Olá, querido doutor e doutora! O prurigo representa um desafio comum na prática dermatológica, caracterizado por lesões intensamente pruriginosas que impactam significativamente a qualidade de vida dos pacientes. Sua apresentação clínica é diversa e pode refletir desde reações simples a picadas de insetos até manifestações de doenças sistêmicas complexas. O entendimento da fisiopatologia, classificação e possibilidades terapêuticas é fundamental para uma abordagem adequada e eficaz.
Em casos de prurigo crônico, a expressão dérmica da interleucina-31 (IL-31) está diretamente relacionada à intensidade da coceira.
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Conceito
O prurigo corresponde a uma manifestação cutânea caracterizada pelo surgimento de pápulas, nódulos ou placas intensamente pruriginosas. Trata-se de uma resposta reativa e hiperplásica da pele frente a diversos estímulos, sendo possível agrupá-lo em formas agudas, subagudas e crônicas, a depender do tempo de evolução das lesões. Em sua origem, a palavra “prurigo” deriva do latim pruire, que significa “coceira”, refletindo o sintoma predominante da condição. Essa síndrome dermatológica pode estar associada a uma ampla variedade de causas internas ou externas, incluindo infecções, doenças sistêmicas, distúrbios atópicos e fatores emocionais.
Fisiopatologia
O desenvolvimento do prurigo envolve a interação entre mecanismos imunológicos, neurológicos e inflamatórios. A inflamação alérgica mediada por células T do tipo 2 (Th2) tem grande relevância, destacando-se a ação de citocinas como a interleucina-4 (IL-4), interleucina-13 (IL-13) e interleucina-31 (IL-31).
Essas moléculas estimulam a diferenciação de células inflamatórias e amplificam a sensibilidade cutânea ao prurido. Paralelamente, ocorrem alterações no sistema nervoso, como a hiperatividade dos pruriceptores e a remodelação das fibras nervosas dérmicas, que contribuem para a perpetuação do ciclo coceira-lesão.
Classificação
A classificação do prurigo baseia-se na duração das lesões, morfologia clínica e causas subjacentes. De modo geral, divide-se em formas agudas, subagudas e crônicas, e cada uma dessas categorias pode apresentar variações conforme a etiologia envolvida. Essa divisão é essencial para a condução clínica adequada, visto que o reconhecimento do tipo de prurigo direciona a investigação etiológica e a escolha terapêutica.
Tipo de Prurigo | Características | Principais Exemplos |
Prurigo Agudo | Lesões recentes, duração inferior a 6 semanas, associadas a agentes externos. | Picadas de insetos, prurigo estrófulo. |
Prurigo Subagudo | Lesões com curso intermediário, podendo evoluir para cronicidade se não tratadas. | Urticária papular persistente. |
Prurigo Crônico | Lesões persistentes por mais de 6 semanas, frequentemente relacionadas a doenças sistêmicas ou dermatológicas. | Prurigo nodular, prurigo crônico multiforme. |
Causas
O prurigo pode surgir em resposta a uma ampla gama de condições dermatológicas, sistêmicas e ambientais. A identificação da causa associada é um passo importante para o direcionamento do tratamento, considerando que o prurido persistente pode ser consequência tanto de fatores internos quanto externos. Abaixo estão listadas as principais etiologias descritas:
- Reação a picadas de insetos (como pulgas, percevejos e mosquitos).
- Doenças atópicas (exemplo: dermatite atópica).
- Insuficiência renal crônica.
- Doenças hepáticas colestáticas.
- Infecções por HIV.
- Malignidades hematológicas (como linfomas cutâneos).
- Diabetes mellitus.
- Distúrbios psiquiátricos (ansiedade, depressão).
- Reações adversas a medicamentos (ex.: inibidores da ECA, morfina).
- Gestação (prurigo gestacional).
- Alergias a metais e fármacos.
- Condições neurológicas (como neuropatias periféricas).
- Causas idiopáticas (sem fator identificável).
Avaliação clínica
Os sintomas do prurigo são marcados pela presença de prurido intenso e persistente, frequentemente descrito como de difícil controle. As lesões típicas surgem como pápulas, nódulos ou placas, que variam de acordo com a forma clínica. Em muitos casos, essas lesões apresentam crostas, escoriações e hiperpigmentação residual, resultado do ato repetido de coçar.
A distribuição é predominantemente simétrica, acometendo áreas como braços, pernas, tronco e, mais raramente, o rosto. Além do desconforto físico, o prurigo impacta diretamente a qualidade de vida, prejudicando o sono, o humor e favorecendo sintomas de ansiedade e depressão.
Diagnóstico
O diagnóstico do prurigo é baseado em uma combinação de avaliação clínica, história detalhada e, em alguns casos, exames complementares. A inspeção das lesões permite identificar pápulas, nódulos ou placas escoriadas, distribuídas de forma simétrica e frequentemente poupando regiões de difícil acesso manual.
Para confirmar o diagnóstico, critérios como prurido crônico com mais de seis semanas, evidência de lesões associadas ao ato de coçar e sinais de inflamação crônica são considerados. Biópsias cutâneas podem ser úteis para excluir outras dermatoses, enquanto exames laboratoriais e imagens são indicados para investigação de causas sistêmicas, como doenças renais, hepáticas, hematológicas ou infecciosas.
Tratamento
O tratamento do prurigo deve ser individualizado, considerando tanto o controle do prurido quanto a abordagem da causa subjacente. Inicialmente, recomenda-se o uso de emolientes, corticoides tópicos e inibidores de calcineurina para reduzir a inflamação local e restaurar a barreira cutânea. Para casos persistentes, neuromoduladores como gabapentina ou pregabalina são utilizados para modular a percepção do prurido.
Pacientes com formas refratárias podem se beneficiar de terapias mais avançadas, como o uso de fototerapia (UVB de banda estreita), imunossupressores sistêmicos (ex.: ciclosporina, metotrexato) e biológicos, como o dupilumabe, que bloqueia a via da IL-4/IL-13. Recentemente, inibidores de JAK (ex.: upadacitinibe) e anticorpos anti-IL-31 (como o nemolizumabe) têm se mostrado promissores para o manejo dos casos mais graves. A educação do paciente sobre o cuidado da pele e o controle de fatores emocionais também faz parte da estratégia terapêutica.
Evolução
O prurigo pode ter uma evolução prolongada e, em muitos casos, a resolução completa das lesões é difícil de alcançar. A melhora clínica geralmente depende da identificação e do controle das causas associadas, além da adesão ao tratamento. Em pacientes com comorbidades sistêmicas ou em formas crônicas, a persistência dos sintomas é comum, exigindo manejo contínuo e acompanhamento regular. Apesar das dificuldades terapêuticas, novas opções como os biológicos e inibidores de JAK têm ampliado as possibilidades de controle clínico e de melhoria da qualidade de vida.
Complicações
- Infecções secundárias das lesões;
- Liquenificação intensa da pele;
- Cicatrizes permanentes;
- Hipercromia ou hipocromia residual;
- Distúrbios do sono associados ao prurido;
- Impacto psicológico, como ansiedade e depressão;
- Risco aumentado de ideação suicida em casos graves.
Resumo clínico
Aspecto | Descrição |
Definição | Condição reativa da pele, com pápulas, nódulos ou placas intensamente pruriginosas. |
Fisiopatologia | Ativação de vias inflamatórias (IL-4, IL-13, IL-31) associadas a alterações neuronais e sensibilização cutânea. |
Classificação | Agudo, subagudo e crônico, conforme a duração e características clínicas. |
Principais Etiologias | Picadas de insetos, dermatite atópica, doenças sistêmicas (renal, hepática), infecção por HIV, malignidades e causas idiopáticas. |
Sintomas | Prurido intenso, lesões escoriadas, crostas, hiperpigmentação e impacto na qualidade de vida. |
Diagnóstico | Avaliação clínica, história detalhada, biópsia cutânea e exames para causas associadas. |
Tratamento | Corticoides tópicos, neuromoduladores, imunossupressores, biológicos (dupilumabe) e inibidores de JAK. |
Prognóstico | Curso prolongado em formas crônicas; novas terapias melhoram o controle clínico. |
Complicações | Infecções secundárias, cicatrizes, distúrbios do sono, transtornos emocionais. |
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Referências Bibliográficas
- CRIADO, Paulo Ricardo; IANHEZ, Mayra; CRIADO, Roberta Fachini Jardim; NAKANO, Juliana; LORENZINI, Daniel; MIOT, Hélio Amante. Prurigo: revisão de sua patogênese, diagnóstico e tratamento. Anais Brasileiros de Dermatologia, v. 99, n. 5, p. 706-720, 2024. DOI: 10.1016/j.abd.2023.11.003.
- GRANT-KELS, Jane M. Actinic Prurigo. In: StatPearls. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2024. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK538333/. Acesso em: abr. 2025.