Olá, querido doutor e doutora! A epigastralgia, dor localizada na região epigástrica, é um sintoma comum que pode estar associado a uma ampla gama de condições gastrointestinais, desde alterações funcionais até doenças estruturais mais complexas. Sua abordagem clínica requer um entendimento aprofundado de suas possíveis causas, fatores de risco, manifestações clínicas e métodos diagnósticos, além de estratégias terapêuticas eficazes.
A erradicação da infecção por Helicobacter pylori é uma prioridade no manejo de pacientes com epigastralgia associada a essa bactéria.
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Conceito de Epigastralgia
A epigastralgia refere-se à dor localizada na região epigástrica, situada na parte superior do abdome, logo abaixo do esterno. Essa condição pode ser resultado de diversas causas, variando desde alterações funcionais, como a dispepsia funcional, até condições estruturais ou inflamatórias, como gastrite, úlceras pépticas ou refluxo gastroesofágico. A dor pode ser acompanhada por outros sintomas, como náuseas, queimação e sensação de plenitude após refeições.
Fisiopatologia da Epigastralgia
A fisiopatologia da epigastralgia é multifatorial e depende da causa subjacente, envolvendo alterações em diferentes mecanismos no trato gastrointestinal superior. Um dos fatores mais comuns está relacionado à disfunção na motilidade gástrica. O esvaziamento gástrico retardado, como na gastroparesia, provoca distensão e aumento da pressão no estômago, contribuindo para a dor. Por outro lado, contrações excessivas ou descoordenadas, frequentemente associadas a gastrites, podem gerar desconforto epigástrico
Outro aspecto importante é a disfunção na secreção gástrica. O excesso de ácido clorídrico, como ocorre na doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) e na úlcera péptica, causa irritação na mucosa gástrica, enquanto a deficiência na produção de muco e bicarbonato compromete a proteção dessa mucosa, deixando-a vulnerável à ação do ácido. Isso é frequentemente observado em pacientes com uso prolongado de anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) ou na presença de infecção por Helicobacter pylori.
Além disso, há casos em que a epigastralgia ocorre sem lesão estrutural evidente, como na dispepsia funcional. Nesses pacientes, a hipersensibilidade visceral é um mecanismo relevante, onde estímulos normais no trato digestivo são percebidos de forma amplificada. Fatores psicológicos, como estresse e ansiedade, frequentemente contribuem para essa sensibilidade aumentada, demonstrando a interação do eixo cérebro-intestino.
Epidemiologia e Fatores de Risco da Epigastralgia
A epigastralgia é um sintoma comum que afeta uma parcela significativa da população mundial, com prevalência variando conforme a etiologia subjacente. Condições funcionais, como a dispepsia funcional, acometem cerca de 20% das pessoas globalmente, sendo mais frequentes em mulheres. Já as causas estruturais, como úlcera péptica ou gastrite associada à infecção por Helicobacter pylori, possuem prevalências variáveis conforme a região geográfica, estando mais presentes em populações com menor acesso a saneamento básico e cuidados médicos. Diversos fatores de risco estão associados ao desenvolvimento da epigastralgia. Entre eles:
- A infecção por H. pylori é um dos mais importantes, sendo prevalente em áreas com baixa higiene e maior densidade populacional.
- O uso prolongado de anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) também é um fator significativo, ao poder levar à lesão da mucosa gástrica e ao desenvolvimento de gastrites e úlceras.
- O consumo excessivo de álcool e tabaco contribui para a irritação gástrica, aumento da secreção ácida e redução da eficácia da barreira protetora da mucosa.
- Dietas ricas em alimentos gordurosos ou condimentados, associadas a padrões irregulares de alimentação, podem desencadear ou agravar episódios de epigastralgia.
- Fatores emocionais, como estresse e ansiedade, estão relacionados à dispepsia funcional e à hipersensibilidade visceral, exacerbando a percepção de dor na região epigástrica.
- Condições médicas preexistentes, como refluxo gastroesofágico (DRGE), doenças autoimunes e transtornos metabólicos.
Quadro Clínico da Epigastralgia
Dor epigástrica
A epigastralgia caracteriza-se, principalmente, por uma dor localizada na região superior do abdome, logo abaixo do esterno. Essa dor pode variar em intensidade, sendo leve, moderada ou severa, e é frequentemente descrita pelos pacientes como uma sensação de queimação, pressão ou pontada. Sua duração pode ser intermitente ou contínua, dependendo da etiologia subjacente. Em alguns casos, a dor pode estar diretamente associada à ingestão alimentar, sendo exacerbada ou aliviada por ela.
Sintomas Associados
Além da dor, outros sintomas acompanham frequentemente a epigastralgia. Entre eles, destacam-se a plenitude pós-prandial, caracterizada pela sensação de estômago cheio mesmo após refeições leves, e a saciedade precoce, que impede o consumo completo de uma refeição. Náuseas e vômitos também podem estar presentes, especialmente em casos de gastrites, gastroparesia ou obstruções no trato gastrointestinal. Em condições como refluxo gastroesofágico, sintomas como queimação retroesternal e regurgitação ácida são comuns, enquanto a presença de arrotos e flatulência pode indicar desconforto abdominal funcional.
Sinais de Alarme
Em algumas situações, sinais de alarme sugerem condições mais graves e demandam investigação imediata. Perda de peso não intencional, dificuldade ou dor ao engolir (disfagia ou odinofagia), anemia ferropriva inexplicada, vômitos persistentes e a presença de massa abdominal palpável ou linfadenopatia são sinais preocupantes. Além disso, uma história familiar de câncer gastrointestinal também deve ser considerada na avaliação clínica.
Diagnóstico da Epigastralgia
Testes laboratoriais iniciais podem incluir hemograma completo, marcadores inflamatórios, função hepática, sorologia para Helicobacter pylori e teste de função tireoidiana, conforme a suspeita clínica. Em casos com sinais de alarme ou sintomas refratários, exames complementares, como endoscopia digestiva alta, ultrassonografia abdominal e tomografia computadorizada, podem ser indicados. A endoscopia é especialmente útil para diagnosticar lesões estruturais, como gastrite, úlceras pépticas e neoplasias.
Para dispepsia funcional, o diagnóstico é estabelecido com base nos critérios de Roma IV, que requerem a presença de sintomas por pelo menos três meses, sem evidência de alterações estruturais. Testes adicionais podem ser realizados para excluir condições como refluxo gastroesofágico, gastroparesia ou doenças metabólicas.
Tratamento da Epigastralgia
Tratamento Farmacológico
O tratamento da epigastralgia é guiado pela causa identificada e pode incluir estratégias farmacológicas. Para condições associadas à infecção por H. pylori, a erradicação da bactéria é prioridade, geralmente por meio de terapias combinadas com antibióticos e inibidores da bomba de prótons (IBPs). Em casos de hiperacidez gástrica, os IBPs e antagonistas dos receptores H2 são amplamente utilizados para reduzir a secreção ácida e aliviar os sintomas.
Abordagem em Dispepsia Funcional e Estilo de Vida
Pacientes com dispepsia funcional podem se beneficiar de uma abordagem combinada, que inclui modificações na dieta, controle do estresse e o uso de medicamentos como agentes procinéticos, antidepressivos em doses baixas e terapias psicológicas, quando necessário. Mudanças no estilo de vida, como evitar alimentos gordurosos, álcool, tabaco e refeições grandes, são recomendadas para reduzir a irritação gástrica e melhorar a motilidade.
Intervenções Específicas e Acompanhamento
Para condições graves, como úlceras pépticas ou neoplasias, o manejo pode incluir intervenções endoscópicas ou cirúrgicas, além de acompanhamento especializado. Nos casos em que a epigastralgia persiste sem causa evidente, terapias adjuvantes, como psicoterapia ou tratamentos baseados em alterações do microbioma intestinal, podem ser exploradas.
Cai na Prova
Acompanhe comigo uma questão sobre o tema (disponível no banco de questões do Estratégia MED):
CENTRO UNIVERSITÁRIO DO ESTADO DO PARÁ — CESUPA/PA/2023 Mulher, 62 anos, comparece à consulta queixando-se de plenitude pós-prandial e saciedade precoce há 3 meses. Nega perda de peso, vômitos, dor epigástrica ou alteração na cor ou consistência das fezes. Exame físico sem alterações. A conduta mais adequada para esse paciente é:
A) iniciar inibidor da bomba de prótons para tratar síndrome dispéptica.
B) prescrever procinético para tratar síndrome dispéptica.
C) iniciar IBP e procinético e solicitar endoscopia digestiva alta.
D) solicitar endoscopia digestiva alta e prescrever procinético.
Comentário da Equipe EMED
Correta a alternativa D. Preste bastante atenção: essa paciente tem gastrite? Não! Ela tem síndrome dispéptica, ou seja, sintomas de dor ou desconforto no andar superior do abdome, geralmente associados à alimentação. Esse é um diagnóstico sindrômico, não etiológico. Nunca podemos dizer que o paciente tem gastrite com base apenas no sintoma de epigastralgia, não se esqueça disso. A conduta em pacientes com dispepsia crônica irá depender da idade, da presença ou não de sinais de alarme, e da resposta ao tratamento empírico com IBP. No caso dessa paciente, ela não tem sinais de alarme e não há menção a tratamento prévio, porém ela tem mais de 50-55 anos, então irá precisar, necessariamente, iniciar a investigação com uma endoscopia digestiva alta (EDA). Pode iniciar alguma medicação enquanto aguarda a EDA? Pode, a medicação irá depender dos sintomas predominantes. No caso dela, não há dor, mas sintomas gastroparéticos (distensão e saciedade), por isso se pode começar apenas com procinéticos. Após a endoscopia, se houver gastrite, o tratamento medicamentoso poderá ser reajustado.
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Referências Bibliográficas
- FRANCIS, Pilin; ZAVALA, Stacey R. Dispepsia Funcional. StatPearls. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2024. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/. Acesso em: 20 nov. 2024.
- CASTRO, Élio. Anatomofisiologia Gástrica, Gastroparesia, Dispepsia e Gastrites. Estratégia MED. 2024. Acesso em: 20 nov. 2024.