Caso clínico de Tinea Barbae: sintomas, diagnóstico e mais!
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Caso clínico de Tinea Barbae: sintomas, diagnóstico e mais!

Olá, querido doutor e doutora! Hoje vamos conhecer um caso clínico que ilustra uma condição dermatológica pouco lembrada, mas relevante na prática diária: a tinea barbae. Trata-se de uma infecção fúngica que acomete a região pilosa da face, especialmente em homens adultos. O caso a seguir aborda de forma completa o quadro clínico, o raciocínio diagnóstico e a conduta indicada.

Informações do paciente 

  1. Nome: J.V.S.
  1. Idade: 38 anos.
  1. Profissão: Motorista de aplicativo.

Queixa principal

J.V.S., 38 anos, motorista de aplicativo, procura atendimento devido ao surgimento de lesões avermelhadas na região da barba, associadas a intensa coceira, dor ao toque e queda de pelos localizados. Relata que o quadro teve início há cerca de 15 dias, com piora progressiva. Refere desconforto estético e funcional, que tem atrapalhado sua rotina de trabalho. Informa uso compartilhado de lâmina de barbear com o irmão. 

Histórico da moléstia atual  

Paciente relata que há cerca de 15 dias notou surgimento de áreas avermelhadas na região mandibular, com intensa coceira e descamação. Com o passar dos dias, observou formação de pústulas ao redor dos pelos e início de falhas na barba. Informa que costuma utilizar a mesma lâmina de barbear para vários cortes, inclusive compartilhando com o irmão. Trabalha frequentemente em ambientes com poeira e calor. Procurou atendimento após notar aumento da sensibilidade local e início de dor ao toque. Refere que nunca apresentou lesões semelhantes anteriormente.

Revisão de sistemas 

Nega febre, emagrecimento ou mal-estar geral. Refere apenas prurido e dor local na região das lesões, além de queda localizada de pelos. Nega alterações visuais, respiratórias e digestivas.

História patológica pregressa  

J.V.S. não possui doenças crônicas conhecidas, nunca foi submetido a cirurgias e não faz uso regular de medicamentos. Relata boa saúde geral até o momento atual. Nega episódios anteriores semelhantes de lesão cutânea na face ou em outras regiões do corpo. Também não apresenta histórico de alergias medicamentosas ou alimentares. Afirma que seus familiares não possuem doenças dermatológicas ou condições autoimunes conhecidas.

Histórico social 

J.V.S. relata consumo ocasional de álcool nos fins de semana, nega tabagismo e uso de drogas. Alimenta-se de forma irregular, com predominância de alimentos industrializados devido à rotina intensa como motorista de aplicativo. Dorme cerca de 6 a 7 horas por noite, embora com sono fragmentado. Não pratica atividade física regular e vive com a família em área urbana, mantendo hábitos de higiene considerados satisfatórios.

Exame físico 

Sinais vitais

  • PA: 122/76 mmHg 
  • FC: 74 bpm 
  • FR: 16 irpm 
  • Temp: 36,5 ºC

Achados no exame físico

Lesão circular eritematosa com pústulas perifoliculares e falhas de pelos na região mandibular direita. Área sensível à palpação e com leve edema. Presença de escamas secas na borda da lesão e pelos quebradiços. Sem linfadenopatia regional.

Exames complementares

  • Exames laboratoriais: Sem alterações. 
  • Dermatoscopia: pelos distróficos e pontos pretos 
  • Exame direto com KOH: positivo para hifas fúngicas 
  • Cultura fúngica: aguardando resultado 

Hipótese diagnóstica

A apresentação clínica de lesão inflamatória na região da barba com eritema, prurido, pústulas e alopecia localizada, aliada ao histórico de uso compartilhado de lâmina de barbear, é compatível com o diagnóstico de tinea barbae. O achado de hifas fúngicas na preparação com KOH confirma a infecção dermatofítica.

Perguntas 

  1. Por que a tinea barbae não pode ser tratada apenas com antifúngicos tópicos?

Os antifúngicos tópicos não penetram profundamente o suficiente para atingir os folículos pilosos, onde os dermatófitos se alojam na tinea barbae. Por isso, o tratamento exige medicamentos sistêmicos que garantam ação fúngica eficaz em estruturas profundas. O uso exclusivo de cremes pode levar à persistência ou recorrência das lesões. O tratamento inadequado também aumenta o risco de complicações.

  1. Quais são as principais complicações associadas à tinea barbae? 

As complicações incluem alopécia cicatricial (queda definitiva dos pelos), infecção bacteriana secundária e disseminação para outras áreas da pele. Essas consequências ocorrem especialmente nas formas inflamatórias mais graves, quando o tratamento é tardio ou incompleto. A presença de pus e dor intensa exige atenção e pode indicar necessidade de abordagem adicional, como corticoterapia.

  1. Como diferenciar clinicamente a tinea barbae de uma foliculite bacteriana? 

A tinea barbae costuma apresentar lesões mais extensas, com falhas de pelos, bordas descamativas e prurido intenso, enquanto a foliculite bacteriana tende a formar pústulas isoladas, com menor área de alopecia. Além disso, a evolução da tinea é mais arrastada e menos responsiva a antibióticos. O exame com KOH ou a dermatoscopia ajudam a confirmar o diagnóstico fúngico.

Resumo de tinea barbae 

Conceito 

Tinea barbae é uma infecção fúngica da pele que acomete áreas pilosas da face, especialmente a barba. Causada por dermatófitos, essa micose afeta a camada córnea da pele e pode invadir o folículo piloso, levando a uma resposta inflamatória variável. É classificada dentro do grupo das dermatofitoses e se apresenta com diferentes padrões clínicos, dependendo da profundidade da infecção e da resposta imune do hospedeiro.

Epidemiologia e fatores de risco 

A doença ocorre exclusivamente em homens adolescentes e adultos, devido à presença de pelos faciais. Já foi mais frequente no passado, em razão do uso coletivo de lâminas de barbear em barbearias. Atualmente, os principais fatores de risco incluem: 

  • Uso compartilhado de objetos pessoais (como lâminas ou toalhas); 
  • Profissões com contato com animais (zoonoses); 
  • Presença de tinea em outras regiões do corpo (autoinoculação); e
  • Condições de higiene precária ou ambientes quentes e úmidos.

Sintomas 

A manifestação clínica varia, podendo incluir: 

  • Lesões eritematosas e descamativas na face; 
  • Pústulas perifoliculares; 
  • Prurido intenso; 
  • Dor local nas formas inflamatórias; 
  • Alopecia localizada na região afetada; e 
  • Placas infiltradas ou com aspecto de foliculite. 

As formas clínicas mais comuns incluem a inflamatória (com eritema, edema e pústulas) e a não inflamatória (com placas circulares e descamação leve).

Diagnóstico

O diagnóstico é majoritariamente clínico, com base na morfologia das lesões e no contexto epidemiológico. Pode ser complementado por: 

  • Dermatoscopia: evidência de pelos distróficos, quebradiços ou pontos pretos. 
  • Exame direto com KOH: detecção de hifas fúngicas em pelos ou escamas. 
  • Cultura fúngica: para identificação do agente específico Luz de Wood: pode mostrar fluorescência esverdeada, dependendo do fungo.

Tratamento 

O tratamento da tinea barbae requer o uso de antifúngicos sistêmicos, pois os tópicos são insuficientes para alcançar os folículos pilosos. As principais opções incluem: 

  • Terbinafina 250 mg/dia por 4 a 8 semanas; 
  • Itraconazol 100 mg/dia por 4 a 6 semanas; 
  • Fluconazol 6 mg/kg semanalmente por 3 a 6 semanas. 

O uso de shampoos antifúngicos (cetoconazol, ciclopirox, selênio) duas vezes por semana é recomendado como adjuvante para reduzir a propagação dos esporos. Casos com inflamação intensa podem demandar corticoterapia oral temporária.

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Referências Bibliográficas 

  1. KURUVELLA, T.; SALEH, H. M. Tinea Barbae – Treatment & Management. 2024. Disponível em: https://www.statpearls.com/point-of-care. Acesso em: 12 jan. 2025. 
  1. SCHWARTZ, R. A. Tinea Barbae. Medscape, 2024. Disponível em: https://emedicine.medscape.com/article/1091252. Acesso em: 12 jan. 2025.
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