E aí, doc! Vamos explorar mais um tema essencial? Hoje o foco é a Hebiatria, uma área da medicina dedicada ao cuidado integral de adolescentes, promovendo saúde física, mental e social durante essa fase de intensas transformações.
O Estratégia MED está aqui para simplificar esse tema e ajudar você a aprofundar seus conhecimentos, garantindo um cuidado ainda mais qualificado e humanizado para seus pacientes adolescentes.
Vamos nessa!
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Definição de Hebiatria
Hebiatria é uma subespecialidade da Pediatria dedicada ao cuidado integral da saúde de adolescentes, abrangendo indivíduos com idades entre 10 e 20 anos, conforme definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Essa área médica reconhece as particularidades dessa fase de transição, marcada por profundas transformações físicas, emocionais, psicológicas e sociais, que incluem o início da puberdade, o estirão de crescimento, mudanças comportamentais e o enfrentamento de novos desafios sociais e acadêmicos.
Diferentemente da Pediatria tradicional, a Hebiatria confere protagonismo ao adolescente no processo de cuidado, buscando fortalecer sua autonomia, enquanto os pais ou cuidadores desempenham um papel complementar, fornecendo informações e apoio quando necessário.
A abordagem é amplamente biopsicossocial, contemplando não apenas aspectos físicos, mas também questões emocionais e sociais que influenciam diretamente a qualidade de vida e o bem-estar do jovem.
A importância da Hebiatria
Nessa fase de transição entre a infância e a vida adulta, os jovens enfrentam transformações significativas, e a Hebiatria oferece uma abordagem especializada para lidar com as complexidades dessa etapa.
A principal importância da Hebiatria está na atenção diferenciada que o adolescente recebe, focando não apenas nos aspectos físicos do crescimento e desenvolvimento, mas também nas questões psicológicas e sociais que impactam diretamente sua qualidade de vida.
Como muitos adolescentes enfrentam vulnerabilidades, como violência psicológica, sexual e doméstica, a Hebiatria é crucial para proporcionar um espaço seguro, onde possam expressar suas inquietações e ser ouvidos de forma qualificada.
Além disso, a Hebiatria ajuda a identificar e tratar precocemente problemas de saúde, como distúrbios alimentares, problemas de crescimento, doenças metabólicas, dores recorrentes, transtornos mentais, como depressão e ansiedade, e dificuldades nas relações familiares e escolares.
O atendimento especializado permite que o adolescente se sinta compreendido e acolhido em suas necessidades únicas, enquanto recebe os cuidados necessários para lidar com as mudanças e os desafios dessa fase de vida.
A colaboração interdisciplinar, envolvendo profissionais como psicólogos, assistentes sociais e outros especialistas, é um ponto essencial na Hebiatria, pois permite um acompanhamento holístico e eficaz.
Anamnese de uma consulta com adolescente
A anamnese na consulta com o adolescente deve ser ampla e estruturada, abordando aspectos físicos, psíquicos, sociais, culturais, sexuais e espirituais do paciente, além de considerar o ambiente onde vive.
Para garantir um atendimento completo, recomenda-se dividir a anamnese em três etapas: entrevista conjunta com o adolescente e seus familiares, entrevista individual com o paciente, e um momento final com os responsáveis, se necessário.
1. Primeira etapa: Adolescente e familiares juntos
Essa etapa inicial visa coletar informações gerais sobre o motivo da consulta, que nem sempre é relacionado a uma patologia, podendo envolver questões como queda no rendimento escolar ou comportamentos considerados incomuns. Os tópicos a serem abordados incluem:
- Histórico da situação atual e pregressa, agravos e doenças;
- Estado vacinal e histórico do nascimento (gestação, parto e peso ao nascer);
- Hábitos alimentares e condições de habitação;
- Ambiente escolar, exposição a ambientes violentos e uso de tecnologia;
- Dinâmica familiar, incluindo configuração, harmonia ou conflitos no lar;
- Hábitos relacionados ao sono, lazer, atividades culturais e exercícios físicos.
2. Segunda etapa: Entrevista individual com o adolescente
Considerada a etapa mais importante, é realizada em um ambiente sigiloso, permitindo que o adolescente se expresse livremente sobre suas preocupações, que podem ser diferentes das relatadas pela família. Deve-se abordar questões como:
- Percepção corporal, autoestima e relacionamentos familiares;
- Relações sociais, lazer, desenvolvimento afetivo, emocional e sexual;
- Situações de risco e vulnerabilidade, incluindo uso de substâncias lícitas e ilícitas, comportamentos sexuais e saúde reprodutiva;
- Exposição a telas digitais e envolvimento em situações de violência ou acidentes.
Cabe ao profissional manter uma postura ética, sem julgamentos, e respeitar as exceções, como no caso de déficits intelectuais, distúrbios psiquiátricos graves ou preferência do paciente em não ficar sozinho.
3. Terceira etapa: Conversa com os pais ou responsáveis
Caso existam conflitos familiares ou indícios de violência, pode ser necessário um momento adicional com os responsáveis, a sós. Nessa etapa, o profissional orienta os responsáveis sobre as hipóteses diagnósticas e discute as condutas terapêuticas a serem tomadas.
Esse modelo de anamnese busca garantir uma abordagem holística, respeitando a individualidade do adolescente e promovendo um cuidado integral e ético.
No início do primeiro encontro, é fundamental esclarecer que o adolescente é o foco central da consulta. Deve-se informar sobre seus direitos ao sigilo, privacidade e confiança, mas também deixar claro os limites éticos que regem a relação entre o paciente e seus responsáveis.
O jovem deve compreender que nenhuma informação será compartilhada com seus pais ou responsáveis sem seu conhecimento prévio, mesmo nos casos em que seja necessário romper o sigilo. É importante conscientizá-lo sobre a relevância de comunicar determinadas situações que possam exigir intervenção.
Aspectos íntimos e próprios da adolescência, em geral, não demandam quebra de sigilo. Contudo, em casos que envolvam riscos à saúde, à integridade física ou à vida do próprio paciente ou de terceiros, a confidencialidade poderá ser rompida, sempre de forma ética e responsável.
Quebra do Sigilo | Manutenção do Sigilo |
Presença de qualquer tipo de violência: emocional, maus tratos, sexual, bullying, interpessoal no namoro, etc. | Ficar, namoro; iniciação sexual (exceto em casos de violência por sedução ou imposição explícita). |
Uso escalonado (cada vez maior) de álcool e outras drogas; sinais de dependência química. | Experimentação de psicoativos (sem sinais de dependência). |
Autoagressão, ideiações suicidas ou de fuga de casa; tendência homicida. | Orientação sexual, conflitos com identidade de gênero. |
Gravidez; abortamento. | Prescrição de contraceptivos (para adolescentes com maturidade para adesão). |
Sorologia positiva de HIV (comunicar aos familiares e à parceria sexual). | IST (desde que afastada a violência sexual e com maturidade para adesão ao tratamento). |
Diagnóstico de doenças graves, quadros depressivos e outros transtornos do campo mental. |
Abordagem HEEADSSS na amanmese
A abordagem HEEADSSS é um método estruturado para avaliar a história psicossocial de adolescentes, criado inicialmente como HEADSS em 1971 e posteriormente refinado em 1988. A sigla representa áreas fundamentais da vida dos jovens: H (Home – lar), E (Education/Employment – educação/emprego), A (Activities – atividades), D (Drugs – drogas), S (Sexuality – sexualidade), S (Suicide/Depression – suicídio/depressão), com a adição, em 2004, de E (Eating Disorders – distúrbios alimentares) e S (Safety – segurança/violência).
É uma ferramenta complementar à anamnese tradicional, útil para identificar comportamentos de risco e orientar intervenções preventivas, especialmente quando o tempo para consulta é limitado. Realizada apenas com o adolescente, geralmente dura cerca de 20 minutos e pode ser adaptada às necessidades de cada serviço.
Sigla e Significado | Indagações Sugeridas |
H (Home) – Casa | Onde você mora? Quem reside na casa com você? O ambiente é calmo ou “agitado”? Quem briga mais na tua casa? |
E (Education/Employment) – Educação/Emprego | Sabe ler e escrever? Atualmente estuda? Em que ano? Você trabalha? Em quê? Qual o horário? Possui carteira assinada? O trabalho interfere nos estudos? |
E (Eating Disorders) – Distúrbios alimentares | Já fez dieta? Gosta de seu corpo? Está contente com seu peso e altura? |
A (Activities) – Atividades | O que você faz além da escola? Pratica esporte? Qual? Quantas vezes por semana? Utiliza celular? Você joga videogame? Quanto tempo passa entre celular, games, TV, computador, telinhas em geral? |
D (Drugs) – Drogas lícitas/ilícitas | Você bebe? Com que frequência? Quando foi seu último porre? Onde costuma beber: em casa/bar/festas? Já experimentou “kit” (vodka + energético)? Já ficou de porre? Quando? Fuma tabaco? Início, quantidade de cigarros/maços? Usou/usa outra droga? Qual, início, frequência, intoxicações/overdose? |
S (Sexuality) – Sexualidade | Já ficou? Está apaixonado/a? Divide sua intimidade corporal com alguém? Já teve relações sexuais? Com pessoas de sexo oposto, mesmo sexo, ou tanto faz? |
S (Security) – Segurança | Já sofreu algum tipo de violência? Onde? Por quem? Assalto? Bullying? Já causou violência em alguém? Quais as consequências? |
S (Suicide) – Suicídio | O que você faz quando se sente triste: fica quieto? Chora? Já pensou em desaparecer/se machucar? Já tentou? |
Normas, técnicas e leis no atendimento ao adolescente
O atendimento de adolescentes pelo pediatra exige postura ética, conhecimento técnico e observância das normas e leis brasileiras. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) define adolescentes como pessoas de 12 a 18 anos, podendo se estender até 21 anos em casos específicos. O Ministério da Saúde, por meio da portaria nº 980/1989, define a adolescência como a faixa etária de 10 a 19 anos, baseando-se em critérios biológicos.
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a Associação Médica Brasileira reconhecem o atendimento a adolescentes como parte da pediatria, com diretrizes como a obrigatoriedade da disciplina Medicina do Adolescente em residências pediátricas e a certificação em Adolescência como área de atuação desde 1999.
A Resolução nº 413/2005 do Ministério da Saúde ampliou o limite etário para consultas pediátricas no SUS, incluindo adolescentes até 19 anos e 11 meses. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) também estabelece códigos específicos para atendimentos de adolescentes e suas famílias.
Em termos éticos, adolescentes acima de 16 anos podem optar por atendimento com médicos não pediatras. Além disso, prontos-socorros devem contar com pediatras para atender urgências e emergências de adolescentes.
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Referências
SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Consulta do adolescente: abordagem clínica, orientações éticas e legais como instrumentos ao pediatra. Departamento Científico de Adolescência. Janeiro de 2019. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/21512c-MO_-_ConsultaAdolescente_-_abordClinica_orientEticas.pdf. Acesso em: 16 dez. 2024.
BRASIL. Conheça a Hebiatria, subespecialidade da Pediatria voltada para adolescentes. EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares. Publicado em 27 jul. 2022. Disponível em: https://www.gov.br/ebserh/pt-br/comunicacao/noticias/conheca-a-hebiatria-subespecialidade-da-pediatria-voltada-para-adolescentes. Acesso em: 16 dez. 2024.