Mpox se torna emergência de saúde internacional; entenda a situação no Brasil
Estratégia Med | Foto: QINQIE99/Shutterstock

Mpox se torna emergência de saúde internacional; entenda a situação no Brasil

Segundo o Ministério da Saúde, no Brasil, a média de novos casos em agosto deste ano está entre 40 e 50 infecções

Nos últimos dias a mpox tem sido um tema de atenção nas instituições de saúde no Brasil e no mundo. Essa preocupação acontece devido à crescente nos casos da doença que se aproxima de 100 mil notificados entre janeiro de 2022 e junho de 2024 em todo o mundo, sendo a República Democrática do Congo responsável por 96% dos casos em junho de 2024.

Dentre as principais medidas tomadas, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou na última segunda-feira (12) um documento oficial solicitando que fabricantes de vacinas contra a mpox submetam pedidos de uso emergencial de suas doses. O diretor-geral da entidade, Tedros Adhanom Ghebreyesus, também anunciou a convocação de um comitê de emergência para avaliar o surto da doença na África e o risco de disseminação internacional do vírus.

Agora, após a reunião do comitê de emergência realizada nesta quarta-feira (14), a OMS declarou oficialmente que a situação da mpox na África constitui uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII), devido ao risco de disseminação global e à potencial ameaça de uma nova pandemia. Este é o mais alto nível de alerta da organização.

Em coletiva de imprensa em Genebra, o diretor-geral da OMS ressaltou que surtos de mpox têm sido relatados na República Democrática do Congo há mais de uma década, com um aumento nas infecções nos últimos anos. “Está claro que uma resposta internacional de forma coordenada é essencial para interromper esses surtos e salvar vidas. Uma emergência em saúde pública de importância internacional é o mais alto nível de alarme na legislação sanitária”, concluiu. Além disso, Burundi, Quênia, Ruanda e Uganda reportaram seus primeiros casos, todos ligados ao surto regional. A Costa do Marfim também enfrenta um surto, mas de uma variante diferente, e a África do Sul confirmou mais dois casos.

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O que é a mpox, transmissão, sintomas e mais

A mpox é uma doença zoonótica viral causada pelo vírus monkeypox, que pertence à mesma família (poxvírus) e gênero (ortopoxvírus) da varíola humana. Embora a varíola humana tenha sido erradicada em 1980, a mpox continua a ser uma preocupação. Antes do surto de 2022, a doença era predominantemente registrada na África Central e Ocidental, em áreas próximas a florestas onde roedores e macacos são hospedeiros naturais.

A transmissão para humanos pode ocorrer através do contato com animais silvestres infectados, contato direto com a pele ou lesões de pele, secreções respiratórias, saliva e contato sexual com pessoas infectadas, bem como pelo manejo de materiais contaminados.

Dentre os sintomas, a erupção cutânea é o sintoma mais comum e presente em mais de 80% dos casos. Outros sintomas frequentes incluem febre, fadiga, fraqueza, linfonodos inchados, dores musculares e de cabeça.

A principal forma de prevenção da mpox é evitar o contato direto com pessoas suspeitas ou confirmadas com a doença. Caso o contato seja necessário, como para cuidadores ou profissionais de saúde, deve-se usar luvas, máscaras, avental e óculos de proteção. O isolamento imediato é necessário e não deve-se compartilhar objetos pessoais, como toalhas e roupas, até que a transmissão deixe de ocorrer.

Perfil epidemiológico

De acordo com o relatório da OMS, mais de 90% dos casos confirmados de mpox são de homens, com uma média de idade de 34 anos, variando entre 29 e 41 anos. A distribuição de casos por idade e sexo tem se mantido estável, principalmente fora da África, onde homens entre 18 e 44 anos representam 79,4% dos casos.

Mpox no Brasil

No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, a média de novos casos em agosto deste ano está entre 40 e 50 infecções. Na última terça-feira (13), o Ministério realizou o webinário “Situação Epidemiológica e Resposta à Mpox no Brasil”, para apresentar a evolução dos casos, as manifestações clínicas e os cuidados necessários, além das principais estratégias de vacinação contra a mpox.

Segundo o diretor do Departamento de HIV, Aids, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis da pasta, Draurio Barreira, o webinário foi realizado como uma medida preventiva, devido ao quadro epidêmico na África, para evitar que o país seja surpreendido por uma nova pandemia.

Números de infectados no Brasil

Entre 2022 e 2024, o Brasil registrou 11.212 mil casos confirmados e 366 casos prováveis de mpox, além de 66 casos suspeitos e mais de 46 mil descartados. Desde então, ocorreram 16 óbitos, sendo o mais recente em abril de 2023. Todos os falecidos apresentaram febre e múltiplas erupções, predominantemente genitais. Além disso, entre os óbitos, 15 ocorreram em pacientes imunossuprimidos vivendo com HIV, e apenas um caso foi de uma pessoa imunodeprimida devido a câncer.

Em 2024, foram notificados 709 casos de mpox no país, dentre confirmados e prováveis.

Perfil de infectados no Brasil

Assim como relatado pela OMS a nível mundial, a maioria das infecções no Brasil ocorre em homens (91,3%), com uma idade mediana de 32 anos. Crianças e adolescentes até 17 anos representam 3,7% dos casos, e 1,1% dos casos ocorrem em crianças menores de 4 anos. No sexo feminino, o número de casos é 10 vezes menor que entre os homens, com cerca de mil mulheres, principalmente jovens adultas, sendo afetadas.

Segundo o diretor do departamento, outra informação relevante envolve grupos considerados mais vulneráveis, como homossexuais, homens heterossexuais e bissexuais. Draurio destacou que quase metade das pessoas não tem a orientação sexual definida nos registros.

Entre os casos confirmados e prováveis para mpox no Brasil, 45,9% das pessoas declararam viver com HIV. Entre os homens diagnosticados com a infecção, o índice chega a ser de 99,3%.

De 2022 a 2024, o Brasil também registrou 23 gestantes infectadas por mpox em diferentes estágios da gravidez.

Tratamento para mpox

O Ministério da Saúde recebeu autorização da Anvisa para importar o medicamento Tecovirimat. Entretanto, segundo Draurio, “Por ser um medicamento off label, não foi ainda autorizado para o tratamento de mpox, mas, efetivamente, reduz a mortalidade”.

O ministério está trabalhando com a Organização Pan-americana da Saúde (Opas) para adquirir tratamentos adicionais caso ocorra um surto no Brasil, pois atualmente não há um tratamento específico disponível no país.

Atualmente, o tratamento de mpox é baseado em medidas de suporte clínico para aliviar sintomas, prevenir complicações e evitar sequelas. A maioria dos casos é leve a moderada, e não há medicamento aprovado especificamente para a doença.

Vacinação para mpox

A vacinação visa proteger indivíduos com maior risco de formas graves da doença. A estratégia, definida com conselhos municipais e estaduais, prioriza:

  • Pré-exposição: Pessoas vivendo com HIV/aids (homens cisgêneros, travestis e mulheres transexuais) com 18 anos ou mais e contagem de linfócitos T CD4 abaixo de 200 células nos últimos seis meses. Profissionais de laboratório que lidam com Orthopoxvírus em laboratórios de nível de biossegurança 2 (NB-2), com idades entre 18 e 49 anos.
  • Pós-exposição: Pessoas que tiveram contato direto com fluidos e secreções de indivíduos suspeitos ou confirmados de mpox, classificadas como de alto ou médio risco pela OMS, conforme avaliação da vigilância local.

Iniciada pelo Ministério da Saúde em 2023 durante outra ESPII, a vacinação contra mpox no Brasil aconteceu a partir de autorização provisória da Anvisa e priorizou a proteção de grupos de maior risco. Segundo a pasta, mais de 29 mil doses foram aplicadas em todo o país.

Centro de Operações de Emergência de Saúde Pública para MPOX

Em resposta à crescente da doença, o Ministério estabelece o Centro de Operações de Emergência em Saúde (COE) para centralizar as ações de resposta à mpox.

Instituído por meio de Portaria publicada no Diário Oficial da União nesta quinta-feira (15), o COE MPOX é responsável por planejar, organizar, coordenar e controlar as medidas de resposta em nível nacional, garantindo a articulação com gestores do Sistema Único de Saúde (SUS) em todas as esferas, bem como com outros órgãos e entidades públicas.

A coordenação técnica será feita pelo Departamento de HIV/AIDS e correlatos, enquanto a gestão operacional é do Departamento de Emergências em Saúde Pública. O COE também colabora com especialistas e instituições, divulga informações à população e propõe ações de saúde conforme necessário. Clique no botão abaixo para conferir a Portaria na íntegra:

CFM orienta médicos sobre mpox

O Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgou uma nota orientando os médicos sobre o monitoramento da mpox no Brasil e informa que está acompanhando atentamente os desdobramentos relacionados ao tema, em sintonia com as autoridades sanitárias brasileiras. Confira a nota clicando no botão abaixo:

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