Olá, querido doutor e doutora! A concussão relacionada ao esporte é uma condição frequente em atletas de diferentes idades, caracterizada por alteração temporária da função cerebral após impacto direto ou indireto na cabeça. O reconhecimento precoce e o manejo adequado são determinantes para uma recuperação segura e completa, prevenindo complicações neurológicas e o risco de recorrência.
Mesmo após a resolução clínica dos sintomas, as alterações metabólicas cerebrais podem persistir, reforçando a necessidade de retorno gradual às atividades físicas.
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O que é Concussão relacionada ao esporte
A concussão relacionada ao esporte é uma forma de traumatismo cranioencefálico leve (TCE) que ocorre após um impacto direto ou indireto na cabeça, pescoço ou corpo, resultando em alteração neurobiológica transitória do funcionamento cerebral. Essa disfunção leva ao início rápido de sintomas neurológicos breves, geralmente reversíveis em poucos dias ou semanas.
Fatores de risco e fisiopatologia
O risco de concussão esportiva está relacionado a fatores individuais, esportivos e contextuais. Atletas que praticam esportes de contato e colisão, como futebol americano, hóquei, rúgbi, boxe e artes marciais, apresentam maior probabilidade de sofrer o evento. Entre os fatores pessoais, destacam-se histórico prévio de concussão, índice de massa corporal acima de 27 kg/m², tempo de treino semanal reduzido, transtornos de aprendizagem, déficit de atenção, enxaqueca e condições emocionais como ansiedade e depressão. Em modalidades praticadas por ambos os sexos, observa-se que mulheres tendem a apresentar risco mais elevado e relatam sintomas com maior frequência.
No aspecto fisiopatológico, o impacto provoca movimentos de aceleração, desaceleração e rotação do encéfalo, gerando forças de cisalhamento que alteram o metabolismo neuronal. Esse processo desencadeia uma cascata bioquímica e iônica, com liberação de glutamato, entrada de cálcio e saída de potássio, resultando em desequilíbrio energético cerebral. Também ocorrem hipofluxo sanguíneo transitório, disfunção mitocondrial e lesões axonais microscópicas, o que explica a ausência de alterações em exames de neuroimagem estrutural mesmo diante de manifestações clínicas evidentes.
Epidemiologia
A concussão relacionada ao esporte é uma das causas mais comuns de traumatismo craniano leve em atletas, com incidência crescente nas últimas décadas. Nos Estados Unidos, estima-se que ocorram 1,6 a 3,8 milhões de casos por ano, sendo de 1,1 a 1,9 milhão em crianças e adolescentes. O aumento das notificações reflete melhor reconhecimento clínico e conscientização pública, embora ainda exista subnotificação devido ao medo de afastamento e à baixa percepção dos sintomas pelos atletas e treinadores.
A condição é mais frequente em esportes de contato como futebol americano, hóquei, rúgbi e artes marciais, além de modalidades como ginástica e hipismo. Em mulheres, o futebol apresenta uma das maiores taxas de ocorrência. Estudos apontam que o risco é significativamente maior durante competições do que em treinos, e que crianças e adolescentes representam um grupo particularmente vulnerável pela imaturidade neurológica e pela intensa participação esportiva.
Avaliação clínica
Sintomas físicos
Os sintomas somáticos são os mais frequentes. Destacam-se cefaleia, tontura, náusea ou vômitos, fotofobia, fonofobia, dor cervical e fadiga. Também podem ocorrer alterações vestibulares como vertigem e distúrbios oculomotores que se manifestam por visão turva ou dupla.
Sintomas cognitivos
Os déficits cognitivos incluem confusão mental, dificuldade de concentração, lentidão no processamento de informações, lapsos de memória e sensação de “mente enevoada”. O atleta pode parecer desorientado ou repetir perguntas. Em muitos casos, a perda de consciência não está presente, sendo observada em menos de 5% dos episódios.
Alterações emocionais e comportamentais
Podem surgir irritabilidade, instabilidade emocional, tristeza, ansiedade, nervosismo e mudanças súbitas de humor. Tais manifestações refletem a disfunção temporária das vias límbicas e frontais relacionadas à regulação emocional.
Distúrbios do sono
São comuns dificuldade para iniciar o sono, sono excessivo ou fragmentado, cansaço diurno e redução da energia. Esses sintomas podem contribuir para a lentificação cognitiva e o prolongamento do tempo de recuperação.
Diagnóstico
Avaliação inicial e no campo
Diante de suspeita de concussão, o atleta deve ser imediatamente retirado de jogo ou treino para evitar agravos. A avaliação deve incluir a verificação dos chamados “sinais de alerta”, como perda prolongada de consciência, deterioração do nível de consciência, cefaleia intensa ou progressiva, vômitos repetidos, fraqueza ou formigamento em membros, convulsões e dor cervical importante. Nesses casos, o encaminhamento urgente ao pronto atendimento é mandatório.
A avaliação de beira de campo deve ser feita em ambiente calmo, utilizando instrumentos padronizados e validados, como o Sport Concussion Assessment Tool – SCAT6 para atletas acima de 12 anos e o Child SCAT6 para menores. Esses instrumentos avaliam sintomas, escala de coma de Glasgow, equilíbrio, memória e função cervical, mas não substituem o exame clínico completo.
Avaliação clínica e complementar
No consultório, recomenda-se o uso do Sport Concussion Office Assessment Tool – SCOAT6 ou Child SCOAT6, conforme a idade. A avaliação deve incluir histórico de concussões anteriores, transtornos psiquiátricos ou neurológicos, e condições que possam interferir na recuperação, como enxaqueca ou TDAH.
O exame neurológico deve abranger nervos cranianos, força, sensibilidade, reflexos e coordenação, além de testes de equilíbrio e função vestibular. Neuroimagem convencional (TC ou RM) é indicada apenas para excluir lesões estruturais graves, como hemorragia intracraniana ou fratura de crânio, e não para confirmar o diagnóstico de concussão.
Testes cognitivos e funcionais
Podem ser empregados testes neurocognitivos computadorizados ou em papel para avaliar memória, atenção e tempo de reação, comparando preferencialmente com um teste basal realizado antes da temporada esportiva. A interpretação deve ser feita por profissional treinado e sempre integrada ao contexto clínico.
Tratamento e prognóstico
Condutas imediatas
Após o diagnóstico, recomenda-se repouso físico e cognitivo relativo por 24 a 48 horas, evitando estímulos intensos como telas, leitura prolongada e esforço físico. O repouso absoluto prolongado não é indicado, pois pode retardar a recuperação. O atleta deve ser orientado a retomar progressivamente as atividades diárias, conforme tolerância, mantendo atenção a possíveis reaquecimentos dos sintomas.
Manejo sintomático
A analgesia pode ser realizada com paracetamol ou anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) por curto período. Em casos persistentes, pode-se considerar tratamento farmacológico específico para cefaleia, distúrbios do sono ou sintomas emocionais. O uso prolongado de analgésicos deve ser evitado para prevenir cefaleia por uso excessivo de medicação.
Pacientes com sintomas por mais de quatro semanas devem ser reavaliados e, se necessário, encaminhados a especialistas para investigação de síndromes vestibulares, cervicogênicas ou cognitivas.
Retorno gradual às atividades
O retorno deve seguir um protocolo em seis etapas, respeitando pelo menos 24 horas entre cada fase e garantindo ausência de sintomas antes da progressão:
- Retomada de atividades leves da vida diária.
- Exercício leve a moderado (caminhada ou bicicleta).
- Treino esportivo específico sem contato.
- Treino intenso e integração parcial com a equipe.
- Treino completo com contato sob supervisão.
- Retorno total à competição.
Se os sintomas retornarem, o atleta deve retroceder à etapa anterior e reiniciar após 24 horas assintomático. Crianças e adolescentes devem ter uma abordagem mais conservadora, priorizando o retorno escolar antes do retorno esportivo.
Reabilitação e acompanhamento
A persistência de sintomas vestibulares, visuais ou cervicais pode indicar necessidade de fisioterapia vestibular e cervicovestibular. Em casos de alterações de humor ou sono, é útil o suporte psicológico ou terapia cognitivo-comportamental.
Prognóstico
A maioria dos atletas apresenta resolução completa dos sintomas em até quatro semanas, com retorno ao esporte em cerca de 20 dias. Os fatores associados a recuperação mais lenta incluem histórico prévio de concussão, sexo feminino, enxaqueca, transtornos de aprendizado ou humor e sintomatologia inicial intensa.
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Referências Bibliográficas
- EBESCO Information Services. Sport-Related Concussion. DynaMed. Ipswich, MA: EBSCO; atualizado em 30 out. 2025. Disponível em: https://www.dynamed.com/condition/sport-related-concussion.



