Resumo da esporotricose: diagnóstico, tratamento e mais!

Resumo da esporotricose: diagnóstico, tratamento e mais!

A Sociedade Brasileira de Infectologia alerta profissionais da medicina para a alta de casos de esporotricose no Brasil em outubro de 2023

A esporotricose é uma infecção fúngica que acomete primariamente a pele, de transmissão zoonótica e ambiental, que ocorre principalmente em surtos. Confira os principais aspectos referentes a essa infecção, que aparecem nos atendimentos e como são cobrados nas provas de residência médica!

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Seu tempo é precioso e sabemos disso. Se for muito escasso neste momento, veja abaixo os principais tópicos referentes à esporotricose.

  • É uma infecção causada pelo fungo dimórfico do complexo Sporothrix  schenckii
  • No Brasil, a incidência está aumentando devido ao surgimento do S. brasiliensis e transmissão zoonótica de gatos.
  • A transmissão ocorre, principalmente, por inoculação direta do fungo na pele
  • As formas linfocutâneas e a cutânea fixa são as mais comuns. Formas extra cutâneas são raras, como a pulmonar e osteomielite. 
  • Itraconazol oral é o tratamento de escolha para formas cutâneas moderadas e leves. Formas graves podem requerer tratamento EV com anfotericina B. 

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Definição da doença

A esporotricose é uma infecção causada pelo fungo dimórfico do complexo Sporothrix  schenckii,  sendo descrito pela primeira vez por Benjamin Schenck, nos Estados Unidos em 1898. No Brasil, Lutz e Splendore descreveram, em 1907, os primeiros casos de esporotricose em seres humanos e ratos. 

Atualmente no Brasil, a espécie mais frequente é S.brasiliensis. A infecção geralmente envolve tecidos cutâneos e subcutâneos, mas eventualmente pode disseminar-se por via linfática ou hematogênica, principalmente em pacientes imunocomprometidos. 

Epidemiologia e fisiopatologia da esporotricose

A esporotricose tem sido relatada como casos isolados, séries de casos e surtos em todos os continentes, e a maioria dos casos era relacionada ao trabalho agrícola, de jardinagem, de reflorestamentos e a outras atividades envolvendo manipulação de solo e vegetais contaminados com o fungo. É considerada endêmica em pelo menos uma área remota do Peru e comum em algumas províncias da China, principalmente em crianças e adolescentes menores de 15 anos. 

#Ponto importante: No Brasil, a incidência está aumentando devido ao surgimento do S. brasiliensis e transmissão zoonótica de gatos. Um surto se iniciou no Rio de Janeiro em 1997 e 1998 relacionado principalmente a gatos domésticos e selvagens. A doença se espalhou a partir do epicentro no Rio de Janeiro, e agora são relatados casos de outras áreas do Brasil, Paraguai, Argentina e Panamá 

Os fungos do complexo Sporothrix são fungos dimórficos, pois existe na forma micelial no ambiente em temperaturas inferiores às temperaturas normais do corpo humano (solo rico em material orgânico, nos espinhos de arbustos, em árvores e vegetação em decomposição) e existe na forma de levedura quando a 37ºC in vitro e em tecidos humanos.

Visão microscópica do crescimento de S. schenckii a 25°C. Hifas (micelas) septadas finas com numerosos conídios anexados em arranjos semelhantes a buquês. Crédito: Uptodate

A transmissão ocorre, principalmente, por inoculação direta do fungo na pele, através de traumas com materiais da natureza contaminados ou por mordedura/arranhadura de animais, tais como gatos infectados com o fungo. Após a inoculação na pele, há um período de incubação em média de 3 semanas, podendo chegar a 6 meses.

Manifestações clínicas da esporotricose

Em seres humanos, normalmente, a infecção é benigna e se limita à pele, sendo as formas linfocutâneas e a cutânea fixa as mais comuns. As regiões anatômicas mais acometidas são as que ficam mais expostas a traumas, como face, membros superiores e inferiores. 

Inicialmente, ocorre o aparecimento de uma lesão papulonodular no local de inoculação do fungo. Essa lesão primária geralmente sofre ulceração, mas pode permanecer nodular com eritema sobrejacente. Lesões semelhantes ocorrem posteriormente ao longo dos canais linfáticos proximais à lesão original. 

Lesão cutânea localizada por esporotricose em paciente que sofreu acidente por arranhadura de gato. Crédito: Cordeiro, Fernanda Nóbrega et al. (2011). 
Esporotricose linfocutânea no membro inferior direito de um jovem que capotou sua bicicleta suja e inoculou solo em vários locais da perna. Crédito: Uptodate. 

A esporotricose extracutânea é extremamente rara e ocorre por disseminação hematogênica. As manifestações mais comuns incluem envolvimento pulmonar, osteoarticular, neurológico ou dermatológico. Nas imagens pulmonares, as principais características são imagens de nódulos pulmonares com cavitação central. Formas disseminadas da doença são menos comuns e podem estar associadas à imunodeficiência.

Crédito: Carvalho, Miriam Tomoko Mitsuno et al. (2002).

Esporotricose pulmonar. Crédito. NEJM, 1968. 
Forma fatal de esporotricose pulmonar, TC apresentava múltiplas imagens de nódulos pulmonares centrais, com cavitação central. Crédito: do Monte Alves M. et, at. 2020.

Diagnóstico de esporotricose

O diagnóstico da esporotricose é clínico-epidemiológico na maioria das vezes. No Brasil, o contato com gatos com diagnóstico de esporotricose é uma informação epidemiológica importante. 

No entanto, o padrão ouro para o diagnóstico de esporotricose é a cultura e identificação do Sporothrix a partir do material da lesão de pele, obtida, habitualmente, por biópsia, eventualmente de aspirado de abscessos ou de escarro, líquido sinovial, sangue ou líquido cerebroespinhal, de acordo com o quadro clínico e órgão afetado. 

Tratamento de esporotricose

A cura espontânea é rara e habitualmente requer terapia sistêmica. O tratamento de escolha é realizado com itraconazol por via oral, pois tem poucos efeitos colaterais e é bem tolerado. Para as formas linfocutânea e cutânea o Itraconazol oral 200 mg uma vez ao dia é, por duas a quatro semanas, após a resolução de todas as lesões. 

Para esporotricose disseminada, formas pulmonares e extra cutâneas graves ou gestantes com a forma grave é indicado iniciar o tratamento com uma formulação lipídica de anfotericina B, 3 a 5 mg/kg por dia por via intravenosa. Após melhora clínica do paciente pode ser descalonado para itraconazol via oral (exceto nas gestantes) com tratamento continuado por pelo menos 12 meses. 

#Ponto importante: Os azólicos não devem ser administrados durante a gravidez devido à sua teratogenicidade.

Para pacientes com intolerância ou contraindicação ao itraconazol a opção é a terbinafina, na dose de  250 mg/dia via oral. A termoterapia ou criocirurgia podem ser terapias auxiliares no tratamento da esporotricose cutânea, mas só são realizadas em centros de referência. 

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Veja também:

Referências bibliográficas:

  • do Monte Alves M, Pipolo Milan E, da Silva-Rocha WP, Soares de Sena da Costa A, Araújo Maciel B, Cavalcante Vale PH, et al. Esporotricose pulmonar fatal causada por Sporothrix brasiliensis no Nordeste do Brasil. PLoS Negl Trop Dis, 2020. https://doi.org/10.1371/journal.pntd.0008141
  • SMS-SP. Nota Técnica 09 DVE/DVZ/COVISA/2020. Esporotricose Humana. 2020. Disponível em: https://fi-admin.bvsalud.org/document/view/yapyp 
  • https://www.uptodate.com/contents/clinical-features-and-diagnosis-of-sporotrichosis?search=esporotricose
  • Crédito da imagem em destaque: Pexels.
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