Ao contrário do que muitos imaginam, a maior parte dos médicos no Brasil não tem emprego formal. Os dados mais recentes da Demografia Médica mostram que apenas um terço desses profissionais trabalha com carteira assinada ou como servidor público efetivo. E tem mais: a forma como os médicos entram e se mantêm no mercado de trabalho mudou muito nos últimos anos, com o avanço de contratos temporários, terceirizações e trabalho como pessoa jurídica.
E quando o assunto é dinheiro, o cenário também chama atenção. Apesar de seguirem entre os profissionais com maior renda média do país, as diferenças salariais entre os médicos são grandes. Fatores como estado, gênero, especialidade e tempo de carreira seguem influenciando — e, em alguns casos, a diferença chega a 50%.
Quer saber quem são os médicos mais bem pagos do Brasil, onde eles estão, quem ganha menos e o que explica essas disparidades? Então, siga no texto e também entenda como funciona o mercado de trabalho na Medicina, os tipos de contratação e os setores que mais empregam!
Cresce a informalidade no exercício da medicina no Brasil
Se a sua expectativa era se formar e já conquistar um emprego fixo, registrado, saiba que o cenário atual não tem favorecido essa hipótese. O número de médicos com vínculos formais de trabalho — aqueles contratados pelo regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) ou como estatutários efetivos — vem diminuindo progressivamente no Brasil. De acordo com a Demografia Médica 2025, que utilizou dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), esse tipo de contratação perdeu espaço ao longo da última década.
A pesquisa considerou os contratos de trabalho ativos no mês de dezembro de cada ano, no período de 2012 a 2023, abrangendo as categorias celetista e estatutário efetivo, para mapear a inserção formal de médicos no mercado de trabalho brasileiro. Os dados mostram que, em dezembro de 2023, o país contabilizava 190.917 médicos com emprego formal, o que correspondia a 33,3% dos 572.960 profissionais inscritos nos Conselhos Regionais de Medicina (CRMs). Em 2013, essa proporção era significativamente maior: 52,5% dos médicos possuíam vínculos formais.
Fonte: Grupo de Pesquisa e Documentação sobre o Empresariamento da Saúde (GPDES/IESC/UFRJ) disponibilizado em Demografia Médica 2025
A redução tanto em números absolutos quanto relativos evidencia uma tendência de crescimento de vínculos informais ou de formas alternativas de inserção no mercado de trabalho para a profissão, como contratos por pessoa jurídica (PJ), plantões avulsos e prestação de serviços sem vínculo empregatício formal. Esse movimento se intensificou a partir de 2020, acompanhando a expansão do número de médicos em atividade no país, que pode chegar a 635 mil profissionais até o fim de 2025.
A maioria dos médicos tem apenas um vínculo empregatício
Ao longo da última década, também diminuiu a média de vínculos empregatícios formais por médico no Brasil. Segundo dados compilados pela última Demografia Médica, em 2012, o país contabilizava 277.309 empregos formais ocupados por 180.733 médicos, o que correspondia a uma média de 1,53 vínculo empregatício por médico.
Em 2023, esse número caiu para 1,34 vínculo por médico, com 255.199 empregos formais ocupados por 190.917 profissionais — uma redução de 12,9% na média de vínculos por médico em comparação a 2012.
O levantamento também aponta que a maioria dos médicos possuía apenas um vínculo de trabalho em 2023. Ao todo, 72,5% dos médicos (138.510 profissionais) estavam prestando trabalho em apenas uma instituição ou serviço de saúde.
A proporção de médicos com dois vínculos empregatícios ficou em 22,6%, enquanto apenas 4,9% acumulavam três vínculos ou mais — bem abaixo dos 11,1% registrados em 2012. Os dados confirmam a tendência de que os médicos trabalhem em menos postos de trabalho.
Setor público concentra mais de 70% dos empregos formais
Apesar da queda geral nos vínculos formais na Medicina, o setor público segue como o principal empregador de médicos com carteira assinada ou vínculo estatutário no Brasil. De acordo com dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), consolidados na Demografia Médica 2025, em dezembro de 2023, o setor público foi responsável por 72,2% dos 255.199 vínculos empregatícios médicos ativos no país.
Desse total, 44,5% estavam vinculados a empregadores municipais, enquanto 17% pertenciam às administrações estaduais e 4,6% à esfera federal. As empresas estatais respondiam por 6,1% dos vínculos.
Outros setores que empregaram médicos formalmente foram as entidades sem fins lucrativos (21,6%), como organizações filantrópicas e hospitais beneficentes, e o setor privado (5,1%) — o menor percentual entre os empregadores.
Contratações na Medicina: estatutário segue na frente, mas mercado se diversifica
No que diz respeito à natureza dos vínculos empregatícios, dois tipos de contratação predominaram entre os médicos no emprego formal: o estatutário, que respondia por 42,2% dos vínculos, e o assalariado regido pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) por tempo indeterminado, com 36,6%.
Você sabe o que é estatutário?
O estatutário é o servidor público contratado diretamente pelo poder público (municipal, estadual ou federal) por meio de concurso público. Esse profissional tem seu vínculo regido por um estatuto próprio da administração pública, e não pela CLT. Assim, possui direitos, deveres e benefícios definidos em lei específica, distintos dos previstos para trabalhadores celetistas.
Entre os contratos CLT, mais da metade (56,9%) foi registrada por entidades sem fins lucrativos.
O estudo ainda ressalta que, embora a cobertura assistencial do Sistema Único de Saúde (SUS) tenha se expandido nos últimos anos e os vínculos estatutários ainda sejam maioria, estes vêm diminuindo. Esse movimento indica a adoção crescente de modalidades alternativas de contratação pelas instituições públicas de saúde, como terceirizações, contratações temporárias e outras formas de vínculo, para compor suas equipes médicas.
Paralelamente, o trabalho por conta própria tem se consolidado como uma opção frequente para profissionais liberais, incluindo médicos. De modo geral, de acordo com a Demografia Médica, graduados oriundos de contextos sociais favorecidos tendem a buscar posições de maior autonomia no mercado, optando pelo exercício autônomo ou por vínculos que permitam maior flexibilidade de atuação.
A abertura de CNPJ, a adesão a contratos terceirizados, a formação de cooperativas e a inserção via pessoa jurídica — prática conhecida como pejotização — são algumas das alternativas que vêm ganhando espaço no mercado de trabalho brasileiro para os médicos. Essas modalidades oferecem certa liberdade na gestão da própria agenda e no volume de trabalho, embora também acarretem desafios relacionados à proteção trabalhista e previdenciária.
Entenda como está a remuneração dos médicos no Brasil
Embora as formas de contratação e prestação de serviços na Medicina estejam mais diversificadas — e, em certa medida, conturbadas — a renda média declarada por médicos no Brasil continua elevada em relação à média da população geral. No entanto, a profissão tem apresentado uma tendência de queda na remuneração ao longo da última década, além de desigualdades internas. Segundo os dados mais recentes da Receita Federal, referentes ao ano-calendário de 2022, consolidados na Demografia Médica 2025, o rendimento médio mensal declarado pelos médicos no Imposto de Renda de Pessoa Física (IRPF) foi de R$ 36,8 mil — valor 3,47 vezes superior à média nacional declarada no mesmo ano, de R$ 10.610.
Apesar da posição privilegiada no ranking de rendimentos, o valor médio declarado pelos médicos em 2022 ainda é inferior ao registrado em 2012. Entre 2018 e 2020, a categoria enfrentou três anos consecutivos de queda na média de rendimentos, seguida por um crescimento nos anos de 2021 e 2022. Esse aumento recente coincidiu com um substancial incremento no total de médicos declarantes de IRPF no país.
Fonte: Receita Federal disponibilizado em Demografia Médica 2025
O levantamento destaca que a sexta posição ocupada pelos médicos na lista nacional de maiores rendimentos médios mensais — entre 135 ocupações agrupadas pela Receita Federal — não se deve apenas à remuneração pelo exercício da Medicina. O valor declarado também inclui rendimentos de origem patrimonial e outras fontes de receita, o que ajuda a explicar a posição de destaque da categoria.
Diferenças regionais e por perfil de profissional
As variações de rendimento entre médicos no Brasil são expressivas e acompanham fatores como região de domicílio, faixa etária, gênero e forma de inserção no mercado de trabalho. Em 2022, os médicos domiciliados no Distrito Federal apresentaram a maior média de rendimento mensal declarado (R$ 44.663), valor 48,9% superior ao do Maranhão, estado com a menor média do país, de R$ 29.991.
Estado/Região | Renda mensal média |
---|---|
Roraima | R$ 50.647,00 |
Distrito Federal | R$ 44.663,00 |
Amapá | R$ 42.461,00 |
Região Centro-Oeste | R$ 39.875,00 |
Rio Grande do Sul | R$ 39.862,00 |
Santa Catarina | R$ 39.692,00 |
Mato Grosso | R$ 39.446,00 |
Região Sul | R$ 39.274,00 |
Alagoas | R$ 39.007,00 |
São Paulo | R$ 38.862,00 |
Mato Grosso do Sul | R$ 38.792,00 |
Acre | R$ 38.359,00 |
Paraná | R$ 38.322,00 |
Pernambuco | R$ 37.353,00 |
Brasil | R$ 36.818,00 |
Região Sudeste | R$ 36.742,00 |
Goiás | R$ 36.659,00 |
Rio Grande do Norte | R$ 36.203,00 |
Rondônia | R$ 35.724,00 |
Região Norte | R$ 35.573,00 |
Rio de Janeiro | R$ 34.824,00 |
Tocantins | R$ 34.648,00 |
Piauí | R$ 34.592,00 |
Espírito Santo | R$ 34.470,00 |
Amazonas | R$ 34.347,00 |
Ceará | R$ 34.314,00 |
Minas Gerais | R$ 34.125,00 |
Região Nordeste | R$ 33.970,00 |
Pará | R$ 33.898,00 |
Sergipe | R$ 32.379,00 |
Paraíba | R$ 32.035,00 |
Bahia | R$ 31.385,00 |
Maranhão | R$ 29.991,00 |
Roraima e Amapá, embora registrem médias elevadas — com Roraima atingindo R$ 50.647, acima inclusive do Distrito Federal — possuem número reduzido de declarantes (menos de mil). Assim, a soma de declarantes nos dois estados representa menos de 0,04% do total nacional, o que limita a representatividade desses dados em um cenário geral.
Quando observadas as grandes regiões, o Centro-Oeste e o Sul apresentaram remunerações médias acima da média nacional, enquanto o Nordeste teve a menor média regional, de R$ 33.970, valor 8,4% inferior à média nacional.
Além do recorte territorial, a renda média dos médicos também varia segundo características individuais e profissionais. Estudos da Demografia Médica mostram que fatores como gênero, atividade exercida, especialização, tempo de formação, número de vínculos de trabalho e carga horária semanal influenciam diretamente a remuneração proveniente da prática médica.
Sendo assim, a diferença entre os rendimentos médios declarados por homens e mulheres na Medicina continua expressiva. Em 2021, as médicas declararam, em média, uma renda que correspondia a apenas 63,7% do valor declarado pelos médicos homens. Essa desigualdade não se explica apenas pelos ganhos com a atividade assistencial, mas também pela menor participação das mulheres em rendimentos de origem patrimonial — como lucros, juros e aluguéis — que são incluídos nas declarações de IRPF e ajudam a elevar a média de rendimento total da categoria.
A Demografia Médica 2025 também dedica um capítulo específico ao cenário de atuação dos médicos cirurgiões no Brasil e, a título de curiosidade, revela como está a distribuição de rendimentos nesse grupo. De acordo com o levantamento, cerca de 30% dos cirurgiões declararam rendimentos mensais de até R$ 28 mil. Um pouco mais de um terço (34,9%) está concentrado nas faixas intermediárias, entre R$ 28 mil e R$ 48 mil. Já 23,9% informaram ganhos superiores a R$ 48 mil por mês.
Demografia Médica 2025
A Demografia Médica 2025, coordenada pelo Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), foi divulgada no dia 30 de abril de 2025. Em sua 8ª edição, o estudo apresentou um panorama atualizado sobre a formação e a atuação dos médicos no Brasil. Clique no botão abaixo para conferir o estudo na íntegra:
Confira também: Brasil terá 635 mil médicos até o fim do ano; confira os principais dados da Demografia Médica 2025
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