mas é mais frequente em mulheres em idade fértil. O principal fator predisponente é a presença de uma massa ovariana benigna, que aumenta o volume e a mobilidade do ovário, favorecendo a torção sobre seus ligamentos de sustentação.

Cerca de 20% dos casos ocorrem em pacientes pré-menarcais, e aproximadamente metade delas apresenta ovários normais, sem alterações estruturais. A gravidez também é considerada um fator de risco independente, devido às mudanças anatômicas e hormonais que aumentam a mobilidade ovariana. Estudos mostram que entre 8% e 15% das pacientes com torção estavam grávidas, evidenciando a influência gestacional nessa condição.

Manifestações clínicas da Torção Ovariana

Manifestações Clínicas da Torção Ovariana:

A torção ovariana caracteriza-se, classicamente, por um início súbito de dor pélvica moderada a intensa, podendo ser difusa ou localizada em um dos lados. Essa dor costuma ter caráter agudo, em cólica, em pontadas ou contínuo, podendo irradiar para o flanco, dorso ou região inguinal. Em muitos casos, o quadro é acompanhado de náuseas e vômitos, sintomas que geralmente surgem simultaneamente à dor.

Episódios de atividade física vigorosa ou aumento súbito da pressão abdominal podem precipitar a torção e devem aumentar a suspeita diagnóstica. A presença de massa ovariana é um achado frequente, observada em 86% a 95% dos casos, e costuma estar associada à dor descrita. A maioria das pacientes procura atendimento entre um e três dias após o início dos sintomas, embora existam relatos raros de dor prolongada decorrente de torções intermitentes.

Outros achados incluem febre baixa (em cerca de 2% a 20% dos casos), que pode indicar necrose anexial quando acompanhada de leucocitose. É importante destacar que, apesar da associação com massas ovarianas, a torção também pode ocorrer em ovários normais, especialmente em pacientes pré-menarcais, o que reforça a necessidade de um alto índice de suspeição clínica para o diagnóstico precoce.

Diagnóstico de Torção Ovariana

O diagnóstico da torção ovariana é desafiador e deve ser baseado em uma combinação de avaliação clínica, exame físico, exames laboratoriais e métodos de imagem.

Exame físico

Os achados ao exame físico são variáveis. A maioria das pacientes apresenta dor pélvica e/ou abdominal à palpação, que pode ser localizada ou difusa, embora até um terço das pacientes possa não apresentar sensibilidade significativa. Uma massa pélvica palpável pode estar presente, mas não é obrigatória. Em alguns casos, podem surgir sinais peritoneais, sugerindo necrose anexial, além de febre baixa, que reforça a gravidade do quadro.

Exames laboratoriais

Os exames laboratoriais (como β-hCG e hemograma) auxiliam na exclusão de diagnósticos diferenciais, mas não são específicos para torção ovariana. Em casos raros, pode haver anemia secundária à hemorragia de um cisto lúteo rompido torcido ou leucocitose associada à necrose do ovário. Marcadores inflamatórios como interleucina-6 podem estar elevados, mas não são utilizados rotineiramente devido à sua baixa especificidade.

Exames de imagem

A ultrassonografia é o método diagnóstico de escolha por ser amplamente disponível e não invasivo. Deve ser realizada, sempre que possível, com sondas transabdominal e transvaginal. A sensibilidade e especificidade médias são de 79% e 76%, respectivamente. 

O Doppler não melhora significativamente a acurácia, pois o fluxo pode estar presente, reduzido ou ausente, dependendo do grau de torção e da circulação colateral. Assim, a presença de fluxo não exclui o diagnóstico.

Outros achados ultrassonográficos incluem:

  • Ovário aumentado (geralmente ≥5 cm), com edema e folículos periféricos, caracterizando o sinal de “colar de pérolas”;
  • Pedículo torcido, achado considerado patognomônico, visualizado como o “sinal do redemoinho” (whirlpool sign), presente em até 90% dos casos;
  • Ausência de realce do estroma ovariano em exames contrastados, indicando redução da perfusão;
  • Presença de hemorragia intraovariana, hematosalpinx ou hemoperitônio em casos de necrose ou infarto hemorrágico.

A tomografia computadorizada (TC) não é indicada rotineiramente, mas pode ser útil na investigação de diagnósticos diferenciais não ginecológicos, como apendicite ou litíase renal. Sua sensibilidade varia entre 74% e 95%, e a especificidade entre 80% e 90%.

A ressonância magnética (RM) é indicada quando o ultrassom é inconclusivo, especialmente em situações que dificultam a visualização ovariana, como gravidez, miomas volumosos ou interposição intestinal. A RM tem sensibilidade de 81% e especificidade de 91%, sendo útil para identificar edema, hemorragia e ausência de realce do estroma ovariano após contraste, sinais característicos de torção.

Tratamento da Torção Ovariana

O tratamento da torção ovariana é uma emergência cirúrgica e tem como objetivo principal preservar a viabilidade do ovário e prevenir complicações graves, como necrose e infertilidade. A conduta depende da viabilidade do tecido ovariano, da idade da paciente e da suspeita de malignidade.

Distorção ovariana

Nas pacientes em idade reprodutiva, o tratamento de escolha é a distorção cirúrgica imediata, preferencialmente por videolaparoscopia, visando restaurar o fluxo sanguíneo e preservar a função ovariana. O procedimento consiste em destorcer manualmente o ovário e as estruturas anexiais, utilizando pinças atraumáticas ou sondas rombas.

Durante a cirurgia, se houver massa ovariana benigna, pode ser realizada cistectomia associada. Caso o edema ou o risco de lesão vascular impeçam a retirada do cisto no mesmo momento, o cisto pode ser drenado e a cistectomia definitiva programada para duas a três semanas após a detorção, quando o edema tiver diminuído e a dissecação for mais segura.

Estudos demonstram que o tratamento conservador é seguro e eficaz. A detorção não aumenta o risco de complicações como hemorragia, peritonite, tromboembolismo venoso ou sepse, e apresenta menor taxa de complicações perioperatórias quando comparada à ooforectomia. Entretanto, quando o ovário está irreversivelmente necrótico, a remoção cirúrgica torna-se necessária para evitar infecção e outras complicações.

Salpingo-ooforectomia

A salpingo-ooforectomia (retirada do ovário e da tuba uterina) é indicada em situações específicas:

  • Ovário não viável, com necrose evidente e perda da arquitetura normal;
  • Suspeita de malignidade, especialmente quando há achados compatíveis em imagem ou marcadores tumorais;
  • Pacientes pós-menopáusicas, nas quais o risco de malignidade e recorrência é maior.

Durante o procedimento, recomenda-se realizar a detorção antes da retirada, para melhorar a visualização anatômica e reduzir o risco de lesão ureteral.

Cuidados pós-operatórios

Após a cirurgia, a paciente deve ser monitorada para sinais de peritonite ou sepse, como febre, dor abdominal intensa e instabilidade hemodinâmica. Embora raras, essas complicações podem ocorrer em casos de necrose ovariana com reperfusão tecidual.

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Referências

Marc R Laufer, MD. Ovarian and fallopian tube torsion. UpToDate, 2025. Disponível em: UpToDate

Baron SL, Mathai JK. Ovarian Torsion. [Updated 2023 Jul 17]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2025 Jan-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK560675/

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