Resumo sobre Vortioxetina: definição, características farmacológicas e mais!
Estratégia Med | Foto: Freepik/Drazen Zigic

Resumo sobre Vortioxetina: definição, características farmacológicas e mais!

E aí, doc! Vamos explorar mais um tema essencial? Hoje o foco é a Vortioxetina, um antidepressivo multimodal que atua modulando diferentes receptores serotoninérgicos enquanto inibe a recaptação de serotonina. 

O Estratégia MED está aqui para descomplicar esse conceito e ajudar você a aprofundar seus conhecimentos, promovendo uma prática clínica cada vez mais eficaz e segura.

Vamos nessa!

Definição de Vortioxetina

A vortioxetina é um antidepressivo de mecanismo multimodal, desenvolvido para o tratamento do transtorno depressivo maior. Seu diferencial está em combinar a inibição do transportador de serotonina (SERT) com a modulação direta de diversos receptores serotoninérgicos, atuando como agonista, agonista parcial ou antagonista dependendo do subtipo receptor envolvido. Essa combinação permite uma ação mais ampla sobre circuitos cerebrais ligados ao humor, à cognição e ao processamento emocional.

Ao bloquear receptores de feedback negativo da serotonina e, simultaneamente, estimular receptores envolvidos na facilitação da neurotransmissão, a vortioxetina aumenta a liberação de serotonina mesmo com níveis moderados de ocupação do SERT, o que a diferencia dos antidepressivos tradicionais. Além disso, seus efeitos secundários sobre sistemas noradrenérgico, dopaminérgico, colinérgico, histaminérgico e glutamatérgico contribuem para uma melhora mais global do funcionamento cerebral.

Esse perfil multimodal tem sido associado não apenas à redução dos sintomas depressivos, mas também à melhora de aspectos cognitivos frequentemente prejudicados na depressão, como atenção, memória e velocidade de processamento. A boa tolerabilidade, com baixa incidência de disfunções sexuais e poucos efeitos sobre o sono, reforça sua utilidade clínica.

Mecanismo de ação multimodal

A vortioxetina apresenta um perfil farmacológico único entre os antidepressivos por combinar inibição do transportador de serotonina (SERT) com modulação direta de vários receptores serotoninérgicos. Essa combinação amplia a liberação de serotonina e influencia a atividade de outros sistemas neurotransmissores relacionados à depressão e à cognição.

Ações em receptores serotoninérgicos

A vortioxetina interage com diferentes subtipos de receptores 5-HT, com funções específicas em cada um:

  • Agonista de 5-HT1A estimula receptores envolvidos na facilitação da liberação de serotonina e na regulação do humor;
  • Agonista parcial de 5-HT1B contribui para modular a liberação de neurotransmissores em diferentes regiões do cérebro;
  • Antagonista de 5-HT1D e 5-HT7 reduz o feedback inibitório que normalmente limita a liberação de serotonina;
  • Antagonista de 5-HT3 interfere na transmissão rápida mediada por interneurônios GABA, favorecendo aumento de glutamato e dopamina em regiões ligadas à cognição.

Esse conjunto de ações diminui os “freios” do sistema serotoninérgico e potencializa efeitos antidepressivos e pró-cognitivos.

Inibição do transportador de serotonina (SERT)

Embora a inibição do SERT seja parte do mecanismo, a vortioxetina não depende exclusivamente de alta ocupação do transportador para ser eficaz. Em doses terapêuticas, ela pode apresentar cerca de 50% de ocupação, o que é menor do que a maioria dos ISRSs. 

Ainda assim, seu perfil multimodal permite aumento significativo da neurotransmissão serotoninérgica. Essa característica também contribui para uma incidência menor de efeitos colaterais clássicos, como disfunção sexual.

Modulação de múltiplos sistemas neurotransmissores

O efeito da vortioxetina vai além da serotonina. Ao influenciar a ação de interneurônios e circuitos interconectados, ela impacta também:

  • Glutamato aumento regional que favorece processos cognitivos;
  • Dopamina e noradrenalina especialmente em áreas relacionadas ao humor e motivação;
  • Histamina e acetilcolina contribuindo para efeitos sobre alerta, memória e atenção.

Essa modulação integrada ajuda a explicar os efeitos cognitivos benéficos observados em pacientes com depressão.

Efeitos sobre redes neurais

Por atuar em múltiplos “nós” do conectoma (como descrito em estudos de neurociência funcional), a vortioxetina influencia circuitos ligados a:

  • Regulação emocional;
  • Velocidade de processamento;
  • Atenção e memória;
  • Ansiedade e estresse.

A ação simultânea em diferentes regiões do cérebro pode resultar em melhora mais ampla dos sintomas depressivos.

Perfil farmacocinético

Via oral, com boa biodisponibilidade
Metabolização hepática, principalmente por CYP2D6
Meia-vida longa permitindo administração 1 vez ao dia
• Eliminação predominantemente por vias metabólicas, sem metabólitos ativos clinicamente relevantes

A meia-vida prolongada favorece estabilidade plasmática e reduz flutuações de efeito.

Perfil de tolerabilidade

A vortioxetina apresenta boa tolerabilidade, característica atribuída ao seu mecanismo multimodal e menor ocupação do SERT. Com isso:

  • Tem menor risco de disfunção sexual;
  • Apresenta baixa interferência no sono;
  • Causa menos sedação ou ganho de peso do que antidepressivos tradicionais;
  • Os efeitos adversos mais comuns são náuseas leves e transitórias.

Efeitos adversos

  • Tolerabilidade geral: a vortioxetina apresenta um perfil de segurança favorável, com a maioria dos efeitos adversos sendo leves a moderados. As taxas de descontinuação são próximas às do placebo, indicando boa aceitação do tratamento.
  • Náusea: é o efeito adverso mais comum, geralmente nas primeiras semanas de uso e de forma transitória. Costuma durar entre 10 e 16 dias e tende a ser leve a moderada. O antagonismo 5-HT3 pode reduzir a intensidade dos sintomas gastrointestinais, tornando a náusea menos limitante que em outros antidepressivos.
  • Vômito: menos frequentes que a náusea, aparecem em uma pequena parcela dos pacientes e também são, em geral, leves e autolimitados.
  • Disfunção sexual: a incidência é baixa quando comparada aos ISRSs e SNRIs. Em muitos estudos, os índices se aproximam dos observados com placebo, e raramente levam à interrupção do tratamento, o que diferencia a vortioxetina dos antidepressivos tradicionais.
  • Efeitos sobre o sono: a vortioxetina interfere pouco no sono, não causando insônia relevante nem fragmentação significativa. O antagonismo 5-HT3 e 5-HT7 pode contribuir para esse perfil mais benigno.
  • Sintomas de descontinuação: são pouco frequentes e leves, semelhantes aos do placebo. A meia-vida longa da vortioxetina ajuda a evitar sintomas intensos após a interrupção.
  • Eventos adversos graves: são raros (<3%), sem alterações clinicamente significativas em exames laboratoriais, sinais vitais ou ECG. O ganho de peso é mínimo e não costuma motivar descontinuação.

Superdosagem

Em casos de superdosagem de vortioxetina, os sintomas mais frequentemente relatados incluem náusea, vômitos, tontura, diarreia, desconforto abdominal, prurido generalizado, sonolência e rubor. 

Esses efeitos tendem a ser mais pronunciados com doses acima do recomendado, especialmente acima de 40 mg, sendo que o máximo testado em estudos clínicos foi de 75 mg em homens, e há relatos pós-comercialização de ingestão de até 250 mg sem manifestações graves.

Superdosagens superiores a 80 mg podem estar associadas a eventos mais sérios, como síndrome serotoninérgica (especialmente quando combinada com outros fármacos serotoninérgicos) e convulsão. 

Não há relatos de fatalidade direta por superdosagem isolada de vortioxetina, e um caso autêntico de overdose mostrou que mesmo com níveis elevados no sangue, não houve incapacidade funcional aguda.Forensic Sciences

Não existe antídoto específico para vortioxetina. O manejo é suporte clínico, com monitorização dos sinais vitais e tratamento sintomático. Em casos recentes de ingestão, pode-se considerar lavagem gástrica e carvão ativado, conforme o protocolo de intoxicação aguda.Medicine Recomenda-se contato com um centro de toxicologia para orientação adicional.

Veja também!

Referências

STAHL, S. M. Modes and nodes explain the mechanism of action of vortioxetine, a multimodal agent (MMA): enhancing serotonin release by combining serotonin (5HT) transporter inhibition with actions at 5HT receptors (5HT1A, 5HT1B, 5HT1D, 5HT7 receptors). CNS Spectrums, v. 20, n. 2, p. 93-97, 2015. DOI: 10.1017/S1092852915000139.

SANCHEZ, C. et al. Vortioxetine, a novel antidepressant with multimodal activity: review of preclinical and clinical data. Pharmacology & Therapeutics, 2014. DOI: 10.1016/j.pharmthera.2014.07.001.

MAZZA, M. G.; ROSSETTI, A.; BOTTI, E. R.; CLERICI, M. Vortioxetine overdose in a suicidal attempt: a case report. Medicine, v. 97, n. 25, p. e10788, 2018. DOI: 10.1097/MD.0000000000010788.

ZUCCARELLO, P.; CARNAZZA, G.; BARBERA, N. Development and validation of a LC-MS/MS method for analysis of vortioxetine in postmortem specimens: first data from an authentic case. Journal of Forensic Sciences, v. 68, n. 2, p. 578-585, 2023. DOI: 10.1111/1556-4029.15198.

Você pode gostar também