Os anti-histamínicos orais H-1 (AH1) são drogas prescritas com frequência nos atendimentos visando o controle sintomático de prurido, coriza e tosse seca. Mas será que eles realmente servem para todos esses sintomas?
Vamos entender agora mais um pouco sobre os mecanismos de ação, indicações e eficácia dessa classe medicamentosa tão difundida.
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Papel da histamina
A histamina exerce sua função principalmente nas células endoteliais e da musculatura lisa, fazendo parte dos grânulos presentes principalmente em mastócitos e basófilos. Se comporta como um mensageiro químico endógeno que aumenta permeabilidade vascular, o que leva ao movimento do fluido dos capilares para os tecidos circundantes causando edema e vasodilatação dos vasos.
Esse mediador age em vários receptores, que atuam preferencialmente em receptores H1, H2, H3 e H4 e são chamados, respectivamente, de anti-H1, anti-H2, anti-H3 e anti-H4. O mais importante na prática médica é o receptor H-1, que está associado às respostas de hipersensibilidade imediata a alérgenos e inflamação aguda.
A ativação de receptores H-1 está associada ao desencadeamento de prurido, dor, vasodilatação, hipotensão, broncoconstrição, estimulação nervosa vagal das vias aéreas e dos receptores de tosse.
Os efeitos crônicos da histamina ocasiona ativação celular de mastócitos, basófilos e eosinófilo e estimula a liberação de mediadores pró-inflamatórios, como leucotrienos e citocinas.
Tipos de anti-histamínicos
Existem duas classes principais de receptores de histamina: receptores H-1 e receptores H-2. Drogas anti-histamínicas que se ligam aos receptores H-1 são geralmente usadas para tratar alergias, como rinite alérgica, tosse seca alérgica e prurido, foco da nossa atenção hoje.
Os anti-histamínicos H1 são divididos na primeira e segunda geração. Entre os primeiros anti-histamínicos destacam-se a difenidramina, hidroxizina, clorfeniramina e prometazina que possuem semelhança por atravessarem mais facilmente a barreira hematoencefálica. Seus efeitos colaterais contam com sonolência, sedação e fadiga que promovem a redução das funções cognitivas, de memória e no desempenho psicomotor.
Os de segunda geração se ligam seletivamente aos receptores de histamina-1 periféricos, que levam a diferentes perfis terapêuticos e de efeitos colaterais. Os exemplos mais conhecidos são loratadina, desloratadina e cetirizina.
Indicações de anti-histamínicos H-1
Os anti-histamínicos são comumente prescritos para sintomas como prurido, tosse e coriza, como veremos a seguir.
Prurido e exantemas
Os anti-H1 são a base do tratamento da urticária, sendo que uma falha na eliminação da erupção com esses anti-histamínicos deve levar à reavaliação se a erupção é realmente urticariforme.
No caso da dermatite atópica, a histamina é apenas um dos mediadores do prurido sendo que o efeito dos anti-H1 de primeira geração tem sido prescritos muitas vezes pelos seus efeitos sedativos na hora de dormir, enquanto os anti- H1 de segunda geração têm sido ineficazes no controle do prurido associado à dermatite atópica.
#Ponto importante: Os anti-H1 são frequentemente as primeiras terapias sistêmicas tentadas em pacientes com prurido generalizado devido à relativa segurança, ampla disponibilidade e acessibilidade desses agentes. No entanto, com exceção de distúrbios nos quais a histamina é conhecida por desempenhar um papel importante no prurido (por exemplo, urticária e mastocitose), os dados sobre a eficácia dos anti-histamínicos sistêmicos para o prurido são limitados.
Sintomas nasais na rinite alérgica
Na rinite alérgica, os anti-histamínicos são menos eficazes do que os sprays nasais de glicocorticóides, especialmente para o alívio da congestão nasal. No entanto, são opções nos casos leves e agudos.
A combinação de um anti-H1 com descongestionante oral minimamente sedativa proporciona melhor alívio dos sintomas do que os anti-histamínicos isoladamente, embora os efeitos adversos do componente descongestionante limitem seu uso em alguns pacientes.
Além disso, a combinação de um spray de corticoide nasal associado a um anti-histamínico oral pode ser usado em pacientes com sintomas agudos que não respondem isoladamente à monoterapia.
Tosse
Os anti-histamínicos H1 são recomendados em protocolos empíricos para o tratamento da tosse devido à síndrome da tosse das vias aéreas superiores e são considerados dentro da classe dos antitussígenos.
A sensibilidade do reflexo de tosse induzida por capsaicina, um extrato pungente de pimenta vermelha, foi significativamente inibida após a difenidramina.
A loratadina também reduziu significativamente o número de tosse em pacientes com doença nasal e naqueles com tosse crônica inexplicável, mas não em indivíduos normais.
Efeitos adversos dos anti-histamínicos
Os anti-histamínicos do receptor H-1 geralmente causam efeitos adversos clinicamente perceptíveis que são dependentes da dose, que são muito mais vistos em anti-histamínicos de primeira geração. Os anti-histamínicos de segunda geração não atravessam facilmente a barreira hematoencefálica e, portanto, seu perfil de efeitos colaterais é muito mais limitado.
O principal efeito percebido pelos pacientes são os efeitos sedativos nos AH1 de primeira geração e que podem ocorrer nos de 2° geração se feitos em doses elevadas.
Devido às suas propriedades anticolinérgicas, a secura em boca e olhos, retenção urinária, taquicardia sinusal, midríase e constipação intestinal são efeitos adversos relativamente comuns.
Em doses elevadas também podem ocorrer euforia, tonturae diminuição da coordenação e, o delírio é um efeito adverso potencial em faixas de dose ainda mais altas. Os anti-histamínicos também podem ser cardiotóxicos em alguns usuários, pois têm efeitos de prolongamento do intervalo QTc.
Veja também:
- Rinite: o que é, sintomas e muito mais
- Resumo de alergia alimentar: fisiologia e diagnóstico
- Residência Médica em Alergia e Imunologia: rotina, remuneração, estudos e mais
- Dermatite Atópica: causas, sintomas e muito mais
Referências bibliográficas:
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