Olá, querido doutor e doutora! A síndrome do piriforme representa uma condição neuromuscular responsável por dor glútea profunda e irradiação no trajeto do nervo ciático, frequentemente confundida com causas lombares. O quadro clínico resulta da interação entre tensão muscular e sensibilização neural, exigindo avaliação direcionada do quadril e da região glútea profunda.
Em muitos pacientes, a palpação do piriforme e a manobra FAIR reproduzem de forma característica a dor glútea e a irradiação ciática.
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O que é Síndrome do Piriforme
A síndrome do piriforme é uma condição neuromuscular em que ocorre compressão ou irritação do nervo ciático devido ao espasmo, hipertrofia ou disfunção do músculo piriforme. Essa alteração gera dor localizada na região glútea com possível irradiação para o trajeto do ciático, simulando quadros de ciatalgia. A apresentação combina componentes miotensivos e neuropáticos, refletindo tanto o comprometimento muscular quanto a sensibilidade do nervo ao atravessar o espaço infrapiriforme.
Etiologia e mecanismos fisiopatológicos
Espasmo e sobrecarga do músculo piriforme
O mecanismo mais frequente envolve espasmo persistente do piriforme, resultado de microtraumas repetitivos, movimentos de rotação forçada do quadril ou sobrecarga funcional. Esse espasmo aumenta a pressão exercida sobre o nervo ciático ao atravessar o espaço infrapiriforme, produzindo dor glútea e sintomas irradiados.
Trauma glúteo e processos cicatriciais
Contusões diretas, quedas ou impactos na região sacroilíaca podem gerar hematomas e posteriormente fibrose aderente entre o piriforme e o nervo ciático. Essa cicatrização reduz a mobilidade neural e favorece a compressão durante movimentos do quadril, perpetuando o ciclo de dor e irritação.
Variações anatômicas
Alguns indivíduos apresentam trajetos diferentes do nervo ciático ou duplicação do piriforme, o que cria estreitamentos naturais do forame infrapiriforme. Essas variantes aumentam a sensibilidade ao espessamento muscular ou a qualquer processo inflamatório local.
Fatores musculoesqueléticos e miofasciais
Pontos gatilho em músculos glúteos profundos, principalmente obturador interno e rotadores externos, podem gerar dor referida e tensão secundária do piriforme, ativando mecanismos de sensibilização miofascial. Essas alterações contribuem tanto para sintomas somáticos quanto para manifestações neuropáticas.
Mecanismos compressivos adicionais
Infiltrações intraglúteas prévias, miopatias locais, gluteopatias inflamatórias e raramente condições como miosite ossificante ou malformações vasculares podem criar zonas de pressão sobre o nervo ciático. Em alguns casos, processos expansivos intrapélvicos ou glúteos estreitam o corredor neurovascular, acentuando a irritação nervosa.
Epidemiologia
Epidemiologia e fatores associados
A síndrome do piriforme é mais descrita em adultos de meia-idade, com maior frequência em mulheres, possivelmente relacionada a variações anatômicas pélvicas que modificam o ângulo de ação do músculo. Estima-se que uma parcela dos pacientes com dor lombar baixa ou ciatalgia apresente essa condição, embora a prevalência exata varie devido à ausência de critérios diagnósticos uniformes.
Avaliação clínica
Padrão de dor glútea e irradiação
A dor geralmente se localiza profundamente na região glútea, podendo irradiar-se para a face posterior da coxa, perna e, em alguns casos, até o pé. O padrão lembra ciatalgia, com desconforto mais evidente no trajeto neural do que na região lombar. A intensidade pode variar ao longo do dia, com períodos de exacerbação durante movimentos do quadril.
Sintomas neuropáticos associados
Formigamentos, sensação de queimação e parestesias são comuns quando há irritação direta do nervo ciático. Esses sintomas podem surgir após longos períodos sentado, em atividades que envolvem rotação interna do quadril ou durante esforços repetitivos. Em situações mais intensas, pode haver irradiação para áreas como sacro, períneo, quadril ou região inguinal.
Sensibilidade à palpação e limitação funcional
A palpação do trajeto do piriforme frequentemente revela ponto de sensibilidade aumentado, que pode reproduzir a dor típica. Alguns pacientes apresentam limitação dolorosa à rotação interna do quadril, dificuldade para permanecer sentados por tempo prolongado e desconforto ao levantar-se de superfícies baixas. Movimentos como correr, pedalar, agachar ou cruzar as pernas tendem a agravar os sintomas.
Exame físico e testes provocativos
Inspeção e avaliação geral
A observação inicial pode revelar rotação externa do membro afetado em posição supina, refletindo tensão do piriforme. A avaliação postural e da marcha auxilia a diferenciar causas lombares e identificar compensações musculares. Eventual assimetria, encurtamento funcional ou desconforto durante a mobilização do quadril podem sugerir comprometimento da musculatura glútea profunda.
Palpação do músculo piriforme
A palpação da região glútea profunda costuma evidenciar cordão indurado e ponto de máxima sensibilidade sobre o trajeto do piriforme. A pressão a 1 a 2 cm abaixo do terço médio da linha entre espinha ilíaca póstero superior e trocânter maior reproduz geralmente a dor característica. Em alguns casos, a palpação interna por via retal ou vaginal identifica massa fusiforme sensível correspondente ao ventre muscular.
Testes de estiramento do piriforme
Manobras que tensionam o músculo tendem a reproduzir dor glútea ou sintomas no trajeto do ciático. O FAIR (flexão, adução e rotação interna) desencadeia dor irradiada quando o piriforme comprime o ciático. O teste de Freiberg, com rotação interna forçada do quadril em extensão, também reproduz sintomas na maioria dos pacientes.
Testes de contração e resistência
Alguns testes utilizam a contração dos rotadores externos do quadril para provocar sintomas. O Pace, realizado com o paciente sentado e realizando abdução contra resistência, costuma gerar dor lateral profunda. O Beatty, com o paciente em decúbito lateral elevando o joelho em flexão, produz dor glútea quando há irritação do nervo ou espasmo importante.
Manobras complementares
Outros testes podem auxiliar, embora com menor especificidade. A manobra HCLK, estendendo o membro que repousa com o calcanhar sobre o joelho contralateral, intensifica o estiramento do piriforme. O PAMR, com rotação interna e adução em decúbito ventral, pode reproduzir desconforto glúteo. O teste de elevação da perna estendida geralmente permanece normal, exceto quando há sensibilização neural significativa.
Diagnóstico
Abordagem clínica inicial
Não há teste único ou critério universal para confirmar a síndrome do piriforme. O diagnóstico é predominantemente clínico, baseado em dor glútea com irradiação no trajeto do nervo ciático, associada a palpação dolorosa do piriforme e reprodução dos sintomas por manobras específicas. A presença de exames neurológicos periféricos preservados, sem déficit motor ou reflexo típico de radiculopatia lombar, reforça a hipótese.
Critérios clínicos e escores
A avaliação sistemática costuma incluir: dor glútea unilateral, ausência de dor lombar relevante, teste de elevação da perna estendida geralmente negativo e piora com permanência sentada. Combinações de achados como dor à palpação do piriforme, positividade das manobras FAIR, Freiberg e Beatty e irradiação ciática desencadeada por esses testes aumentam a probabilidade diagnóstica. Alguns serviços utilizam escalas clínicas de pontuação que integram esses itens para classificar o quadro como provável síndrome do piriforme.
Papel dos exames de imagem
Os exames de imagem são utilizados principalmente para excluir outras causas de dor glútea ou ciatalgia. Radiografias de quadril e pelve podem afastar artropatias e fraturas. A ressonância magnética de coluna lombar auxilia a avaliar hérnia discal ou estenose, enquanto a ressonância da pelve e da região glútea pode mostrar hipertrofia do piriforme, edema, hematomas ou lesões expansivas. Em casos selecionados, a neurografia por ressonância evidencia assimetria do músculo e sinais de irritação do nervo ciático no entalhe ciático, contribuindo para a confirmação em cenários complexos.
Estudos neurofisiológicos
A eletroneuromiografia costuma ser solicitada para diferenciar neuropatia ciática de radiculopatia lombossacra ou de outras neuropatias periféricas. Em muitos pacientes o exame é normal, mas técnicas específicas que avaliam o reflexo H em posição de flexão, adução e rotação interna do quadril podem demonstrar atraso de condução compatível com compressão na saída pélvica. Estudos com estimulação magnética podem mostrar redução da velocidade de condução do nervo ciático na região glútea em casos persistentes.
Bloqueios diagnósticos
Injeções guiadas no músculo piriforme com anestésico local, com ou sem corticosteroide, podem ter função diagnóstica e terapêutica. Alívio significativo e temporário da dor após bloqueio direcionado reforça a suspeita de que o piriforme seja a fonte principal da compressão neural, especialmente quando o quadro clínico e os exames complementares não são conclusivos.
Diagnóstico diferencial
É indispensável avaliar outras causas de dor glútea e ciatalgia, como hérnia discal lombar, estenose de canal, sacroileíte, tendinopatia dos isquiotibiais, bursite trocantérica, espondilolistese, além de processos expansivos pélvicos ou glúteos que possam comprimir o nervo ciático. A integração entre história, exame físico dirigido, testes provocativos, imagem e eventualmente estudos neurofisiológicos permite distinguir a síndrome do piriforme de outras afecções que cursam com dor irradiada para o membro inferior.
Tratamento
Medidas conservadoras e fisioterapia
A base do manejo é a fisioterapia orientada, com alongamentos específicos do piriforme e fortalecimento dos músculos glúteos, em especial o glúteo médio. Exercícios de mobilidade do quadril, correção postural e treino de estabilidade lombo-pélvica ajudam a reduzir a sobrecarga no piriforme. Recursos físicos como calor superficial, ultrassom terapêutico e técnicas manuais podem diminuir espasmo e dor. Recomenda-se orientar o paciente quanto à redução de atividades que mantêm o quadril em rotação prolongada ou exigem permanência sentado por longos períodos.
Medicamentos
Analgésicos simples, anti-inflamatórios não esteroides e relaxantes musculares são frequentemente utilizados nas fases mais sintomáticas. Em quadros com componente neuropático mais intenso, pode-se associar fármacos moduladores da dor, como gabapentinoides, sempre de forma individualizada. A meta é permitir maior conforto para adesão à fisioterapia e manutenção das atividades de vida diária.
Bloqueios e infiltrações guiadas
Quando não há resposta adequada após algumas semanas de tratamento conservador bem conduzido, pode-se indicar injeção guiada no músculo piriforme. A infiltração costuma ser realizada com anestésico local isolado ou associado a corticoide de longa duração, sob ultrassom ou fluoroscopia, para posicionamento preciso da agulha e redução do risco de lesão do nervo ciático. Esses bloqueios têm caráter diagnóstico e terapêutico, pois melhora significativa da dor após o procedimento reforça o papel do piriforme na compressão neural.
Uso de toxina botulínica
Em casos com espasmo persistente e refratário, a injeção de toxina botulínica tipo A no ventre do piriforme pode oferecer alívio prolongado, reduzindo o tônus muscular e a compressão sobre o nervo ciático. Geralmente é realizada com orientação por imagem, em doses ajustadas ao volume muscular. Muitos pacientes necessitam de reaplicações em intervalos variáveis, associadas à continuidade da fisioterapia para reeducação motora.
Indicações de cirurgia
A abordagem cirúrgica é reservada para pacientes com dor incapacitante, sem resposta a tratamento conservador, bloqueios e toxina botulínica. Os procedimentos incluem descompressão do nervo ciático na região glútea, liberação de bandas fibrosas ou secção parcial do músculo piriforme, com ou sem neuroólise. A decisão deve ser multidisciplinar, considerando risco cirúrgico, impacto funcional e exclusão rigorosa de outras causas de ciatalgia.
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Referências Bibliográficas
- PIRIFORMIS SYNDROME. DynaMed. EBSCO Information Services, 2023.



