Resumo de bloqueios atrioventriculares: diagnóstico, tratamento e mais!

Resumo de bloqueios atrioventriculares: diagnóstico, tratamento e mais!

Fala, estrategistas! Os bloqueios atrioventriculares são causas frequentes de bradicardia no contexto de urgência e a nível ambulatorial. Além de ser questões frequentes nas provas de residência, visto que apresentam peculiaridades eletrocardiográficas e as bancas adoram cobrar imagens de ECG. 

Por este motivos, confira os principais aspectos referentes a este tema da cardiologia, principalmente voltado para o primeiro manejo como generalista, que é o mais cobrado nas provas de residência médica!

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Definição da doença

O bloqueio atrioventricular (BAV) é caracterizado por atraso ou a falha na condução do estímulo entre os átrios e os ventrículos devido a um comprometimento anatômico ou funcional do sistema de condução. Os bloqueios atrioventriculares são divididos em primeiro grau, segundo grau (Mobitz tipo I, Mobitz tipo II, fixo 2:1 e avançado) e de terceiro grau ( também chamado de bloqueio atrioventricular total (BAVT).

Em relação a epidemiologia, não há um grande estudo bem caracterizado sobre a correlação entre diferentes tipos de bloqueio AV com idade, raça ou sexo. Às vezes, o bloqueio AV é observado em atletas e em pacientes com cardiopatias congênitas. 

Etiologia e fisiopatologia dos bloqueios atrioventriculares

O bloqueio AV, principalmente os de primeiro grau, pode resultar da lentificação fisiológica da condução cardíaca em resposta ao aumento do débito do sistema nervoso parassimpático. Por outro lado, a fibrose e esclerose do sistema de condução, que parecem idiopáticas, respondem por cerca de metade dos casos de bloqueio AV. 

#Ponto importante: algum grau de fibrose e esclerose faz parte do processo normal de envelhecimento. 

Das causas secundárias,a cardiopatia isquêmica crônica ou aguda é responsável por cerca de 40% dos casos de bloqueio AV. Até 20% dos pacientes com infarto agudo do miocárdio desenvolvem algum grau de bloqueio AV, com probabilidade e gravidade relacionadas à área e extensão da isquemia/infarto. 

A depender do local acometido, podem também ser classificados quanto a sua localização eletrofisiológica em:

  • Supra-hissianos: o BAV ocorre acima do feixe de His, como é o exameplo do BAV de 1° grau e BAV 2° grau mobitz 1.
  • Intra ou infra-hessianas: o BAV ocorre acima no feixe de His ou fibras de purkinje, possuindo maior gravidade, como ocorre no BAV 2° grau mobitz 2, BAVT e bloqueios avançados. 

Tipos de bloqueios atrioventriculares 

Bloqueio de primeiro grau: ocorre condução retardada do átrio para o ventrículo, definida como um intervalo PR prolongado de >200 milissegundos, sem interrupção na condução atrial para ventricular, ou seja, toda onda P conduz um complexo QRS. 

Crédito: Wikipedia 

Bloqueio AV de segundo grau: ocorre condução atrial intermitente para o ventrículo, geralmente em um padrão regular (por exemplo, 2:1, 3:2 ou outro padrão), que é ainda classificado em Mobitz tipo I (Wenckebach) e Mobitz tipo II bloqueio AV de segundo grau.

No tipo I, ocorrem aumentos progressivos do intervalo PR, até que ocorra uma falha na condução do QRS. Já no Mobitz II, a falha não é precedida de aumentos progressivos do intervalo PR e é considerada uma forma maligna de bradicardia. 

Bloqueio AV de segundo grau. Crédito: VELASCO, Irineu Tadeu Velasco … [et al.]. Medicina de emergência : abordagem prática. 14. ed. 

Bloqueio AV de alto grau: ocorre condução atrial intermitente para o ventrículo com duas ou mais ondas P bloqueadas consecutivas, mas sem bloqueio AV completo.  

Não há relação entre a onda P e os complexos QRS, o que define o bloqueio atrioventricular total. Crédito: VELASCO, Irineu Tadeu Velasco … [et al.]. Medicina de emergência : abordagem prática. 14. ed.

Bloqueio de terceiro grau ou AV completo (BAVT): Nenhum impulso atrial é conduzido ao ventrículo, caracterizado por completa dissociação entre onda P e complexo QRS. É uma das principais causas de bradicardias instáveis nas emergências e indicações de marcapasso definitivo.

Manifestações clínicas dos bloqueios atrioventriculares

Os pacientes com BAV podem ser assintomáticos, principalmente se supra-hissianas, ou causar sintomas de baixo débito cardíaco, como tonturas, pré-síncope, síncope, fadiga, dispneia, edema e palpitações, devido à bradicardia. 

#Ponto importante: Os estrategistas devem ter claro os sinais de instabilidade, pois definem conduta e caem nas provas. O ACLS cita os sinais de instabilidade cardiopulmonar como:

  • Hipotensão
  • Estado mental agudamente alterado
  • Sinais de choque 
  • Dor torácica do tipo isquêmico
  • Insuficiência cardíaca aguda, evidenciada como edema agudo de pulmão muitas vezes. 

Manejo dos bloqueios atrioventriculares

Enquanto os pacientes que apresentam bloqueio AV Mobitz tipo 1 de primeiro ou segundo grau não requerem tratamento, devendo-se retirar qualquer medicamento provocador. No entanto, pacientes com graus mais elevados de bloqueio AV (bloqueio AV Mobitz tipo 2, 3º grau) tendem a ter danos graves no sistema de condução.

No contexto de urgência e emergência, as Diretrizes do ACLS recomendam que os médicos não intervenham, a menos que o paciente apresente evidências de perfusão tissular inadequada, que se acredita ser resultado da frequência cardíaca lenta. 

No paciente instável, a abordagem inicial deve ser a voltada para estabilização do paciente, sendo que o tratamento adequado de pacientes instáveis não deve ser atrasado para realização do ECG, sendo possível o manejo apenas com uma derivação em monitor cardíaco. 

Para pacientes sintomáticos a atropina é a primeira droga a ser administrada nos quadros instáveis e deve ser feita na dose de 0,5 mg IV, repetida a cada 3 a 5 minutos até que se atinja a dose total de 3 mg. A atropina bloqueia a ação da acetilcolina nos locais parassimpáticos do músculo liso cardíaco, particularmente nos nós sinoatrial e AV aumentando a frequência cardíaca. 

#Ponto importante: Se a bradicardia for considerada devido a um distúrbio de condução no feixe de His ou abaixo dele a, como ocorre no complexo QRS largo em bloqueio cardíaco completo ou bloqueio AV de segundo grau Mobitz tipo II, a ação da atropina é limitada e passamos diretamente para estimulação cardíaca com marcapasso ou administração de um agente cronotrópico. 

Outras drogas disponíveis que aumentam a frequência cardíaca são a dopamina e adrenalina. A adrenalina tem potência superior à dopamina para elevar a FC e deve ser usada na dose de 2 a 10 μg/min. Já a dopamina aumenta a frequência cardíaca graças à sua ação agonista em receptores β1-adrenérgico e deve ser usada na dose de 2 a 20 μg/kg/min. 

Nos casos de pacientes com sinais de instabilidade,  deve-se providenciar a passagem do marca-passo transvenoso (MCP TV). Se a estimulação transvenosa não puder ser iniciada prontamente, inicie a estimulação transcutânea e prepare-se para a infusão cronotrópica. 

Algoritmo bradicardia ACLS. Crédito: ACLS.net 

Se não houver causas reversíveis, o tratamento definitivo dos bloqueio AV de segundo grau Mobitz tipo II e BAVT envolve a colocação de marca-passo permanente na maioria dos pacientes. 

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Veja também:

Referências bibliográficas:

  • Kashou AH, Goyal A, Nguyen T, et al. Bloqueio Atrioventricular. [Atualizado em 24 de fevereiro de 2023]. In: StatPearls [Internet]. Ilha do Tesouro (FL): StatPearls Publishing; 2023 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK459147/
  • VELASCO, Irineu Tadeu Velasco … [et al.]. Medicina de emergência : abordagem prática. 14. ed., rev., atual. e ampl. – Barueri [SP] : Manole, 2020. 
  • Advanced cardiac life support (ACLS) in adults. Uptodate. 
  • WALLS, R., HOCKBERGER, R., GAUSCHE-HILL, M. Rosen Medicina de Emergência: Conceitos e Prática Médica. GEN Guanabara Koogan. 
  • Crédito da imagem em destaque: Pexels
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