Caso clínico de Intertrigo: causas, tratamento e mais!
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Caso clínico de Intertrigo: causas, tratamento e mais!

Olá, querido doutor e doutora! O intertrigo é uma condição dermatológica frequentemente encontrada na prática clínica, especialmente em indivíduos com fatores predisponentes como obesidade, diabetes e exposição a ambientes quentes e úmidos. A seguir, será apresentado um caso clínico que ilustra a manifestação típica do intertrigo em um paciente adulto, destacando os principais aspectos de sua história, exame físico, exames complementares, diagnóstico e tratamento.

Informações do paciente 

Nome: Rodrigo Santos 

Idade: 55 anos 

Motivo da consulta: queixa de vermelhidão e desconforto nas dobras da pele abdominal e axilar há duas semanas.

Histórico da moléstia atual  

O paciente refere que as lesões começaram discretamente, como áreas avermelhadas acompanhadas de sensação de calor e prurido. Inicialmente, tentou medidas caseiras como lavagem frequente, mas notou piora, com umidade excessiva e erosão em algumas regiões. Rodrigo associa a piora à exposição prolongada a ambientes quentes e úmidos, especialmente no trabalho. Nega febre, calafrios ou aumento de volume de linfonodos. Relata que as roupas justas e o suor após atividades físicas leves agravam os sintomas. Não utilizou cremes tópicos antes da consulta.

História patológica pregressa  

É portador de diabetes mellitus tipo 2, com adesão irregular ao tratamento medicamentoso e controle glicêmico insatisfatório. Também apresenta sobrepeso (IMC de 29,7 kg/m²). Nega histórico de dermatites prévias, psoríase ou doenças autoimunes. Sem antecedentes de cirurgias ou alergias medicamentosas. Nunca apresentou episódios prévios semelhantes de infecção ou inflamação em áreas de dobras.

Histórico familiar  

Relata histórico familiar positivo para diabetes mellitus e hipertensão arterial sistêmica. Seu pai foi diagnosticado com diabetes tipo 2 aos 50 anos e sua mãe, hipertensa desde os 45 anos. Não há antecedentes familiares de doenças dermatológicas ou imunodeficiências conhecidas.

Histórico social 

Rodrigo trabalha como atendente de supermercado, realizando longos turnos em ambientes com ventilação limitada, frequentemente exposto ao calor. Refere vida sedentária, com ausência de prática de atividades físicas regulares. O consumo de álcool é esporádico, restrito a encontros sociais, e nega uso de tabaco. Sua dieta é hipercalórica e pobre em fibras e vegetais. Dorme em média 5 horas por noite, com sono fragmentado. Refere sudorese excessiva, principalmente em dias quentes e úmidos.

Exame físico 

No exame dermatológico, observam-se placas eritematosas bilateralmente nas dobras axilares e abdominais inferiores, com áreas de maceração, fissuras superficiais e bordas irregulares. Pequenas pústulas satélites periféricas às lesões são visíveis, sugerindo infecção secundária por Candida spp. A pele adjacente apresenta sinais de umidade crônica, mas sem odor fétido marcante. À palpação, a área é sensível, porém sem formação de abscessos ou flutuação. Não há linfadenopatia regional. Sinais vitais normais, sem febre.

Exames complementares

Foi realizado raspado de lesões para exame direto com hidróxido de potássio (KOH), visando identificar fungos. Também foi solicitado cultura de secreção para pesquisa de bactérias patogênicas. Considerando a suspeita de infecção oportunista, foi pedida glicemia de jejum e hemoglobina glicada para avaliação do controle metabólico. Optou-se por não realizar biópsia neste momento, uma vez que o quadro clínico é típico.

Exames laboratoriais 

O exame de glicemia de jejum resultou em 178 mg/dL, evidenciando hiperglicemia. A hemoglobina glicada foi de 8,5%, reforçando o descontrole crônico do diabetes. O exame micológico direto foi positivo para presença de leveduras, confirmando infecção fúngica. A cultura bacteriana não identificou patógenos relevantes. Testes para infecção por Pseudomonas, via lâmpada de Wood, foram negativos.

Hipótese diagnóstica 

O conjunto dos achados clínicos e laboratoriais confirma o diagnóstico de intertrigo candidiásico. Trata-se de uma dermatite inflamatória que afeta as áreas de dobras corporais, favorecida por calor, umidade e fricção cutânea. A infecção secundária por Candida spp é evidenciada pela presença de pústulas satélites. A hiperglicemia e o sobrepeso de Rodrigo criam um ambiente propício para a proliferação fúngica. O tratamento precoce e adequado, associado a medidas preventivas, é crucial para evitar recorrências e complicações, como celulite bacteriana secundária.

Perguntas 

  1. Quais são as principais estratégias de prevenção do intertrigo? 

As estratégias incluem o uso de roupas leves e respiráveis, a manutenção das áreas intertriginosas sempre limpas e secas, o uso de pós absorventes ou agentes secantes, além da adoção de práticas que reduzam o atrito cutâneo. Em pacientes com fatores predisponentes, como obesidade ou diabetes, o controle rigoroso dessas condições também é necessário para evitar recidivas. 

  1. Como diferenciar intertrigo candidiásico de dermatites inflamatórias não infecciosas? 

O intertrigo candidiásico apresenta, classicamente, pústulas satélites e áreas de maceração úmida associadas ao eritema. Já as dermatites inflamatórias, como dermatite seborreica ou psoríase invertida, tendem a manifestar placas mais secas, descamativas, sem lesões satélites e com prurido mais pronunciado. Em casos duvidosos, o exame micológico e a cultura ajudam no diagnóstico diferencial. 

  1. Quando considerar o uso de antifúngicos sistêmicos no tratamento do intertrigo? 

Antifúngicos orais, como fluconazol, são indicados em casos de infecção fúngica extensa, refratária ao tratamento tópico, em pacientes imunossuprimidos ou quando o intertrigo compromete grandes áreas corporais. A decisão também leva em conta fatores como aderência ao tratamento tópico e controle das condições subjacentes, como o diabetes mal compensado.

Resumo de Intertrigo

Definição 

O intertrigo é uma inflamação superficial da pele que afeta áreas de dobras cutâneas, como axilas, região submamária, dobras abdominais e área inguinal. Essa condição resulta do atrito entre superfícies de pele adjacentes, agravado por fatores como calor, umidade e má ventilação. Embora inicialmente seja uma irritação inflamatória, frequentemente evolui para infecção secundária, principalmente por Candida spp, mas também por bactérias ou vírus em alguns casos. 

Epidemiologia e fatores de risco 

O intertrigo pode acometer indivíduos de todas as idades, desde recém-nascidos até idosos. Em crianças, é frequentemente visto como uma variante da dermatite de fralda. Pacientes com obesidade, diabetes mellitus, incontinência urinária ou fecal e imunossupressão apresentam maior predisposição para o desenvolvimento dessa condição. 

Fatores como ambientes quentes e úmidos, prática de atividades físicas intensas que levam à sudorese excessiva e o uso de roupas justas também aumentam significativamente o risco de surgimento do intertrigo. Não há preferência étnica ou de gênero na sua distribuição. 

Sintomas 

Os pacientes geralmente relatam prurido, ardência, sensação de calor e dor nas áreas de dobra da pele. As lesões se apresentam inicialmente como manchas eritematosas que, com a evolução, podem progredir para erosões, fissuras, exsudação e maceração. Quando ocorre infecção secundária por Candida, é comum a presença de pústulas satélites nas bordas da área afetada. Em infecções bacterianas, pode haver secreção purulenta e odor desagradável. 

Diagnóstico 

O diagnóstico do intertrigo é, na maioria dos casos, clínico, baseado na história e nos achados físicos típicos. Quando se suspeita de infecção secundária, exames complementares, como raspado da pele para pesquisa de fungos com KOH ou cultura bacteriana, podem ser solicitados. 

A utilização da lâmpada de Wood pode auxiliar na identificação de infecções específicas, como as causadas por Pseudomonas ou Corynebacterium. Em casos atípicos ou refratários ao tratamento, pode ser indicada a realização de biópsia de pele. 

Tratamento 

O tratamento do intertrigo envolve a eliminação dos fatores predisponentes, a manutenção da área afetada limpa e seca, e o uso de agentes terapêuticos apropriados. Antissépticos tópicos e agentes secantes, como soluções de acetato de alumínio, podem ser úteis nos casos iniciais. 

Infecções fúngicas são tratadas com antifúngicos tópicos como clotrimazol, miconazol ou nistatina, enquanto infecções bacterianas leves podem ser manejadas com antibióticos tópicos. Em infecções extensas ou refratárias, o uso de antifúngicos ou antibióticos orais pode ser necessário. Medidas preventivas, como controle do diabetes, perda de peso, escolha de roupas arejadas e higiene adequada, são fundamentais para evitar recorrências.

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Referências Bibliográficas 

  1. NOBLES, T.; SYED, H. A.; MILLER, R. A. Intertrigo | Treatment & Management | Point of Care. Atualizado em 28 out. 2024. 
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