Resumo sobre carvão ativado: indicações, farmacologia e mais!

Resumo sobre carvão ativado: indicações, farmacologia e mais!

Visão geral

O carvão ativado (CA) é uma solução em pó ou cápsula altamente adsorvente, produzida a partir de partículas porosas superaquecidas e área superficial extensa coberta por uma rede baseada em carbono, que adsorvem produtos químicos em poucos minutos de contato. 

A principal aplicação do carvão ativado na prática médica está na desintoxicação primária e secundária por substâncias tóxicas ingeridas via oral. 

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Indicações e dosagem

O carvão ativado existe na forma de pastilhas de carbono ou em pó ou granulado. Deve ser considerado no tratamento de envenenamentos ingeridos via trato gastrointestinal, sendo que alguns aspectos são considerados na hora de decidir sobre o uso de CA. Por exemplo, se a substância é absorvida ou não pelo CA, gravidade dos sintomas e da droga utilizada e tempo desde a ingestão das substâncias. 

#Ponto importante: o tempo ideal do uso é nos primeiros 60 minutos após ingestão do tóxico, sendo geralmente utilizado após a lavagem gástrica (LG). No entanto, a administração de carvão ativado pode ser benéfica se administrada até 4 horas após grandes ingestões, ingestões de drogas de liberação retardada e ingestão de substâncias com propriedades anticolinérgicas ou opióides que diminuem a motilidade intestinal. 

No caso de intoxicação leve, o carvão ativado é administrado apenas excepcionalmente, ou seja, quando está diretamente à mão e a ocorrência de sintomas desagradáveis ​​de intoxicação pode ser evitada. A partir da intoxicação moderada, recomenda-se, no mínimo, a administração de carvão ativado, observando-se a eficácia e as contraindicações.

A adsorção de uma substância depende do tamanho da partícula, solubilidade, polaridade e pH da substância, além dos conteúdos do estômago. Abaixo está a lista de substância e fitotoxinas adsorvidas pelo CA:

  • Substâncias que são adsorvidas:
    • inibidores da ECA;
    • Anfetaminas;
    • Antidepressivos (exceto lítio);
    • Antiepilépticos;
    • Anti-histamínicos;
    • Aspirina, salicilatos;
    • Atropina;
    • Barbitúricos;
    • Benzodiazepinas (NB: sonolência);
    • Bloqueadores beta;
    • Bloqueadores dos canais de cálcio;
    • Quinina, quinidina;
    • Cloroquina e primaquina;
    • dapsona;
    • digoxina, digitoxina;
    • Diuréticos (especialmente furosemida, torasemida);
    • Antirreumáticos não esteróides (NSAR);
    • neurolépticos;
    • Antidiabéticos orais;
    • (especialmente glibenclamida, glipizida);
    • Opiáceos, dextrometorfano (NB: sonolência);
    • Paracetamol;
    • Piroxicam;
    • Tetraciclinas;
    • Teofilina.
  • Fitotoxinas que são adsorvidas:
    • Amatoxina (tampa da morte);
    • Aconitina (acônito);
    • Colchicina (açafrão de outono);
    • Cucurbitacina (abobrinha, Cucurbitaceae);
    • Ergotamina, alcaloides do ergot;
    • Ácido ibotênico, muscarina (fly agaric, gorro de pantera);
    • Nicotina (tabaco);
    • Ricina (planta de mamona);
    • Estricnina (Nux vomica);
    • Taxanos (teixo);
    • Glicosídeos digitálicos (dedaleira).

#Ponto importante: Alguns produtos não são bem adsorvidos pelo CA, como álcoois, metais como ferro e lítio, eletrólitos como magnésio, potássio ou sódio, ácidos ou álcalis devido à polaridade dessas substâncias, hidrocarbonetos, derivados do petróleo e diclorodifeniletano (DDT). 

O carvão ativado em múltiplas doses podem ser considerados para aumentar a eliminação do fármaco se um paciente tiver ingerido uma quantidade de substâncias potencialmente fatais, como carbamazepina, dapsona, fenobarbital, quinino e teofilina. 

Na prática clínica parece mais prático o uso de pó de CA, que está disponível nas doses de 10 a 100 g. A dose para adultos e crianças é de 1g/kg de peso (dose máxima: Adulto = 100g; Crianças = 50g) que devem ser diluídos a 10% com água ou suco, por via oral, se paciente consciente, caso contrário através de sonda nasogástrica. 

Contraindicações

As contraindicações são muito importantes para definir o uso do carvão ativado. As contraindicações mais comuns são:

  • Quando houver ingestão de substâncias cáustica;
  • Substância conhecidamente não adsorvidas pelo CA;
  • Pacientes rebaixados, sem proteção de via aérea que não estão intubados;
  • Pacientes debilitados ou recém operados do intestino;.
  • Quando houver ausência ou diminuição acentuada do trânsito intestinal;
  • Quando for provável que a endoscopia seja tentada, pois o carvão ativado pode obscurecer a visualização endoscópica. 

Efeitos adversos do carvão ativado

Um dos efeitos colaterais mais temidos é a pneumonite secundária à aspiração, pois a êmese é um efeito adverso comum, que junto com tubos nasogástricos mal posicionados para administração de carvão ativado podem ocasionar comprometimento respiratório grave e até à morte. 

Outras reações gastrintestinais foram relatadas com o uso de CA, como distensão abdominal, apendicite, constipação, descoloração dentária e fecal (preta) e obstrução intestinal. 

Características farmacológicas do carvão ativado

Farmacodinâmica

O carvão ativado absorve apenas as toxinas que estão na fase líquida dissolvida por contato direto. O carvão ativado é geralmente um adsorvente eficaz de drogas e produtos químicos com uma faixa de peso molecular de 100 a 1.000 daltons. 

#Ponto importante: a redução média na absorção do medicamento após uma dose única de ≥50 g de carvão  foi estudada, evidenciando adsorção de 50% da substância quando administrado até 30min, alcançando redução de 16,5% se administrado 120 minutos após a ingestão.  

Por outro lado, a administração de múltiplas doses de carvão vegetal pode interromper a circulação enteroentérica, entero-hepática e enterogástrica de alguns medicamentos. Isso é justificado pelo aumento na adsorção de até 30% da substância quando administrado após 240 min, maior do que o evidenciado após ingestão em 120 minutos. 

Farmacocinética

O carvão ativado administrado por via oral não é absorvido pelo lúmen gastrointestinal e atua dentro do trato gastrointestinal (GI) em sua forma inalterada, sendo posteriormente eliminado nas fezes através do complexo criado com a substância. 

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Veja também:

Referências bibliográficas:

  • Robert G H, Shana K. Gastrointestinal decontamination of the poisoned patient. Disponível em Uptodate
  • Silberman J, Galuska MA, Taylor A. Activated Charcoal. [Updated 2023 Feb 7]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2023 Jan-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK482294/
  • Zellner T, Prasa D, Färber E, Hoffmann-Walbeck P, Genser D, Eyer F. The Use of Activated Charcoal to Treat Intoxications. Dtsch Arztebl Int. 2019 May 3;116(18):311-317. doi: 10.3238/arztebl.2019.0311. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6620762/
  • Crédito da imagem em destaque: Pexels
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