Resumo de Transplante de Microbiota Fecal: indicações e mais!
Ministério da saúde.

Resumo de Transplante de Microbiota Fecal: indicações e mais!

Olá, querido doutor e doutora! O transplante de microbiota fecal (TMF) é um procedimento terapêutico que visa restaurar o equilíbrio da microbiota intestinal por meio da transferência de material fecal de um doador saudável para um receptor. Inicialmente utilizado para tratar infecções recorrentes por Clostridium difficile, sua aplicação tem se expandido para outras condições relacionadas à disbiose intestinal.

Embora o TMF tenha se consolidado no tratamento de infecções por Clostridium difficile, seu potencial terapêutico se estende para doenças metabólicas, inflamatórias e até neurológicas, abrindo novas perspectivas para a medicina personalizada.

Conceito de transplante de microbiota fecal 

O transplante de microbiota fecal (TMF) é uma estratégia terapêutica que visa restabelecer o equilíbrio da microbiota intestinal por meio da introdução de material fecal de um doador saudável no trato gastrointestinal de um receptor. Esse procedimento tem ganhado destaque, especialmente no manejo da infecção recorrente pelo Clostridium difficile (CDI), uma condição frequentemente associada ao uso prolongado de antibióticos e à disbiose intestinal.

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Indicações do transplante de microbiota fecal

Infecção por Clostridium difficile refratária ou recorrente 

O TMF é a terapia mais eficaz para casos de CDI que não respondem ao tratamento convencional com antibióticos ou que apresentam recorrências frequentes. Pacientes com três ou mais episódios de infecção, especialmente aqueles que falham ao uso de vancomicina ou fidaxomicina, são candidatos ao procedimento. A taxa de sucesso do TMF para CDI pode ultrapassar 90%, reduzindo a necessidade de novas internações e o uso prolongado de antimicrobianos.

Doenças inflamatórias intestinais (DII) 

Pacientes com doença de Crohn e retocolite ulcerativa podem se beneficiar do TMF, pois a modulação da microbiota intestinal pode contribuir para o controle da inflamação. Estudos demonstram que alguns pacientes com retocolite ulcerativa alcançam remissão clínica e endoscópica após a terapia, embora a resposta ao tratamento ainda seja variável.

Síndrome do intestino irritável (SII) 

A disbiose intestinal tem sido associada a sintomas da síndrome do intestino irritável, como dor abdominal, diarreia e constipação. O TMF tem sido avaliado como alternativa para restaurar o equilíbrio da microbiota nesses pacientes, com algumas evidências sugerindo melhora dos sintomas gastrointestinais, especialmente na forma diarreica da SII.

Doenças metabólicas e obesidade 

A composição da microbiota intestinal tem influência sobre o metabolismo e a regulação do peso corporal. Pesquisas apontam que o TMF pode impactar a resistência à insulina e a inflamação sistêmica, sendo estudado como uma possível terapia para obesidade e síndrome metabólica. No entanto, ainda são necessários mais estudos para definir seu papel nesses casos.

Doenças neurológicas e psiquiátricas 

A relação entre microbiota intestinal e sistema nervoso central tem sido investigada em condições como autismo, esclerose múltipla, Parkinson e depressão. Embora os estudos ainda sejam preliminares, há evidências de que o TMF pode influenciar a comunicação entre o intestino e o cérebro, abrindo novas perspectivas terapêuticas.

Como funciona o transplante de microbiota fecal 

O transplante de microbiota fecal (TMF) consiste na introdução de material fecal de um doador saudável no trato gastrointestinal de um receptor, com o objetivo de restaurar o equilíbrio da microbiota intestinal. O procedimento é realizado seguindo um protocolo que envolve seleção rigorosa do doador, preparo da amostra fecal, escolha da via de administração e monitoramento do paciente após a infusão.

Seleção do doador 

Para minimizar riscos e garantir a segurança do receptor, os doadores passam por uma triagem criteriosa. Esse processo inclui um questionário detalhado sobre histórico médico, hábitos de vida e exposição a doenças infecciosas. Além disso, são realizados exames de sangue e fezes para descartar infecções, alterações metabólicas e outras condições que possam comprometer a qualidade da microbiota transferida.

Preparo do material fecal 

A amostra fecal coletada é processada para obter uma suspensão líquida que possa ser administrada ao receptor. O material é diluído em solução salina estéril ou outra substância compatível e, em seguida, filtrado para remover partículas sólidas. Dependendo da abordagem utilizada, a amostra pode ser utilizada imediatamente (fresca) ou armazenada em congelamento para uso futuro.

Clinical Endoscopy.

Métodos de administração

O TMF pode ser realizado por diferentes vias, sendo as principais: 

  1. Colonoscopia: permite a deposição direta da microbiota no cólon, garantindo maior colonização da flora intestinal. 
  1. Sonda nasogástrica ou nasoduodenal: conduz o material fecal ao trato digestivo superior, evitando a necessidade de procedimentos invasivos. 
  1. Enema retal: opção menos invasiva, mas com menor retenção da microbiota na região intestinal. 
  1. Cápsulas orais: forma encapsulada do material fecal, administrada por via oral, proporcionando maior comodidade ao paciente.

Monitoramento e resultados 

Após a administração, o paciente é acompanhado para avaliar a resposta ao tratamento e monitorar possíveis efeitos adversos. Em casos de infecção por Clostridium difficile, por exemplo, o TMF apresenta altas taxas de sucesso, muitas vezes resolvendo a condição com uma única aplicação. No entanto, algumas doenças podem requerer múltiplas sessões para alcançar resultados satisfatórios.

Contraindicações

  • Doenças imunossupressoras graves: pacientes com imunossupressão severa, como aqueles em quimioterapia, com doenças autoimunes ativas ou submetidos a transplantes de órgãos sólidos, podem ter um risco aumentado de infecções oportunistas após o TMF. Embora estudos indiquem que a terapia pode ser segura para imunocomprometidos em alguns casos, a decisão deve ser individualizada. 
  • Uso recente de antibióticos: o uso de antibióticos pode comprometer a efetividade do TMF, pois pode interferir na colonização da nova microbiota. Recomenda-se uma janela de pelo menos 24 a 48 horas sem antibióticos antes da administração do transplante.
  • Doenças gastrointestinais ativas graves: pacientes com colite fulminante, megacólon tóxico ou perfuração intestinal têm maior risco de complicações graves com o TMF. Nesses casos, a cirurgia pode ser uma opção mais segura.
  • Histórico de neoplasias gastrointestinais: o TMF ainda não é indicado para pacientes com histórico recente de câncer colorretal ou pólipos de alto risco, pois há incertezas sobre seu impacto a longo prazo no desenvolvimento de neoplasias.  

Possíveis complicações 

Efeitos adversos leves a moderados 

São mais comuns e geralmente autolimitados, incluindo: 

  • Desconforto abdominal e sensação de inchaço; 
  • Diarréia transitória ou constipação; 
  • Flatulência e borborigmos (ruídos intestinais aumentados); 
  • Náusea e vômito (especialmente em administração oral); e 
  • Febre baixa nas primeiras 24 horas.

Efeitos adversos graves (raros, mas possíveis) 

  • Infecções transmitidas pelo doador: caso a triagem não seja rigorosa, há risco de transmissão de patógenos bacterianos, virais ou parasitários. 
  • Exacerbação de doenças inflamatórias intestinais (DII): alguns pacientes com colite ulcerativa apresentaram piora da inflamação após o TMF. 
  • Bacteremia e sepse: em casos raros, especialmente em pacientes imunocomprometidos. 
  • Distúrbios metabólicos inesperados: há relatos isolados de ganho de peso e alterações glicêmicas após o TMF, possivelmente relacionados à microbiota do doador.

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Referências Bibliográficas 

  1. KIM, Kyeong Ok; GLUCK, Michael. Fecal microbiota transplantation: an update on clinical practice. Clinical Endoscopy, v. 52, p. 137-143, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.5946/ce.2019.009. Acesso em: 01 mar. 2025. 
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  1. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Transplante de fezes consolida-se como opção de tratamento contra infecção intestinal grave. Brasília, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/ebserh/pt-br/comunicacao/noticias/transplante-de-fezes-consolida-se-como-opcao-de-tratamento-contra-infeccao-intestinal-grave. Acesso em: 01 mar. 2025.
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