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O que é dermatite atópica?
A dermatite atópica, ou eczema atópico, é uma dermatose com manifestação inflamatória. Ela apresenta comportamento crônico e com recidivas, assim como intenso prurido, o que é característico dos eczemas. Por ser uma doença atópica, frequentemente relaciona-se a outras doenças com a mesma fisiopatologia imunológica, como rinite alérgica e a asma.
A prevalência dessa condição clínica é elevada e, no Brasil, passa da marca de 10% entre os adolescentes. Vale ressaltar que é uma doença típica da infância, já que quase 85% dos pacientes apresentam as primeiras queixas e sintomas antes dos 5 anos de idade.
Causas da dermatite atópica
A dermatite atópica possui origem multifatorial, ou seja, diversas condições e situações contribuem para a manifestação da doença. Frequentemente, fatores estruturais, genéticos, imunológicos e ambientais estão envolvidos.
Fatores estruturais
O principal achado estrutural da dermatite atópica é a alteração da barreira cutânea do corpo, o que faz com que a pele perca a função de retenção eficiente de água. Além disso, várias outras substâncias encontram-se com concentrações anormais, como ceramidas, sulfato de colesterol, esfingosilforicolina e lipídeos.
O comprometimento funcional dessa importante barreira fisiológica pode contribuir para uma maior vulnerabilidade a infecções, além de gerar anormalidades imunológicas com grande suscetibilidade à sensibilização por irritantes e alérgenos ambientais. Isso aumenta o prurido da lesão e exacerba a resposta inflamatória, com destaque para a participação das células apresentadoras de antígeno.
Fatores genéticos
Os fatores genéticos ainda não foram completamente elucidados e mapeados, mas a grande prevalência familiar de condições atópicas sugere um importante componente hereditário.
Fatores imunológicos
O principal achado imunológico na dermatite atópica é a elevação da concentração sérica de IgE, junto aos eosinófilos. Outros achados são:
- Elevação da resposta Th2, com aumento de citocinas IL-4, IL-5 e IL-13, as quais estimulam os linfócitos B a produzirem IgE. Além disso, TNF-alfa e IL-1 estimulam a expressão do gene da filagrina, permitindo maior migração linfocitária e eosinofílica para o sítio de inflamação;
- O aumento dos níveis séricos de IgE contribui com a liberação de histamina e outros mediadores inflamatórios, principalmente pelos mastócitos e basófilos. Os macrófagos também são ativados e estimulados a liberarem citocinas inflamatórias e conectam-se com as células de Langerhans;
- A pele apresenta respostas diferentes a depender da fase da inflamação. Na fase aguda, o padrão de resposta é por células que liberam IL-4 e IL-13, o padrão Th2. Na fase crônica, as células envolvidas são produtoras de IL-12 e IFN-gama, ou seja, padrão Th1, além disso, o aumento da expressão do fator estimulador de colônia de macrófago-mastócito contribui para a manutenção da cronicidade da inflamação. Na pele sã, predomina o padrão de resposta Th2, com liberação de IL-4 e IL-13. Vale ressaltar que as Interleucinas IL-17, 18 e 22 podem estar presentes contribuindo para a resposta imunológica anormal e que a mudança do padrão de resposta Th2 para Th1 possui influência de células que expressam IL-12, como eosinófilos e macrófagos infiltrados; e
- Os queratinócitos também contribuem com a liberação de citocinas inflamatórias, principalmente, TNF-alfa e o fator estimulador de colônia de macrófago-mastócito, que proporcionam aumento da sobrevida das células de Langerhans e dos monócitos. Vale ressaltar que a quimiotaxia dos eosinófilos está aumentada pela liberação de Rantes (CCL5) pelos queratinócitos e que a coçagem, gerando trauma físico, é um estimulador importante da resposta inflamatória.
Fatores ambientais
As infecções são um importante fator ambiental das dermatites atópicas, a bactéria Staphylococcus aureus pode ser encontrada em mais de 90% dos pacientes, mostrando a disfunção da barreira cutânea e a consequente resposta inflamatória.
Além disso, alergia a alimentos como ovos, leite, amendoim, nozes, trigo, soja e peixe está frequentemente associada a dermatite atópica. As alergias respiratórias, desencadeadas por alérgenos aéreos, também estão muito relacionadas e a exposição ambiental do paciente a poeira, ácaros, gato, pólen e fungos pode ser um importante fator de piora para o doente.
Vale ressaltar que fatores emocionais podem estar relacionados às crises de dermatite atópica e o estresse é um importante fator de agravo.
Sintomas da dermatite atópica
Os principais achados clínicos nos pacientes são a xerose cutânea e o prurido intenso em lesões que coçam. A sintomatologia é bastante diversa e varia com a faixa etária do paciente:
- Lactente: as lesões aparecem após os 2 meses de idade e são caracterizadas por eritema, xerose, vesículas e/ou pápulas que dão origem a crostas descamativas. Nesses pacientes, as porções mais frequentemente acometidas são couro cabeludo, pescoço, tronco, face poupando maciço centrofacial e superfície extensora dos membros;
- Crianças de 2 a 12 anos: as lesões podem apresentar eritema, exsudação e, quando crônicas, liquenificação. As faces flexoras dos membros são as mais acometidas, principalmente na região poplítea, além da porção posterior da coxa e nádegas; e
- Adolescentes e adultos: lesões eczematosas nas flexuras, pescoço, tronco superior e couro cabeludo. Algumas outras regiões podem estar acometidas como pés e mãos, punhos, região mamilar, tornozelos e pálpebras. Infecções bacterianas sobrepostas são um sintoma importante, assim como as virais.
Além das infecções recorrentes, a dermatite atópica pode apresentar outras complicações como: eritrodermias, comprometimento ocular, dermatite de pálpebra, ulceração da córnea, conjuntivite, ceratocone, catarata e blefarite crônica.
Diagnóstico
Os critérios diagnósticos da dermatite atópica são clínicos, eles foram estabelecidos em 1980 e dividem os achados em critérios maiores e menores. Os maiores, ou absolutos, são:
- Prurido;
- Dermatite crônica e recidivante;
- História pessoal ou familiar de atopia; e
- Morfologia e distribuição típica das lesões, com envolvimento da porção extensora dos membros e facial nas crianças e de liquenificação e linearidade flexural nos adultos.
Os critérios menores são:
Exame dermatológico | História Clínica |
Xerose | Início precoce da doença |
Hiperlinearidade palmar | Tendência a infecções cutâneas |
Queratose pilar | Conjuntivites recorrentes |
Ictiose vulgar | Tendência a dermatites inespecíficas de mãos e pés |
Prega infraorbitária de Dennie-Morgan | Curso influenciado por fatores ambientais |
Pitiríase alba | Curso influenciado por fatores emocionais |
Dermografismo branco | Hipersensibilidade alimentar |
Palidez ou eritema facial | Prurido com sudorese |
Queilite | Urticária colinérgica |
Eczema de mamilo | Enxaqueca |
Pregas anteriores no pescoço | Hipersensibilidade ao níquel |
Acentuação perifolicular | |
Escurecimento periorbital | |
Alopecia aerata | |
Sinal de Hertogue (rarefação de sobrancelha) |
Para o diagnóstico são necessários, pelo menos, três critérios maiores e três ou mais critérios menores. Vale ressaltar que alguns outros achados comuns e que são dados complementares são: elevação sérica de IgE, catarata ou ceratocone e hipersensibilidade cutânea do tipo 1, pela produção local exagerada de IgE.
Diante do diagnóstico de dermatite atópica, dois índices são frequentemente utilizados para classificar a gravidade, assim como a extensão do comprometimento da doença. São eles: Eczema area and severity index, o EASI, e o Scoring index of atopic dermatitis, o SCORAD, que também avalia fatores como a perda de sono e a quantidade de prurido.
Tratamento
O tratamento da dermatite atópica é feito por meio de diversas abordagens, medicamentosas ou não, que ajudam no controle sintomático da doença. As principais indicações não medicamentosas são:
- Hidratação, que ajuda na manutenção do extrato córneo, evitando manifestações oculares da dermatite, e na manutenção funcional da barreira cutânea, que apresenta-se comprometida na doença. Vale ressaltar que outros fatores contribuem com a xerose e devem ser evitados nos pacientes com dermatite atópica, como banhos quentes, ar-condicionado, poluição, estresse, produtos químicos, uso excessivo de sabonetes e baixa umidade do ar; e
- Eliminação dos fatores desencadeantes da resposta inflamatória.
Já, a abordagem medicamentosa é feito com drogas, como:
- Corticóides tópicos, esses anti-inflamatórios ajudam a controlar a atividade de células imunes, e, consequentemente, auxiliar na diminuição da inflamação. Por serem drogas fortes, seu uso deve ser sempre supervisionado. Vale ressaltar que a posologia e a droga utilizada variam para cada paciente. A indicação de corticoides nesta condição deve ser feita com parcimônia;
- Imunomoduladores tópicos, principalmente os inibidores de calcineurina, uma proteína presente nas células imunológicas atuando como fator de transcrição para interleucinas inflamatórias e que, quando inativada, controla a inflamação cutânea. As drogas mais utilizadas devem ser aplicadas duas vezes ao dia e são: pimecrolimo, com creme único a 1%, e tacrolimo, em pomadas de 0,03% e 0,1%, essa última, para pacientes acima de 15 anos;
- Imunossupressores sistêmicos não são a primeira escolha de tratamento, mas podem ajudar em alguns casos, desde que o acompanhamento clínico e laboratorial seja rigoroso. A ciclosporina na dose de 3 a 5 mg/Kg/dia por até 12 semanas é a mais indicada, drogas como metotrexato e micofenolato mofetil são outras opções, mas com restrições e cuidados importantes;
- Anti-histamínicos podem ajudar no controle do prurido, principalmente os de primeira geração que possuem efeito sedativo; e
- Tratamento para controle das infecções bacterianas e virais no sítio de inflamação, as drogas tópicas mais utilizadas são ácido fusídico e mupirocina, que reduzem a colonização bacteriana. Antibióticos sistêmicos como cefalosporinas e sulfametoxazol-trimetoprim podem contribuir com a melhora clínica em pacientes com possíveis infecções invasivas, entretanto, seu uso crônico é contra-indicado.
A abordagem multiprofissional é recomendada, principalmente, o apoio psicológico dos pacientes.
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