Olá, querido doutor e doutora! A Síndrome de McCune-Albright é uma condição genética rara, causada por uma mutação pós-zigótica no gene GNAS, que resulta em manifestações ósseas, cutâneas e endócrinas. A doença apresenta ampla variabilidade clínica, podendo afetar desde apenas um sistema até múltiplos órgãos. O diagnóstico é clínico e radiológico, e o manejo requer acompanhamento multidisciplinar. Embora não haja cura, intervenções precoces ajudam a reduzir complicações e melhorar a qualidade de vida.
As máculas café-com-leite típicas da síndrome apresentam bordas irregulares e respeitam a linha média corporal.
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Conceito
A Síndrome de McCune-Albright é uma condição genética rara caracterizada por alterações esqueléticas, pigmentares e endócrinas decorrentes de uma mutação pós-zigótica no gene GNAS. Essa mutação ocorre apenas em algumas células, resultando em um padrão em mosaico, de modo que diferentes tecidos podem apresentar manifestações distintas.
Fisiopatologia
Na Síndrome de McCune-Albright, uma mutação pós-zigótica no gene GNAS leva à ativação contínua da proteína Gsα, provocando produção excessiva de AMP cíclico (cAMP) nas células afetadas. Esse estímulo persistente altera a função de diversos tecidos: nos ossos, gera substituição do tecido normal por material fibroósseo, causando displasia fibrosa; na pele, estimula melanócitos, resultando em máculas café-com-leite; e nas glândulas endócrinas, promove secreção hormonal autônoma, levando a quadros como puberdade precoce, hipertiroidismo e excesso de GH. A variabilidade clínica depende do grau e da distribuição do mosaicismo embrionário.
Epidemiologia e fatores de risco
A Síndrome de McCune-Albright é uma condição esporádica e incomum, com uma prevalência estimada entre 1 a cada 100.000 até 1 milhão de nascidos vivos. A ampla variação ocorre devido à frequência com que quadros leves não são diagnosticados, principalmente quando não há manifestações endócrinas relevantes ou as lesões ósseas são localizadas.
Não há fatores de risco hereditários associados à síndrome, já que ela não é transmitida geneticamente. A mutação no gene GNAS ocorre de forma pós-zigótica, ainda durante o desenvolvimento embrionário, e o tempo em que essa mutação surge influencia diretamente a extensão e a gravidade do quadro clínico.
De modo geral:
- Quanto mais cedo a mutação ocorre no embrião, maior será o número de tecidos afetados e mais intensas as manifestações clínicas.
- Se a mutação acontece em estágio mais tardio do desenvolvimento, pode resultar em formas leves, com comprometimento limitado a poucos ossos ou glândulas.
Como resultado, o espectro clínico é altamente variável, indo desde formas monossintomáticas (como displasia fibrosa isolada) até quadros complexos com múltiplos sistemas endócrinos e esqueléticos envolvidos.
Não há influência conhecida de fatores ambientais, exposição a agentes químicos, medicamentos ou histórico familiar no aparecimento da mutação. Portanto, a síndrome é considerada um evento aleatório durante o desenvolvimento inicial do embrião.
Avaliação clínica
A Síndrome de McCune-Albright apresenta um espectro clínico variado, influenciado pelo grau de mosaicismo e pelos tecidos afetados. Os principais achados envolvem alterações ósseas, cutâneas e disfunções endócrinas, que podem surgir de forma isolada ou combinada.
Manifestações ósseas e cutâneas
A displasia fibrosa é a alteração mais frequente na Síndrome de McCune-Albright, caracterizada pela substituição do osso normal por tecido fibroósseo imaturo. Isso leva a dor crônica, deformidades (como encurvamento dos membros ou assimetrias faciais) e fraturas patológicas. As lesões podem ser mono ou poliostóticas, afetando desde pequenos segmentos até grande parte do esqueleto.
Quando a região craniofacial é acometida, há risco de compressão de nervos, especialmente o óptico. Outro achado precoce são as máculas café-com-leite, que surgem geralmente nos primeiros meses de vida. Essas manchas têm bordas irregulares, coloração acastanhada e distribuição segmentar, respeitando a linha média do corpo, sendo resultado do aumento de atividade melanocítica induzido pelo excesso de cAMP.
Alterações endócrinas e metabólicas
As disfunções hormonais são diversas e refletem a ativação autônoma de diferentes glândulas. A puberdade precoce periférica é comum, especialmente em meninas, com aparecimento de sangramentos uterinos e desenvolvimento mamário precoce. Em meninos, pode haver aumento testicular assimétrico. O hipertiroidismo decorre de nódulos funcionantes, com sintomas como taquicardia, irritabilidade e perda de peso.
Alguns pacientes desenvolvem acromegalia, por secreção excessiva de GH, e casos raros podem apresentar síndrome de Cushing neonatal. Além disso, a produção aumentada de FGF23 pelas lesões ósseas pode levar à hipofosfatemia crônica, resultando em raquitismo em crianças e osteomalácia em adultos, com piora da dor e risco aumentado de fraturas. A variedade e a combinação desses achados tornam o quadro clínico extremamente heterogêneo.
Diagnóstico
O diagnóstico da Síndrome de McCune-Albright é, em grande parte, clínico, complementado por exames de imagem, laboratoriais e, quando necessário, genéticos. A suspeita é levantada diante da associação entre displasia fibrosa, máculas café-com-leite e disfunções hormonais. A presença de dois ou mais desses achados é fortemente sugestiva da síndrome.
Os exames de imagem, como radiografias e tomografias computadorizadas, auxiliam na identificação das alterações ósseas. A displasia fibrosa apresenta o clássico padrão de “vidro fosco” nas áreas acometidas. Quando o crânio e a face estão envolvidos, a TC permite avaliar a extensão das lesões e o risco de compressão neurológica.
Os exames laboratoriais são direcionados pelas manifestações clínicas. Incluem dosagens de:
- Hormônios tireoidianos: TSH e T4 livre;
- Hormônio do crescimento e IGF-1, quando há suspeita de acromegalia;
- Cortisol e ACTH, nos casos de síndrome de Cushing;
- Estradiol ou testosterona, LH e FSH, para avaliação da puberdade precoce;
- Fósforo sérico e FGF23, em casos com distúrbios do metabolismo fosfocálcico.
O teste genético para identificação da mutação no gene GNAS pode ser realizado, preferencialmente, em tecido afetado (como pele ou osso). No entanto, devido ao mosaicismo, é comum que o teste resulte negativo mesmo na presença da doença. Assim, um resultado positivo confirma o diagnóstico, mas um resultado negativo não o exclui.
A biópsia óssea é raramente necessária. Quando realizada, revela substituição do osso normal por tecido fibroso, com trabéculas ósseas finas, irregulares e ausência de bordas osteoblásticas — achado característico da displasia fibrosa.
Tratamento
Tratamento clínico e hormonal
O manejo da Síndrome de McCune-Albright exige uma abordagem personalizada, centrada no controle das disfunções endócrinas e na prevenção de complicações ósseas. Em casos de puberdade precoce periférica, frequentemente observada em meninas, são utilizados inibidores da aromatase (como letrozol) para conter o avanço hormonal. Quando há ativação do eixo central, é necessário associar análogos de GnRH.
O hipertiroidismo é tratado inicialmente com metimazol, mas, diante de recidivas ou sintomas compressivos, pode ser indicada iodoterapia ou cirurgia. O excesso de GH, com sinais de acromegalia, pode ser controlado com análogos de somatostatina, antagonistas do receptor de GH ou cirurgia hipofisária. Casos raros de síndrome de Cushing neonatal podem demandar metirapona ou cirurgia adrenal. Já os distúrbios fosfatêmicos, decorrentes do excesso de FGF23, requerem suplementação de fosfato e calcitriol, com vigilância de efeitos renais.
Manejo ósseo, dermatológico e acompanhamento
As lesões de displasia fibrosa são avaliadas quanto à extensão, sintomas e risco de fraturas. Bifosfonatos podem ser usados para alívio da dor, embora não revertam a remodelação óssea. Em casos de deformidades ósseas graves ou risco de compressão, indica-se intervenção cirúrgica ortopédica.
As manchas café-com-leite têm caráter estético e não exigem tratamento, embora procedimentos com laser possam ser considerados em situações específicas. O acompanhamento deve ser contínuo e multidisciplinar, com avaliação periódica da função hormonal, crescimento, idade óssea, marcadores de remodelação óssea e exames de imagem. A orientação familiar e o monitoramento clínico regular são essenciais para minimizar complicações e garantir melhor qualidade de vida ao paciente.
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Referências Bibliográficas
- HOLBROOK, Lauren; BRADY, Robert. McCune-Albright Syndrome. In: StatPearls. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2024.
- GARCIA NETO, Valmir et al. Síndrome de McCune-Albright: relato de caso com exame de microscopia eletrônica de transmissão. Anais Brasileiros de Dermatologia, v. 97, n. 1, p. 58–62, 2022.