E aí, doc! Vamos falar sobre mais um assunto? Agora vamos comentar sobre a Hipodermóclise, uma técnica de administração de medicamentos pelo subcutâneo.
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Definição de Hipodermóclise
A hipodermóclise é uma técnica de administração de fluidos e medicamentos pela via subcutânea, na qual uma solução é infundida no espaço subcutâneo por meio de uma agulha ou cateter fino.
Essa prática é utilizada em pacientes que apresentam dificuldades de acesso venoso periférico ou em situações em que a administração intravenosa não é viável. A absorção dos fluidos e medicamentos ocorre por difusão capilar, proporcionando uma via alternativa para a administração de tratamentos parenterais.
A absorção dos fluidos e medicamentos ocorre por difusão capilar, embora pacientes com edema e hematomas possam apresentar comprometimento na eficácia da terapia. A farmacocinética dos medicamentos administrados por hipodermóclise assemelha-se à da administração intramuscular, mas com tempo de ação prolongado e melhor tolerabilidade para substâncias com pH próximo à neutralidade e solúveis em água.
Para facilitar a administração, a hialuronidase é sugerida em algumas literaturas, pois degrada o ácido hialurônico presente nos tecidos, reduzindo sua viscosidade e aumentando a taxa de absorção dos medicamentos. Certas áreas anatômicas, como deltoides, região anterior do tórax, região escapular, abdômen e faces anterior e lateral das coxas, são consideradas locais adequados para a terapia de hipodermóclise.
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Indicações de Hipodermóclise
- Impossibilidade de ingestão por via oral: A hipodermóclise é indicada em pacientes que enfrentam dificuldades na ingestão oral de fluidos e medicamentos devido a condições clínicas como comprometimento cognitivo, náuseas persistentes, vômitos incontroláveis, diarreia, obstrução intestinal por neoplasia, sonolência e confusão mental.
- Impossibilidade de acesso venoso e contraindicação de procedimentos invasivos: Seja devido a características anatômicas que dificultam a punção venosa, seja por complicações como trombose venosa ou inflamação local. A hipodermóclise é especialmente útil em pacientes cujo sofrimento é aumentado por repetidas tentativas de punção venosa, bem como naqueles em que a administração intravenosa é clinicamente desaconselhada.
Contraindicações da Hipodermóclise
- Contraindicações em situações de emergência:
- Falência circulatória.
- Desequilíbrio hidroeletrolítico severo.
- Sobrecarga de fluidos, como na insuficiência cardíaca congestiva ou edema pronunciado.
- Desidratação grave.
- Administração de soluções de grande volume em curto período de tempo.
- Anasarca grave:
- Pacientes com edema generalizado podem ter a eficácia da terapia comprometida devido à absorção dos medicamentos pela via subcutânea, que ocorre por meio da difusão capilar e perfusão tecidual.
- Distúrbios de coagulação:
- Hematomas.
- Hemorragias.
Vantagens e desvantagens da Hipodermóclise
Vantagens
- Baixo custo: Os materiais necessários para a aplicação da hipodermóclise são economicamente vantajosos quando comparados a outras técnicas de punção utilizadas na prática clínica.
- Possibilidade de alta hospitalar precoce e cuidado domiciliar: A simplicidade do procedimento e a facilidade de administração possibilitam a alta hospitalar precoce, permitindo que o dispositivo seja manuseado em ambiente domiciliar pelo próprio paciente ou por um cuidador após treinamento fornecido pela equipe de enfermagem.
- Mínima ocorrência de desconforto ou complicações locais: A utilização da via subcutânea proporciona conforto aos pacientes, com menor incidência de complicações locais devido à diversidade de sítios de punção disponíveis. Ademais, a interrupção da infusão pode ser realizada sem o risco de complicações vasculares, como trombose.
- Risco reduzido de complicações sistêmicas: A hipodermóclise apresenta um perfil de segurança favorável, com menor probabilidade de causar complicações sistêmicas, como hiper-hidratação e sobrecarga cardíaca.
- Fácil manipulação e manutenção: devido à possibilidade de permanecer no local por um período prolongado, em comparação com o acesso venoso periférico, a hipodermóclise minimiza o risco de danos à integridade da pele e simplifica a manutenção do tratamento ao longo do tempo.
Desvantagens
- Limitação do volume: a técnica da hipodermóclise permite a infusão de volumes de até 1500 ml em 24 horas por sítio de punção, podendo-se utilizar até dois sítios distintos. No entanto, essa restrição pode ser inadequada em situações que requerem administração de grandes volumes de fluidos, limitando sua aplicabilidade em certos casos clínicos.
- Inviabilidade para o ajuste rápido de doses: devido à absorção mais lenta dos medicamentos pelo tecido subcutâneo em comparação com a via intravenosa, a hipodermóclise pode não ser apropriada para situações que exigem ajustes rápidos de doses. Embora essa absorção mais lenta possa reduzir os riscos de hemólise ou reações adversas, pode representar uma limitação em situações onde uma resposta terapêutica rápida é necessária.
Principais sítios de punção
Devido à natureza da terapia subcutânea, há várias opções disponíveis para realizar a punção. As principais áreas de inserção do cateter incluem o músculo deltóide, a região anterior do tórax, a região escapular, a região abdominal e a face lateral da coxa.
Medicamentos utilizados
Os medicamentos e fluidos administrados por hipodermóclise são absorvidos através do mecanismo de difusão capilar e perfusão tecidual. Pacientes que apresentam edemas e hematomas podem ter sua terapia prejudicada devido a essa característica de absorção.
A farmacocinética dos medicamentos administrados por via subcutânea é semelhante à dos medicamentos administrados por via intramuscular, porém apresenta um tempo de ação prolongado e melhor tolerabilidade, especialmente para aqueles com pH próximo da neutralidade e que são hidrossolúveis. Todos os medicamentos administrados por via subcutânea devem estar na forma líquida ou diluída, sendo a diluição de pelo menos 100% recomendada.
Medicamentos com baixa solubilidade em água (lipossolúveis) podem causar danos aos tecidos. Soluções com pH abaixo de 2 ou acima de 11 apresentam risco aumentado de irritação local ou precipitação e, portanto, não são indicadas para infusão por essa via. Exemplos incluem diazepam, diclofenaco, fenitoína, eletrólitos não diluídos, soluções com teor de glicose acima de 5%, soluções com teor de potássio acima de 20 mmol/l, soluções coloidais, sangue e seus derivados, e nutrição parenteral total.
Observações do procedimento
A região torácica deve ser evitada em pacientes com condição física debilitada, como os caquéticos, devido à fragilidade dessa região e ao maior risco de complicações decorrentes da punção nesse local.
É recomendado realizar o rodízio do local de punção a cada 5-7 dias ou conforme as condições da pele e a comodidade do paciente, visando evitar lesões cutâneas e garantir a eficácia do procedimento ao longo do tempo.
Para infusão contínua, é aconselhável o uso de uma bomba de infusão contínua (BIC), garantindo uma administração precisa e controlada do fluido ou medicamento subcutâneo.
A escolha do calibre do dispositivo utilizado para a punção subcutânea pode variar de acordo com o volume a ser infundido e a condição subcutânea do paciente, sendo importante considerar esses fatores para garantir uma administração segura e eficaz do tratamento.
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Referências
Bruno, V.G. Hipodermóclise: revisão de literatura para auxiliar a prática clínica. Einstein, v.13, n.1, p.122-8, 2015
Godinho, N. C., & Silva, L. V. A. Manual de Hipodermóclise. Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu, Botucatu, 2017.
Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Terapia subcutânea no câncer avançado. / Instituto Nacional de Câncer. – Rio de Janeiro: INCA, 2009. 32 p.: il. – (Série Cuidados Paliativos)