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O que é leptospirose?
A leptospirose é uma doença causada por bactéria. A infecção é gerada por uma bactéria do gênero Leptospira, uma espiroqueta patogênica. Duas espécies fazem parte do gênero em questão: a interrogans, causadora do quadro, e a birreflexa, que não é capaz de causar doença no hospedeiro.
Dentre as espécies descritas, existem diversos subtipos, denominados sorotipos. A espécie Leptospira interrogans, por exemplo, pode se apresentar em mais de 250 sorotipos diferentes. Com o tempo e o avanço de métodos de análise laboratorial, a classificação de tais bactérias vem ganhando maior detalhamento, inclusive com a descoberta e identificação de novas bactérias que podem causar leptospirose.
Causas da leptospirose
A leptospirose é uma infecção bacteriana, logo, a contaminação do indivíduo com a bactéria é a causa da doença. O patógeno adentra o corpo do hospedeiro por regiões em que há dano tecidual prévio, como cortes, ou por regiões de mucosa.
As bactérias causadoras da leptospirose apresentam elevado poder patogênico. Elas possuem boa capacidade de resistir à atividade antimicrobiana que o corpo apresenta, dessa forma, anticorpos específicos não são sintetizados, os patógenos não são fagocitados e a infecção não consegue ser controlada. A depender do grau de eficiência do sistema imunológico, a doença pode ser mais branda ou mais grave, podendo apresentar importante mortalidade.
Sintomas da leptospirose
O período de incubação varia de uma a duas semanas, podendo chegar a 30 dias, após isso, a maior parte dos pacientes infectados apresentam poucos sintomas, ou até mesmo nenhuma manifestação clínica. Em outras pessoas, a sintomatologia pode ser bastante variada em um espectro amplo da doença, que pode variar de manifestações leves a formas graves que exigem cuidado, inclusive, com internações hospitalares.
Na apresentação mais comum, a infecção apresenta começo agudo com febre, junto à cefaléia, calafrios e mialgia, com destaque para a porção posterior da perna. Outros sintomas possíveis são:
- Náuseas;
- Diarreia;
- Vômito;
- Dor articular;
- Icterícia;
- Anorexia;
- Hiperemia ou hemorragia da conjuntiva; e
- Prostração e rigidez da nuca, evidenciando comprometimento das meninges.
A presença de sinais cutâneos é comum, principalmente com exantemas eritematosos maculopapulares. A apresentação em petéquias, sinais hemorrágicos ou urticariforme também pode ocorrer.
Após um período sintomático que varia de 4 a 7 dias, o quadro passa para um momento de defervescência, que pode durar um ou dois dias, quando, a imunidade adaptativa começa a apresentar importante papel e já é possível detectar anticorpos específicos contra a bactéria, circulando no plasma.
Os sintomas de tal período imune são:
- Vômitos;
- Hemorragias;
- Cefaleia intensa;
- Meningite linfocitária benigna e outros sinais de acometimento meníngeo, fazendo com que, raramente, sintomas neurológicos graves sejam encontrados; e
- A uveíte, evidenciando comprometimento ocular que pode aparecer mesmo muitos dias após a infecção original.
Dano renal é um achado comum e pode causar alterações como aumento da creatinina e da ureia, fração da excreção de íons como o sódio elevada, hematúria, proteinúria, oligúria, leucocitúria e cristalúria. Vale ressaltar que no quadro de IRA da leptospirose, os níveis de potássio não costumam estar elevados.
A apresentação mais grave da doença é chamada de Síndrome de Weil que, tradicionalmente, cursa com:
- Icterícia;
- Hemorragias; e
- Insuficiência renal.
A letalidade dessa forma pode chegar a 10% e o comprometimento hepático está presente, o que é evidenciado pela icterícia. Além da insuficiência renal aguda, o funcionamento cardíaco e pulmonar podem ser prejudicados, principalmente, por hemorragias.
De 3 a 7 dias após a infecção, já é possível perceber sinais de icterícia nesses pacientes e o início sintomatológico é abrupto. A bilirrubina pode apresentar valores mais elevados do que 15 mg%, a urina pode escurecer e a icterícia rubínica também pode estar presente.
O coração raramente apresenta sinais de infecção, com um quadro de miocardite aguda, o que será percebido por alterações eletrocardiográficas.Outra possível complicação é o choque hemodinâmico, parecido com choque séptico.
Hemorragias na pele, mucosas e órgãos internos, principalmente pulmão e TGI, são alterações hemodinâmicas frequentes da síndrome de Weil, quando a mortalidade pode chegar a 50%. Essa alteração pulmonar pode causar insuficiência respiratória por comprometimento da difusão dos gases pela membrana alveolocapilar edemaciada.
Transmissão
Várias espécies animais podem funcionar como reservatórios crônicos do patógeno. Os ratos são os principais portadores da bactéria causadora da leptospirose. Assim, o ser humano é contaminado quando entra em contato, principalmente, com a urina de animais infectados, por meio da água ou do solo contaminado, por exemplo.
O patógeno invade o corpo através de pequenas lesões na pele, como cortes ou abrasões, desencadeando todo o processo infeccioso que caracteriza o quadro de leptospirose. Além disso, as porções de mucosa, principalmente conjuntiva, nasofaríngea e genital, podem ser a porta de entrada da bactéria.
No Brasil, frequentemente, as epidemias cíclicas da doença ocorrem nos meses de chuva, principalmente em aglomerações urbanas com pouco saneamento básico e pouco planejamento para drenagem da água, isso evidencia a relação que a doença pode ter com enchentes e inundações que acabam transportando os agentes causadores.
Prevenção
A principal forma de prevenção está em evitar o contato do ser humano com água ou solo contaminados com urina de animais previamente infectados pela bactéria causadora. Para isso, as principais medidas que podem ser utilizadas são:
- Controle da população de animais que podem transmitir a doença, principalmente ratos;
- Saneamento básico, como canalização de córregos, redes de esgoto adequadas, coleta de lixo eficiente e retificação de leitos d’água;
- Conscientização sobre atitudes diante de enchentes, ou mesmo sobre medidas de proteção quando ter contato com a água, como uso de botas impermeáveis; e
- Para trabalhadores que atuam em áreas de risco de contaminação, o uso de antibióticos profiláticos pode ser indicado. Nesse caso, recomenda-se 200 mg/dia de doxiciclina.
As vacinas existentes ainda são pouco eficientes na prevenção da doença, já que a janela imunológica é curta e a proteção acontece apenas contra o sorotipo presente na vacina.
Diagnóstico
O diagnóstico é feito por confirmação laboratorial, além disso, fatores como a sintomatologia clínica e dados epidemiológicos ajudam na suspeita da doença. O diagnóstico é concluído quando for confirmada uma das seguintes situações:
- Visualização de espiroquetas patogênicas na urina, LCR ou sangue;
- Presença de anticorpos IgM, detectados pela utilização de ELISA; e
- Aumento de 4 vezes do título inicial ou título único maior, ou igual a 1:800 na técnica de soroaglutinação microscópica.
A técnica mais utilizada é o diagnóstico sorológico por presença de IgM específico para leptospirose. O principal cuidado para a realização desse exame é que os anticorpos são detectados de 5 a 7 dias após o início da apresentação sintomática, podendo persistir por vários meses.
Outras alterações inespecíficas podem ser encontradas nos exames, como:
- Leucograma com neutrofilia;
- Plaquetopenia é um achado frequente na síndrome de Weil, fortemente relacionada a quadros hemorrágicos, assim como anemia;
- Elevação da fosfatase alcalina, gamaglutamiltranspeptidase e creatinofosfoquinase;
- Aumento dos níveis plasmáticos de creatinina e uréia, apontando para dano renal, assim como alterações na urina, descritas na síndrome de Weil; e
- O eletrocardiograma pode mostrar alterações.
Vale ressaltar que a leptospirose possui diagnóstico diferencial importante com viroses e outras bacterioses autolimitadas, fazendo com que seu diagnóstico seja de extrema importância para guiar o tratamento. A forma ictérica pode ser confundida com sepse, viroses e outras doenças com comprometimento hepático.
Tratamento
Grande parte dos doentes apresenta infecção autolimitada. A forma anictérica e outras apresentações mais leves podem exigir apenas tratamento dos sintomas, com antibióticos e hidratação. Quando o quadro é mais grave, o suporte médico é necessário para evitar maiores complicações.
Além disso, quando o rim é afetado, o paciente precisa de medicação para normalização das variações eletrolíticas e reposição volêmica, em casos mais graves, pode ser necessário submeter o doente à hemodiálise. Assim como a insuficiência renal, o comprometimento pulmonar precisa ser tratado e monitorado. Pacientes que apresentam insuficiência respiratória precisam manter uma pO2 acima de 80 mmHg e, para isso, pode ser necessário utilizar respiradores.
O tratamento com antibióticos vem se mostrando eficaz no combate à infecção, e drogas como a doxiclina e penicilina podem ser usadas para o controle da manifestação clínica. Para o tratamento das formas mais leves, o recomendado é a administração de 100 mg de doxiciclina por via oral 2 vezes ao dia + 500 mg de amoxicilina via oral a cada 8 horas.
Para as formas mais graves da doença, que exigem uma internação hospitalar, a droga indicada é a Ceftriaxona com administração intravenosa, a posologia é de 1g a 2g por dia para adultos, e de 80-100 mg/Kg/dia para crianças, que pode ser feita em uma ou duas vezes.
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