Olá, querido doutor e doutora! A incorporação dos sensores de glicose ampliou a capacidade de avaliação do perfil glicêmico em diferentes contextos clínicos, permitindo análise contínua ou intermitente da glicose intersticial. Esses sistemas fornecem métricas adicionais que complementam a glicemia capilar e a hemoglobina glicada, contribuindo para decisões terapêuticas mais individualizadas.
Os sensores de glicose permitem identificar variações glicêmicas e episódios de hipoglicemia que frequentemente não são detectados por medições pontuais.
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O que é o Sensor de Glicose
O sensor de glicose é um dispositivo utilizado para a monitorização da glicose no fluido intersticial, por meio de um filamento inserido no tecido subcutâneo, permitindo o acompanhamento dinâmico e seriado do perfil glicêmico ao longo do dia e da noite. As medições são realizadas em intervalos regulares e refletem, com pequeno atraso fisiológico, as variações da glicemia plasmática.
Esses sistemas possibilitam a obtenção de dados contínuos ou intermitentes, incluindo valores atuais de glicose, tendências de variação glicêmica e registros históricos, ampliando a compreensão das flutuações glicêmicas que não são captadas pela aferição pontual da glicemia capilar.
Tipos de sistemas de monitorização da glicose
Monitorização da glicose capilar
Baseia-se na medição da glicose em amostras de sangue capilar obtidas por punção digital, por meio de glicosímetros portáteis. Trata-se de um método pontual e não contínuo, que fornece informações isoladas no momento da aferição, podendo não identificar episódios de hipoglicemia ou hiperglicemia entre as medições, especialmente durante o período noturno ou em fases de maior variabilidade glicêmica.
Monitorização contínua da glicose
Utiliza sensores subcutâneos capazes de medir a glicose no fluido intersticial em intervalos regulares, permitindo uma avaliação mais abrangente do perfil glicêmico diário. Esses sistemas são subdivididos em diferentes modalidades.
CGM em tempo real
Fornece valores de glicose e tendências glicêmicas em tempo real, com possibilidade de alertas programáveis para hipo e hiperglicemia. Permite acompanhamento contínuo e imediato das oscilações glicêmicas, sendo utilizado principalmente em pessoas com diabetes tipo 1 e em subgrupos de pacientes com diabetes tipo 2 em uso de insulina.
CGM com leitura intermitente
Realiza medições contínuas da glicose intersticial, porém os dados são exibidos apenas quando o usuário aproxima um leitor ou smartphone do sensor. Além do valor atual, apresenta histórico recente e setas de tendência, e versões mais recentes podem incluir alarmes para alterações glicêmicas.
CGM profissional
É aplicado em ambiente clínico por período determinado, podendo funcionar de forma cega, quando o paciente não visualiza os dados, ou aberta, quando há acesso às leituras. As informações são analisadas de forma retrospectiva pelo profissional de saúde, auxiliando na avaliação do padrão glicêmico e no ajuste terapêutico.
Biossensores de glicose de uso não terapêutico
Destinam-se principalmente a indivíduos com pré-diabetes ou diabetes não tratados com insulina. Esses dispositivos fornecem dados sobre tendências glicêmicas, geralmente sem alarmes, com foco em educação metabólica e na compreensão do impacto de hábitos alimentares e comportamentais.
Princípios de funcionamento do sensor de glicose
Os sensores de glicose convertem a concentração de glicose presente em um fluido biológico em um sinal mensurável, geralmente elétrico ou óptico. Esse processo baseia-se em interações químicas ou físico-químicas específicas, aplicadas principalmente à análise da glicose no fluido intersticial nos sistemas de monitorização contínua.
Sensores enzimáticos
Os sensores enzimáticos utilizam enzimas, como glicose oxidase ou glicose desidrogenase, que catalisam reações envolvendo a glicose. A partir dessa reação, são gerados produtos eletroativos, como o peróxido de hidrogênio, capazes de produzir uma corrente elétrica proporcional à concentração de glicose. Esse sinal é processado e convertido em valores numéricos exibidos ao usuário.

Sensores não enzimáticos
Os sensores não enzimáticos realizam a detecção direta da glicose por meio de materiais catalíticos, como metais nobres ou nanomateriais. Nesses sistemas, a oxidação da glicose ocorre sem o uso de enzimas, o que pode aumentar a estabilidade do sensor e reduzir alterações relacionadas à degradação enzimática ao longo do tempo.
Sensores ópticos
Os sensores ópticos baseiam-se em mudanças de propriedades ópticas, como absorbância ou fluorescência, após a interação da glicose com reagentes específicos. A variação dessas propriedades é captada por sistemas ópticos e traduzida em valores de glicose, sendo uma abordagem menos difundida na prática clínica atual.
Arquitetura dos sistemas de monitorização contínua
Nos sistemas de monitorização contínua da glicose, o sensor é inserido no tecido subcutâneo e avalia a glicose no fluido intersticial em intervalos regulares. A estrutura do sensor inclui eletrodo de trabalho, eletrodo de referência e contra eletrodo, além de camadas biocompatíveis que reduzem interferências e a formação de biofilme local.
Novas abordagens tecnológicas
Tecnologias emergentes incluem sensores baseados em hidrogéis com grupos de ácido borônico, que detectam a glicose por alterações nas propriedades elétricas ou dielétricas do material. Essas abordagens buscam maior estabilidade e melhor desempenho em medições prolongadas.
Benefícios clínicos associados ao uso do sensor
Identificação de hipoglicemias
Os sensores permitem a detecção de episódios de hipoglicemia assintomática, especialmente durante o período noturno, que frequentemente não são reconhecidos pela monitorização capilar pontual. Essa identificação favorece ajustes terapêuticos mais seguros.
Avaliação da variabilidade glicêmica
A monitorização contínua possibilita a análise detalhada das oscilações glicêmicas ao longo do dia, incluindo períodos pós-prandiais e inter prandiais, fornecendo informações que não são captadas pela hemoglobina glicada isoladamente.
Melhora do perfil glicêmico diário
O acesso a dados seriados, associados a setas de tendência, permite intervenções mais precisas relacionadas à insulinoterapia, alimentação e atividade física, contribuindo para maior estabilidade glicêmica ao longo das 24 horas.
Apoio ao ajuste individualizado da terapia
Os relatórios gerados pelos sensores auxiliam na avaliação de padrões glicêmicos, facilitando ajustes de doses basais e bolus de insulina, correções de hiperglicemia e revisão de estratégias nutricionais.
Redução do tempo em hipoglicemia
Diversos estudos demonstram diminuição do tempo total em faixas glicêmicas abaixo do alvo, mesmo quando não há redução expressiva da hemoglobina glicada, o que se traduz em maior segurança metabólica.
Melhora da adesão e do autocuidado
A redução da necessidade de punções digitais frequentes e o acesso visual aos dados glicêmicos favorecem maior engajamento do paciente no manejo da doença e melhor compreensão da relação entre comportamento e glicemia.
Aprimoramento da qualidade de vida
O monitoramento menos invasivo, aliado à previsibilidade das variações glicêmicas, está associado a menor carga emocional relacionada ao controle glicêmico, especialmente em pacientes com histórico de hipoglicemias recorrentes.
Limitações e cuidados na interpretação dos dados
Atraso fisiológico entre glicose capilar e intersticial
Os sensores medem a glicose no fluido intersticial, o que gera um atraso fisiológico em relação à glicose sanguínea. Esse intervalo pode variar, sendo mais evidente em situações de rápida variação glicêmica, como após refeições, exercício físico ou administração de insulina. Nesses contextos, decisões terapêuticas devem ser feitas com cautela.
Interferências medicamentosas
Alguns fármacos e suplementos podem interferir nas leituras do sensor, produzindo valores falsamente elevados em determinados dispositivos. Entre os principais estão acetaminofeno, doses elevadas de vitamina C, hidroxiureia, manitol e sorbitol. A revisão cuidadosa da medicação em uso é necessária e, havendo dúvida, recomenda-se confirmar a glicemia por método capilar.
Artefatos de compressão
A pressão física sobre o sensor, especialmente durante o sono ou atividades prolongadas em decúbito, pode resultar em leituras artificialmente baixas. Esses artefatos devem ser considerados quando houver discrepância entre o valor exibido e o quadro clínico do paciente.
Falhas técnicas e operacionais
Problemas como perda de sinal, falhas de adesão do sensor à pele, desconexão do transmissor ou erros de leitura podem comprometer a confiabilidade dos dados. A análise dos relatórios deve sempre levar em conta a integridade do registro.
Confirmação com glicemia capilar
Na presença de sintomas incompatíveis com os valores do sensor, suspeita de hipo ou hiperglicemia, ou em situações clínicas críticas, é recomendada a confirmação com glicemia capilar antes de qualquer intervenção.
Aspectos dermatológicos e custo
Reações cutâneas relacionadas ao adesivo, desconforto local, custo elevado e, em alguns sistemas, a necessidade de calibração periódica, podem limitar o uso contínuo e impactar a interpretação longitudinal dos dados.
Eventos adversos e aspectos de segurança
Reações cutâneas locais
As reações dermatológicas são os eventos adversos mais frequentes, incluindo dermatite de contato, alergia ao adesivo, prurido, eritema, edema e dor no local de inserção. Em uma parcela dos usuários, essas manifestações podem levar à interrupção do uso. Medidas como aplicação de barreiras cutâneas ou troca do local de inserção podem reduzir a intensidade dos sintomas, embora não eliminem completamente o risco.
Imprecisões relacionadas a interferências e artefatos
Interferências medicamentosas, como o uso de acetaminofeno, doses elevadas de vitamina C e hidroxiureia, podem gerar leituras incorretas em determinados sistemas. Além disso, artefatos de compressão, causados por pressão física sobre o sensor, e falhas técnicas, como perda de sinal ou mau funcionamento do transmissor, podem comprometer a confiabilidade das informações.
Risco de decisões terapêuticas inadequadas
Leituras imprecisas ou interpretação inadequada dos dados podem resultar em condutas terapêuticas equivocadas, com risco de hipoglicemia ou hiperglicemia. Esse cenário é mais frequente durante períodos de rápida variação glicêmica, em razão do atraso fisiológico entre a glicose intersticial e a glicose sanguínea.
Hipoglicemia e hiperglicemia associadas ao uso
Os episódios de hipo ou hiperglicemia relatados durante o uso do sensor estão, em geral, relacionados a falhas de interpretação dos dados ou limitações técnicas do dispositivo, e não ao sensor em si. A correlação clínica permanece indispensável em todas as situações.
Confirmação com glicemia capilar
Diante de valores discrepantes, sintomas incompatíveis ou cenários clínicos críticos, recomenda-se a confirmação com glicemia capilar antes de qualquer ajuste terapêutico. Essa prática aumenta a segurança e reduz o risco de eventos adversos relacionados a decisões baseadas exclusivamente no sensor.
Cuidados operacionais e ambientais
Aspectos de segurança incluem a verificação regular da funcionalidade do dispositivo, integridade do sistema de transmissão de dados e atenção a exposições específicas, como exames com radiação ou campos magnéticos intensos, conforme orientações do fabricante.
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Referências Bibliográficas
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- BERGENSTAL, R. M.; MARTENS, T. W.; BECK, R. W. Continuous glucose monitoring. The Journal of the American Medical Association, Chicago, 2025.
- BOLINDER, J.; ANTUNA, R.; GEELHOED-DUIJVESTIJN, P.; KRÖGER, J.; WEITGASSER, R. Novel glucose-sensing technology and hypoglycaemia in type 1 diabetes: a multicentre, non-masked, randomised controlled trial. The Lancet, London, v. 388, n. 10057, p. 2254–2263, 2016.



