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O que é Síndrome de Tourette?
A síndrome de Tourette, descrita inicialmente como síndrome de Gilles de La Tourette, é um transtorno de comprometimento neurocomportamental, cuja principal característica clínica é a presença de tiques motores e/ou vocais. Ela costuma ter a primeira manifestação na infância e perdurar por longos períodos.
É importante que a síndrome de Tourette não seja confundida com tiques simples e transitórios que são comuns na infância, com prevalência em até 15% das crianças. Assim, tal síndrome possui maior gravidade e menor incidência, tornando-se rara. Uma consequência importante do quadro é a dificuldade de socialização, por parte da criança ou da sociedade que a cerca, já que o transtorno carrega importante estigma social.
Causas
Pesquisas mais recentes mostram que na etiopatogenia da síndrome podem estar presentes fatores orgânicos. Os principais achados que corroboram com essa hipótese são:
- O tique se mantém enquanto o paciente está dormindo, mostrando que, normalmente, o movimento possui caráter repetitivo;
- Presença de componentes genéticos associados, por mais que a identificação precisa dos genes relacionados carece de maiores investigações;
- Presença de alterações metabólicas nos circuitos neuronais que compõem as vias frontoestriatais. Isso pode ser percebido pelo exame de PET- scan (positron emission tomography) ou mesmo pela resposta favorável à administração de drogas antidopaminérgicas; e
- Mudanças no perfil neurofisiológico do indivíduo, observados, preferencialmente, por pesquisa do potencial de prontidão.
Por mais que as causas ainda não estejam muito esclarecidas, há também, evidências consideráveis que apontam para comprometimento funcional dos sistemas dopaminérgicos e gabaérgicos, especialmente, de vias corticoestriato-talâmicas corticais.
Sinais e Sintomas
Os sinais e sintomas mais importantes fazem parte da definição da doença proposta pelo Diagnostic and statistical manual of mental disordars, são eles:
- Presença de tiques motores múltiplos e tiques vocais pelo período de apresentação sintomática, eles não precisam ser, necessariamente, concomitantes. A manifestação precisa durar, pelo menos, 1 ano de forma quase diária, já que não pode haver remissão superior a um período de 3 meses seguidos;
- O início acontece antes dos 18 anos de idade do indivíduo;
- Há importante prejuízo de socialização e acentuado sofrimento causado pela síndrome. O desempenho ocupacional e laboral podem estar comprometidos assim como outros aspectos da vida do paciente; e
- O quadro não pode ser decorrente de consequências fisiológicas de alguma substância que atua no sistema nervoso central (como drogas estimulantes) nem de outros casos como encefalites virais ou pós-virais e doença de Huntington.
Alguns outros achados característicos que podem estar presentes nas manifestações dos tiques são:
- Ecolalia quando o paciente repete as palavras previamente faladas por algum interlocutor, presente em 27,6% dos pacientes;
- Coprolalia que acontece quando o paciente vocaliza palavras ou expressões de caráter obsceno, presente em 27,6% dos pacientes;
- Ecopraxia quando o indivíduo repete gestos e movimentos da pessoa com quem está se comunicando, presente em 25,8% dos pacientes; e
- Copropraxia que acontece quando o paciente gesticula sinais obscenos, presente em 20,1% dos pacientes.
Parte relevante dos pacientes com síndrome de Tourette apresentam melhora significativa até os 18 anos.
Diagnóstico
O diagnóstico da síndrome de Tourette é essencialmente clínico observacional, deve ser feito por um psiquiatra por meio do exame semiológico e anamnese do estado mental, investigando a presença e a temporalidade dos sintomas supracitados, especialmente os tiques. É importante mencionar que o diagnóstico não é imediato, já que é necessário um grande período de observação e acompanhamento do paciente para a comprovação da persistência dos tiques por, no mínimo, 1 ano.
Ainda que não seja condição necessária para o diagnóstico, a presença de outros transtornos psiquiátricos no indivíduo podem reforçar a hipótese de síndrome de Tourette. As principais condições associadas são transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) presente em 25,8% dos pacientes, e transtorno obsessivo-compulsivo, presente em quase 40% dos pacientes.
Tratamento da síndrome de Tourette
O tratamento da síndrome de Tourette varia com base na idade do paciente, na presença de outras condições associadas, na gravidade da manifestação da doença, assim como de acordo com o grau de comprometimento causado por ela. Para casos mais leves, a principal indicação é que seja feito esclarecimento e orientação para os familiares e para a escola. Para esses pacientes é recomendado apoio psicológico e também a realização de terapias cognitivo-comportamentais.
Para casos de gravidade e comprometimento intermediários, além da abordagem já mencionada, a possibilidade do tratamento medicamentoso deve ser conversada. Em um primeiro momento as drogas indicadas são mais seguras como o clonazepam e a clonidina (na dose de 0,05 a 0,1 mg de 1 a 4 vezes ao dia), caso não haja resposta satisfatória, drogas neurolépticas podem ser consideradas, como a pimozida, risperidona, haloperidol, aripiprazol e olanzapina.
Por fim, para os casos mais graves, que cursam com relevante comprometimento funcional e resposta medicamentosa insuficiente, a estimulação cerebral bilateral do tálamo ou do globo pálido devem ser consideradas.
Vale ressaltar que outras condições associadas devem ser tratadas também, principalmente pacientes com diagnóstico de TDAH ou TOC.
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