A toxina botulínica, conhecida popularmente como botox para fins estéticos, é uma neurotoxina medicamentosa produzida pela bactéria Clostridium botulinum, responsável pelo botulismo, e tem sido utilizada para algumas condições patológicas importantes.
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Indicações
Desde a descoberta dessa toxina em 1897, foram identificados sete sorotipos de toxina botulínica (A, B, C1, D, E, F e G) produzidos por diferentes cepas da bactéria C. clostridium. As propriedades farmacológicas dos sorotipos diferem, mas somente os sorotipos A e B estão disponíveis para uso clínico.
A toxina botulínica tipo A é utilizada desde 1992 e é a principal forma de toxina botulínica usada para tratamento cosmético em vários ambientes clínicos para este fim. É aplicado desde o simples tratamento de linhas faciais até esculturas faciais mais avançadas, na tentativa de diminuir o envelhecimento da pele que são exacerbadas pela contração muscular. No entanto, o efeito do tratamento é temporário com retorno das contrações após alguns meses.
O uso dessa toxina para fins terapêuticos no mundo é tentado na enxaqueca crônica, distúrbios espásticos, distonia cervical e hiperatividade do detrusor. Tanto o sorotipo A e B são aprovados globalmente para o tratamento de torcicolo espasmódico, uma condição que pode causar postura fixa da cabeça ou movimentos anormais da cabeça.
A ANVISA regulamenta o uso da toxina botulínica A, com indicações atualizadas no final do ano 2022:
- espasticidade focal de membros superiores em pacientes pediátricos com paralisia cerebral e idade superior a dois anos.
- distonia cervical/torcicolo espasmódico;
- blefaroespasmo;
- espasmo hemifacial;
- hiperidrose axilar e palmar em adultos;
- linhas faciais hiperfuncionais, incluindo linhas glabelares ou latero-cantais;
- espasticidade de membros superiores e/ou inferiores em pacientes adultos pós-AVC;
- deformidade em pé equino espástico em pacientes adultos com espasticidade pós-AVC;
- deformidade em pé equino dinâmico em pacientes pediátricos portadores de paralisia cerebral, com capacidade de deambulação e idade superior a dois anos.
No entanto, duas condições importantes em que a toxina botulínica ganhou importância como terapia off-label, como na incontinência urinária por hiperatividade do detrusor, quando injetada no esfíncter e na musculatura do assoalho pélvico (mulheres) ou na próstata (homens, e nas fissuras anais, que ocorre devido a hipertonia do esfincter anal.
Outra indicação endossada por algumas sociedades urológicas pelo mundo é para pacientes com bexiga hiperativa não neurogênica ou neurogênica, quando forem refratárias às medidas iniciais, como manejo comportamental e medicamentos anticolinérgicos ou beta-3 agonistas.
Além desses, relatórios clínicos encorajadores apareceram para seu uso na enxaqueca (cefaleia migrânea), com aplicação direta sobre os músculos faciais e couro cabeludo.
Embora não existam dados clínicos controlados disponíveis para tratamentos simultâneos de múltiplas indicações, como uma consideração de ordem prática, no tratamento de pacientes adultos, a dose cumulativa máxima geralmente não deve ultrapassar 400 unidades, em um intervalo de três meses. No tratamento de pacientes pediátricos, a dose cumulativa geralmente não deve exceder 8U/kg ou 300 unidades, o que for menor, em um intervalo de 3 meses.
#Ponto importante: Existe a possibilidade de desenvolvimento de anticorpos contra a toxina, estimando-se que até 15% dos pacientes que aplicaram Botox desenvolveram falta de resposta secundária devido à produção de anticorpos neutralizantes. Esse risco aumenta quando ocorre injeção de mais de 200 unidades por sessão e injeções repetidas ou de reforço dadas dentro de um mês de tratamento.
Efeitos adversos da toxina botulínica
As injeções com toxina botulínica são geralmente bem toleradas e os efeitos colaterais são poucos e frequentemente autolimitados. As mais comuns são dor leve à injeção e edema local, eritema, dormência transitória, cefaleia, mal-estar ou náusea leve.
#Ponto importante: O relato de efeitos adversos ocorre mais comumente na prática cosmética, que pode ser devido à dosagem mais alta necessária para aplicações terapêuticas e possíveis condições subjacentes complicadas.
A aplicação inadequada de injeções ou a difusão da toxina para áreas não direcionadas após a injeção pode resultar em fraqueza muscular excessiva temporária. Algumas complicações estéticas podem acontecer, como ptose palpebral e sobrancelha de aparência questionável, mas que podem ser melhoradas com intervenções terapêuticas e melhoram com o tempo.
Contraindicações
As contra-indicações da toxina botulínica incluem cicatriz queloide, distúrbios neuromusculares, alergias à toxina botulínica, transtorno dismórfico corporal, gravidez, amamentação e nas síndromes do neurônio motor, como miastenia gravis, síndrome de Eaton-Lambert, neuropatias, e na miopatias da Esclerose Lateralizante Amiotrófica.
Características farmacológicas da toxina botulínica
Farmacodinâmica
A TB é uma neurotoxina produzida pela bactéria Clostridium botulinum, da qual foram identificadas oito sorotipos (A, B, C 1 , C 2, D, E, F e G). Todos os sorotipos interferem na transmissão neural bloqueando a liberação de acetilcolina, principal neurotransmissor na junção neuromuscular, causando paralisia muscular. A fraqueza induzida pela injeção de toxina botulínica geralmente dura cerca de três meses, quando a junção neuromuscular começa a se recuperar.
A toxina botulínica também induz fraqueza dos músculos estriados pela inibição da transmissão de neurônios motores alfa na junção neuromuscular. Isso levou ao seu uso em condições de hiperatividade muscular, como a distonia
Farmacocinética
A toxina leva de 24 a 72 horas para fazer efeito e aproximadamente duas semanas para desenvolver completamente o pico da eficácia, sendo que o efeito da toxina botulínica dura cerca de 8 a 12 semanas.
Os usos terapêuticos da toxina botulínica em neurônios autonômicos para hiperidrose ou bexiga hiperativa têm um efeito significativamente mais notável, variando de seis a nove meses.
Interações medicamentosas da toxina botulínica
Existem algumas contraindicações relativas quando utilizadas com outras medicações que diminuem a transmissão neuromuscular, como aminoglicosídeos (podem aumentar o efeito da toxina botulínica), penicilamina, quinina, cloroquina e hidroxicloroquina (podem reduzir o efeito), bloqueadores dos canais de cálcio e agentes anticoagulantes, por exemplo, varfarina ou aspirina (podem resultar em hematomas).
Veja também:
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Referências bibliográficas:
- Nazema Y S, W Stuart R. Botulinum toxin for treatment of lower urinary tract conditions: Indications and clinical evaluation. Disponível em Uptodate.
- Nigam PK, Nigam A. Botulinum toxin. Indian J Dermatol. 2010;55(1):8-14. doi: 10.4103/0019-5154.60343. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2856357/
- Padda IS, Tadi P. Botulinum Toxin. [Updated 2022 Nov 30]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2023 Jan-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK557387/
- Botulift (Toxina botulínica A): nova indicação. ANVISA
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