ResuMED de hepatopatias: classificação, diagnóstico, tratamento e mais!

ResuMED de hepatopatias: classificação, diagnóstico, tratamento e mais!

Quando o tema é cirrose hepática e suas complicações, é natural que pensemos nas principais etiologias associadas a essa condição tão importante no meio médico. Devemos sempre pensar nas causas genéticas e infecciosas, mas uma deve sempre chamar nossa atenção: o consumo etílico exagerado. A doença hepática alcoólica se configura como uma das principais causas de cirrose hepática e precisamos explorar as implicações clínicas que esse transtorno de abuso de substâncias pode causar. Leia, no texto a seguir, o conteúdo a respeito da doença hepática alcoólica! 

Inscreva-se em nossa newsletter!

Receba notícias sobre residência médica, revalidação de diplomas e concursos médicos, além de materiais de estudo gratuitos e informações relevantes do mundo da Medicina.

Fatores de risco e quadro clínico

Como o próprio título já indica, o principal fator de risco e condição necessária para tal entidade é o consumo excessivo de álcool. Porém, devemos sempre ressaltar alguns componentes adicionais já que observamos que apenas 1% dos indivíduos que consomem de 30 a 60 gramas de álcool por dia evoluem para cirrose e cerca de 6% daqueles que consomem 120 gramas de álcool por dia. 

Os principais fatores de risco para progressão para cirrose são: 

  • consumo diário de álcool;
  • tabagismo;
  • obesidade;
  • sexo feminino, como consequência da menor quantidade de enzima álcool desidrogenase;
  • desnutrição;
  • fatores genéticos;
  • presença de outras hepatopatias; e
  • achados histológicos, como infiltração neutrofílica.

A lesão do álcool no fígado se caracteriza por um infiltrado polimorfonuclear que gera um quadro de esteato-hepatite. Na histologia observamos: esteatose macrovesicular, infiltrado neutrofílico majoritariamente em região central, corpúsculos hialinos de Mallory, balonização dos hepatócitos e fibrose seja perivenular ou periportal. 

Quando falamos do quadro clínico da doença hepática alcoólica devemos olhar esse grupo de pacientes em diversos espectros. 

  • Esteatose hepática: assintomáticos em sua maioria. Os poucos pacientes com sintomas se apresentam com desconforto em quadrante superior direito ou com discreta icterícia associada

  • Esteato-hepatite: grupo de pacientes com inflamação e lesão hepática. O quadro clínico varia com febre, icterícia, encefalopatia hepática, ascite.

  • Cirrose hepática: ascite, hemorragia por varizes de esôfago, encefalopatia hepática, disfunção erétil. 

Observamos aqui na evolução e progressão da doença os sinais e sintomas associados à insuficiência hepática, assim como à hipertensão portal. Saber diferenciar esse grupo de sinais e sintomas é de grande valia na avaliação do paciente hepatopata. 

  • Insuficiência hepática: aumento de bilirrubina direta representada por icterícia, redução de albumina, alargamento do INR, rarefação de pelos, atrofia testicular, telangiectasias, eritema palmar.
  • Hipertensão portal: varizes esofágicas, circulação colateral, ascite. 

Outros achados são um pouco mais sensíveis para a etiologia alcoólica, por isso devemos citá-los agora. Os principais são o ingurgitamento de parótidas e a contratura de Dupuytren. 

Esse último é uma condição fibrótica incapacitante da mão, na qual há acometimento da fáscia palmar e digital. Apresenta-se com nódulos, contratura progressiva e deformidades em flexão das articulações das mãos, principalmente das metacarpofalangeanas e interfalangeanas proximais. Tais achados indicam fortemente a presença de etiologia alcoólica para a doença hepática. 

BANNER_PORTAL_ (1).jpg

Diagnóstico de doença hepática alcoólica

Devemos sempre suspeitar de doença hepática alcoólica quando estamos diante de um paciente etilista crônico e que se apresenta com aumento das transaminases, hepatomegalia e esteatose hepática. É importante avaliar a possibilidade de outras hepatopatias crônicas. Na avaliação inicial de qualquer paciente devemos fazer a seguinte análise: 

  • Histórico de ingestão de bebidas alcoólicas;
  • Exame físico;
  • Exames laboratoriais; 
  • Pesquisa de outras hepatopatias (sorologia para hepatite B, sorologia para hepatite C, ferritina, saturação de transferrina, gamaglobulina, FAN, antimúsculo liso e anti-LKM-1); e
  • Avaliação do líquido ascítico nos pacientes com ascite.

Alguns achados laboratoriais podem nos ajudar ou sugerir o diagnóstico de hepatite alcoólica: 

  • Início da icterícia nas últimas 8 semanas; 
  • Consumo superior a 40 gramas de álcool por dia para mulheres e superiores a 60 gramas de álcool por dia para homens, no período de 6 meses ou mais;
  • Menos de 60 dias de abstinência antes do aparecimento da icterícia;
  • TGO superior a 50 UI/litro;
  • Relação TGO/TGP superior a 1,5;
  • Transaminases inferiores a 400 UI/litro; e
  • Bilirrubina superior a 3 mg/dl.

Durante a investigação, como já dito, podemos nos deparar com outras hepatopatias crônicas. As principais que devem ser ativamente investigadas são: doença de Wilson, deficiência de alfa-1 antitripsina, hipertireoidismo, doença celíaca, colangite biliar primária e colangite esclerosante primária. 

Classificação de gravidade

Durante a avaliação de gravidades de pacientes com doença hepática alcoólica devemos utilizar escores específicos e alguns exames. Os principais utilizados são: Maddrey, INR alargado, hipoalbuminemia e MELD. 

A função discriminante de Maddrey (IFD) avalia a gravidade e mortalidade de pacientes com hepatite alcoólica. Valores superiores a 32 indicam alta mortalidade a curto prazo e benefícios com o tratamento medicamentoso. 

Já o MELD é um modelo estatístico que prevê a sobrevida de pacientes com cirrose hepática. Utilizamos esses valores para indicar a ordem na lista de transplante hepático. 

Tratamento da doença hepática alcoólica

O tratamento da doença hepática consiste basicamente na abstinência alcoólica. A interrupção desse hábito pode gerar reversão de grande parte da sintomatologia. Diferente de outras hepatopatias, o fato do álcool se apresentar por lesão polimorfonuclear em região perivenular pode aliviar a pressão sobre essas vênulas e restaurar a função hepática. 

Em alguns casos, de piora de função hepática agudamente, podemos lançar mão da corticoterapia. Reservamos esse tratamento aos pacientes graves com IFD superior a 32 sem outras contraindicações no momento. 

Após a introdução da corticoterapia, observamos se houve ou não resposta no sétimo dia de tratamento com melhora do IDF ou escore de Lille <0,45. Além da corticoterapia, temos como opção o uso da pentoxifilina. 

Para alguns pacientes, entretanto, a terapêutica não é satisfatória. Além disso, de forma crônica, devemos sempre avaliar a possibilidade de tratamento definitivo para essa entidade. Em todos pacientes com MELD igual ou maior a 15 devemos listá-los na lista de transplante hepático. Outras condições associadas podem também indicar tal terapêutica como hepatocarcinoma, hipertensão portopulmonar, polineuropatia amiloide familiar e fibrose cística. 

Pacientes com hepatite alcoólica grave que não respondem à corticoterapia também podem ser requisitados para ir ao transplante devido à falha de tratamento. 

Aprendeu tudo sobre a doença hepática alcoólica, futuro residente? Para mais conteúdo como esse e um enorme banco de questões acesse nosso site e faça parte da nossa equipe!

 

BANNER_PORTAL_ (1).jpg

Veja também:

Você pode gostar também