Quase 30% das vagas de residência médica estão ociosas; confira a relação de vagas autorizadas e ocupadas
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Quase 30% das vagas de residência médica estão ociosas; confira a relação de vagas autorizadas e ocupadas

Periodicamente, a Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) é responsável por credenciar programas de residência médica, aprovar vagas e regulamentar, supervisionar e gerenciar as instituições que os oferecem, sejam públicas ou privadas. Com isso, atualmente, o Brasil conta com mais de 75 mil vagas liberadas pela CNRM para residência médica – mas nem todas são ocupadas.

Segundo dados de maio de 2025 do Painel da Educação da Saúde, desenvolvido pelo Ministério da Educação, 75.471 vagas estavam autorizadas pela CNRM, das quais apenas 54.402 estavam preenchidas. Isso significa que mais de 21 mil vagas permaneceram sem residentes, resultando em uma taxa de ociosidade de 27,92%

A situação se agrava em determinados estados. No Paraná, por exemplo, 35,17% das vagas estão ociosas; no Espírito Santo, o índice sobe para 38,71%; e em Mato Grosso, que registra a maior taxa de ociosidade do país, 40,73% das vagas permanecem sem ocupação.

Quer entender os motivos para que tantas vagas fiquem ociosas, como está a ocupação nos estados brasileiros e quais especialidades registram os maiores índices de vagas desocupadas? Siga no texto e confira!

Panorama geral das vagas de residência médica no Brasil

Segundo os dados mais recentes, o Brasil contava com 75.471 vagas autorizadas para residência médica em maio de 2025. Essas vagas se distribuem entre especialidades de acesso direto, com pré-requisito, áreas de atuação e anos adicionais, incluindo R1, R2 e subsequentes. Do total autorizado:

  • 514 vagas (0,68%) estão em supervisão pela CNRM — situação chamada de diligência, quando há necessidade de modificação no programa;
  • 7.117 vagas (9,43%) encontram-se na condição de exigência, que indica necessidade de ajustes a serem realizados;
  • 123 vagas estão vencidas, ou seja, com o ato autorizativo expirado ou outra pendência impeditiva.

Das 75.471 vagas autorizadas pela CNRM, apenas 54.402 estão atualmente ocupadas, o que representa cerca de 72% do total. As demais 21.069 permanecem ociosas.

Fonte: Painel da Educação da Saúde

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Evolução da ocupação de vagas de residência – 2024 e 2025

O cenário pouco mudou em relação aos números de 2024. Naquele ano, foram autorizadas 70.608 vagas, das quais apenas 50.270 foram ocupadas. Com isso, 28,80% das vagas permaneceram ociosas, o que corresponde a 20.338 oportunidades não preenchidas.

Fonte: Painel da Educação da Saúde

Confira os principais motivos da ociosidade

A um primeiro olhar, a não ocupação de tantas vagas pode parecer exclusivamente culpa dos candidatos, não é mesmo? Desinteresse por determinadas especialidades, programas em hospitais afastados ou em regiões carentes que não atraem profissionais e por aí vai… Mas, e se dissermos que as causas da ociosidade são bem mais complexas?

A seguir, confira os principais fatores que ajudam a explicar por que quase 30% das vagas de residência médica no Brasil permanecem sem ocupação:

Localização geográfica

Muitos programas estão localizados em cidades pequenas, distantes dos grandes centros urbanos, o que reduz a atratividade para os residentes. Nem todo mundo está disposto a deixar sua cidade de origem para atuar em regiões mais rurais ou carentes, mesmo que isso signifique realizar o sonho da residência médica.

Além disso, essas localidades costumam apresentar limitações estruturais importantes, como:

  • Falta de hospital-escola de referência;
  • Ausência de ambulatórios especializados;
  • Número insuficiente de preceptores capacitados; e
  • Baixa oferta de casos clínicos relevantes para o aprendizado.

Esses fatores acabam afastando candidatos e dificultando a ocupação das vagas.

Baixa atratividade de algumas especialidades

Áreas como Medicina de Família e Comunidade, Radioterapia e Patologia Clínica/Medicina Laboratorial historicamente enfrentam desinteresse, o que também acontece com programas ou áreas de atuação muito específicas que exigem pré-requisito. Os motivos passam por:

  • Percepção de menor status profissional;
  • Perspectivas salariais futuras menos atrativas; 
  • Necessidade de uma ou até duas residências médicas prévias como requisito para ingresso no programa; e
  • Carga de trabalho considerada elevada em algumas dessas áreas.

Baixos salários e bolsa incompatível com o custo de vida

A bolsa mensal do residente médico no Brasil, definida pelo Ministério da Saúde, é de R$ 4.106,09 – valor que, em algumas regiões, não cobre o custo de vida local.

Além disso, quando comparada a oportunidades no mercado informal ou em plantões particulares, essa remuneração pode se tornar pouco atrativa, especialmente para profissionais que desejam manter determinado padrão de vida.

Outro ponto relevante é que nem todo programa de residência permite, devido à carga horária intensa, que os residentes assumam plantões extras para complementar a renda. Assim, comprometer-se por dois, três ou mais anos a viver exclusivamente com a bolsa exige planejamento financeiro, o que afasta parte dos médicos.

Mudança no perfil dos recém-formados

Nos últimos anos, muitos recém-formados passaram a optar por adiar a residência para trabalhar como plantonistas e melhorar a renda, ganhar experiência prática ou buscar oportunidades em especialidades mais valorizadas antes de definir o caminho definitivo. Essa mudança de perfil contribui para a diminuição na procura pelas vagas.

Calendário e logística de seleção

A logística dos processos seletivos também é um fator relevante. Muitas provas de residência ocorrem em datas próximas ou até coincidentes, dificultando a participação dos candidatos em diferentes seleções. Como consequência, os candidatos acabam priorizando instituições maiores e de maior prestígio, vagas em capitais – onde há mais oportunidades de networking e possibilidades de emprego para complementar a renda, além de programas com melhor infraestrutura e reputação.

Isso prejudica a ocupação em instituições menores, mesmo quando localizadas na cidade de origem do candidato.

Hiperinflação nas vagas autorizadas

A Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) autoriza vagas considerando critérios como infraestrutura, número de preceptores e capacidade assistencial no momento da avaliação. No entanto, a autorização não obriga a instituição a ofertar todas as vagas autorizadas a cada ano

Assim, a não oferta no edital do seletivo para residência médica em um determinado ano pode ocorrer por falta de preceptores, restrições orçamentárias, obras e reformas nos serviços ou até mesmo baixa demanda assistencial. Essa dinâmica gera parte da ociosidade, pois o número de vagas autorizadas no sistema pode ser superior ao número efetivamente ofertado e ocupado nos processos seletivos.

Para equilibrar isso, o Regimento Interno da CNRM determina que, se uma instituição deixar de ofertar determinadas vagas por dois anos consecutivos, essas vagas podem ser bloqueadas ou canceladas. O processo funciona assim:

  1. A CNRM realiza um acompanhamento anual via Sistema de Informações da Comissão Nacional de Residência Médica (SisCNRM);
  2. Se identificar que vagas autorizadas não foram ofertadas por dois anos seguidos, a Comissão pode instaurar um processo;
  3. Esse processo pode resultar na redução, bloqueio temporário ou descredenciamento parcial do programa;
  4. Se houver sanção, a vaga só poderá ser novamente ofertada após novo credenciamento provisório.

Esse controle é fundamental, já que as bolsas são custeadas principalmente pelo Ministério da Educação (MEC), pelo programa Pró-Residência e por recursos estaduais — ou seja, dinheiro público. É preciso que os valores reservados para as bolsas estejam alinhados à oferta real de vagas disponíveis e ocupadas.

Saiba mais em: CNRM cancela 987 programas de residência médica por inatividade 

Especialidades com mais vagas ociosas

Entre as especialidades de acesso direto, algumas apresentam taxas de ociosidade bem acima da média nacional. Na tabela abaixo, você confere as 20 especialidades com maior percentual de vagas não ocupadas no país em 2025.

ESPECIALIDADEVAGAS AUTORIZADASVAGAS OCUPADASVAGAS OCIOSASOCIOSIDADE (%)
Patologia Clínica/Medicina Laboratorial55154072,73%
Radioterapia34411722765,99%
Medicina do Tráfego145964,29%
Medicina Nuclear1696610360,95%
Medicina Preventiva e Social52223057,69%
Homeopatia30131756,67%
Acupuntura46222452,17%
Cirurgia Cardiovascular67433434050,45%
Medicina de Família e Comunidade66443702294244,28%
Medicina Intensiva29211722119941,05%
Medicina Física e Reabilitação1801097139,44%
Medicina de Emergência113168844339,17%
Medicina do Trabalho89573235,96%
Medicina Legal e Perícia Médica33221133,33%
Patologia45932013930,28%
Ortopedia e Traumatologia38882817107127,55%
Medicina Esportiva93682526,88%
Oftalmologia2071153853325,74%
Neurocirurgia86566719822,89%
Pediatria70365443159322,64%
Fonte: Painel da Educação da Saúde

Já entre as especialidades que exigem pré-requisito, áreas de atuação ou anos adicionais, o cenário de ociosidade também chama atenção. Na tabela a seguir, veja as 25 especialidades que registraram as maiores taxas de vagas não preenchidas em números absolutos e percentuais em 2025.

ESPECIALIDADEVAGAS AUTORIZADASVAGAS OCUPADASVAGAS OCIOSASOCIOSIDADE (%)
Medicina de Família e Comunidade – Atenção Domiciliar10010100,00%
Medicina de Família e Comunidade – Saúde Indígena404100,00%
Transplante de Coração – Cirurgia Cardiovascular606100,00%
Transplante de Fígado – Cirurgia Pediátrica101100,00%
Transplante de Pulmão – Pneumologia101100,00%
Transplante de Rim – Pediatria606100,00%
Transplante – Pediatria707100,00%
Medicina Tropical505100,00%
Cirurgia Videolaparoscópica2031785,00%
Cirurgia Bariátrica3152683,87%
Cardiologia-Cardiointensivismo61583,33%
Medicina de Família e Comunidade – Gestão e Preceptoria57104782,46%
Cirurgia do Trauma69135681,16%
Emergência Pediátrica48103879,17%
Medicina de Família e Comunidade – Saúde Mental2351878,26%
Angiologia41375,00%
Transplante de Fígado – Cirurgia do Aparelho Digestivo1851372,22%
Medicina do Adolescente2061470,00%
Infectologia Pediátrica96296769,79%
Transplante de Fígado – Gastroenterologia31266,67%
Neurorradiologia2691765,38%
Endoscopia Respiratória2381565,22%
Ergometria2381565,22%
Neonatologia101635765964,86%
Hansenologia83562,50%
Fonte: Painel da Educação da Saúde

Especialidades com maior ocupação das vagas

Se por um lado algumas especialidades enfrentam altas taxas de ociosidade, por outro, há áreas extremamente disputadas, com ocupação praticamente total das vagas ofertadas. Na tabela a seguir, listamos as 20 especialidades — entre programas de acesso direto, com pré-requisito, áreas de atuação e anos adicionais — que registraram os menores índices de ociosidade em 2025, alcançando ocupação completa ou próxima de 100% das vagas disponíveis.

ESPECIALIDADEVAGAS AUTORIZADASVAGAS OCUPADASVAGAS OCIOSASOCIOSIDADE (%)
Atendimento ao Queimado8800,00%
Foniatria1100,00%
Nutrição Parenteral e Enteral1100,00%
Oftalmologia – Óculoplástica, Órbita e Vias Lacrimais2200,00%
Transplante de Pulmão – Cirurgia Torácica2200,00%
Medicina Fetal585446,90%
Reprodução Assistida232128,70%
Gastroenterologia401365368,98%
Endocrinologia e Metabologia488440489,84%
Geriatria4223794310,19%
Endoscopia Ginecológica5447712,96%
Cirurgia Plástica5704947613,33%
Neurologia Pediátrica1881622613,83%
Reumatologia3252804513,85%
Neurologia1190101117915,04%
Infectologia76263712516,40%
Clínica Médica84067007139916,64%
Cirurgia Geral5511457493717,00%
Dermatologia99981418518,52%
Genética Médica90731718,89%
Fonte: Painel da Educação da Saúde

Estados com maior proporção de vagas ociosas

A taxa de ociosidade das vagas de residência médica não é homogênea em todo o país – alguns estados enfrentam um percentual muito mais alto de vagas não preenchidas do que outros

Na tabela abaixo, você confere a proporção de vagas ofertadas para vagas ociosas em cada unidade da federação em 2025, além do número total de vagas autorizadas, o número de vagas ocupadas e a taxa de ociosidade correspondente. Os dados ajudam a dimensionar onde a dificuldade de preenchimento é mais acentuada.

Regiões brasileiras com maior e menor ociosidade

Ao analisar a distribuição das vagas de residência médica por região, é possível perceber que a ociosidade se mantém elevada em todo o país, com percentuais próximos entre as cinco regiões. No entanto, o Norte lidera a taxa de vagas ociosas, com 29,75% das vagas autorizadas sem ocupação em 2025. As demais regiões seguem de perto, reforçando que a dificuldade de preenchimento não é um problema isolado, mas sim um desafio nacional, com variações locais.

Na tabela abaixo, você confere o número total de vagas autorizadas, ocupadas e ociosas em cada região brasileira, além da porcentagem total de ociosidade registrada em 2025.

REGIÃOVAGAS AUTORIZADASVAGAS OCUPADASVAGAS OCIOSASOCIOSIDADE (%)
SUL43563345101123,21%
SUDESTE52053847135826,09%
NORTE1581611110470629,75%
NORDESTE2299216776621627,04%
CENTRO-OESTE2710219324777828,70%
Fonte: Painel da Educação da Saúde

Ocupação das vagas em instituições renomadas 

Mesmo entre as instituições mais renomadas do país, com tradição na formação médica e reconhecimento nacional, a ociosidade de vagas de residência médica também aparece, embora em níveis geralmente inferiores à média nacional. 

Na tabela abaixo, apresentamos o panorama da ocupação de vagas em algumas das principais instituições formadoras, como USP-SP, UFMG, UNICAMP, UNIFESP, UFPR e outras, destacando o número total de vagas autorizadas, ocupadas e o percentual de ociosidade registrado em 2025.

ESPECIALIDADEVAGAS AUTORIZADASVAGAS OCUPADASVAGAS OCIOSASOCIOSIDADE (%)
USP-SP2309182048921,18%
UFMG6145308413,68%
UNICAMP107576531028,84%
UNIFESP142212871359,49%
UFPE605735,00%
UFPR527481468,73%
UFBA4243527216,98%
Hospital das Forças Armadas1181041411,86%
HCPA70359311015,65%
Fonte: Painel da Educação da Saúde

Quer conferir mais dados sobre residência médica no Painel da Educação da Saúde? Confira abaixo:

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