Suplementação com Vitamina D: saiba o que dizem as evidências científicas sobre essa prática
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Suplementação com Vitamina D: saiba o que dizem as evidências científicas sobre essa prática

As buscas pela suplementação com Vitamina D tomaram conta da internet e das redes sociais devido ao polêmico Protocolo Coimbra. Apesar do que diz o nome, não se trata, efetivamente, de um protocolo, mas de uma sequência de procedimentos. Elaborado pelo Dr. Cícero Coimbra, o método consiste na prescrição de suplementação de vitamina D acima do recomendado pelo Ministério da Saúde e pela Anvisa

Embora pareça controversa, o tratamento possui diversos adeptos que relatam uma melhora significativa de diversos acometimentos neurológicos quando comparado aos resultados da medicina alopática. Por outro lado, alguns profissionais questionam os métodos do Protocolo Coimbra enquanto casos consecutivos de hipervitaminose D, uma espécie de overdose por conta da Vitamina D, são registrados no mundo. Para entender melhor os episódios, siga no texto!

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O que é o Protocolo Coimbra?

Formulado pelo Doutor Cícero Coimbra, médico neurologista, PhD e professor da Universidade Federal de São Paulo, o Protocolo Coimbra é um método de restabelecimento de níveis sistêmicos adequados de vitamina D para pacientes de diversas patologias. Ou seja, o protocolo consiste em doses de Vitamina D acima do definido na proposta de Ingestão Diária Recomendada (IDR) de Proteína, Vitaminas e Minerais para indivíduos e diferentes grupos populacionais, elaborada pela Anvisa, por exemplo. 

De acordo com Coimbra, essa prática pode trazer progressos terapêuticos consideráveis principalmente em patologias autoimunes, como Esclerose Múltipla e Vitiligo. Porém, como Autismo e Mal de Parkinson estão sendo investigados como possíveis doenças auto-imunes, o método também ajudaria esses pacientes a melhorarem suas condições. 

O estudo sobre a suplementação com vitamina D começou em meados de 1991, durante o programa de pós-doutorado que Coimbra realizava na Universidade de Lund, na Suécia. Ainda em seu campo de interesse do PhD, a neurociência clínica, em 2001 o Dr. Coimbra passou a considerar a vitamina D como um recurso terapêutico fundamental, já que estimulava a produção de substâncias regenerativas no cérebro, e colocou em prática ao administrar a vitamina em doses de 10.000 UI/dia para pacientes com doença de Parkinson. 

Após observar uma notável melhora clínica na maioria de seus pacientes, as doses foram aumentadas e, segundo o médico, muitos dos pacientes acabaram livres dos sintomas e manifestações de suas respectivas doenças. Em 2012, Coimbra revelou ter alcançado o nível desejado de eficácia após consecutivos aumentos nas doses e o Protocolo Coimbra tornou- se muito parecido com o que é visto atualmente.

Outros Estudos

Embora os pacientes do Protocolo Coimbra atestem melhora significativa segundo o criador do método, algumas práticas são tanto questionadas quanto apoiadas, dependendo do estudo externo. Abaixo, você encontra algumas relações da vitamina D no sangue e a manifestação ou ausência de algumas condições:

  • Homens com sobrepeso ou obesidade possuem uma maior probabilidade de apresentar níveis inadequados de Vitamina D no sangue, segundo o estudo Gender-related differences in the association of serum levels of vitamin D with body mass index in northern Iranian population (PGCS);
  • Suplementação com vitamina D não consegue evitar a progressão do pré-diabetes para o diabetes tipo 2, segundo o estudo Diabetes Prevention with active Vitamin D (DPVD);
  • Pacientes com deficiência de vitamina D no sangue tiveram 14 vezes mais chance de desenvolver os sintomas da Covid-19 de forma severa e a mortalidade foi de 25,6% para aqueles com níveis insuficientes de vitamina D, enquanto aqueles com níveis adequados tiveram 2,3% de taxa de mortalidade, de acordo com o estudo conduzido em Israel Pre-infection 25-hydroxyvitamin D3 levels and association with severity of COVID-19 illnes;
  • Mulheres hispânicas, latinas e negras com quantidades suficientes de Vitamina D no sangue tiveram 21% menos casos de câncer de mama do que as mulheres com concentrações mais baixas, segundo o estudo Vitamin D concentrations and breast cancer incidence among Black/African American and non-Black Hispanic/Latina women.

Ou seja, uma coisa é certa: baixos índices de vitamina D no corpo são apontados como agravantes para algumas doenças e condições médicas por estudos externos. Porém, para outras doenças, os testes com vitamina D não obtiveram o poder estatístico de detectar algum efeito – positivo ou negativo – na condição.

Falta de consenso científico e reclamações contra o tratamento

Apesar de muitos estudos ligarem a deficiência de vitamina D à manifestação de algumas doenças, a falta de consenso científico ainda é algo que preocupa no que diz respeito à eficácia da suplementação. 

A princípio, a vitamina D funciona com a produção de substâncias regenerativas no cérebro e possui um importante papel imunorregulatório, segundo os estudos do Dr. Coimbra. Porém, o método de suplementação tem como foco patologias auto-imunes e algumas doenças colocadas no “leque” de tratáveis pelo Protocolo Coimbra possuem classificação controversa, como o Autismo e o Mal de Parkinson, que estão sendo estudadas como possíveis doenças auto-imunes. 

No caso de Parkinson, a hipótese de que talvez a condição se tratasse de uma doença auto-imune surgiu pela primeira vez há mais de um século, mas até recentemente não havia informações suficientes para confirmá-la. Em 2017, cientistas apontaram evidências diretas de que, no mal de Parkinson, o sistema imunológico ataca células do cérebro dos pacientes, ou seja, iria tratar-se de uma condição auto-imune. 

Na época, a descoberta foi publicada na revista científica Nature e também apontava que medicamentos voltados ao sistema imunológico poderiam ajudar a lidar com a doença. Entretanto, outras teorias acerca do surgimento do Parkinson ainda estão sendo estudadas e ainda há muito o que explorar no desenvolvimento de novos tratamentos que podem amenizar ou até controlar o progresso da doença.

Por outro lado, embora o Protocolo Coimbra se denomine um método natural, a suplementação com vitamina D ainda pode oferecer diversos riscos, sobretudo se não for acompanhada de perto. Em julho de 2022, um homem foi internado no Reino Unido com um dos casos mais preocupantes de overdose por vitamina D, o que preocupou a categoria médica, inclusive internacionalmente. O paciente ingeria diariamente cerca de 150.000 UI de vitamina D, muito acima do recomendado. O caso se enquadra em Hipervitaminose D, em que níveis elevados de cálcio no sangue acabam prejudicando os ossos, coração, rins e outras partes do corpo, que podem sofrer calcificação.

A medida de 150.000 UI foi inclusive citada pelo Dr. Coimbra no site oficial de seu protocolo, embora – contraditoriamente – este dizendo que altas unidades, mesmo para pessoas saudáveis, não trazem riscos à saúde. Por ser detentor de um método tão polêmico, Coimbra teve inclusive um pedido de interdição de seu registro profissional por cautela em 2021. O processo tratava-se de uma questão ética-profissional e buscou interditar o CRM do médico por 41 dias. 

Afinal, o que é e como funciona a vitamina D?

A vitamina D é um hormônio que age na regulação do metabolismo mineral ósseo, por meio da absorção intestinal de cálcio, magnésio e fosfato. Ela é um agente crucial na saúde óssea, na imunidade e em diversos outros fatores. 

Grande parte da vitamina D presente no nosso corpo é adquirida por meio da alimentação, porém o restante aparece através da reação do colesterol quando nos expomos à luz solar. A quantidade de vitamina D que deve ser ingerida por dia tende a estar acima de 600 UI em todas as idades e algo em torno de 800 a 1000 UI, caso a idade seja maior que 65 anos, segundo as principais sociedades no tema. 

“Vale ressaltar que a ingestão recomendável da vitamina D é a alimentar, que vem dos alimentos, porque também existe a ingestão que vem dos suplementos. Existe uma tendência de fazer uma ingestão exagerada de suplementos, o que não é recomendado. A suplementação recomendada para quem tem deficiência é de 50 UI por semana, o que ficaria bem abaixo da ingestão alimentar.”

– Drª Bárbara D’Alegria, professora de Medicina Preventiva do Estratégia MED, formada em Medicina da Família e Comunidade e Nutrição

Entre os grupos de risco para baixa manutenção de vitamina D no corpo, estão, por exemplo:

  • Idosos acima de 60 anos;
  • Gestantes e lactantes;
  • Baixa exposição ao sol; e 
  • Indivíduos que fazem uso de medicamentos como: anti retroviral, corticoterapia e anticonvulsivantes. 

Gostou de saber sobre o assunto? Com a recente publicação da Resolução nº 151, que autoriza profissionais de Educação Física a aconselhar o uso de suplementos alimentares, torna-se ainda mais urgente a discussão sobre o tema. 

Não deixe de saber mais sobre como funciona a vitamina D, sua fisiologia e importância, além de como o tópico pode ser abordado nas provas de residência médica e revalidação. Clique aqui e confira o texto!  

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