Relatório Nacional sobre demência publicado pelo Ministério da Saúde traz panorama da doença no Brasil
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Relatório Nacional sobre demência publicado pelo Ministério da Saúde traz panorama da doença no Brasil

O Relatório Nacional sobre Demência no Brasil (Renade) foi lançado pelo Ministério da Saúde durante evento realizado na sede da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), em setembro, na cidade de Brasília. Produzido por especialistas das cinco regiões do país, o documento desenvolvido em consonância com os objetivos da Organização Mundial da Saúde (OMS) apresenta dados sobre a prevalência, incidência, fatores de risco, mortalidade, subdiagnóstico, além do conhecimento e estigma da população brasileira sobre a demência.

Com as pesquisas e dados organizados, o relatório visa fornecer informações importantes para compreender a extensão dos desafios da demência no Brasil, levando em conta as variações regionais que influenciam a elaboração de programas eficazes de saúde pública.

Dados do Renade

No Brasil, país que segue a tendência de uma população mais idosa, a demência tem se destacado como uma importante questão de saúde pública. Dados do Renade apontam que a prevalência de demência em uma população tende a dobrar a cada cinco anos, principalmente após os 65 anos. Se a expectativa de vida no Brasil realmente aumentar de 71 anos para 80,6 anos até 2050, é provável que a prevalência de demência na população cresça significativamente.

Para se ter um comparativo, em 2019, a prevalência de demência entre os brasileiros com 60 anos ou mais era de aproximadamente 8,5%, o que representava cerca de 2,71 milhões de pessoas. Com a previsão de aumento, esse número deve chegar a 5,6 milhões até 2050.

Ainda considerando os dados de 2019, o maior número de casos notificados foi atribuído às mulheres. A incidência correspondia 9,1% enquanto em relação aos homens, essa taxa era de 7,7%. As mulheres também lideram o ranking quando a questão é a mortalidade relacionada à demência. Em 2019, dentro de um grupo etário de 55+ e 80+, o número de óbito das mulheres correspondeu a 62% e 64,5%, respectivamente.

Fatores de risco

Atualmente, não há tratamento capaz de alterar o curso natural das demências. No entanto, a prevenção, através do controle dos fatores de risco, surge como a principal estratégia para reduzir o número de casos. Em países desenvolvidos, a incidência de demência tem diminuído nas últimas décadas, fenômeno que parece estar relacionado à melhora no nível educacional e ao controle mais eficaz dos fatores de risco cardiovascular.

Essas constatações são apoiadas por estudos epidemiológicos. Dois ensaios clínicos multidomínios, divulgados no Renade, que implementaram intervenções focadas em aumentar a atividade física, adesão a uma dieta saudável, estimulação cognitiva e controle rigoroso dos fatores de risco cardiovascular, apresentaram resultados promissores. Durante o período dos estudos, observou-se uma melhora na função cognitiva e uma redução na incidência de demência entre os participantes.

O relatório mostra 12 fatores de riscos que foram estabelecidos pela comissão da revista The Lancet, em 2010. São eles:

  • Baixa escolaridade;
  • Hipertensão Arterial;
  • Perda Auditiva;
  • Obesidade;
  • Traumatismo Cranioencefálico;
  • Abuso do álcool;
  • Depressão;
  • Inatividade Física;
  • Diabetes Mellitus;
  • Poluição do Ar;
  • Tabagismo; e
  • Isolamento Social.

Se houvesse uma redução de 10%, a cada década, de cada um dos 12 fatores de riscos analisados, a projeção seria de aproximadamente uma diminuição de 600 mil casos de demência até 2060. Se a redução fosse de 20%, esse número ultrapassaria 1,2 milhão a menos de casos de demência.

Em julho de 2024, foi publicada a atualização desta comissão, agora incluindo 14 fatores, os dois novos seriam: déficit visual não tratado e colesterol alto (LDL). A prevenção de todos os fatores deve ser realizada o mais cedo possível e continuar ao longo de todos os ciclos da vida.

Estigma

A importância de se ter um diagnóstico, se possível realizado precocemente, é a primeira medida para assegurar que pessoas com demência e seus familiares possam receber um suporte adequado à saúde, mas existe um estigma em torno da doença que dificulta esse processo de cuidado e tratamento.

Segundo o Renade, tanto em relação à sociedade como por parte dos profissionais de saúde, esse estigma ocorre de duas formas. Pelo estereótipo de “despersonalização”, o que classifica a pessoa com demência como “anormal”, excluindo-a de vivenciar sentimentos como as outras pessoas. E por meio da “necessidade” de segregar e sedar a pessoa, utilizando medicamentos como método de controle comportamental e atitudes indesejáveis resultantes da demência.

O que comprova o estudo que compõe uma dissertação de mestrado apresentada à Universidade Federal de São Paulo, aplicado a 2.907 brasileiros(as), entre pacientes, familiares cuidadores, profissionais de saúde e público geral. O estudo foi dividido em três blocos, sendo um deles referente à intenções de comportamento e mostrou que:

 — 42,8% dos profissionais de saúde concordaram que as pessoas não querem ser amigas de pessoas que vivem com demência. 

— Quase 45% do público em geral acredita que é importante remover responsabilidades da pessoa que vive com demência para não a estressar. 

“Eu acho que as pessoas ficam um pouquinho afastadas, não fica[m]? (…) a gente [pensa] assim ‘nossa, eu estou esquecida, como eu vou entrar no meio dos outros? É chato!’, né? De uma pessoa às vezes perguntar e a gente não saber responder, né?”. Depoimento de mulher com demência, presente no Renade.

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Projeto STRiDE

Buscando uma forma de melhorar esse panorama sobre o estigma relacionado à demência, o projeto STRiDE, criado com o objetivo de contribuir para a melhoria dos sistemas de cuidado, tratamento e suporte em demência no Brasil e em outros sete países de renda média (Índia, Indonésia, Quênia, Jamaica, México e África do Sul), desenvolveu o kit de ferramentas antiestigma, disponível gratuitamente em português, que oferece estratégias e exemplos práticos para combater práticas discriminatórias contra pessoas que convivem com demência e seus familiares cuidadores.

É fundamental que exista projetos e investimentos na capacitação de profissionais de saúde e políticas públicas que possam contribuir para o melhor cuidado e redução do estigma em torno da demência.

Por fim, o Relatório Nacional sobre Demência no Brasil representa um marco inicial na identificação dos desafios relacionados à demência no Brasil, contribuindo para o desenvolvimento de estratégias voltadas para as pessoas afetadas pela doença, bem como para seus familiares e cuidadores, e profissionais de saúde.

Confira também o texto sobre o lançamento do roteiro “Identificação da Demência na Atenção Primária”, fluxograma divulgado pelo Ministério da Saúde, que auxilia profissionais da saúde a identificar os primeiros sinais da doença.

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