ResuMED de Infecções Congênitas: transmissão, diagnóstico, tratamento e mais!

ResuMED de Infecções Congênitas: transmissão, diagnóstico, tratamento e mais!

Como vai, futuro Residente? Você sabia que o tema infecções congênitas é muito recorrente nas provas de Pediatria? Por isso, nós do Estratégia MED preparamos um resumo exclusivo com tudo o que você precisa saber sobre o tema para gabaritar as provas e alcançar sua vaga. Bons estudos!

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Introdução

Vamos começar esse resumo com uma dica de ouro! As principais infecções congênitas podem ser gravadas pelo acrônimo TORCH:

  • T: toxoplasmose
  • O: outras – rubéola, chagas, parvovírus B19, zika vírus, varicela zoster
  • R: rubéola
  • C: citomegalovírus
  • H: herpes simples, hepatite, HIV
  • S: sífilis 

É muito importante que haja um rastreamento sorológico, durante a gestação, para diagnosticar e tratar precocemente essas infecções. O Ministério da Saúde recomenda que seja feita em todas as gestantes, no início da gestação e no terceiro trimestre, testes sorológicos para sífilis, HIV e hepatite B, outras infecções apenas caso haja quadro clínico sugestivo de.

Vamos abordar na parte 1 do resumo a toxoplasmose.

Transmissão das infecções congênitas

No caso da transmissão vertical, depende da imunidade materna, idade gestacional em que a infecção ocorreu e se é infecção primária (transmitida pela placenta no início da gestação), secundária (transmitida pela placenta no fim da gestação) ou reativação. Quando é uma infecção adquirida tardiamente, a placenta está bem desenvolvida, o que aumenta o risco de transmissão vertical. 

A maioria das infecções é transmitida via transplacentária, mas em algumas pode ocorrer via vertical, no parto, como o HIV, hepatite B e C, herpes simples, Coxsackie e malária. A transmissão por amamentação é bem rara, comprovada apenas nas infecções de HIV e hepatite B caso haja lesão mamária ativa de sífilis ou herpes simples; nos casos de HIV materna, o aleitamento materno é proscrito. 

Toxoplasmose

É uma das infecções congênitas mais cobradas nas provas de Residência Médica!

Agente etiológico

Também conhecida como “doença do gato”, a toxoplasmose consiste em uma doença causada pelo protozoário intracelular obrigatório Toxoplasma gondii, que possui um ciclo de vida em dois hospedeiros:

  • Hospedeiro definitivo: felídeo, aloja o parasita adulto em sua forma reprodutiva.
  • Hospedeiro intermediário: homem, aves ou mamíferos, que alojam o parasita na forma jovem ou de reprodução assexuada.

Durante seu ciclo, o protozoário pode se apresentar de três formas distintas:

  • Taquizoíto: presentes na fase aguda ou na reagudização da doença, apresentam alta taxa de multiplicação e possui a capacidade de infectar o sistema nervoso central, olhos, músculos e placenta
  • Bradizoíto: estão presentes nos tecidos dos seres humanos e todos os hospedeiros intermediários, apresentam baixa taxa de multiplicação. Em hospedeiros imunocomprometidos, podem voltar a ser taquizoítos.
  • Esporozoítos: presentes nos oócitos, formados exclusivamente no intestino dos felinos, e são eliminados pelas fezes, infectando o hospedeiro intermediário. É sua forma mais resistente, e pode permanecer no ambiente por anos.

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Transmissão

A transmissão do protozoário para o ser humano ocorre de forma oral, por meio da ingestão de oócitos (esporozoítos), em comida, água e solo contaminado, ou pela ingestão de cistos teciduais (bradizoítos), em carnes cruas ou mal cozidas. Porém, a transmissão também pode ocorrer por meio dos taquizoítos durante a infecção aguda, por transfusão sanguínea, contato com secreções e excreções ou via transplacentária. 

No caso da transmissão vertical, ocorre por via placentária geralmente, durante a infecção materna aguda, com a passagem placentária de taquizoítos. Porém, apesar do risco, os benefícios do parto normal e da amamentação não são contraindicados nos casos de toxoplasmose aguda.

Como dito anteriormente, a transmissão transplacentária possui maior risco conforme maior a idade gestacional, mas a gravidade da doença é maior quando a transmissão vertical ocorre no início da gestação. 

Profilaxia

A toxoplasmose é uma infecção congênita de notificação compulsória. Sua prevenção primária inclui evitar ingerir carnes mal cozidas de animais contaminados, frutas, verduras, solo ou água contaminada com fezes de gatos contaminados; através de higienização correta das mãos antes das refeições, utilizar luvas para manusear o solo, consumir apenas água filtrada, congelar carnes cruas, mal cozidas e mal passadas, entre outras. Lembre-se: não há vacina para toxoplasmose.

Diagnóstico

Geralmente a toxoplasmose se apresenta assintomática, o diagnóstico na gestação é feito a partir do rastreamento com solicitação de sorologia em todas as gestantes no primeiro, segundo e terceiro trimestre de gestação, pelo menos. Confira a sorologia da paciente no primeiro trimestre da gestação e suas condutas:

  • IgG – e IgM – ⇒ SUSCEPTÍVEL ⇒ devem ser realizadas medidas de prevenção.
  • IgG + e IgM – ⇒ IMUNE ⇒ pode prosseguir com o pré-natal normalmente.
  • IgG – e IgM + ⇒  FALSO POSITIVO ⇒ repetir a sorologia em 2 semanas; ou
    • INFECÇÃO AGUDA  ⇒  tratamento com espiramicina e investigação fetal.
  • IgG + e IgM – ⇒ AVIDEZ BAIXA ou INFECÇÃO AGUDA ⇒ tratar com espiramicina e investigação fetal; ou
    • AVIDEZ ALTA – INFECÇÃO ANTIGA ⇒ pré-natal habitual. 

A toxoplasmose fetal pode ser diagnosticada pela pesquisa de DNA do parasita, por PCR em amostra de líquido amniótico ou por amniocentese.

Tratamento

O tratamento para toxoplasmose deve ser iniciado se houver suspeita ou confirmação de infecção aguda durante a gestação. O objetivo do tratamento em uma infecção recente é a profilaxia, com administração materna de espiramicina 3g/dia, via oral, e pesquisa de infecção fetal; são aplicados nos casos de soroconversão materna ou suspeita de infecção recente. 

Caso a infecção seja tardia, como quando a sorologia é realizada após 16 semanas de gestação, o teste de avidez não é mais considerado fidedigno e a toxoplasmose deve ser tratada assim como a recente, com espiramicina e investigação de infecção fetal. 

A espiramicina não ultrapassa a barreira placentária, porém reduz o risco de passagem transplacentária do parasita e impede a infecção fetal. No caso de infecção fetal, se for negativa, deve-se manter a espiramicina até o parto, e se confirmada, deve ser iniciado um tratamento com sulfadiazina, pirimetamina e ácido fólico a partir de 16 a 18 semanas até o fim da gestação.

Toxoplasmose congênita

Se a gestação for adiante com o quadro de toxoplasmose, a maioria das crianças nasce assintomática, as assintomáticas são geralmente infectadas durante o primeiro trimestre da gravidez, apresentando manifestações como hepatoesplenomegalia, icterícia e anemia hemolítica, perda auditiva, déficits neurológicos e oftalmológicos. Porém, essas manifestações são comuns em outras infecções. 

A toxoplasmose congênita pode ser diferenciada pela presença da Tríade de Sabin: coriorretinite, calcificações cerebrais difusas, hidro ou microcefalia e retardo mental. 

Citomegalovírus

A infecção pelo citomegalovírus possui alto risco de transmissão para o feto, causando riscos deletérios, principalmente no sistema nervoso central. É um vírus da família Herpesviridae e possui um único hospedeiro. Apresenta capacidade de latência no organismo, o que permite que se reative caso haja modificação do sistema imunológico, como na gestação, no uso de medicações imunossupressoras e pacientes com HIV. 

Em pacientes imunocompetentes, geralmente é assintomática ou apresenta-se com quadro de mononucleose-símile, com febre, mialgia e linfadenopatia cervical. 

A transmissão ocorre pelo contato interpessoal com fluidos corporais infectados pelo vírus, como saliva, sangue, urina e secreções genitais. A transmissão vertical ocorre principalmente via placentária, mas pode ser transmitida durante o parto, caso haja contato com secreção contaminada, e durante a amamentação, pois o vírus é excretado pelo leite materno. Apesar de poder ser transmitido via amamentação e parto normal, ambos não são contraindicados no caso de infecção por citomegalovírus.

Quanto maior a idade gestacional, maior é o risco de transmissão vertical e quanto menor a idade gestacional, maior o risco de acometimento fetal.

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico da infecção materna por citomegalovírus (CMV) é feito por sorologia com pesquisa de anticorpos específicos, mas o rastreamento não é recomendado pelo Ministério da Saúde como triagem de rotina, pois a imunidade não protege o feto de reinfecção ou reativação e não existe tratamento efetivo durante a gestação. A sorologia materna se dá pela seguinte maneira:

  • IgG + IgM – ⇒ NÃO INDICA IMUNIDADE, pode haver reinfecção ou reativação
  • IgG – IgM – ⇒ SUSCEPTÍVEL
  • IgG – IgM + ⇒ FALSO POSITIVO ou INFECÇÃO RECENTE
  • IgG + IgM + ⇒ TESTE DE AVIDEZ PARA IgG
    • < 30: INFECÇÃO RECENTE
    • > 60: INFECÇÃO ANTIGA

O diagnóstico de infecção fetal é feito pela pesquisa do DNA por PCR em amostra de líquido amniótico, colhido por amniocentese após 18 semanas de gestação, caso seja confirmada a infecção por CMV deve ser feito acompanhamento ultrassonográfico seriado. 

Até o momento, não há tratamento efetivo contra citomegalovírus durante a gestação e também não há vacina para sua profilaxia.

Infecção congênita por CMV

Geralmente é uma infecção assintomática, os sintomáticos são infectados no primeiro trimestre da gestação, apresentando manifestações sistêmicas, neurológicas, oftalmológicas e auditivas. Os principais sinais incluem: icterícia colestática, petéquias e hepatoesplenomegalia, mas também podem apresentar surdez neurossensorial e calcificações intracranianas periventriculares associado a perda auditiva e petéquias. 

Para diagnóstico é realizada uma pesquisa do vírus em líquidos corporais, pois os pacientes infectados secretam os vírus em líquidos corporais, como urina e saliva, por anos após a infecção. É necessário também uma avaliação complementar, com exames como hemograma, testes de função hepática, exames de imagem neurológico, coleta de líquor, fundo de olho e triagem auditiva.

O tratamento é incerto, pois alguns autores recomendam tratamento com antivirais para crianças assintomáticas, e outros preferem a administração de Ganciclovir para impedir a progressão da surdez. 

Rubéola

É uma doença exantemática aguda que acomete crianças e adolescentes, é de notificação compulsória. Devido a alta vacinação, a rubéola está erradicada do Brasil desde 2008, e não faz mais parte do rastreamento obrigatório durante o pré-natal. 

A transmissão materna ocorre por contato interpessoal íntimo e prolongado, por gotículas de secreção de nasofaringe, a transmissão vertical ocorre via placentária durante a primo-infecção materna, que causa um grave acometimento fetal. Em 50% dos casos é assintomática, mas os assintomáticos apresentam manifestações como: eritema maculopapular de distribuição centrífuga, febre baixa, cefaléia, anorexia, conjuntivite leve, coriza, tosse e linfadenomegalia.

A prevenção com vacina oferece imunidade para vida toda e não deve ser administrada em gestante, crianças menores de 12 meses, nem imunossuprimidos, pois é feita de um vírus vivo atenuado.

Seu diagnóstico é feito pela sorologia de anticorpos específicos, caso confirmada, o diagnóstico de infecção fetal é feito por pesquisa de RNA por PCR em amostra de líquido amniótico colhido por amniocentese ou por pesquisa de IgM no sangue fetal, colhido por cordocentese. O tratamento não existe ainda e a interrupção da gestação não é permitida no Brasil.

Rubéola congênita 

Apesar de ser assintomática, geralmente possui como característica a presença de cardiopatia. Existem um termo chamado síndrome da rubéola congênita, que é caracterizada pela presença de cardiopatia, déficit auditivo neurossensorial bilateral e catarata. 

O diagnóstico é feito também pela presença de anticorpos IgM ou por isolamento do vírus em secreção nasofaríngea, líquor ou urina, deve ser realizado um ecocardiograma para fechar o diagnóstico junto aos achados clínicos. Também não há tratamento específico para a rubéola congênita, apenas deve ser um tratamento sintomatológico.

Zika vírus

É um tema muito cobrado nas provas!

O vírus zika é um arbovírus, transmitido por picada de mosquitos, que é transmitido principalmente pelo Aedes aegypti, mas também pode ser transmitido via sexual, ou por contato com sangue, saliva, urina e leite materno infectados. Além disso, em 2015 foi confirmada a transmissão transplacentária, fazendo com que a infecção por zika vírus se tornasse de notificação compulsória no Brasil. 

Suas principais manifestações clínicas incluem doença exantemática, febre baixa, artralgia leve a moderada, conjuntivite, cefaleia, prurido, hipertrofia ganglionar e acometimento neurológico. Já a síndrome congênita pelo Zika vírus manifesta-se com microcefalia, microftalmia, pé torto congênito, artrogripose, hidropsia, restrição de crescimento fetal, abortamento e óbito fetal. 

Prevenção, diagnóstico e tratamento

As principais medidas de proteção incluem: uso de repelentes, redes protetoras, ar-condicionado e janelas fechadas, uso de mangas longas e calças compridas e uso de preservativo durante a gestação. 

Caso haja doença exantemática durante a gestação, deve ser solicitado teste rápido de PCR para Zika vírus até o 5° a 7° dia de sintomas. Se confirmado o diagnóstico, deve ser feito estudo da morfologia e vitalidade fetal, além de exames ultrassonográficos seriados mensais. Caso não haja sintomas, pode ser detectado diagnóstico de microcefalia nas ultrassonografias de rotina, sóentão deve ser feito sorologia IgG e IgM para Zika, além de uma avaliação com geneticista.

Não existe tratamento para a síndrome congênita por Zika vírus, logo o parto e o puerpério continuam normais e a amamentação não é contraindicada. A criança deve receber acompanhamento multiprofissional para o estímulo precoce e diminuição da perda do desenvolvimento psicomotor. 

Parvovírus B19

É um vírus transmitido via respiratória, sanguínea ou transplacentária, sendo a última comum em até 25% dos casos e é mais grave quando ocorre na primeira metade da gestação.

Em crianças, causa eritema infeccioso, em adultos geralmente é assintomática, mas pode ocorrer aplasia eritrocitária e infecção crônica na medula óssea de imunocomprometidos. Durante a gestação, muitas vezes não ocorre manifestação fetal, mas em alguns casos ocorre citotoxicidade na eritropoiese fetal, causando anemia fetal, hidropsia fetal não imune, perda gestacional precoce e óbito fetal.

O diagnóstico materno é feito por sorologia pelos anticorpos IgG e IgM caso haja suspeita, mas também pode ser feito a partir da suspeita de hidropsia fetal não imune, caracterizada pelo excesso de água no corpo do feto. 

Herpes simples e varicela congênita

A maioria dos casos de herpes simples na gestação são transmitidas durante o parto pelo contato do neonato com infecções ativas da mãe, mas a doença fetal é sempre assintomática e pode manifestar-se como doença localizada, neurológica ou disseminada. 

O diagnóstico é feito por isolamento e cultura viral, além do tratamento com aciclovir, deve ser feita a prevenção em todas as gestantes infectadas. O RN infectado, deve ser mantido em isolamento de contato.

Por fim, sobre a varicela congênita é importante que você saiba que é observada principalmente no segundo semestre de gestação, apresenta-se com lesões cutâneas e malformação de membros. 

Neonatos filhos de mães portadoras da doença até 2 dias antes do aprto ou até 5 dias depois, devem realizar imunoglobulina anti-varicela-zoster em dose única, e o tratamento é feito com aciclovir. 

Existem algumas outras infecções que são diagnósticos diferenciais das infecções congênitas apresentadas, não deixe de conferir no material completo do Estratégia MED!

ATUALIZAÇÃO: Toxoplasmose Congênita e Manual de Alto Risco do Ministério da Saúde – Obstetrícia

A Profª Natália Carvalho traz para você atualizações de Obstetrícia, após 10 anos sem mudanças, que se encontram no Manual de Alto Risco do Ministério da Saúde de 2022.

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Chegamos ao fim do nosso resumo. Gostou do conteúdo? Não se esqueça de fazer parte do time Estratégia MED acessando a nossa plataforma! Lá você encontra tudo o que precisa sobre diversos temas para as provas de Residência Médica, com acesso às videoaulas, resumos, materiais, simulados, bancos de questões e muito mais exclusivamente para você, futuro Residente! Não deixe de conferir!

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