Resumo de Ceratite: conceito, causas, diagnóstico e mais!

Resumo de Ceratite: conceito, causas, diagnóstico e mais!

Olá, querido doutor e doutora! A ceratite é uma inflamação da córnea que pode levar a complicações sérias, incluindo perda da visão, se não tratada adequadamente. Essa condição é multifacetada, com causas que variam desde infecções por microrganismos, como bactérias, vírus, fungos e protozoários, até fatores não infecciosos, como traumas oculares, exposição a radiação ultravioleta e doenças autoimunes. Este texto visa explorar os principais aspectos da ceratite, abordando desde sua definição e epidemiologia até o diagnóstico e tratamento.

Conceito de Ceratite 

Ceratite é uma condição caracterizada pela inflamação da córnea, a superfície transparente na frente do olho que cobre a íris e a pupila. Esse processo inflamatório pode ser desencadeado por uma variedade de agentes, incluindo micro-organismos como bactérias, vírus e fungos, bem como por fatores não infecciosos, como traumas ou irritações químicas. A ceratite pode se tornar uma emergência médica se não tratada rapidamente, uma vez que pode resultar em complicações sérias, incluindo úlceras na córnea e perda de visão.

Epidemiologia e Etiologia da Ceratite

Globalmente, a ceratite infecciosa é uma das principais causas de cegueira relacionada à córnea, especialmente em áreas onde o acesso a cuidados médicos é limitado. Ceratite infecciosa, uma das formas mais prevalentes, apresenta maior incidência em áreas tropicais e subtropicais, onde a umidade e o calor favorecem proliferar fungos e bactérias. Nessas regiões, o contato com matéria orgânica, como plantas, contribui para a alta incidência de ceratite fúngica. 

Nos países desenvolvidos, o uso de lentes de contato é o principal fator de risco para a ceratite bacteriana, com uma estimativa de 20 a 25 casos por 100.000 usuários de lentes de contato anualmente.

Além disso, a ceratite herpética, causada pelo vírus herpes simplex, é uma das principais causas de cicatrização da córnea em regiões desenvolvidas, sendo particularmente notável pela sua tendência a recorrências, o que pode levar a danos crônicos à córnea. A incidência dessa forma de ceratite tende a aumentar com a idade.

Causas de Ceratite 

A ceratite pode ser causada por uma variedade de fatores, divididos em infecciosos e não infecciosos. 

Ceratite infecciosa 

Bactérias: a ceratite bacteriana é frequentemente associada ao uso inadequado de lentes de contato, especialmente se há má higiene ou uso prolongado das lentes. Pseudomonas aeruginosa e Staphylococcus aureus são alguns dos agentes bacterianos mais comuns. 

Vírus: a ceratite viral, por sua vez, é geralmente causada pelo vírus herpes simplex, que pode se reativar e levar a inflamações recorrentes. 

Fungos: fatores ambientais e contato com matéria orgânica estão ligados à ceratite fúngica, predominante em regiões tropicais. 

Protozoários: a ceratite por Acanthamoeba, um protozoário, é menos comum, mas pode ocorrer em usuários de lentes de contato, particularmente quando expostos à água contaminada.

Ceratite Não infecciosa

Traumas: traumas físicos, como arranhões na córnea, queimaduras químicas, ou exposição excessiva à radiação ultravioleta. 

Condições autoimunes: a síndrome de Sjögren e a artrite reumatoide também podem predispor os pacientes à inflamação corneana. 

Síndrome do olho seco: outras causas incluem uso prolongado de lentes de contato e síndrome do olho seco, que comprometem a integridade da superfície ocular, facilitando o desenvolvimento de ceratite.

Manifestações Clínicas da Ceratite

A ceratite manifesta-se com uma variedade de sintomas que podem variar em intensidade dependendo da causa e da gravidade da inflamação. Os principais sinais e sintomas incluem: 

  • Dor ocular: a dor é um sintoma predominante, frequentemente descrita como intensa e persistente. Pode ser exacerbada ao piscar ou ao expor os olhos à luz. 
  • Fotofobia: sensibilidade à luz é comum, tornando difícil para os pacientes ficarem em ambientes bem iluminados ou ao ar livre. 
  • Vermelhidão ocular: a ceratite geralmente provoca hiperemia conjuntival, levando à aparência de olhos vermelhos ou injetados. 
  • Visão embaçada: a inflamação da córnea pode interferir na transparência da mesma, resultando em visão turva ou reduzida. 
  • Lacrimejamento excessivo: a produção de lágrimas pode aumentar como resposta à irritação e inflamação da córnea. 
  • Sensação de corpo estranho: muitos pacientes relatam a sensação de algo preso no olho, mesmo que não haja nada presente. 
  • Secreção ocular: em casos de ceratite infecciosa, especialmente bacteriana, pode haver secreção purulenta. 
  • Úlcera corneana: em casos graves, a ceratite pode evoluir para a formação de úlceras na córnea, sendo áreas de erosão tecidual, potencialmente levando à perfuração e perda da visão se não tratadas adequadamente.

Diagnóstico da Ceratite 

A avaliação física é realizada principalmente através da biomicroscopia com lâmpada de fenda, que permite ao oftalmologista examinar detalhadamente a córnea, identificando características como infiltrações e ulcerações. O teste de fluoresceína é frequentemente utilizado para destacar áreas de dano corneano, que se tornam mais visíveis sob luz azul. Em casos suspeitos de ceratite herpética, o teste de sensibilidade corneana pode ser realizado, uma vez que essa condição frequentemente causa uma redução da sensibilidade na córnea afetada. 

Úlcera corando com fluoresceína

Exames laboratoriais complementam o diagnóstico. O raspado corneano pode ser coletado para cultura e exame microscópico, auxiliando na identificação de agentes infecciosos, como bactérias ou fungos. Em casos de suspeita de ceratite viral, especialmente por herpes simplex, o teste de PCR (Reação em Cadeia da Polimerase) é útil para detectar o material genético do vírus. Finalmente, técnicas de imagem, como a tomografia de coerência óptica (OCT), podem ser utilizadas para avaliar a integridade e a espessura das camadas da córnea, auxiliando no diagnóstico diferencial e na determinação da gravidade da condição.

Tratamento da Ceratite 

  • Ceratite bacteriana: o tratamento envolve geralmente o uso de colírios antibióticos de amplo espectro, como fluoroquinolonas (por exemplo, moxifloxacino ou gatifloxacino) aplicados a cada 1 a 2 horas inicialmente. Em casos graves, pode ser necessário o uso de antibióticos fortificados, como tobramicina ou vancomicina, administrados a cada 30 minutos a 1 hora. O tratamento costuma durar entre 7 a 14 dias, dependendo da resposta clínica e da resolução da infecção. 
  • Ceratite viral: no caso de ceratite herpética, o tratamento envolve o uso de antivirais tópicos, como o aciclovir 3% ou ganciclovir gel 0,15%, geralmente aplicados 5 vezes ao dia. O tratamento pode durar de 10 a 14 dias, continuando por até 7 dias após a resolução dos sintomas para evitar recorrências. Em alguns casos, antivirais orais, como aciclovir ou valaciclovir, são indicados, especialmente em infecções recorrentes ou mais graves. 
  • Ceratite fúngica: o tratamento para ceratite fúngica é mais prolongado e pode ser desafiador, exigindo o uso de antifúngicos tópicos, como natamicina 5% ou voriconazol 1%, aplicados a cada 1 a 2 horas nos estágios iniciais. O tratamento pode durar várias semanas ou até meses, dependendo da gravidade da infecção e da resposta ao tratamento. 
  • Ceratite por Acanthamoeba: esta forma de ceratite é tratada com colírios antiprotozoários, como biguanidas (poliexametileno biguanida 0,02%) e clorexidina 0,02%, aplicados a cada 1 a 2 horas. O tratamento é longo, muitas vezes durando de 6 meses a 1 ano, devido à dificuldade em erradicar o protozoário e à necessidade de prevenir recidivas. 
  • Ceratite não infecciosa: em casos de ceratite não infecciosa, o tratamento se concentra na remoção da causa subjacente, como o uso de colírios lubrificantes para aliviar o olho seco ou corticosteroides tópicos para reduzir a inflamação. O tempo de tratamento varia conforme a causa e a resposta à terapia.

Cai na Prova 

Acompanhe comigo uma questão sobre o tema (disponível no banco de questões do Estratégia MED): 

(MT – Centro Oftalmológico de Cáceres – COC 2020) Homem, 70 anos, sitiante, apresenta história de ulcera de córnea de repetição no OD. Atualmente queixa-se de olho vermelho, lacrimejamento, sensação de corpo estranho e baixa acuidade visual no mesmo olho. Refere estar em uso de aciclovir oral há 15 dias sem melhora. Ao exame apresenta defeito epitelial central corando com fluoresceína, bordas elevadas, sem infiltrado estromal, medindo 2 x 3mm. Qual o provável diagnóstico e conduta? 

A. Recidiva da infecção herpética – manter aciclovir 

B. Úlcera fúngica – manter aciclovir e iniciar natamicina tópica 

C. Úlcera neurotrófica – suspender aciclovir e iniciar lubrificação, considerando uso de lente de contato terapêutica 

D. Úlcera bacteriana – suspender aciclovir e iniciar atb de amplo espectro Remover Questão Úlcera herpética – iniciar anfotericina B 0,15% tópica

Comentário da Equipe EMED: A úlcera neurotrófica ocorre por uma diminuição da inervação corneana, diminuindo a mitose das células epiteliais e acarretando em defeito epitelial persistente e recorrente. Defeitos epiteliais crônicos podem evoluir para ulceração estromal e perfuração corneana. As causas mais comuns de úlcera neurotrófica são: lesão do V par craniano, causando hipoestesia ou anestesia corneal, geralmente decorrente de traumas, cirurgias e acidentes vasculares cerebrais; infecções como herpes zoster oftálmico ou herpes simples; abuso de anestésico tópico; cirurgias oculares, como transplantes penetrantes e cirurgias refrativas. Portanto, alternativa C.

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Referências Bibliográficas 

  1. UNG, L.; BISPO, P. J. M.; SHANBHAG, S. S.; GILMORE, M. S.; CHODOSH, J. The persistent dilemma of microbial keratitis: Global burden, diagnosis, and antimicrobial resistance. Survey of Ophthalmology, v. 64, n. 3, p. 255-271, 2019. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6446167/. Acesso em: 16 ago. 2024.
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