E aí, doc! Pronto para mergulhar em mais um tema essencial? Hoje o foco é a deglutição, um processo complexo e coordenado que garante o transporte seguro dos alimentos da boca ao estômago.
O Estratégia MED está aqui para descomplicar esse conceito e ajudar você a aprimorar seus conhecimentos, aprimorando sua prática clínica.
Vamos nessa?
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Definição de Deglutição
A deglutição é um mecanismo reflexo complexo, essencial para o transporte de alimentos e líquidos da cavidade oral até o estômago, desempenhando um papel crucial no processo digestivo. Esse movimento, conhecido como propulsão, ocorre de maneira coordenada e envolve diversas estruturas anatômicas, incluindo a boca, a faringe e o esôfago.
A faringe, que serve tanto à respiração quanto à deglutição, desempenha uma função transitória no transporte do alimento, atuando como um trato de propulsão alimentar por apenas alguns segundos.
Durante esse período, é fundamental que a respiração seja temporariamente interrompida para evitar a aspiração, demonstrando a precisão com que esse mecanismo funciona. A deglutição requer a integração de sistemas musculares e nervosos para garantir que o alimento percorra o trajeto de forma eficiente e segura, protegendo as vias aéreas e promovendo a continuidade do processo digestivo.
Fase antes da deglutição
A quantidade de alimento ingerida por uma pessoa é determinada, em grande parte, pelo desejo de se alimentar, conhecido como fome. Já o tipo de alimento preferido é influenciado pelo apetite. Esses mecanismos funcionam como sistemas reguladores automáticos, essenciais para manter um suprimento nutricional adequado ao corpo. Dentro do contexto da ingestão alimentar, destaca-se a mastigação, um processo fundamental para a digestão.
Mastigação
Os dentes possuem uma adaptação engenhosa para a mastigação. Os dentes anteriores (incisivos) são responsáveis por cortar o alimento, enquanto os posteriores (molares) realizam a trituração. Os músculos da mandíbula permitem uma força considerável durante o processo, atingindo até 25 kg nos incisivos e 91 kg nos molares.
A maioria desses músculos é inervada pelo ramo motor do quinto nervo craniano, sendo o controle da mastigação realizado por núcleos localizados no tronco encefálico. Movimentos rítmicos de mastigação podem ser desencadeados pela estimulação de áreas reticulares específicas nos centros do paladar, localizados no tronco cerebral. Além disso, regiões do hipotálamo, da amígdala e do córtex cerebral, próximas às áreas sensoriais do paladar e do olfato, também podem influenciar o reflexo mastigatório.
Os músculos da mastigação, responsáveis pelos movimentos da articulação temporomandibular (ATM), incluem o temporal, masseter, pterigoideo lateral e pterigoideo medial, todos inervados pelo nervo mandibular (NC V3). O temporal eleva e retrai a mandíbula, enquanto o masseter eleva e auxilia na protrusão. O pterigoideo lateral projeta a mandíbula e facilita movimentos laterais, e o pterigoideo medial eleva e contribui para a protrusão.
Grande parte do processo é regulada pelo reflexo de mastigação. A presença do bolo alimentar na boca provoca inicialmente uma inibição reflexa dos músculos mastigatórios, permitindo que a mandíbula inferior se abaixe. Isso desencadeia um reflexo de estiramento dos músculos mandibulares, levando à contração reflexa que eleva a mandíbula, cerrando os dentes. Essa ação comprime o bolo contra as paredes da cavidade bucal, reiniciando o ciclo. Esse movimento contínuo garante a trituração eficaz do alimento.
Estágios da deglutição
Estágio voluntário
O estágio voluntário da deglutição, também conhecido como fase oral ou bucal, é o primeiro momento do processo de deglutição e envolve ações controladas conscientemente. Nesta etapa, a língua comprime o bolo alimentar contra o palato duro e o empurra para a orofaringe, preparando-o para as próximas fases.
A pressão exercida pelo bolo na orofaringe posterior ativa receptores sensitivos ligados ao nervo glossofaríngeo (NC IX), que enviam sinais ao centro de deglutição no tronco encefálico.
Esse estágio é fundamental para iniciar o processo de deglutição, já que, após o alimento alcançar a orofaringe, o processo torna-se involuntário, e as fases subsequentes passam a ser controladas automaticamente. Durante essa etapa, o esfíncter esofágico superior permanece fechado, impedindo a passagem do alimento até o esôfago.
Estágio faríngeo
O estágio faríngeo da deglutição é um processo involuntário que ocorre quando o bolo alimentar atinge a parte posterior da cavidade bucal e a faringe, ativando receptores sensitivos. Esses receptores, localizados principalmente nos pilares tonsilares, enviam impulsos ao tronco encefálico, onde desencadeiam uma série de ações reflexas coordenadas para direcionar o alimento ao esôfago, protegendo simultaneamente as vias respiratórias.
Inicialmente, o palato mole é empurrado para cima, fechando a cavidade nasal e prevenindo o refluxo do alimento. Em seguida, as pregas palatofaríngeas se aproximam, formando uma fenda que permite a passagem do bolo mastigado, enquanto objetos maiores são bloqueados. A laringe é puxada para cima e para frente, aproximando as cordas vocais e deslocando a epiglote, que cobre parcialmente a entrada da laringe, evitando a entrada de alimento na traqueia.
O movimento ascendente da laringe dilata a abertura do esôfago e relaxa o esfíncter esofágico superior. Isso permite que o bolo alimentar seja conduzido da faringe ao esôfago por meio de contrações peristálticas. Durante o processo, o alimento é direcionado para os lados da epiglote, adicionando proteção contra aspiração. Essas ações, controladas pelo centro de deglutição localizado no bulbo e na ponte inferior, garantem a sequência ordenada do reflexo, que dura menos de 2 segundos.
Por fim, o estágio faríngeo tem impacto sobre a respiração, que é temporariamente inibida pelo centro de deglutição, garantindo que o bolo alimentar passe com segurança sem interferir nas vias aéreas. A interrupção respiratória é breve, ocorrendo em menos de 6 segundos, e passa quase despercebida, mesmo durante a fala.
Estágio esofágico
O estágio esofágico da deglutição tem como principal função conduzir o alimento da faringe para o estômago de forma rápida e eficiente. Para isso, o esôfago utiliza dois tipos de movimentos peristálticos: peristaltismo primário e peristaltismo secundário.
O peristaltismo primário corresponde à continuidade da onda peristáltica iniciada na faringe, que percorre o esôfago até o estômago em cerca de 8 a 10 segundos. Em indivíduos em posição ereta, a gravidade acelera esse processo, permitindo que o alimento atinja o estômago em 5 a 8 segundos. Já o peristaltismo secundário ocorre quando a onda primária não consegue mover todo o alimento, sendo ativado pela distensão do esôfago, garantindo o esvaziamento completo.
A musculatura do esôfago é dividida em porções com composições distintas. No terço superior, o músculo é estriado, controlado por impulsos nervosos dos nervos glossofaríngeo e vago. Nos dois terços inferiores, a musculatura é lisa, sendo controlada pelos nervos vagos e pelo sistema nervoso mioentérico. Mesmo com o corte dos nervos vagos, o plexo mioentérico mantém sua funcionalidade, garantindo peristaltismo secundário eficiente.
O relaxamento receptivo do estômago é outro aspecto importante do estágio esofágico. Quando a onda peristáltica se aproxima do estômago, há um relaxamento antecipado, mediado por neurônios inibidores mioentéricos, preparando o órgão para receber o alimento.
Na junção esofagogástrica, o esfíncter esofágico inferior desempenha papel crucial. Ele permanece tônicamente contraído, impedindo o refluxo gástrico. Durante a deglutição, esse esfíncter relaxa para permitir a passagem do alimento para o estômago. Quando essa função é prejudicada, como na acalasia, o alimento encontra dificuldade para transitar adequadamente.
O refluxo esofágico é prevenido por dois mecanismos: a constrição tônica do esfíncter esofágico inferior e um mecanismo semelhante a uma válvula na porção distal do esôfago, que impede que o aumento da pressão intra-abdominal force o conteúdo gástrico de volta para o esôfago. Esses sistemas garantem a proteção da mucosa esofágica contra os efeitos nocivos das secreções gástricas ácidas.
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Referências
MOORE, Keith L.; DALLEY, Arthur F.; AGUR, Anne M. R.. Anatomia orientada para a clínica. 8 Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019.
GUYTON, A.C. e Hall J.E.– Tratado de Fisiologia Médica. Editora Elsevier.13ª ed., 2017. -MENAKER, L