Resumo de Gigantismo: fisiopatologia, diagnóstico e mais!
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Resumo de Gigantismo: fisiopatologia, diagnóstico e mais!

Olá, querido doutor e doutora! O gigantismo representa uma condição rara marcada por crescimento linear acelerado decorrente da hipersecreção de hormônio do crescimento antes do fechamento das epífises. Essa alteração leva a estatura muito acima do esperado, acompanhada de manifestações somáticas e metabólicas associadas ao excesso hormonal.

Em crianças com gigantismo, a velocidade de crescimento pode ultrapassar amplamente o limite esperado para idade e estágio puberal.

O que é Gigantismo 

O gigantismo corresponde a uma condição rara caracterizada por aceleração marcante do crescimento linear, ocorrendo enquanto as placas epifisárias ainda permanecem abertas. O processo resulta da hipersecreção de hormônio do crescimento, levando a elevação persistente de IGF1 e consequente estímulo exagerado da estatura. Crianças e adolescentes apresentam velocidade de crescimento muito acima do esperado, frequentemente ultrapassando mais de dois desvios padrão da altura prevista para idade, sexo e origem étnica.

Etiologia e mecanismos fisiopatológicos  

Hipersecreção de GH na infância

A base etiológica do gigantismo é a produção excessiva de hormônio do crescimento antes da fusão das epífises. Esse estímulo contínuo eleva de forma persistente os níveis de IGF1, promovendo expansão acelerada da cartilagem de crescimento e aumento vertical desproporcional. A origem mais frequente desse excesso é o adenoma hipofisário produtor de GH, que costuma surgir na infância ou adolescência e gerar secreção hormonal contínua.

Condições genéticas associadas

Cerca de metade dos casos está vinculada a síndromes hereditárias. Alterações no gene AIP são as mais prevalentes e podem levar a tumores hipofisários agressivos. Outras condições envolvidas incluem X-linked acrogigantism, com início muito precoce do crescimento acelerado, além de MEN1, MEN4, síndrome de McCune-Albright, Carney complex e síndromes raras com predisposição tumoral. A heterogeneidade genética contribui para diferentes idades de início, velocidade de progressão e grau de agressividade tumoral.

Estimulação hipotalâmica ou hiperplasia hipofisária

Em menor proporção, o gigantismo decorre de hiperprodução de hormônio liberador de GH por tumores neuroendócrinos, levando à hiperplasia somatotrófica e aumento secundário da secreção de GH. Nesses casos, a hipersecreção apresenta-se de forma difusa e a imagem hipofisária pode demonstrar hiperplasia em vez de adenoma.

Ação periférica de GH e IGF1

A ativação exagerada do eixo somatotrófico promove intenso estímulo da placa de crescimento, acelerando a maturação e expansão óssea. O IGF1 atua como mediador direto desse processo e também influencia metabolismo, composição corporal e homeostase da glicose. A combinação desses efeitos resulta em crescimento vertical muito acentuado, alterações craniofaciais, aumento segmentar e maior risco de disfunções metabólicas associadas ao excesso hormonal.

Epidemiologia e fatores associados 

O gigantismo apresenta ocorrência muito baixa na população pediátrica, sendo descrito como uma condição rara. A incidência anual de excesso de hormônio do crescimento em indivíduos com menos de 17 anos varia entre 3 e 8 casos por milhão, enquanto a prevalência estimada situa-se em 29 a 37 casos por milhão. Observa-se maior acometimento do sexo masculino ao longo da vida, embora meninas sejam mais comumente diagnosticadas ainda na infância.

Entre os fatores associados, destaca-se a presença de adenomas hipofisários secretores de GH, que representam a causa predominante. Aproximadamente metade dos casos ocorre no contexto de síndromes hereditárias, que incluem variantes patogênicas em genes relacionados à tumorigênese hipofisária, como alterações no AIP, além de síndromes como X-linked acrogigantism, MEN1, MEN4, síndrome de McCune-Albright, Carney complex e outras condições genéticas que aumentam a susceptibilidade ao crescimento tumoral. A idade de início varia conforme a etiologia, com formas sindrômicas, como X-linked acrogigantism, apresentando início extremamente precoce e crescimento acelerado já nos primeiros anos de vida.

Avaliação clínica

Aceleração marcada do crescimento

O achado mais característico é a velocidade de crescimento persistentemente elevada, desproporcional ao estágio puberal. As crianças podem ultrapassar mais de dois desvios padrão da estatura prevista e apresentar altura muito acima do percentil esperado. O crescimento acentuado costuma vir acompanhado de leve a moderada obesidade e, em muitos casos, atraso puberal, que potencializa ainda mais o aumento final da estatura.

Manifestações relacionadas ao excesso de GH e IGF1

Com o avanço da doença, surgem características típicas do excesso hormonal, semelhantes às observadas na acromegalia em adolescentes mais velhos. Entre elas, destacam-se aumento das mãos e dos pés, traços faciais grosseiros, sudorese aumentada, dor articular e hipertensão. Alterações metabólicas podem ocorrer, incluindo dificuldade no controle da glicemia e maior propensão ao desenvolvimento de diabetes tipo 2. Alguns pacientes desenvolvem macrocefalia, prognatismo e alterações dentárias com espaçamento aumentado.

Sintomas decorrentes do efeito de massa tumoral

Quando há adenomas hipofisários volumosos, podem surgir sintomas compressivos, como cefaleias persistentes e defeitos de campo visual, sobretudo hemianopsia bitemporal. Dependendo do acometimento hipofisário, podem ocorrer déficits hormonais adicionais, incluindo hipogonadismo, com repercussões na puberdade e na estatura final.

Variações conforme causas genéticas

A apresentação clínica pode mudar conforme a condição de base. O gigantismo associado a mutações em AIP tende a manifestar-se em meninos adolescentes com histórico familiar de adenomas hipofisários. Na forma X-linked acrogigantism, o crescimento acelera muito cedo, geralmente antes dos dois anos, resultando em estaturas extremamente elevadas. Outras síndromes, como McCune-Albright ou Carney complex, exibem sinais adicionais característicos, como manchas cutâneas, displasias ósseas ou múltiplos tumores hormonais.

Diagnóstico 

Avaliação clínica e de crescimento

O diagnóstico inicia-se com a suspeita em crianças ou adolescentes com estatura acima de 2 a 3 desvios padrão para idade, sexo e origem étnica, associada a velocidade de crescimento acelerada e desproporcional ao estágio puberal. Devem ser analisados altura, peso, envergadura, comprimento do tronco, circunferência cefálica e evolução em curvas de crescimento, comparando também com a altura alvo familiar. A presença de cefaleia, alterações visuais, traços faciais grosseiros, aumento de mãos e pés, atraso puberal e achados cutâneos sindrômicos reforça a hipótese de gigantismo.

Exames laboratoriais hormonais

O principal exame de triagem é a dosagem sérica de IGF1 ajustado para idade, sexo e estágio de Tanner, com valores persistentemente elevados sugerindo excesso de hormônio do crescimento. Em seguida, realiza-se teste de supressão com tolerância oral à glicose, avaliando a queda do GH sérico; níveis que não suprimem sustentam adequadamente o diagnóstico de hipersecreção de GH. A dosagem de prolactina, hormônios tireoidianos, gonadotrofinas, esteroides sexuais e outros eixos hipofisários ajuda a identificar co-secreção hormonal ou deficiência associada, além de caracterizar repercussões sistêmicas.

Estudos de imagem da hipófise

Confirmada a suspeita bioquímica, recomenda-se ressonância magnética de sela túrcica com protocolo específico para hipófise, incluindo sequências em planos sagital e coronal, com contraste. Os achados mais comuns são adenomas hipofisários secretores de GH, frequentemente macroadenomas com extensão extraselar. A imagem permite avaliar tamanho tumoral, invasão de estruturas adjacentes e orientar a abordagem cirúrgica e o seguimento.

Teste genético e investigação de síndromes

Diante de idade muito precoce de início, história familiar de tumores hipofisários ou sinais clínicos sugestivos de síndromes, é indicada avaliação genética molecular. Podem ser pesquisadas variantes em genes associados a adenomas hipofisários e síndromes de predisposição tumoral, o que auxilia na estratificação de risco, no aconselhamento familiar e no planejamento de monitorização a longo prazo.

Diagnóstico diferencial

O gigantismo deve ser diferenciado de estatura alta fisiológica e de outras causas endócrinas ou genéticas de crescimento excessivo. A análise detalhada de curva de crescimento, proporções corporais, idade óssea, história familiar e ausência de sinais de excesso de GH ajuda a distinguir formas benignas, como estatura familiar alta, de quadros patológicos. Outras síndromes de sobrecrescimento, doenças endócrinas com puberdade precoce, hipogonadismo e obesidade também entram no diferencial e exigem investigação dirigida.

Tratamento e prognóstico 

Cirurgia hipofisária como primeira intervenção

A abordagem inicial recomendada é a ressecção do adenoma hipofisário, preferencialmente por via transesfenoidal. O objetivo é reduzir GH e IGF1, aliviar sintomas compressivos e permitir melhor resposta às terapias adjuvantes. Em tumores grandes ou anatomia desfavorável, a cirurgia pode não ser curativa, mas contribui para reduzir a carga tumoral e facilitar o controle clínico. Alguns pacientes necessitam de reoperações, especialmente quando há crescimento residual significativo.

Terapias farmacológicas adjuvantes

A farmacoterapia é utilizada antes da cirurgia para atenuar sintomas e, posteriormente, quando persiste secreção hormonal elevada. Os análogos de somatostatina diminuem GH e IGF1 e podem reduzir o volume tumoral, embora crianças possam apresentar menor resposta. Os agonistas dopaminérgicos são úteis em situações com prolactina elevada ou excesso hormonal leve. O pegvisomanto, que bloqueia a ação periférica do GH, auxilia na normalização de IGF1 e na redução da velocidade de crescimento, sendo particularmente valioso em casos resistentes a outras terapias. Em vários cenários, combina-se mais de um medicamento para alcançar controle adequado.

Radioterapia em casos selecionados

A radioterapia é indicada quando há falha da cirurgia e da farmacoterapia. Modalidades como técnicas conformacionais, estereotáxicas ou próton-terapia podem estabilizar o tumor e reduzir a secreção hormonal. Entretanto, a radioterapia apresenta alto risco de hipopituitarismo, exigindo vigilância prolongada dos eixos hormonais. Em condições específicas, como síndrome de McCune Albright, não deve ser utilizada.

Monitorização e cuidados continuados

O acompanhamento inclui medidas seriadas de IGF1 e GH, imagens periódicas da hipófise e manejo ativo das repercussões metabólicas, cardiovasculares e ortopédicas. Deficiências hipofisárias devem ser tratadas de forma contínua, com ajustes de reposições hormonais conforme a evolução clínica. Muitos pacientes requerem seguimento estendido até a vida adulta.

Prognóstico

O prognóstico do gigantismo depende do controle sustentado dos níveis de GH e IGF1, da estabilização tumoral e da prevenção das complicações endócrinas e sistêmicas. Os adenomas tendem a ser mais volumosos e invasivos do que os observados na acromegalia do adulto, o que reduz a taxa de remissão após cirurgia isolada e frequentemente exige combinações terapêuticas. 

Hipopituitarismo, alterações articulares, distúrbios metabólicos, apneia do sono e disfunções cardiovasculares podem ocorrer ao longo da evolução, especialmente quando há necessidade de radioterapia. 

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Referências Bibliográficas 

  1. EBSCO Information Services. Gigantism – DynaMed. Ipswich, MA: DynaMed; 2025.

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