Você, futuro residente, por acaso, conhece o termo long-haul? É um fato que o Coronavírus causa distúrbios em nosso sistema nervoso, mas a novidade é que esse acometimento é regra e não exceção.
Estudos comprovam que a maioria das pessoas infectadas por Covid-19 relataram sintomas neurológicos, a procura por esse atendimento também aumentou e o tipo de queixa mudou, inclusive em pacientes mais jovens. Por isso, o Estratégia MED preparou um texto completo para você ficar por dentro das novidades sobre a Covid-19 e dos pacientes long-haul. Fique nesse artigo para saber mais!
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Sintomas da Covid-19
Febre, tosse seca, fadiga, cefaleia, coriza e dor muscular são alguns dos sintomas mais lembrados quando citamos o Coronavírus, uma vez que considerada uma doença respiratória aguda. Contudo, estudos vêm mostrando que essa patologia acomete muito mais do que o sistema respiratório: aqueles afetados pela doença estão desenvolvendo problemas neurológicos e psiquiátricos a longo prazo, o que nos leva a mais uma consequência da Covid-19: os long-hauler.
Os Long-haul
Long-hauler ou “long haul“, que, na tradução literal, significa longa distância, é o termo utilizado para se referir aos pacientes da Covid-19 que, mesmo após a recuperação, apresentam sintomas do vírus por semanas ou meses. O que mais se percebeu nesses pacientes foi o desenvolvimento de sintomas neurológicos e psiquiátricos, que afetam, principalmente, sua cognição. Porém, muita atenção: não confunda os long-haulers com a Síndrome pós-Covid.
Para entendermos um pouco do porquê isso vem acontecendo, o médico neurologista e professor do Estratégia MED, Victor Fiorini, explica que os sintomas psiquiátricos são mais comuns em pacientes que já possuíam alguma doença mental anterior à infecção da Sars-Cov-2. Já as alterações neurológicas, em pacientes que foram hospitalizados, tiveram essas repercussões sistêmicas com a hipóxia como o agente mais importante, uma vez que os neurônios são pouco resistentes a esse tipo de agressão. Outro ponto a ser observado é que os sintomas tardios são mais comuns em mulheres, assim como em doenças autoimunes e algumas trombofilias.
A fim de ilustrar esses fatos, o Estratégia MED apresenta para você três estudos recentes que mostram quais foram as comorbidades mais aparentes em pacientes long-haulers.
Estudo 1- Sintomas neurológicos persistentes e disfunção cognitiva em pacientes long-haul não hospitalizados
O primeiro estudo foi feito pela American Neurological Association (Associação Americana de Neurologia) e publicado na revista científica Annals of Clinical and Translational Neurology. A pesquisa, que perdurou 6 meses (de 13 de maio até 11 de novembro de 2020), observou 100 pacientes da clínica Neuro-Covid-19 do Northwestern Memorial Hospital, em Chicago, que contraíram Covid-19, mas que não precisaram ser hospitalizados.
Mesmo em casos cujos sintomas tenham sido brandos, foi observado que os pacientes desenvolveram comorbidades a longo prazo, essas, por sua vez, eram predominantemente neurológicas e psiquiátricas.
Confira o gráfico abaixo e tenha uma visão geral desses resultados:
Estudo 2 – Desfechos neurológicos e psiquiátricos de 6 meses em 236.379 sobreviventes de COVID-19
Outro estudo, publicado na revista The Lancet Psychiatry, analisou, também durante 6 meses, mais de 230 mil pessoas que contraíram a Covid-19, fazendo um paralelo com pacientes contaminados com Influenza e outros com o diagnóstico de qualquer infecção do trato respiratório. Dos pacientes analisados e infectados pelo Coronavírus, 190.077 não foram hospitalizados, 46.302 foram hospitalizados, 8.945 foram para a UTI e 6.229 tinham encefalopatia.
O estudo revelou que 1 em cada 3 pacientes recuperados da Covid-19 apresenta alguma sequela neurológica ou psiquiátrica. Para saber mais sobre os resultados, confira o gráfico abaixo!
Estudo 3 – Ansiedade e depressão em sobreviventes de COVID-19: papel dos preditores inflamatórios e clínicos
O último estudo, publicado na revista Brain, Behavior, and Immunity da Biblioteca Nacional de Medicina dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NIH / NLM) analisou, por 1 mês, 402 adultos sobreviventes da Covid-19, do Hospital IRCCS San Raffaele, em Milão.
Dentre esses 400 pacientes, 56% entraram na faixa patológica em pelo menos uma dimensão clínica. Confira o gráfico abaixo para saber mais:
Tratamento para Long-hauler
Por se tratar de uma descoberta recente, ainda existem poucos estudos que falam de tratamentos para esse tipo de paciente, mas os especialistas recomendam uma investigação completa, com uma história clínica e um exame físico bem feito, já que os sintomas podem se relacionar a diversos casos clínicos, uma vez que a pessoa não está testando positivo para o Coronavírus.
Caso o paciente apresente um novo sintoma após a infecção pela Covid-19, é preciso estabelecer o diagnóstico em três níveis: sindrômico, topográfico e etiológico. Como próximo passo, é necessário solicitar exames auxiliares para confirmar ou descartar certas hipóteses. O Dr. Victor Fiorini exemplifica o caso:
“Se um paciente se curou da infecção aguda por Covid-19 e persiste com cefaleia, vamos detalhar os sintomas e realizar o exame neurológico, procurando sinais de alarme que possam sugerir uma causa secundária. Não podemos esquecer de fazer o exame de fundoscopia ocular, buscando edema de papila – que sugere hipertensão intracraniana, vista na trombose venosa -, avaliar pares cranianos e cerebelo – afetados em lesões da fossa posterior – e pesquisar sinais de rigidez de nuca”.
Outra indicação dos médicos é se consultar com o especialista focado em seu sintoma, ele que deverá prescrever o tratamento específico.
Contudo, o que já é indicado para aqueles afetados neurologicamente e psiquiatricamente é a leitura, escrita, palavras-cruzadas e os exercícios físicos. Já nos casos de dores de cabeça, alguns autores relataram experiências positivas com o uso de antidepressivos e anticonvulsivantes, os mesmos fármacos usados no tratamento contra enxaqueca.
Afinal, como a Covid-19 adentra o sistema neurológico?
Uma pesquisa, publicada na revista JAMA Neurology, aponta com detalhes como essa neuroinvasão, direta ou indireta, pode acontecer. O Estratégia MED traz abaixo algumas dessas formas, confira:
- Transferência trans-sináptica, por meio de neurônios infectados;
- Passagem pela via olfatória;
- Entrada por meio do endotélio vascular;
- Contaminação das células brancas; e
- Propagação pelos axônios.
Além desses meios de invasão, o médico e professor Victor Fiorini elucida que “em pacientes com quadros respiratórios graves, a hipóxia também pode levar às lesões neurológicas”.
E então, futuro residente? Agora que você já está mais familiarizado com os Long-haulers e as consequências da Covid-19, o que acha de checar mais artigos do Estratégia MED?
No blog, você encontrará os mais diversos assuntos, desde aqueles que mais caem nas provas de residência e revalida, até os que estão mais em pauta! Não fique por fora dessa, estude com o EMED!