Resumo sobre imunoglobulina humana intravenosa: indicações, farmacologia e mais!

Resumo sobre imunoglobulina humana intravenosa: indicações, farmacologia e mais!

Visão geral

A imunoglobulina humana intravenosa (IH) é derivada do plasma de milhares de humanos, geralmente mais de 10.000 doadores pagos e voluntários selecionados. É utilizada no tratamento de uma série de distúrbios, incluindo estados de imunodeficiência primária e secundária e uma variedade de distúrbios auto imunes e inflamatórios. 

Existem vários produtos disponíveis para cada preparação, que variam em concentração de imunoglobulina G (IgG), aditivos, estabilizadores e conteúdo de IgA. Antes de ser disponibilizada, a IH passa por diversos processos de purificação, como cromatografia de troca iônica para separar ainda mais a IgG desejada, além de inativação e remoção de patógenos transmitidos pelo sangue. Esse processo pode levar até 01 ano.  

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Indicações e dosagem

No Brasil, o Ministério da Saúde autoriza a dispensação de imunoglobulina humana endovenosa (IGIV) para oito situações clínicas comprovadas, que pode ter efeito na reposição de anticorpos ou na imunomodulação:

  1. imunodeficiência primária com predominância de defeitos de anticorpos
  2. anemia hemolítica autoimune
  3. aplasia pura adquirida crônica da série vermelha 
  4. dermatomiosite e poliomiosite com risco de vida ou refratárias. 
  5. imunossupressão no transplante renal
  6. miastenia gravis
  7. púrpura trombocitopênica idiopática 
  8. síndrome de Guillain-Barré.

Cerca de 75% das imunodeficiências primárias são responsivas à imunoglobulina humana. Os exemplos incluem erros inatos da imunidade que afetam a produção ou função de anticorpos, leucemia linfocítica crônica (LLC), mieloma múltiplo, função imunológica reduzida após transplante de células-tronco hematopoiéticas e estados de perda grave de proteínas.  

Das imunodeficiências secundárias, a hipogamaglobulinemia secundária a malignidades, transplantes de células hematopoiéticas. É utilizada como profilaxia contra infecção bacteriana. 

Além do uso autorizado pelo MS para síndrome de Guillain-Barré, tem ação em outros  distúrbios neuroimunológicos como em polineuropatia desmielinizante inflamatória crônica (PDIC), neuropatia motora multifocal, síndrome de Guillain-Barré e miastenia gravis.

Outras condições inflamatórias associadas incluem trombocitopenia imune (em pacientes com alto risco de hemorragia ou antes da cirurgia para corrigir a contagem de plaquetas), neutropenia autoimune, síndrome de von Willebrand adquirida causada por autoanticorpos contra o fator de von Willebrand, doença de Kawasaki. 

Imunoglobulina anti-D

É utilizado em processos aloimunes, principalmente na doença hemolítica do feto e do recém-nascido. Nas gestantes com Rh – e fetos com Rh+ devem receber a imunoglobulina anti-D em até 72 horas após o parto para prevenção de reação em gestações futuras. 

É utilizada também em casos de púrpura pós-transfusional, rejeição de transplante de órgãos mediada por anticorpos e crise hiper-hemolítica em indivíduos com doença falciforme que receberam transfusões.  

Mecanismo de ação

Nas hipogamaglobulinemia por imunodeficiência por deficiência de anticorpos, seja secundária ou primária, a IH atua basicamente fornecendo concentrações adequadas de anticorpos contra uma ampla gama de patógenos, fornecendo imunidade passiva. 

O mecanismo de ação no tratamento de doenças autoimunes ainda não é totalmente compreendido, mas parece ter relação com a neutralização de antígenos e superantígenos (incluindo autoantígenos), o bloqueio do receptor Fc e aumento do catabolismo e regulação anti-idiotípica de autoanticorpos.

Na incompatibilidade Rh que ocorre na gestação em mulheres RhD-negativa com um feto potencialmente RhD-positivo, o uso de imunoglobulina anti-D funciona por um mecanismo que ainda não foi comprovado. As possibilidades incluem eliminação rápida mediada por macrófagos de glóbulos vermelhos revestidos com anti-D e/ou regulação negativa de células B específicas do antígeno antes que ocorra uma resposta imune.  

Efeitos adversos da imunoglobulina humana

As reações adversas ocorrem com até 5 a 15% de todas as infusões de imunoglobulina intravenosa (IVIG) e são mais comuns em doses mais altas, taxas de infusão mais rápidas e em condições subjacentes do paciente, como estados pró-trombóticos.

  • Reações imediatas: anafilaxia, TRALI, sobrecarga de volume. 
  • Reações atrasadas: eventos trombóticos (infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral, tromboembolismo venoso), lesão renal aguda, hemólise, hiponatremia. 
  • Reações tardias: Dermatite eczematosa associada à terapia com IVIG, diminui eficácia sobre efeito de vacinas, aumenta risco de infecções. 

Contraindicações

Pacientes com deficiência seletiva de IgA que desenvolveram anticorpos contra IgA, como a administração de um produto contendo IgA, podem resultar em anafilaxia. A solução é contraindicada em caso de diabetes descompensada, outras intolerâncias conhecidas à glicose (como situação de estresse metabólico), coma hiperosmolar, hiperglicemia, e hiperlactatemia. 

#Ponto importante: O protocolo para uso da imunoglobulina para imunodeficiência por deficiência de anticorpo traz critérios de exclusão para seu uso. São eles:

Serão excluídos deste protocolo todos os pacientes que apresentarem pelo menos um dos seguintes critérios:

  • infecção ativa e/ou neoplasia;
  •  insuficiência renal ou hepática;
  • história de reação anafilática a IGH;
  • diagnóstico laboratorial incidental de IP com predominância de defeitos de anticorpos, sem história de infecções de repetição ameaçadoras da vida;
  • deficiência de IgA somente;
  • deficiência de IgM somente;
  • deficiência de IgD somente;
  • imunodeficiência predominantemente celular.

Características farmacológicas da imunoglobulina humana

Farmacocinética

A imunoglobulina humana é rápida e completamente biodisponível após administração intravenosa e possui boa distribuição entre o plasma e o líquido extravascular, após aproximadamente 3 – 5 dias de equilíbrio entre os compartimentos intra e extravascular. 

Possui meia vida de aproximadamente um mês, tempo pelo qual a imunoglobulina confere proteção, sendo que pode variar de paciente para paciente, em particular na imunodeficiência primária. O IgG e os complexos IgG são degradados nas células do sistema reticuloendotelial. 

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Veja também:

Referências bibliográficas:

  • Goudouris ES, Silva AM do R, Ouricuri AL, Grumach AS, Condino-Neto A, Costa-Carvalho BT, et al.. II Brazilian Consensus on the use of human immunoglobulin in patients with primary immunodeficiencies. einstein (São Paulo) [Internet]. 2017Jan;15(einstein (São Paulo), 2017 15(1)). Available from: https://doi.org/10.1590/S1679-45082017AE3844
  • Mark Ballow, Nadine Shehata. Overview of intravenous immune globulin (IVIG) therapy. Uptodate
  • 9 Human Immunoglobulins. Transfus Med Hemother. 2009;36(6):449-459. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2997299/
  • Bula profissional Imunoglobulina humana. ANVISA
  • Crédito da imagem em destaque: Pexels
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