Olá, querido doutor e doutora! O acidente por Lonomia, conhecido também como erucismo, representa um desafio para a saúde pública no Brasil devido ao potencial de causar desde reações locais dolorosas até quadros graves de síndrome hemorrágica. Esse tipo de envenenamento é desencadeado pelo contato com as cerdas urticantes da lagarta, que liberam toxinas capazes de desencadear uma série de complicações sistêmicas. Com maior prevalência nas regiões Sul e Sudeste, esses acidentes demandam atenção dos profissionais de saúde para o diagnóstico rápido, tratamento adequado e orientação sobre prevenção, principalmente em áreas endêmicas.
Os acidentes por Lonomia são preveníveis com medidas simples de proteção e conscientização, essenciais para reduzir o risco de envenenamento e suas graves complicações.
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Conceito de Acidente por Lonomia
O acidente causado pela lagarta Lonomia, também conhecido como erucismo, ocorre quando as cerdas urticantes desse gênero entram em contato com a pele. Essas cerdas contêm toxinas que, ao serem introduzidas no organismo, podem provocar reações que variam desde sintomas locais, como dor intensa e inchaço, até complicações mais sérias, como alterações na coagulação sanguínea que podem evoluir para uma síndrome hemorrágica.
Especies de Lonomia
As espécies de Lonomia mais associadas a acidentes no Brasil são Lonomia obliqua e, em menor frequência, Lonomia achelous. Lonomia obliqua é particularmente relevante pela toxicidade e ampla distribuição, sendo encontrada nas regiões Sul e Sudeste do país, principalmente em áreas de mata e pomares, onde seu mimetismo com o tronco das árvores aumenta o risco de contato acidental. Essas lagartas vivem em grupos e apresentam coloração que permite que se confundam com a vegetação, uma estratégia que as ajuda a evitar predadores, mas também dificulta sua identificação por humanos.
Epidemiologia de Acidente por Lonomia
No Brasil, os acidentes com Lonomia são registrados com maior frequência nas regiões Sul e Sudeste, onde se concentram em estados como Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Esses estados possuem extensas áreas de mata e pomares que servem de habitat para essas lagartas, especialmente a Lonomia obliqua, responsável pela maioria dos acidentes graves. A ocorrência de acidentes tem aumentado nas últimas décadas, em parte devido ao desmatamento, que força as lagartas a migrarem para áreas urbanas e periurbanas, aumentando o contato com a população.
A maioria dos acidentes ocorre durante os meses de verão, período de maior atividade das lagartas e também de maior interação humana com o ambiente natural. Além disso, o verão coincide com as férias escolares, aumentando a exposição de crianças, um grupo particularmente vulnerável. No Brasil, entre 2019 e 2023, o gênero Lonomia foi responsável por milhares de casos de envenenamento registrados nos sistemas de vigilância, com uma proporção significativa de acidentes resultando em complicações graves. Os estados do Sul apresentam o maior coeficiente de incidência devido às condições climáticas e à vegetação nativa, que oferecem um ambiente favorável para a reprodução e desenvolvimento dessas lagartas.
Fisiopatologia de Acidente por Lonomia
A fisiopatologia do envenenamento por Lonomia envolve a liberação de toxinas presentes nas cerdas urticantes da lagarta, que entram em contato com a pele e atingem a corrente sanguínea. Essas toxinas apresentam uma ação complexa sobre o sistema de coagulação, podendo ativar o plasminogênio e o fator X, além de promover efeitos fibrinolíticos. Como resultado, o paciente pode desenvolver desde uma fibrinólise primária até uma coagulação intravascular disseminada (CIVD), com consequente síndrome hemorrágica. Essa condição leva a manifestações como hematomas, hemorragias em mucosas e, em casos graves, lesões renais e risco de sangramentos fatais
Quadro Clínico de Acidente por Lonomia
Em casos de envenenamento por Lonomia, o quadro clínico se inicia rapidamente após o contato:
- Sensação imediata de ardência intensa e dor local que pode irradiar para o membro afetado;
- A área costuma apresentar vermelhidão e edema, e pequenas lesões vermelhas podem aparecer onde as cerdas urticantes penetraram a pele; e
- Os sintomas sistêmicos tendem a se instalar após algumas horas, podendo incluir cefaleia, náuseas, vômitos e dor abdominal. Em algumas pessoas, o contato com a lagarta provoca febre e sensação de ansiedade.
Nos casos mais graves, os sintomas evoluem para um quadro hemorrágico, no qual o paciente apresenta sinais de sangramento em diferentes regiões do corpo, como gengivas, pele e leito ungueal. As hemorragias podem ser espontâneas ou desencadeadas por traumas mínimos, resultando em hematomas, equimoses, epistaxe (sangramento nasal) e hematúria (presença de sangue na urina). Em situações mais severas, o quadro hemorrágico pode progredir para sangramentos internos graves, como hemorragias gastrointestinais e intracranianas, sendo potencialmente fatais.
A síndrome hemorrágica causada pelo veneno de Lonomia está associada ao desenvolvimento de coagulação intravascular disseminada (CIVD), onde a ativação descontrolada da coagulação leva ao consumo dos fatores de coagulação, aumentando o risco de hemorragias. Outra complicação crítica é a insuficiência renal aguda, que ocorre em uma parcela dos casos graves e é um dos principais fatores de risco para o óbito.
Diagnóstico de Acidente por Lonomia
O diagnóstico do acidente por Lonomia é essencialmente clínico-epidemiológico e se baseia no relato de contato com a lagarta e nas características do quadro clínico apresentado, como dor intensa, edema, manifestações hemorrágicas e sintomas sistêmicos progressivos. Identificar o histórico de exposição a áreas de risco, como locais arborizados, é importante para suspeitar de envenenamento por Lonomia, especialmente em regiões onde essa espécie é comum.
Exames laboratoriais complementam o diagnóstico e ajudam a avaliar a gravidade do distúrbio de coagulação. Testes como tempo de coagulação, tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPa), tempo de protrombina (TP), dosagem de fibrinogênio e contagem de plaquetas são indicados para identificar possíveis alterações hemorrágicas e monitorar a evolução do quadro. Em casos mais graves, a presença de sinais de coagulação intravascular disseminada (CIVD), como níveis reduzidos de fibrinogênio e aumento dos produtos de degradação da fibrina, reforçam o diagnóstico e indicam a necessidade de intervenção imediata.
Tratamento de Acidente por Lonomia
O tratamento do envenenamento por Lonomia depende da gravidade dos sintomas e inclui medidas específicas para aliviar os sintomas locais e controlar as complicações hemorrágicas. Em casos leves, a limpeza da área afetada e o uso de analgésicos para dor e anti-histamínicos para o prurido podem ser suficientes para aliviar o desconforto. Contudo, em acidentes moderados a graves, onde há alterações na coagulação ou sangramentos, é essencial buscar atendimento especializado.
O Soro Antilonômico (SALon), produzido exclusivamente pelo Instituto Butantan, é o tratamento específico indicado para casos em que há evidências de distúrbios hemorrágicos. A administração do soro é recomendada o mais rápido possível para evitar a progressão da síndrome hemorrágica e reduzir o risco de complicações graves, como hemorragias internas e lesão renal aguda. A dosagem do soro varia conforme a classificação do envenenamento: casos moderados podem exigir cerca de cinco ampolas, enquanto casos graves podem necessitar de até dez ampolas.
Além da soroterapia, o manejo do paciente inclui monitoramento laboratorial com exames como contagem de plaquetas, tempo de coagulação, fibrinogênio e tempo de protrombina, para avaliar a extensão dos distúrbios de coagulação. Em casos de anemia significativa, pode ser indicada a transfusão de concentrado de hemácias. Já para sangramentos, podem ser utilizados crioprecipitados ou fibrinogênio. O acompanhamento médico contínuo é necessário para avaliar possíveis complicações, como insuficiência renal aguda, que pode exigir suporte dialítico nos casos mais graves.
Prevenção
A prevenção de acidentes por Lonomia envolve estratégias para evitar o contato com essas lagartas em áreas de risco, especialmente em regiões com alta incidência, como os estados do Sul e Sudeste do Brasil. Medidas preventivas incluem:
- Uso de equipamentos de proteção: para trabalhadores rurais e pessoas que atuam em áreas florestais ou pomares, o uso de luvas, roupas de mangas compridas e calçados fechados reduz o risco de contato acidental com as lagartas.
- Vigilância visual: antes de coletar frutas ou manipular vegetação, é importante inspecionar visualmente troncos, galhos e folhas, especialmente em áreas onde a presença de Lonomia é conhecida. A camuflagem das lagartas as torna difíceis de detectar, por isso a inspeção visual é essencial.
- Educação e conscientização: campanhas de conscientização em áreas endêmicas e em comunidades rurais podem alertar a população sobre os riscos de acidentes com Lonomia, orientando sobre a identificação e os cuidados necessários. Informações sobre o período de maior incidência, geralmente no verão, também são importantes para o planejamento das atividades ao ar livre.
- Controle ambiental: a preservação dos predadores naturais das lagartas, bem como o manejo adequado de áreas urbanas e periurbanas para reduzir a proximidade das lagartas, ajudam a minimizar o contato. A iluminação noturna nas áreas de mata também pode atrair mariposas adultas, aumentando a concentração de lagartas próximo de habitações.
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Referências Bibliográficas
- MINISTÉRIO DA SAÚDE (BR). Manual de diagnóstico e tratamento de acidentes por animais peçonhentos. Brasília: Fundação Nacional de Saúde, 2001.
- MINISTÉRIO DA SAÚDE (BR). Boletim Epidemiológico – Volume 55 – Nº 10: Acidentes causados por lagartas peçonhentas no Brasil no período de 2019 a 2023. Brasília: Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, 2024.
- BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente. Departamento de Doenças Transmissíveis. Guia de Animais Peçonhentos do Brasil. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, Departamento de Doenças Transmissíveis.