Olá, querido doutor e doutora! A brucelose é uma infecção zoonótica causada por bactérias do gênero Brucella, que pode ser transmitida aos seres humanos principalmente através do consumo de produtos animais não pasteurizados ou pelo contato direto com animais infectados. Esta doença, também conhecida como “febre ondulante”, é endêmica em diversas regiões do mundo e afeta múltiplos sistemas orgânicos, causando uma ampla gama de sintomas inespecíficos que podem dificultar o diagnóstico.
Vem com o Estratégia MED conhecer como ocorre a transmissão, os grupos de risco e o tratamento dessa condição. Ao final, separei uma questão de prova sobre o tema para respondermos juntos!
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Conceito de Brucelose
A brucelose, também chamada de “febre ondulante”, “febre do Mediterrâneo” ou “febre de Malta”, é uma doença infecciosa transmitida de animais para humanos. A infecção pode ocorrer através do consumo de produtos alimentícios não pasteurizados, como laticínios, ou pelo contato com tecidos e fluidos de animais infectados, como bovinos, ovinos, caprinos, camelos e suínos. Esta zoonose é uma das mais comuns no mundo e representa um problema significativo de saúde pública, especialmente em áreas com poucos recursos, como a América do Sul. Humanos são os hospedeiros finais desta doença.
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Etiologia da Brucelose
O gênero Brucella compreende várias espécies, sendo quatro delas responsáveis por causar doenças em humanos:
- B. melitensis: isolada de pequenos ruminantes como ovinos e caprinos, além de camelos. É a espécie mais comum em casos humanos no mundo.
- B. abortus: isolada de bovinos.
- B. suis: isolada de suínos.
- B. canis: isolada de cães.
Dentre essas, as infecções causadas por B. melitensis e B. suis são geralmente mais virulentas do que aquelas causadas por B. abortus ou B. canis.
Epidemiologia da Brucelose
A brucelose é endêmica em diversas regiões do mundo, incluindo a América do Sul. Anualmente, são relatados cerca de 500.000 casos globalmente, com uma população estimada de 2,4 bilhões de pessoas em risco de contrair a doença. Todas as idades são suscetíveis, e a prevalência da brucelose tem aumentado devido ao turismo, comércio e migração internacionais.
A brucelose humana tem alta prevalência em ambientes ocupacionais sendo listada como uma doença relacionada ao trabalho pelo Ministério da Saúde brasileiro. A doença afeta principalmente trabalhadores que manejam animais e estão envolvidos na produção de laticínios e carnes. Profissionais rurais, veterinários, trabalhadores de frigoríficos e laboratórios estão entre os mais afetados devido às múltiplas rotas de infecção da bactéria, tornando a brucelose uma ameaça significativa à saúde pública e à qualidade de vida.
Transmissão da Brucelose
A brucelose é transmitida aos humanos principalmente de três maneiras:
- Através do consumo de produtos animais infectados e não pasteurizados;
- Pelo contato direto da pele ou mucosas com tecidos, ou fluidos de animais infectados; e
- Pela inalação de partículas infectadas em ambientes contaminados.
Os produtos alimentares não pasteurizados, especialmente laticínios como leite cru, queijo mole, manteiga e sorvete, são os meios de transmissão mais comuns. A ingestão de carne crua ou mal cozida é uma forma menos comum de transmissão.
A doença também é uma preocupação ocupacional para pastores, trabalhadores de matadouros, veterinários, profissionais da indústria de laticínios e pessoal de laboratório que manipulam culturas de Brucella ou vacinas contra brucelose.
Embora raras, outras formas de transmissão incluem transfusão de sangue, transplante de tecidos, aleitamento materno, contato sexual, transmissão congênita e infecção hospitalar.
A transmissão congênita pode ocorrer transplacentariamente durante a bacteremia materna, e a brucelose neonatal pode ser adquirida durante o parto ou pela amamentação.
Manifestações Clínicas da Brucelose
A brucelose é uma doença com um período de incubação que varia de duas a quatro semanas, podendo, em alguns casos, estender-se por vários meses. As bactérias Brucella se espalham pelo corpo através dos linfócitos teciduais e gânglios linfáticos, afetando o sistema reticuloendotelial.
A doença geralmente tem um início insidioso, manifestando-se com febre, mal-estar, sudorese noturna de odor peculiar e artralgias. O padrão febril pode ser variável, incluindo febre com calafrios ou febre prolongada. Além desses, sintomas como perda de peso, dor nas articulações, lombalgia, cefaleia, tontura, anorexia, dispepsia, dor abdominal, tosse e depressão também são comuns. Achados físicos podem incluir hepatomegalia, esplenomegalia e linfadenopatia, mas são inespecíficos.
Diagnóstico da Brucelose
A suspeita de brucelose deve surgir em pacientes que apresentam sintomas como febre, mal-estar, sudorese noturna e artralgia, especialmente se houver exposição a produtos lácteos não pasteurizados, contato com animais em áreas endêmicas ou exposição ocupacional. O diagnóstico definitivo pode ser confirmado por cultura de sangue, fluidos corporais ou tecidos, embora esse método seja demorado e perigoso.
Alternativamente, um aumento significativo nos títulos de anticorpos contra Brucella pode confirmar a doença. Testes sorológicos e moleculares, como PCR, também são utilizados para detectar a presença de DNA da bactéria e anticorpos específicos, auxiliando no diagnóstico e na distinção entre infecção ativa e prévia. Hemoculturas, testes de função hepática e biópsias de medula óssea ou fígado são métodos adicionais importantes para confirmar o diagnóstico em casos suspeitos.
Tratamento da Brucelose
A terapia envolve geralmente o uso de antibióticos eficazes em ambientes intracelulares ácidos, como doxiciclina e rifampicina, e combinações de medicamentos para reduzir as altas taxas de recidiva associadas à monoterapia. Para adultos, os esquemas preferidos incluem doxiciclina combinada com um aminoglicosídeo, como estreptomicina ou gentamicina, ou doxiciclina com rifampicina, ambos por seis semanas. A doxiciclina-rifampicina é frequentemente preferida por sua conveniência e melhor tolerância.
Em crianças, a abordagem varia com a idade, utilizando combinações de TMP-SMX e rifampicina para os mais jovens, e doxiciclina com rifampicina ou um aminoglicosídeo para os mais velhos.
Em gestantes, o tratamento é adaptado com rifampicina e TMP-SMX, ajustado conforme a fase da gestação, evitando tetraciclinas.
O tratamento da brucelose geralmente dura seis semanas. A duração prolongada do tratamento é necessária para garantir a erradicação da infecção e reduzir o risco de recidiva. Regimes específicos, como doxiciclina combinada com rifampicina, estreptomicina ou gentamicina, são comumente administrados durante este período. Em gestantes e crianças, os esquemas podem variar, mas a duração do tratamento permanece em torno de seis semanas para a maioria dos casos.
Complicações da Brucelose
As complicações da brucelose podem envolver diferentes sistemas orgânicos e variam em prevalência, sendo mais frequentes em adultos. A complicação mais comum é a doença osteoarticular, que pode afetar até 70% dos pacientes e incluir artrite periférica, sacroileíte e espondilite. Complicações geniturinárias são a segunda forma mais comum, ocorrendo em até 10% dos casos, com manifestações como orquite e epididimite nos homens, e abscesso tubo-ovariano nas mulheres.
Outras complicações possíveis incluem envolvimento neurológico, cardiovascular, pulmonar, intra-abdominal, ocular e dermatológico. Brucelose crônica pode ocorrer em pacientes com sintomas persistentes por mais de um ano, podendo ser dividida em casos com complicações focais e casos com sintomas persistentes sem sinais objetivos de infecção.
Cai na Prova
Acompanhe comigo uma questão sobre o tema (disponível no banco de questões do Estratégia MED):
RJ – HOSPITAL CENTRAL DO EXÉRCITO – HCE 2019 A Brucella abortus, agente etiológico da brucelose, tem como substrato de eliminação o:
A. sangue.
B. muco nasal.
C. leite de vaca.
D. leite materno.
E. esperma.
Comentário da Equipe EMED: Essa bactéria é encontrada especialmente no leite bovino não pasteurizado, que atua como seu principal substrato de transmissão. Portanto, alternativa C.
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Referências Bibliográficas
- Mile Bosilkovski. Brucellosis: Epidemiology, microbiology, clinical manifestations, and diagnosis. UpToDate. Last updated: Dec 12, 2023.
- Mile Bosilkovski. Brucellosis: Treatment and prevention. UpToDate. Last updated: Dec 12, 2023.
- Imagem em destaque: Pexels