A blefarite representa uma condição inflamatória ocular muito comum na rotina do generalista e oftalmologista. Confira os principais aspectos referentes a esta doença, que aparecem nos atendimentos e como são cobrados nas provas de residência médica!
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Dicas do Estratégia para provas
Seu tempo é precioso e sabemos disso. Se for muito escasso neste momento, veja abaixo os principais tópicos referentes à blefarite.
- Ela representa a inflamação da pálpebra e é uma das condições mais comumente encontradas na prática oftalmológica
- É dividida em blefarite anterior e posterior, sendo que na última as glândulas Meibomianas estão envolvidas
- Hiperemia da pálpebra, olhos secos, lacrimejamento e visão turva são os principais sintomas
- A base do tratamento é higiene ocular e lubrificação.
Definição da doença
A blefarite é definida como inflamação da margem palpebral, condição extremamente comum na prática médica de generalistas e oftalmologistas. Ela é classificada de acordo com as estruturas acometidas.
Anterior: quando acomete a região da base dos cílios, folículos dos cílios e a pele palpebral.
Posterior: quando há disfunção das glândulas de Meibomius, localizadas na margem palpebral posterior. As glândulas meibomianas são glândulas sebáceas modificadas localizadas nas placas tarsais das pálpebras responsáveis pela secreção da camada oleosa do filme lacrimal.
#Ponto importante: essas glândulas são importantes para a lubrificação normal dos olho, causando ressecamento dos olhos quando obstruídas.
Epidemiologia e etiologia da blefarite
A prevalência varia de 30 a 50%, sendo mais comum em adultos do que em crianças e sua prevalência aumenta com a idade e em pessoas do sexo feminino. A blefarite apresenta mecanismo patogênico multifatorial e sua etiologia não é claramente conhecida. Evidências apontam relação com componentes infecciosos, alérgicos, sistêmicos e ambientais.
A blefarite posterior é a mais comum. Parece haver hiperqueratinização do epitélio ductal da glândula Meibomiana, achado precoce nos pacientes. A composição lipídica alterada gera instabilidade do conteúdo lacrimal e torna o ambiente propício a crescimento bacteriano. A inflamação a longo prazo leva à fibrose, disfunção da glândula, bem como danos à pálpebra e à superfície ocular.
Já na blefarite anterior há duas etiologias distintas mais bem definidas e que você deve saber diferenciar: estafilocócica e seborreica. A primeira é resultado de uma resposta celular anormal aos componentes da parede celular do estafilococo, bactéria que compõem a flora palpebral. A segunda está frequentemente associada à dermatite seborreica generalizada e apresenta crostas moles, gordurosas que grudam nos cílios.
#Ponto importante: O parasito do gênero Demodex é um parasito que foi identificado em 30% dos pacientes com blefarite anterior crônica, mas também é encontrado com a mesma prevalência em pessoas assintomáticas. Com a terapia de erradicação a esse parasito, os pacientes tendem a melhorar do quadro clinico, o que demonstra sua presença como fator de risco importante. Uma espécie especifica, Demodex brevis, tem sido associada à blefarite posterior.
Outras causas possíveis de blefarite anterior e posterior incluem dermatite de contato (alérgica), eczema e psoríase. A blefarite de contato é uma reação inflamatória aguda da pele das pálpebras, geralmente ocorrendo como reação a um irritante, como cosméticos.
Manifestações clínicas de blefarite
Pacientes com blefarite anterior ou posterior geralmente apresentam sintomas recorrentes crônicos, que podem variar ao longo do tempo, envolvendo ambos os olhos. Entre os principais sinais e sintomas encontrados, pode-se ressaltar pálpebras hiperemiadas e inchadas, fotofobia leve, turvação visual, queimação, lacrimejamento excessivo (que paradoxalmente pode ser um sinal de olho seco), sensação de areia nos olhos e formação de crostas.
A síndrome do olho seco é uma complicação frequente da blefarite, ocorrendo em 25 a 40% dos pacientes, condição que causa secura excessiva e pode ter um impacto significativo na acuidade visual. Ela se apresenta com coloração difusa quando aplicado corante Green S, um corante sintético.
A blefarite relacionada à infestação de Demodex apresenta-se caracteristicamente com caspa cilíndrica ou “mangas” nos cílios.
Lista de manifestações:
- Pálpebras inflamadas
- Olhos secos
- Lacrimejamento excessivo
- Visão turva
Diagnóstico de blefarite
O diagnóstico de blefarite é clínico, a partir dos achados de vermelhidão e irritação da margem palpebral, associada a crostas ou escamas nos cílios ou margens palpebrais. As causas, infecciosas ou não, podem ser estimadas a partir do perfil epidemiológico e dados do exame físico e, assim, direcionar melhor o tratamento.
O teste com lâmpada de fenda permite um exame mais detalhado das glândulas Meibomianas, o que pode ajudar a distinguir entre blefarite posterior e anterior. No entanto, geralmente não é necessário fazer distinção entre elas para iniciar o tratamento.
Tratamento de blefarite
O tratamento é baseado na boa higiene da pálpebra, com o objetivo de aliviar os sintomas e desenvolver um regime de manutenção para prevenir ou minimizar futuras exacerbações. Além disso, os pacientes devem ser aconselhados a eliminar ou limitar potenciais desencadeantes ou fatores de exacerbação, como alérgenos, tabagismo, lentes de contato. Pacientes podem se beneficiar de colírios lacrimais artificiais suplementares para tratar a secura associada à blefarite.
E o antibiótico, para quem prescrever? Para pacientes que não respondem às medidas sintomáticas descritas acima e para aqueles com sintomas graves, é sugerido antibioticoterapia.
Os antibióticos tópicos são preferíveis, pelo menor grau de toxicidade. Pomada antibiótica, com bacitracina ou eritromicina, por exemplo, é colocada diretamente na margem da pálpebra uma vez ao dia na hora de dormir. A antibioticoterapia oral com doxiciclina, tetraciclina ou azitromicina pode ser administrada se a resposta à terapia tópica for inadequada.
#Ponto importante: Em casos refratários, o tratamento pode incluir glicocorticóides tópicos e ciclosporina, mas esses pacientes só devem ser manejados por um oftalmologista.
Veja também:
- Resumo técnico de ceratocone: manifestações clínicas, diagnóstico, tratamento e mais!
- ResuMED de Síndrome do olho vermelho: causas, exames, tratamento e mais!
Referências bibliográficas:
Dias, Maurílio Roriz et al. Blefarite: epidemiologia, etiologia, apresentações clínicas, tratamento e evolução de nossos pacientes. Revista Brasileira de Oftalmologia [online]. 2019, v. 78, n. 5. pp. 300-303. Available from: <https://doi.org/10.5935/0034-7280.20190149>.
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Créditos das Imagens: