Olá, querido doutor e doutora! Bezoares são formações compactas de material não digerido que podem se acumular no trato gastrointestinal, principalmente no estômago. Embora muitos casos sejam assintomáticos, podem causar sintomas digestivos variados e, em situações graves, levar à obstrução intestinal, exigindo abordagem clínica, endoscópica ou cirúrgica.
A presença de bezoares deve ser considerada em pacientes com sintomas gastrointestinais inespecíficos e fatores de risco, como cirurgias gástricas prévias ou distúrbios de motilidade.
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Conceito de Bezoares
Bezoares são massas compactas compostas por material parcialmente ou completamente não digerido, localizadas principalmente no estômago, mas que podem afetar outras partes do trato gastrointestinal. Essas formações resultam da acumulação de substâncias ingeridas que não são decompostas adequadamente pelo sistema digestivo. Embora possam surgir em qualquer faixa etária, são mais frequentes em pacientes com distúrbios comportamentais, alterações na motilidade gástrica ou após cirurgias gastrointestinais.
Classificação dos Bezoares
Os bezoares são categorizados de acordo com sua composição, sendo os principais tipos:
- Fitobezoares: são os mais frequentes e resultam da acumulação de fibras vegetais, cascas, sementes e outros componentes de origem vegetal não digeríveis. O consumo excessivo de frutas ricas em taninos, como o caqui, pode favorecer sua formação.
- Tricobezoares: formados por cabelos ingeridos, ocorrem principalmente em indivíduos com tricotilomania e tricofagia, sendo mais comuns em mulheres jovens com distúrbios psiquiátricos. Em alguns casos, o cabelo pode se estender até o intestino delgado, configurando a Síndrome de Rapunzel.
- Farmacobezoares: são aglomerados de medicamentos que não foram dissolvidos corretamente no trato gastrointestinal. Estão frequentemente associados a fármacos contendo sucralfato e hidróxido de alumínio, que podem formar concreções sólidas no estômago.
- Diospirobezoares: subtipo dos fitobezoares, esses bezoares resultam do consumo excessivo de caqui. O alto teor de taninos no fruto leva à formação de uma massa compacta no estômago, frequentemente resistente a tratamentos convencionais.
- Lactobezoares: são compostos por proteínas e gorduras do leite que se solidificam no trato digestivo, sendo mais comuns em recém-nascidos e lactentes que recebem fórmulas de alta densidade calórica.
Além desses, bezoares menos comuns podem ser formados por outros materiais, como papel, espuma de poliestireno e alimentos parcialmente digeridos. O tipo específico influencia diretamente os sintomas e o tratamento indicado para cada caso.
Como Ocorre os Bezoares
A formação dos bezoares ocorre devido a um desequilíbrio entre a ingestão de substâncias não digeríveis e a capacidade do trato gastrointestinal de processá-las e eliminá-las. Fatores mecânicos e químicos contribuem para a agregação desses materiais, resultando na formação de uma massa densa e de difícil eliminação.
Mecanismos Envolvidos na Formação dos Bezoares
- Alterações na motilidade gástrica: condições que retardam o esvaziamento gástrico, como gastroparesia diabética, pós-cirurgias gástricas (gastrectomia parcial, vagotomia) e doenças do colágeno, favorecem a estase do conteúdo alimentar e aumentam o risco de formação de bezoares.
- Ingestão de substâncias indigeríveis: alimentos ricos em fibras insolúveis, cabelos, medicamentos insolúveis ou grandes quantidades de leite podem resistir à digestão, facilitando a agregação dessas substâncias no estômago ou no intestino.
- Fatores químicos: a interação de certas substâncias com o meio gástrico pode contribuir para a formação de bezoares. Os taninos do caqui, por exemplo, polimerizam em contato com o ácido gástrico, formando massas endurecidas conhecidas como diospirobezoares.
- Diminuição da atividade enzimática e ácida: pacientes com hipocloridria, seja por uso crônico de inibidores de bomba de prótons ou devido a cirurgias gástricas, têm menor capacidade de digestão de fibras vegetais e proteínas, facilitando a agregação de materiais e a formação de bezoares.
Fatores de Risco para a Formação de Bezoares
Os bezoares são considerados uma causa rara de sintomas gastrointestinais, mas sua incidência pode estar subestimada devido à presença frequente de casos assintomáticos ou diagnosticados apenas em exames de imagem realizados por outros motivos. A prevalência varia conforme o tipo de bezoar e a população estudada.
- Fitobezoares são os mais comuns, especialmente em idosos e pacientes pós-cirurgia gástrica.
- Tricobezoares ocorrem principalmente em mulheres jovens com distúrbios psiquiátricos, sendo a Síndrome de Rapunzel uma manifestação mais rara.
- Farmacobezoares são mais prevalentes em pacientes em uso crônico de medicamentos insolúveis, como sucralfato e antiácidos à base de alumínio.
- Diospirobezoares são mais frequentes em regiões onde o consumo de caqui é alto, como partes da Ásia e do Mediterrâneo.
- Lactobezoares afetam principalmente recém-nascidos e lactentes, especialmente aqueles em nutrição enteral ou com fórmulas hipercalóricas.
Os fatores de risco para a formação de bezoares incluem:
- Cirurgias gástricas prévias, como gastrectomia parcial e vagotomia, que alteram a motilidade e o ambiente gástrico.
- Distúrbios da motilidade, como gastroparesia diabética, esclerodermia e doença de Parkinson, também favorecem a retenção de conteúdo no estômago.
- A hipocloridria, causada pelo uso prolongado de inibidores de bomba de prótons ou gastrite atrófica, dificulta a digestão de fibras e proteínas, aumentando o risco de bezoares.
- A dieta rica em fibras insolúveis, como frutas com alto teor de taninos, cascas e sementes, está associada aos fitobezoares, enquanto o consumo excessivo de caqui não maduro pode levar à formação de diospirobezoares.
- Distúrbios psiquiátricos, como tricotilomania com tricofagia, são fatores importantes para o desenvolvimento de tricobezoares.
- Crianças e indivíduos com transtornos do espectro autista podem ingerir materiais não alimentares, predispondo à formação de bezoares atípicos.
- O uso de medicamentos como sucralfato, hidróxido de alumínio e laxantes pode resultar em farmacobezoares.
- Idosos e pacientes com mastigação inadequada apresentam maior risco de desenvolver bezoares devido à dificuldade em processar e deglutir os alimentos corretamente.
Sintomas de Bezoares
Os sintomas dos bezoares variam conforme o tipo, tamanho e localização da massa no trato gastrointestinal. Muitos casos são assintomáticos e acabam sendo diagnosticados incidentalmente em exames de imagem ou endoscopia. Quando presentes, os sintomas mais comuns incluem sensação de plenitude pós-prandial, dor abdominal difusa ou localizada, náuseas, vômitos, anorexia e perda de peso.
Nos casos em que os bezoares causam obstrução parcial ou total, os pacientes podem apresentar distensão abdominal, episódios de vômitos persistentes e sinais de desidratação. Bezoares volumosos podem levar à úlcera de pressão na mucosa gástrica, resultando em sangramento digestivo, manifestado por melena ou hematêmese. Em situações mais graves, podem ocorrer complicações como perfuração intestinal, peritonite, íleo paralítico e intussuscepção.
Nos tricobezoares, o paciente pode apresentar queda de cabelo associada a sinais de tricofagia. Em casos extremos, quando a massa de cabelo se estende pelo intestino delgado, formando a Síndrome de Rapunzel, surgem sintomas mais intensos de obstrução intestinal. Já os lactobezoares em neonatos e lactentes podem se manifestar por dificuldade alimentar, regurgitação frequente e sinais de desconforto abdominal.
Diagnóstico de Bezoares
Exames de Imagem
A radiografia simples de abdome pode mostrar uma massa opaca com padrões de gás em seu interior, sugerindo bezoar. A ultrassonografia pode identificar uma formação hiperecogênica com sombra acústica posterior, porém não é específica para o diagnóstico. A tomografia computadorizada é o exame de escolha, pois fornece uma visualização detalhada da extensão e composição do bezoar, diferenciando-o de tumores ou outras lesões gastrointestinais.
Endoscopia Digestiva Alta
A endoscopia digestiva alta é o método diagnóstico mais sensível e específico para bezoares gástricos. Permite a visualização direta da massa, sua coloração e textura, além de possibilitar biópsias para excluir malignidade ou processos inflamatórios associados. Em alguns casos, a endoscopia também pode ser utilizada para fragmentação e remoção do bezoar.
Exames Laboratoriais
Embora não sejam específicos, exames laboratoriais podem ser úteis na avaliação de complicações. A anemia ferropriva pode estar presente em pacientes com sangramento digestivo secundário a úlceras induzidas pelo bezoar. Alterações hidroeletrolíticas podem ser observadas em casos de vômitos persistentes ou obstrução intestinal, exigindo reposição adequada conforme a necessidade clínica.
Diagnóstico Diferencial
O diagnóstico diferencial dos bezoares inclui tumores gástricos, gastroparesia, corpo estranho ingerido, pancreatite, úlceras pépticas complicadas e outras causas de obstrução intestinal, como aderências ou hérnias internas.
Tratamento de Bezoares
A abordagem terapêutica dos bezoares depende do tipo, tamanho e presença de sintomas ou complicações. Nos casos assintomáticos ou com sintomas leves, pode-se tentar a dissolução química com substâncias como soluções de celulase ou a ingestão de bebidas carbonatadas, como cola, para fragmentação do bezoar. Quando a dissolução não é eficaz ou os sintomas são mais intensos, a remoção endoscópica é a principal alternativa, podendo envolver fragmentação mecânica com pinças, laços de polipectomia ou uso de jatos d’água. Em bezoares grandes ou impactados, a cirurgia pode ser necessária, especialmente quando há obstrução intestinal ou falha nos métodos menos invasivos.
Evolução
A resposta ao tratamento varia conforme a composição do bezoar e o tempo de evolução da condição. Pequenos bezoares podem ser resolvidos com tratamento clínico, enquanto massas volumosas frequentemente requerem abordagem endoscópica ou cirúrgica. Pacientes tratados de forma eficaz apresentam melhora dos sintomas e recuperação progressiva da função digestiva. No entanto, a recorrência pode ocorrer, principalmente em indivíduos que mantêm os fatores predisponentes, como dietas inadequadas, distúrbios psiquiátricos não tratados ou motilidade gastrointestinal comprometida.
Complicações
As principais complicações dos bezoares incluem obstrução gástrica ou intestinal, úlceras por pressão na mucosa gástrica com risco de sangramento digestivo e perfuração intestinal, levando a peritonite. Em casos raros, fragmentos do bezoar podem causar intussuscepção, impactação no intestino delgado ou síndrome de má absorção.
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Referências Bibliográficas
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- CHISHOLM, E. M. et al. Phytobezoar: an uncommon cause of small bowel obstruction. Annals of the Royal College of Surgeons of England, v. 74, p. 342-344, 1992.
- BARZILAI, M. et al. Trichobezoars. Harefuah, v. 135, n. 3-4, p. 97-101, 1998.
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