Olá, querido doutor e doutora! Os antagonistas opioides constituem uma classe terapêutica amplamente utilizada em emergências, programas de desintoxicação e manejo de complicações associadas ao uso de opioides. Esses agentes atuam bloqueando seletivamente os receptores opioides, revertendo a depressão respiratória e auxiliando na manutenção da abstinência.
O antagonismo competitivo dos receptores μ centrais estimula o impulso respiratório, aumenta o estado de alerta e interrompe a euforia induzida pelos opioides.
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O que são Antagonistas narcóticos
Os antagonistas opioides são medicamentos que bloqueiam um ou mais receptores opioides no sistema nervoso central e periférico, impedindo a ação de opioides endógenos ou exógenos. Esses receptores pertencem à família dos receptores acoplados à proteína G e se dividem em três tipos principais: mu (μ), kappa (κ) e delta (δ).
Farmacocinética
Naloxona
A naloxona apresenta início de ação rápido, geralmente em 1 a 2 minutos após administração intravenosa. Sua meia-vida curta, entre 30 e 90 minutos, limita a duração do efeito, exigindo doses repetidas ou infusão contínua em intoxicações por opioides de ação prolongada, como metadona e buprenorfina.
Quando administrada por via intranasal ou intramuscular, o início é um pouco mais lento, mas ainda eficaz em emergências. O metabolismo ocorre no fígado por conjugação, e os metabólitos inativos são eliminados pelos rins.
Naltrexona
A naltrexona tem absorção oral eficiente e alta biodisponibilidade. A concentração plasmática máxima ocorre entre 1 e 2 horas após a ingestão. Sua meia-vida plasmática é de cerca de 4 horas, mas o metabólito ativo 6-β-naltrexol prolonga a ação por até 12 horas.
A formulação injetável de liberação prolongada mantém efeito por até 4 semanas, o que favorece a adesão terapêutica em pacientes em tratamento de manutenção para transtornos por uso de opioides ou álcool.
Metilnaltrexona
A metilnaltrexona foi desenvolvida para atuar predominantemente no sistema periférico, sem atravessar a barreira hematoencefálica. O início de ação ocorre cerca de 30 minutos após a aplicação subcutânea. Possui meia-vida entre 8 e 12 horas e eliminação principalmente renal. Esse perfil farmacocinético permite o alívio rápido da constipação induzida por opioides, preservando a analgesia central.
Nalmefena
A nalmefena apresenta maior biodisponibilidade oral e duração mais longa que a naloxona. Seu metabolismo hepático é lento, e a excreção ocorre por vias renal e biliar combinadas. O efeito prolongado oferece bloqueio sustentado dos receptores μ e κ, sendo útil tanto em contextos de reversão quanto no manejo de transtorno por uso de álcool.
Farmacodinâmica
Mecanismo de bloqueio
Os antagonistas opioides atuam por competição direta com os agonistas nos receptores opioides, principalmente o receptor μ (mu), localizado no sistema nervoso central e periférico. Eles se ligam ao sítio do receptor sem ativá-lo, impedindo a ação de opioides endógenos ou exógenos. Esse antagonismo reverte efeitos como depressão respiratória, sedação, analgesia e euforia.
O bloqueio dos receptores μ centrais estimula o impulso respiratório, restaura o nível de consciência e aumenta o estado de alerta em pacientes intoxicados. Em paralelo, o antagonismo dos receptores periféricos reduz a constipação e outros efeitos colaterais gastrointestinais causados por opioides.
Ação sobre os principais receptores
- Receptores μ (mu): responsáveis por analgesia, euforia e depressão respiratória. O bloqueio reverte esses efeitos e previne a dependência fisiológica.
- Receptores κ (kappa): associados à disforia e alucinações. O antagonismo reduz efeitos disfóricos e dissociativos.
- Receptores δ (delta): modulam a resposta μ e participam do controle da tolerância. O bloqueio pode atenuar a sensibilização ao uso prolongado de opioides.
Efeitos fisiológicos
A inibição competitiva nos receptores μ centrais interrompe a analgesia e a euforia, além de induzir midríase e aumento do tônus respiratório. O antagonismo periférico, especialmente em receptores do trato gastrointestinal e do músculo liso brônquico, pode causar hipermotilidade intestinal e reversão da constipação.
Em pacientes dependentes, a administração pode precipitar síndrome de abstinência aguda, caracterizada por agitação, sudorese, náuseas e vômitos, exigindo monitoramento médico rigoroso.
Diferenças entre os fármacos
A naloxona tem afinidade alta e curta duração, ideal para emergências de overdose. A naltrexona e a nalmefena mantêm bloqueio prolongado, adequadas para terapias de manutenção. A metilnaltrexona atua exclusivamente em receptores periféricos, evitando interferência na analgesia central.
Efeitos sobre o sistema nervoso
Ao reverter a inibição causada pelos opioides, os antagonistas restabelecem o ritmo ventilatório, melhoram o nível de consciência e reduzem o risco de parada respiratória. Entretanto, o bloqueio abrupto pode gerar hiperatividade simpática, o que justifica o uso cuidadoso em ambiente controlado.
Indicações clínicas e usos terapêuticos
Overdose e reversão da depressão respiratória
A naloxona é o antagonista mais utilizado em emergências de overdose por opioides. Atua rapidamente por via intravenosa, intramuscular ou intranasal, revertendo depressão respiratória, sedação e miose. Em serviços de urgência, o uso precoce de naloxona restaura a ventilação espontânea e reduz a mortalidade associada à intoxicação aguda.
Muitos protocolos incluem repetição de doses ou infusão contínua, devido à curta meia-vida do fármaco em comparação com opioides de longa duração, como metadona e fentanil. O treinamento de equipes pré-hospitalares e o acesso comunitário à naloxona têm mostrado impacto positivo na redução de óbitos.
Tratamento de manutenção na dependência
A naltrexona é indicada na terapia de manutenção da dependência de opioides e álcool. Seu uso regular bloqueia os receptores μ e reduz o prazer associado ao consumo, o que diminui a fissura e a recaída.
A formulação oral é administrada diariamente, enquanto a versão injetável de liberação prolongada oferece proteção contínua por até quatro semanas, favorecendo adesão e estabilidade clínica.
Em protocolos de desintoxicação supervisionada, médicos costumam iniciar a naltrexona após o paciente estar livre de opioides por pelo menos 7 a 10 dias, para evitar abstinência precipitada.
Constipação induzida por opioides
A metilnaltrexona atua de forma seletiva em receptores periféricos, revertendo a constipação sem interferir na analgesia. O medicamento é indicado em pacientes com dor crônica sob uso prolongado de opioides, especialmente em cuidados paliativos ou pós-operatórios.
A formulação subcutânea ou oral proporciona melhora rápida da motilidade intestinal e alívio dos sintomas gastrointestinais.
Transtorno por uso de álcool
A naltrexona e a nalmefena são utilizadas no tratamento do transtorno por uso de álcool. Ambas reduzem o reforço positivo associado à ingestão alcoólica e diminuem o risco de recaída.
A nalmefena, aprovada em alguns países europeus, apresenta duração prolongada e pode ser administrada sob demanda, conforme o padrão de consumo do paciente.
Efeitos adversos e complicações
Síndrome de abstinência precipitada
O evento adverso mais observado é a síndrome de abstinência precipitada, que ocorre quando o antagonista é administrado em pacientes dependentes de opioides. O bloqueio súbito dos receptores μ interrompe a ação agonista e desencadeia sintomas como agitação, sudorese, náuseas, vômitos, diarreia, hipertensão e taquicardia.
Essa condição pode surgir após o uso de naloxona em emergências ou durante o início de naltrexona em protocolos de desintoxicação. Casos intensos podem exigir internação e monitoramento hemodinâmico.
Reações cardiovasculares e autonômicas
Em situações agudas, especialmente após doses elevadas de naloxona, alguns pacientes desenvolvem taquiarritmias, aumento da pressão arterial e sinais de hiperatividade simpática. Há relatos raros de cardiomiopatia induzida por estresse e distúrbios delirantes transitórios, geralmente associados a abstinência intensa.
O manejo inclui suporte clínico, hidratação venosa e correção eletrolítica, além de vigilância cardiovascular contínua.
Efeitos gastrointestinais
Os antagonistas de ação periférica, como a metilnaltrexona, podem causar hipermotilidade intestinal, cólicas, náuseas e diarreia. Esses efeitos decorrem da reversão do tônus reduzido do trato gastrointestinal induzido pelos opioides.
Em geral, os sintomas são autolimitados e desaparecem com ajuste de dose ou interrupção temporária do tratamento.
Alterações neurológicas e comportamentais
A reversão abrupta da sedação por naloxona pode provocar ansiedade, irritabilidade, cefaleia e tremores. Pacientes em abstinência aguda relatam insônia e inquietação motora. O uso de naltrexona ou nalmefena em manutenção raramente causa sintomas neurológicos, mas pode ocorrer fadiga, tontura leve ou cefaleia intermitente.
Reações locais e gerais
As formulações injetáveis de naltrexona podem causar reação local no sítio de aplicação, caracterizada por dor, eritema ou induração leve. Em alguns casos, há febre baixa, mialgia e artralgia nas primeiras 24 horas. Esses eventos costumam ser transitórios e não requerem suspensão do tratamento.
Contraindicações e precauções
Hipersensibilidade e alergias
Os antagonistas opioides estão contraindicados em pacientes com hipersensibilidade conhecida a qualquer componente da formulação. Reações alérgicas verdadeiras são raras, mas casos isolados de urticária, broncoespasmo e anafilaxia já foram descritos após o uso de naloxona e naltrexona. O tratamento deve ser interrompido imediatamente diante de sinais de reação de hipersensibilidade.
Uso em dependentes ativos de opioides
A administração de antagonistas em indivíduos que ainda apresentam opioides circulantes pode desencadear abstinência precipitada grave. Antes de iniciar naltrexona ou nalmefena, o médico deve confirmar a ausência de opioides no organismo, o que pode ser feito por meio de teste com naloxona em dose baixa (teste de provocação). A síndrome de abstinência precipitada pode gerar instabilidade autonômica significativa, exigindo observação hospitalar.
Doença hepática
A naltrexona e a nalmefena passam por metabolismo hepático extenso. Em pacientes com hepatite ativa, cirrose ou elevação de transaminases, recomenda-se monitorar função hepática regularmente.
A elevação transitória das enzimas hepáticas ocorre em alguns pacientes durante o tratamento prolongado, sem necessidade de interrupção imediata, desde que os valores se mantenham abaixo do triplo do limite superior da normalidade.
Insuficiência renal
A metilnaltrexona e a naloxona apresentam excreção renal predominante. Em portadores de insuficiência renal moderada a grave, recomenda-se ajuste de dose e monitoramento da função renal, especialmente em uso repetido. A hemodiálise não remove completamente a naltrexona, o que limita a eficácia dessa medida em intoxicações.
Gravidez e lactação
Os dados sobre segurança durante a gestação ainda são limitados. A naloxona pode ser utilizada em emergências para salvar a vida materna, enquanto a naltrexona deve ser avaliada caso a caso.
Durante a amamentação, pequenas quantidades dos fármacos podem ser excretadas no leite, mas não há evidência de efeitos clínicos relevantes em lactentes. O uso deve ocorrer sob orientação médica e acompanhamento obstétrico.
Idosos e comorbidades
Em pacientes idosos ou com múltiplas comorbidades, a farmacocinética pode estar alterada. A titulação lenta de naltrexona reduz o risco de efeitos adversos. A monitorização da pressão arterial, da função hepática e da resposta clínica é recomendada em todas as fases do tratamento.
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Referências Bibliográficas
- THERIOT, Jonathan; SABIR, Sarah; AZADFARD, Mohammadreza. Opioid Antagonists. StatPearls. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing, 2025. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK537079/.



