Olá, querido doutor e doutora! Este texto aborda de forma detalhada os aspectos práticos e técnicos da inserção de dreno torácico, um procedimento utilizado em emergências e tratamento de diversas condições pulmonares. O conteúdo inclui desde a definição e as indicações clínicas para o uso do dreno até as contraindicações e os cuidados necessários após o procedimento. Além disso, descreve de forma sistemática o passo a passo para a inserção segura do dreno, bem como as complicações potenciais que podem surgir durante e após a sua colocação.
O sucesso da inserção do dreno torácico depende de uma técnica precisa e de um monitoramento rigoroso para evitar complicações e promover a recuperação do paciente.
Navegue pelo conteúdo
Conceito de Dreno Torácico
A inserção de dreno torácico é um procedimento terapêutico realizado para remover acúmulos anormais de ar, líquido ou sangue do espaço pleural, ajudando a restabelecer a função pulmonar e o equilíbrio na cavidade torácica. Esse procedimento é frequentemente necessário em situações de trauma torácico, como pneumotórax (acúmulo de ar), hemotórax (sangue) ou empiema (infecção com presença de pus), entre outras condições. A inserção é realizada em ambiente hospitalar, utilizando técnica estéril e, muitas vezes, requer suporte radiológico para confirmar a posição correta do dreno. É um procedimento que demanda atenção à técnica e ao monitoramento pós-colocação para evitar complicações e garantir a eficácia da drenagem.
Indicações de Dreno Torácico
As principais indicações para a inserção de um dreno torácico incluem:
- Pneumotórax: indicado especialmente em casos de pneumotórax grande, progressivo ou sintomático, onde o ar precisa ser removido do espaço pleural para permitir a reexpansão pulmonar.
- Pneumotórax hipertensivo: emergência em que há acúmulo de ar sob pressão no espaço pleural, levando a um desvio da traqueia e comprometimento da função cardíaca e respiratória.
- Hemotórax: presença de sangue no espaço pleural, geralmente decorrente de trauma torácico, que necessita de drenagem para prevenir complicações como infecções e restrição da expansão pulmonar.
- Empiema: acúmulo de pus na cavidade pleural, resultante de infecções pulmonares, requer drenagem para melhorar o quadro infeccioso e permitir a expansão do pulmão.
- Drenagem de derrames pleurais recorrentes: utilizado em pacientes com derrames pleurais persistentes, como em condições malignas, onde a drenagem ajuda a aliviar os sintomas e melhorar a respiração.
- Quilotórax: acúmulo de linfa no espaço pleural, geralmente associado a traumas ou cirurgias torácicas, que precisa ser drenado para evitar complicações.
- Fístula bronco-pleural: comunicação anômala entre o brônquio e o espaço pleural, causando vazamento de ar, requerendo drenagem para estabilizar o paciente.
Contraindicações de Dreno Torácico
As contraindicações para a inserção de um dreno torácico podem ser absolutas ou relativas, dependendo da condição clínica do paciente e do risco-benefício do procedimento. As principais contraindicações incluem:
- Anticoagulação ou discrasias sanguíneas: pacientes em uso de anticoagulantes ou com distúrbios de coagulação apresentam maior risco de hemorragia durante a inserção do dreno, devendo ser avaliados com cuidado antes do procedimento.
- Pneumotórax pequeno e estável: em casos onde o pneumotórax é pequeno e não há sinais de comprometimento respiratório, pode ser preferível monitorar a evolução clínica, já que há chance de resolução espontânea.
- Empiema por organismos ácido-resistentes: em algumas infecções específicas, o risco de complicações com o uso do dreno torácico deve ser considerado, podendo ser necessário avaliar outros métodos de manejo.
- Acúmulo de fluidos loculados: quando há derrames pleurais confinados em compartimentos (loculados), a drenagem pode ser difícil ou ineficaz com um único dreno torácico, e outras abordagens, como drenagem guiada por imagem, podem ser mais apropriadas.
- Anticoagulação sistêmica: pacientes em tratamento anticoagulante sistêmico apresentam um risco elevado de sangramento durante o procedimento, tornando a indicação do dreno uma decisão que deve ser cuidadosamente ponderada.
Procedimento do Dreno Torácico
Preparação do Paciente
Posicione o paciente em decúbito dorsal, com a cabeceira do leito elevada a 30-60 graus, e o braço do lado afetado colocado sobre a cabeça. Isso facilita o acesso ao local de inserção e reduz o risco de complicações.
Limpe a pele com solução de clorexidina ou iodopovidona e deixe secar. Isolar a área com um campo estéril.
Identificação do Local de Inserção
O local típico de inserção é o quarto ou quinto espaço intercostal, na linha axilar anterior ou média, lateralmente ao mamilo. Para pneumotórax, direcione o dreno para cima e anteriormente; para hemotórax, direcione o dreno posteriormente.
Anestesia Local
Administre lidocaína a 1% com epinefrina no local de inserção. Infiltre a pele, o tecido subcutâneo e os músculos intercostais, incluindo a pleura parietal, até alcançar o espaço pleural.
Incisão e Dissecção
Realize uma incisão de 2 a 3 cm na pele sobre o espaço intercostal. Utilize uma pinça Kelly para dissecar através dos tecidos até alcançar o espaço pleural, empurrando a pinça através da pleura com pressão firme.
Inserção do Dedo
Insira um dedo indicador para explorar o espaço pleural, verificando a ausência de aderências ou anomalias, como massas. Esse passo garante que a cavidade pleural foi adequadamente acessada.
Colocação do Dreno
Insira o dreno torácico no espaço pleural usando o dedo como guia, direcionando-o para a posição apropriada (anterior e superior para pneumotórax, posterior e inferior para hemotórax). Avance o dreno até que o último orifício esteja de 2,5 a 5 cm dentro da cavidade pleural.
Conexão ao Sistema de Drenagem
Conecte o dreno ao sistema de drenagem-aspiração, ajustando conforme necessário para criar uma corrente contínua de bolhas no selo d’água, indicando que o sistema está funcionando corretamente.
Fixação e Curativo
Fixe o dreno na pele com sutura não absorvível para evitar que ele se mova. Aplique uma gaze vaselinada ao redor do dreno na área de inserção e cubra com gaze estéril e esparadrapo.
Verificação por Imagem
Solicite uma radiografia de tórax para confirmar a posição do dreno e avaliar a quantidade de ar ou líquido residual. Isso deve ser feito imediatamente após a colocação do dreno.
Monitoramento e Ajustes
Monitore o paciente com ausculta torácica, controle do volume de drenagem e realização de radiografias seriadas para avaliar a eficácia da drenagem e identificar possíveis complicações. Em caso de obstrução do dreno, pode ser necessária a substituição por um novo.
Complicações do Dreno Torácico
- Lesão a estruturas internas: o dreno pode perfurar inadvertidamente órgãos internos, como o pulmão, diafragma, fígado ou baço, especialmente se inserido de forma inadequada ou muito baixa.
- Pneumotórax aberto ou hipertensivo: a inserção inadequada do dreno ou problemas no sistema de vedação podem levar à formação de um pneumotórax aberto (quando há comunicação entre a cavidade torácica e o ambiente) ou hipertensivo, sendo uma emergência médica.
- Hemorragia: pode ocorrer sangramento durante a inserção, especialmente se houver lesão dos vasos intercostais. Pacientes com distúrbios de coagulação têm maior risco de complicações hemorrágicas.
- Infecção: a contaminação do local de inserção pode resultar em infecção da pele ou até empiema, especialmente se a técnica estéril não for rigorosamente seguida. O uso de antibióticos profiláticos é controverso e deve ser avaliado conforme a situação clínica.
- Edema Pulmonar de Reexpansão: após a rápida reexpansão do pulmão, especialmente em casos de pneumotórax de longa duração, pode ocorrer edema pulmonar, sendo uma complicação séria. Os sintomas podem variar de leves a um colapso cardiorrespiratório e são geralmente tratados com suporte ventilatório.
- Enfisema subcutâneo: o acúmulo de ar nos tecidos subcutâneos pode ocorrer se houver vazamento de ar ao redor do dreno ou se ele não estiver adequadamente posicionado, levando a uma sensação de crepitação na pele.
Cuidados Pós-Procedimento
Monitoramento do Paciente
- Avaliar continuamente sinais vitais, como frequência respiratória, saturação de oxigênio e sinais de desconforto respiratório. A presença de dor pode ser comum e deve ser controlada com analgésicos conforme necessário.
- Realizar ausculta pulmonar frequente para verificar se há sons respiratórios adequados e simétricos em ambos os pulmões.
- Monitorar a quantidade e a natureza da drenagem (sanguinolenta, serosa ou purulenta) no frasco coletor. A drenagem deve ser registrada regularmente e sinais de sangramento ativo devem ser investigados imediatamente.
Avaliação Radiológica
- Solicitar radiografias de tórax após a colocação do dreno para confirmar sua posição adequada e avaliar a reexpansão pulmonar. Imagens subsequentes podem ser necessárias para monitorar a evolução do quadro clínico.
- Radiografias adicionais podem ser feitas antes da remoção do dreno para garantir que o pulmão esteja totalmente expandido e que não haja acúmulo significativo de ar ou líquido residual.
Manutenção do Sistema de Drenagem
- Garantir que o sistema de drenagem esteja funcionando adequadamente, com o selo d’água mostrando flutuação e bolhas discretas com a respiração do paciente. A ausência de movimento na coluna de água pode indicar uma obstrução.
- Manter o sistema de drenagem sempre abaixo do nível do tórax do paciente para prevenir refluxo de líquidos para a cavidade pleural.
- Evitar o clampeamento desnecessário do dreno, pois isso pode levar ao acúmulo de ar e ao risco de pneumotórax hipertensivo.
Cuidados com a Ferida e Curativo
- Inspecionar regularmente o local de inserção do dreno em busca de sinais de infecção, como vermelhidão, inchaço, dor exacerbada ou saída de secreção purulenta.
- Manter a área de inserção limpa e seca, substituindo os curativos conforme necessário. Utilizar gaze vaselinada ao redor do dreno para criar uma barreira contra a entrada de ar.
- A troca do curativo deve ser feita de forma estéril para evitar a contaminação da ferida.
Critérios para Remoção do Dreno
- O dreno pode ser removido quando a drenagem de ar ou líquido for inferior a 100 mL por 24 horas e o pulmão estiver completamente expandido nas imagens radiológicas.
- A remoção é geralmente feita com o paciente em inspiração profunda, e o dreno é retirado rapidamente enquanto um curativo é colocado sobre o local para evitar a entrada de ar.
- Após a remoção, deve-se realizar uma radiografia de controle dentro de 12 a 24 horas para garantir que não houve recidiva de pneumotórax.
Venha fazer parte da maior plataforma de Medicina do Brasil! O Estrategia MED possui os materiais mais atualizados e cursos ministrados por especialistas na área. Não perca a oportunidade de elevar seus estudos, inscreva-se agora e comece a construir um caminho de excelência na medicina!
Veja Também
- Resumo de Remoção de Anzol: procedimento, técnicas e mais!
- Resumo de Cantoplastia: procedimento, indicações e mais!
- Resumo de Anastomose: conceito, indicações, técnicas e mais!
- Resumo de Sutura: tipos, indicações e mais!
- Caso clínico de Trauma Abdominal: avaliação, fluxograma e mais!
- Resumo sobre colecistectomia: indicações, técnica cirúrgica e mais!
- Cirurgia do Aparelho Digestivo
- Resumo sobre politraumatismo: mecanismos, ABCDE do trauma e mais!
- Resumo de avaliação perioperatória cardiovascular, quais exames pedir e muito mais
Referências Bibliográficas
- Mayeaux, E. J. Guia ilustrado de procedimentos médicos [recurso eletrônico] / E. J. Mayeaux. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2012.