Resumo de Bursite de Pata de Ganso: sintomas, condutas e mais!
E. Marieb, anatomia humana 7ª ed.

Resumo de Bursite de Pata de Ganso: sintomas, condutas e mais!

Olá, querido doutor e doutora! A bursite da pata de ganso é uma condição frequentemente negligenciada no diagnóstico diferencial da dor medial do joelho, sobretudo em mulheres de meia-idade com sobrepeso. Apesar de seu curso geralmente benigno, o quadro pode impactar significativamente a mobilidade e a funcionalidade do paciente. A correta identificação clínica, aliada ao manejo conservador adequado, resulta em melhora consistente dos sintomas.

Infiltrações devem ser realizadas com cautela para evitar lesões tendíneas, sendo recomendadas no máximo três aplicações ao ano, com intervalo mínimo de um mês.

Anatomia funcional da pata de ganso 

A chamada pata de ganso corresponde à inserção conjunta dos tendões dos músculos sartório, grácil e semitendíneo na porção ântero-medial da tíbia proximal, cerca de 5 cm abaixo da interlinha articular do joelho. Esses músculos, embora possuam origens distintas, convergem medialmente para formar uma estrutura em leque que lembra os dedos palmados de um ganso — daí a analogia etimológica ao termo “pes anserinus”.

Estes três músculos são flexores do joelho, rotadores internos da tíbia e atuam também como estabilizadores contra forças em valgo. Suas inervações são independentes: o sartório é inervado pelo nervo femoral, o grácil pelo nervo obturador e o semitendíneo pelo nervo tibial, o que permite ações sinérgicas, mas também independentes, em contextos clínicos e de reabilitação.

Logo abaixo desses tendões encontra-se a bursa anserina, um espaço sinovial que facilita o deslizamento entre os tendões e a face medial da tíbia, além de proteger o ligamento colateral medial de fricção direta. 

Essa relação anatômica estreita entre tendões e bursa explica por que a diferenciação entre bursite e tendinopatia nem sempre é evidente, e por que o termo “síndrome da pata de ganso” é frequentemente usado como diagnóstico clínico mais abrangente.

E. Marieb, anatomia humana 7ª ed.

Etiologia e mecanismos desencadeantes  

A bursite da pata de ganso surge a partir de estímulos mecânicos repetitivos ou de sobrecarga localizada na região medial do joelho, levando à irritação da bursa anserina. Esse processo inflamatório pode ser decorrente de microtraumas por atrito, geralmente associados ao encurtamento dos isquiotibiais, à tração excessiva dos tendões sobre a bursa ou à pressão aumentada pela biomecânica alterada do membro inferior.

Entre os principais fatores envolvidos, destacam-se:

  • Sobrecarga funcional, como ocorre em atividades que exigem flexões repetidas do joelho, mudanças rápidas de direção ou esforços contra resistência, típicos de esportes como basquete, tênis, natação estilo peito e corrida.
  • Desalinhamentos biomecânicos, especialmente o joelho valgo e o pé plano (pes planus), que aumentam o estresse medial e alteram a linha de tração dos tendões.
  • Traumas diretos na face medial do joelho, que podem desencadear o processo inflamatório agudo ou reativar uma bursite crônica subjacente.
  • Doenças sistêmicas como osteoartrite, diabetes mellitus tipo 2 e artrite reumatoide, que contribuem com alterações inflamatórias, de colágeno e da mecânica articular.
  • Exostoses tibiais, retrações musculares e espessamento da plica suprapatelar medial também são citados como fatores anatômicos locais que favorecem a inflamação da bursa.

Além disso, há evidência de que a disfunção sinérgica entre os músculos do compartimento medial e posterior da coxa gera sobrecarga nos tendões da pata de ganso, favorecendo tanto a tendinopatia quanto a bursite.

Epidemiologia e fatores de risco

A bursite da pata de ganso é uma condição relativamente frequente, embora muitas vezes subnotificada ou mal diagnosticada, principalmente por sua sobreposição com outras causas de dor no joelho medial. Estudos mostram uma prevalência que pode variar de 1,5% a 2,5% entre pacientes com queixa de dor no joelho, sendo ainda mais elevada em populações com osteoartrite.

O perfil epidemiológico mais comum é de mulheres com idade entre 50 e 80 anos, muitas delas com excesso de peso ou obesidade. Esse grupo apresenta características anatômicas e biomecânicas que favorecem o estresse sobre a inserção anserina, como a pelve mais larga e o aumento do ângulo em valgo dos joelhos.

Os principais fatores de risco identificados incluem:

  • Osteoartrite do joelho: presente em até 60% dos pacientes com bursite anserina, especialmente nas fases iniciais, quando há sobrecarga biomecânica, mas ainda sem limitação articular severa.
  • Obesidade: aumenta a carga sobre o compartimento medial do joelho e está associada a maior frequência de bursites inflamatórias.
  • Diabetes tipo 2: especialmente em mulheres, está relacionada a maior risco de tendinopatias e bursites, possivelmente por alterações na matriz extracelular e menor resposta anti-inflamatória.
  • Joelho valgo e pé plano: favorecem o aumento da pressão medial e alteração no alinhamento dos tendões da pata de ganso.
  • Atividades com movimentos laterais repetitivos (como corrida, natação estilo peito, tênis, basquete): implicam em maior tração tendínea e fricção sobre a bursa.

Em idosos, a presença de encurtamento muscular dos isquiotibiais, fraqueza do quadríceps e marcha compensatória são fatores adicionais que favorecem o desenvolvimento da síndrome da pata de ganso.

Avaliação clínica

A bursite da pata de ganso se apresenta, tipicamente, com dor na região medial do joelho, localizada cerca de 5 cm abaixo da linha articular, sobre a face ântero-medial da tíbia proximal. Essa dor pode ser unilateral ou bilateral e costuma ter início insidioso, com piora progressiva associada à atividade física ou à sobrecarga.

A dor é comumente referida como latejante ou em queimação, e pode se intensificar em situações específicas, como:

  • Subir ou descer escadas;
  • Levantar-se de cadeiras baixas;
  • Dormir em decúbito lateral sem apoio entre os joelhos;
  • Permanecer sentado com as pernas cruzadas.

Pode haver ainda rigidez matinal discreta, edema localizado e sensação de calor, especialmente em fases agudas ou subagudas do quadro.

No exame físico, o principal achado é a dor à palpação localizada na inserção dos tendões do sartório, grácil e semitendíneo, com ou sem presença de tumefação. A área dolorosa está cerca de 3 a 7 cm abaixo da interlinha articular medial, diferenciando-se da dor meniscal, que se localiza diretamente na linha articular.

Outros achados relevantes incluem:

  • Teste de compressão direta sobre a bursa com o joelho estendido, que reproduz a dor;
  • Dor à resistência da flexão e rotação interna da perna;
  • Avaliação do ângulo poplíteo: encurtamento dos isquiotibiais pode agravar a sintomatologia.

Em casos com bursite crônica, pode haver crepitação, redução leve da amplitude de movimento ativa por dor e fraqueza muscular secundária ao desuso.

Diagnóstico 

O diagnóstico da bursite da pata de ganso é predominantemente clínico, baseado na localização da dor, nos fatores predisponentes e na resposta à palpação. O exame físico criterioso é suficiente na maioria dos casos, especialmente quando a dor é bem delimitada à região ântero-medial da tíbia proximal, com história de atividades que envolvem flexão repetitiva do joelho.

Um recurso complementar útil é a infiltração diagnóstica da bursa com anestésico local. A melhora imediata dos sintomas após o bloqueio confirma o envolvimento da estrutura infiltrada, sendo particularmente útil em casos de dúvida diagnóstica.

Embora exames de imagem geralmente não sejam necessários para confirmação, podem ser úteis quando há suspeita de outras patologias associadas:

  • Radiografia simples pode revelar alterações como osteoartrite ou exostoses;
  • Ultrassonografia pode mostrar espessamento da bursa, presença de líquido e exclusão de cistos ou massas adjacentes, mas pode ser negativa mesmo em casos sintomáticos;
  • Ressonância magnética é reservada para casos refratários ou quando há suspeita de lesões intra-articulares ou tumores.

Tratamento 

Medidas conservadoras iniciais

O tratamento da bursite da pata de ganso começa com abordagens não invasivas, que são eficazes na maioria dos casos. O paciente deve ser orientado a reduzir as atividades que agravam os sintomas, como subir escadas, agachar ou permanecer com as pernas cruzadas. A aplicação de gelo local por 10 a 15 minutos algumas vezes ao dia auxilia no controle da dor e da inflamação aguda. O uso de anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) por curto período pode ser indicado, com atenção especial a contraindicações em pacientes com disfunções gástricas, cardiovasculares ou renais.

Reabilitação fisioterapêutica direcionada

A fisioterapia é um dos pilares do tratamento. Os programas devem priorizar o alongamento dos músculos isquiotibiais, grácil e adutores, além do fortalecimento do quadríceps, especialmente do vasto medial oblíquo. Exercícios excêntricos e de controle neuromuscular ajudam a restaurar a estabilidade do joelho. Casos associados a desalinhamento biomecânico exigem adaptação de calçados, palmilhas ortopédicas ou reeducação da marcha.

Infiltração com corticosteroide

Pacientes com sintomas persistentes podem se beneficiar de infiltração local da bursa com corticosteroide associado a anestésico local. O procedimento deve ser feito com cuidado anatômico para evitar lesão dos tendões adjacentes. As opções incluem metilprednisolona, triamcinolona ou betametasona, geralmente diluídas com lidocaína 1% ou bupivacaína 0,5%. Recomenda-se limitar a até três infiltrações por ano, com intervalo mínimo de um mês entre cada aplicação.

Tratamentos alternativos e terapias adjuvantes

Em casos refratários, outras opções têm mostrado benefício em estudos recentes. A terapia por ondas de choque extracorpórea (ESWT) reduz a dor e melhora a função, especialmente em pacientes com sintomatologia crônica. Infiltrações com plasma rico em plaquetas (PRP) ou técnicas como ozonioterapia e proloterapia também têm demonstrado resultados positivos, embora ainda sem consenso universal quanto à superioridade sobre os corticosteroides.

Indicação cirúrgica restrita

A cirurgia é raramente necessária, sendo reservada para casos em que o tratamento conservador não promove alívio adequado após vários meses. A bursectomia pode ser realizada, com ou sem remoção de exostoses ósseas associadas. A recuperação exige imobilização temporária e reabilitação progressiva para retorno funcional.

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Referências Bibliográficas 

  1. MOHSENI, M. et al. Pes Anserine Bursitis. In: StatPearls. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2025 Jan–. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK532941/
  1. DYNAMED Editorial Team. Pes Anserine Bursitis. DynaMed. Atualizado em 09 jul. 2024. Disponível em: https://www.dynamed.com/condition/pes-anserine-bursitis
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