Olá, querido doutor e doutora! A Síndrome da Taquicardia Ortostática Postural (POTS) é uma condição disautonômica subdiagnosticada que afeta, principalmente, mulheres jovens, gerando sintomas debilitantes desencadeados pela postura ortostática. Este texto aborda os principais aspectos clínicos, diagnósticos e terapêuticos da POTS.
O aumento exagerado da frequência cardíaca ao assumir a posição em pé ocorre mesmo sem queda da pressão arterial, o que diferencia a POTS de outras formas de intolerância ortostática.
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Conceito
A Síndrome da Taquicardia Ortostática Postural (POTS) é um distúrbio caracterizado por uma resposta anormal do sistema autonômico ao se assumir a posição em pé. O principal achado clínico é um aumento sustentado da frequência cardíaca em pelo menos 30 batimentos por minuto (ou 40 bpm em menores de 20 anos) nos primeiros 10 minutos após a mudança de posição, sem queda associada da pressão arterial.
Esse fenômeno ocorre em um contexto de intolerância ortostática, manifestada por sintomas como tontura, palpitações, fadiga e sensação de desmaio iminente. A ausência de hipotensão postural ajuda a diferenciar a síndrome de outras causas de intolerância ortostática.
Fisiopatologia
A fisiopatologia da Síndrome da Taquicardia Ortostática Postural (POTS) é complexa e envolve múltiplos sistemas, refletindo uma desregulação global da resposta autonômica. Em condições normais, a transição do decúbito para a ortostase provoca um leve deslocamento do volume sanguíneo para os membros inferiores, o que é compensado por mecanismos reflexos mediados por barorreceptores que ativam o sistema simpático. Esse ajuste gera modesto aumento da frequência cardíaca e vasoconstrição periférica, preservando a perfusão cerebral.
Nos pacientes com POTS, essa adaptação é falha. Há uma incapacidade de mobilizar adequadamente o retorno venoso, levando à redução do volume sistólico. Como compensação, ocorre uma taquicardia exacerbada, porém ineficaz, resultando nos sintomas clínicos.
Vários mecanismos contribuem para essa disfunção, entre eles:
- Descondicionamento cardiovascular, que reduz o volume plasmático e a massa ventricular.
- Hipovolemia crônica, frequentemente associada à baixa atividade do eixo renina-angiotensina-aldosterona.
- Disfunção autonômica periférica, com prejuízo da vasoconstrição nos membros inferiores.
- Excesso de atividade simpática (fenótipo hiperadrenérgico), presente em uma parcela dos pacientes.
- Mecanismos autoimunes, sugeridos pela associação com doenças autoimunes e presença de autoanticorpos em alguns casos.
Esses fatores não são mutuamente exclusivos e frequentemente coexistem no mesmo paciente, o que contribui para a grande heterogeneidade clínica da síndrome.
Epidemiologia e fatores de risco
A Síndrome da Taquicardia Ortostática Postural (POTS) tem sido reconhecida como uma das causas mais comuns de intolerância ortostática em adultos jovens, com prevalência estimada entre 0,2% e 1% em países desenvolvidos.
A síndrome acomete de forma marcante o sexo feminino, especialmente na faixa etária entre 15 e 50 anos, com uma razão de cerca de 5:1 em relação aos homens. A maioria dos casos se manifesta entre os 15 e 25 anos, embora também possam surgir após infecções virais, cirurgias, traumas ou gravidez.
Entre os principais fatores de risco, destacam-se:
- Sexo feminino e idade jovem;
- Histórico recente de infecção viral;
- Descondicionamento físico prolongado;
- Predisposição genética ou familiar;
- Presença de doenças autoimunes (como lúpus, síndrome de Sjögren e tireoidite de Hashimoto);
- Condições associadas à hipovolemia, como distúrbios gastrointestinais;
- Uso de medicamentos simpaticomiméticos, como alguns antidepressivos e estimulantes.
Quadro clínico
Os sintomas da Síndrome da Taquicardia Ortostática Postural (POTS) são frequentemente incapacitantes e surgem principalmente com a adoção da postura ortostática, mesmo após pequenos esforços. O quadro pode ser altamente variável, tanto em intensidade quanto em distribuição dos sintomas, e costuma melhorar ao deitar.
Os pacientes referem uma sensação de intolerância ao ortostatismo, geralmente acompanhada de:
- Tontura ou sensação de desmaio iminente;
- Palpitações intensas;
- Cefaleia, frequentemente do tipo opressiva ou em “choque”;
- Visão turva;
- Náuseas e vômitos;
- Dispneia leve ao esforço;
- Fadiga crônica e fraqueza muscular;
- Sudorese excessiva;
- Dor torácica, tipo peso ou aperto; e
- Ansiedade ou sensação de angústia.
Além disso, sintomas gastrointestinais (distensão, dor abdominal), urinários (polaquiúria, dor suprapúbica), e alterações cognitivas (dificuldade de concentração e “névoa mental”) também são relatados por muitos pacientes. As queixas geralmente pioram em ambientes quentes, após refeições ou com períodos prolongados em pé, e podem levar à restrição significativa das atividades diárias.
Diagnóstico
O diagnóstico da Síndrome da Taquicardia Ortostática Postural (POTS) é clínico e depende da correlação dos sintomas com alterações na frequência cardíaca durante a postura ortostática, sempre na ausência de hipotensão ortostática. O teste de escolha é o “active stand test” ou o tilt-test, que avaliam a resposta hemodinâmica à mudança postural.
Os critérios diagnósticos mais utilizados incluem:
- Aumento da frequência cardíaca ≥ 30 bpm (ou ≥ 40 bpm em menores de 20 anos) dentro de 10 minutos após passar da posição supina para ortostática
- Ausência de hipotensão ortostática (queda da pressão sistólica ≥ 20 mmHg ou da diastólica ≥ 10 mmHg)
- Presença de sintomas de intolerância ortostática por pelo menos 6 meses
- Exclusão de outras causas para a taquicardia (como anemia, hipertiroidismo, insuficiência adrenal, uso de fármacos estimulantes, feocromocitoma, entre outros)
Exames complementares são utilizados principalmente para excluir diagnósticos diferenciais:
- Eletrocardiograma (ECG): pode mostrar taquicardia sinusal sem alterações estruturais;
- Ecocardiograma: para excluir cardiopatias estruturais;
- Monitor Holter de 24h: avalia a variabilidade da frequência cardíaca;
- Dosagens hormonais e exames laboratoriais básicos: hemograma, eletrólitos, TSH, função renal e hepática; e
- Exames de catecolaminas plasmáticas e urinárias: em casos suspeitos de POTS hiperadrenérgico.
Tratamento
O manejo da Síndrome da Taquicardia Ortostática Postural (POTS) é multimodal, com foco na melhora dos sintomas, recuperação funcional e qualidade de vida. A abordagem deve ser sempre individualizada e combinada entre estratégias não farmacológicas e farmacológicas, sendo que a primeira representa a base do tratamento para a maioria dos pacientes.
Abordagem não farmacológica
- Hidratação abundante: recomendam-se 2 a 3 litros de água por dia;
- Aumento da ingestão de sal: cerca de 10 a 12 g de NaCl/dia, se não houver contraindicação;
- Evitar gatilhos: como calor excessivo, álcool, mudança postural súbita e jejum prolongado;
- Uso de meias compressivas e cintas abdominais: para reduzir o acúmulo venoso periférico;
- Técnicas físicas compensatórias: como cruzar as pernas, agachar-se ou contrair músculos antes de levantar.
Programa de reabilitação com exercício físico
O exercício é considerado estratégia prioritária no tratamento, com evidência superior a muitas terapias medicamentosas. O plano deve incluir:
- Atividades aeróbicas de baixo impacto (ex: bicicleta reclinada, natação, remo) em posição inicialmente não ortostática;
- Treino de força para membros inferiores e core, com progressão gradual;
- Duração mínima de 3 meses, com monitoramento de sintomas e frequência cardíaca;
- Evolução para atividades em pé (caminhada, esteira) conforme a tolerância.
A continuidade da atividade física regular é importante para manter os ganhos obtidos e reduzir recidivas.
Terapia farmacológica
Indicada nos casos sintomáticos refratários às medidas comportamentais. As opções incluem:
- Betabloqueadores (ex: propranolol, metoprolol): reduzem a taquicardia;
- Ivabradina: diminui a frequência cardíaca sem efeito sobre a pressão arterial;
- Midodrina: vasoconstritor útil em pacientes com retorno venoso comprometido;
- Fludrocortisona: aumenta o volume plasmático;
- Clonidina e alfametildopa: reduzem o tônus simpático (mais usados no subtipo hiperadrenérgico).
É importante destacar que nenhuma medicação é aprovada especificamente para POTS, sendo todas de uso off-label e utilizadas com base no fenótipo clínico e tolerância individual.
Prognóstico
O prognóstico da POTS é geralmente positivo, especialmente em pacientes jovens com adesão ao tratamento. Muitos apresentam melhora significativa dos sintomas com o tempo, e mais da metade deixam de preencher os critérios diagnósticos dentro de cinco anos. No entanto, a recuperação completa é menos comum, exigindo acompanhamento contínuo e reabilitação prolongada.
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Referências Bibliográficas
- RAPOSO, Ana Rita et al. Síndrome da Taquicardia Ortostática Postural: Apresentação de um Caso Clínico e Revisão da Literatura. Revista da Sociedade Portuguesa de Medicina Física e de Reabilitação, v. 34, n. 1, p. 54-58, 2022.
- ZHAO, Sean; TRAN, Vu H. Postural Orthostatic Tachycardia Syndrome. In: STATPEARLS. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2025.