Resumo de doenças gastrointestinais do recém-nascido: diagnóstico, tratamento e mais!

Resumo de doenças gastrointestinais do recém-nascido: diagnóstico, tratamento e mais!

As doenças gastrointestinais do recém-nascido não são condições muito comuns, geralmente associadas a alguma complicação materno-fetal, como prematuridade e alterações genéticas. 

Causas de doenças gastrointestinais no RN

A enterocolite necrotizante é a condição mais frequente deste grupo, mas as outras condições também podem cair em sua prova de residência médica devido às peculiaridades de cada doença. Dentre elas, os defeitos de parede abdominal congênitos, como gastrosquise e onfalocele, e megacolon (Síndrome de Hirschsprung) fazem parte desse grupo.

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Doenças gastrointestinais do RN: Enterocolite necrotizante (ECN)

Este é o protótipo das doenças gastrointestinais não diarreicas em RNs. Mesmo sendo uma condição de baixa incidência, trata-se de uma doença inflamatória grave, de origem multifatorial e que leva a inflamação e necrose intestinal. 

Epidemiologia e fisiopatologia 

Afeta principalmente pacientes prematuros (até 7% dos RNs prematuros), sendo que quanto menor a idade gestacional ao nascimento, maior a chance de desenvolver este transtorno, ocorrendo principalmente até a segunda semana de vida, naqueles que já estabeleceram dieta enteral.  

Por mais que a fisiopatologia envolve a nutrição enteral, principalmente aquelas iniciadas com grandes volumes ou RNs em uso de fórmulas, o aleitamento materno deve ser sempre estimulado nas mães. 

Mas porque a nutrição enteral pode causar ECN? A imaturidade dos enterócitos, principalmente nos prematuros, não está preparada para receber aporte nutricional como bebês a termo e saudáveis. Associado a isso, a maior possibilidade de assistência hospitalar para esses RNs está associada à colonização por bactérias intra hospitalares. 

O processo inflamatório promove vasoconstrição intestinal e isquemia tecidual, perda de integridade da mucosa, culminando com necrose das áreas afetadas, com variados graus de lesão intestinal, permitindo a passagem de bactérias e toxinas para a circulação sistêmica. 

Sinais e sintomas

Os principais sinais relatados são distensão abdominal, dificuldade na aceitação da dieta e presença de resíduos gástricos. Às vezes pode haver fezes com sangue.

Diagnóstico

O melhor teste diagnóstico para esta doença é a radiografia em decúbito dorsal com raios laterais, para pesquisa de pneumatose intestinal. O tratamento é definido seguindo os estágios de classificação de Bell:

  • Estádio Ia: sinais de instabilidade térmica, hipoatividade, apneia, resíduo gástrico aumentado, vômitos, distensão abdominal e enterorragia microscópica. No exame de raios X pode ser encontrada distensão de alça e íleo paralítico. 
  • Estádio IIb: os sinais clínicos e radiológicos são os mesmos, porém a enterorragia é macroscópica. 
  • Estádio IIa: possui, além dos sinais do IB, uma diminuição ou ausência de ruídos hidroaéreos e dor à palpação abdominal. No exame de raios X, pode ser encontrada pneumatose intestinal localizada, mais os sinais Ib.
  • Estádio IIb: sinais do IIA, além de acidose metabólica, plaquetopenia, leucopenia, sinais de peritonite, celulite de parede abdominal e massa abdominal palpável. No exame de raios X, pneumatose em dois a três quadrantes abdominais, pneumoportograma e sinais de ascite. 
  • Estádio IIIa: sem perfuração intestinal, com sinais IIb, além de hipotensão arterial ou sinais de choque, acidose mista, coagulação intravascular disseminada, insuficiência de múltiplos órgãos e piora da distensão abdominal. Nos raios X há aumento da ascite.
  • Estádio IIIb: caracterizada por perfuração intestinal e nos raios X pode haver presença de pneumoperitôneo, além de sinais clínicos e radiológicos iguais ao estágio IIIa. 

Tratamento

A base para o tratamento é dieta zero para repouso intestinal, descompressão com sonda nasogástrica de alívio, nutrição parenteral e antibioticoterapia de 3 a 14 dias, cobrindo agentes da sepse neonatal. 

#Ponto importante: A antibioticoterapia para Estágio Ia e Ib tem duração de 3 dias, enquanto estágio IIa e IIb a antibioticoterapia deve ser realizada por 14 dias. 

No estádio III, fazer expansão de volume e, se necessário, drogas vasoativas, suporte ventilatório, hemoderivados e paracentes. As opções cirúrgicas incluem drenagem peritoneal e laparotomia exploradora, com enterectomia de partes necróticas ou perfuradas e anastomose primária ou ileostomia. 

Doenças gastrointestinais do RN: Defeitos da parede abdominal

Gastrosquise

Representa a protrusão das vísceras abdominais através de um defeito da parede abdominal de espessura total, com provável isquemia de parede abdominal. São mais comuns em RNs de mães adolescentes e tabagistas. 

A localização da protrusão geralmente é paraumbilical à direita. O defeito não é recoberto durante a gestação e entra em contato com líquido amniótico. Está associado à isquemia, necrose intestinal e síndrome do intestino curto. 

Onfalocele

Representa um intestino extra embrionário que não retorna para dentro da cavidade abdominal. Geralmente é recoberta por 3 membranas, âmnio, geleia de Wharton e pelo peritônio. Essa cobertura agrega melhor prognóstico. 

#Ponto importante: Diferente da gastrosquise, e onfalocele é mais comum em mães obesas ou em uso de inibidores seletivos de receptores de serotonina. 

Tratamento 

O tratamento definitivo de ambas as condições é cirúrgico, ambas com bom prognóstico. O manejo inicial logo após o nascimento é feito com jejum, sonda nasogástrica, nutrição parenteral e antibiótico de amplo espectro. 

Doenças gastrointestinais do RN: Síndrome de Hirschsprung

É uma doença motora intestinal por falha na migração de células da crista neural no intestino, marcado pela ausência de células ganglionares no plexo de Meissner (submucosa) e plexo de Auerbach (muscularis) do reto terminal (principalmente retossignmoide) que se estende em uma distância variável proximalmente. 

É uma condição rara, ocorrendo em 1/5.000 nascidos vivos e tem uma predominância geral de 4:1 no sexo masculino. 

Manejo

#Ponto importante: É um diagnóstico diferencial de obstrução intestinal em neonatos. 

Está associado a índices anormais de líquido amniótico materno, incluindo polidrâmnio, vômitos e vômitos especificamente biliosos, obstipação, que pode se apresentar com falha na passagem de mecônio nas primeiras 48 horas de vida (por isso também é chamada de rolha de mecônio) e distensão abdominal.

#Ponto importante: O diagnóstico da doença de Hirschsprung exige quase exclusivamente intervenção cirúrgica.  

Veja também:

Referências bibliográficas:

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