Resumo de Intoxicação por Gás de Cozinha: sintomas e mais!
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Resumo de Intoxicação por Gás de Cozinha: sintomas e mais!

Olá, querido doutor e doutora! A intoxicação por gás de cozinha representa uma emergência silenciosa e frequentemente subestimada no ambiente domiciliar. A exposição ao gás liquefeito de petróleo (GLP), especialmente em ambientes fechados, pode desencadear desde sintomas leves até quadros graves de asfixia e óbito. 

Embora o GLP não seja intrinsecamente tóxico, sua capacidade de deslocar o oxigênio torna-o potencialmente letal.

Conceito 

O gás de cozinha, tecnicamente denominado gás liquefeito de petróleo (GLP), é uma mistura volátil formada principalmente por propano e butano, amplamente utilizada como combustível em residências, estabelecimentos comerciais e na indústria. Embora esses gases não sejam considerados tóxicos em termos farmacológicos, sua inalação pode desencadear quadros clínicos graves devido à substituição do oxigênio ambiental, provocando hipóxia e, em situações mais severas, asfixia.

Portanto, a intoxicação por GLP é caracterizada não por envenenamento direto, mas sim pela alteração da concentração de oxigênio no ambiente respirado, o que afeta de maneira significativa a função neurológica e respiratória.

Fisiopatologia  

A intoxicação por gás de cozinha ocorre devido à interferência física que o GLP exerce sobre a atmosfera respirada, e não por ação tóxica direta dos seus componentes. Como o propano e o butano são mais pesados que o ar, tendem a se acumular em locais baixos e mal ventilados. Esse acúmulo leva à deslocação do oxigênio, reduzindo sua concentração no ambiente.

A consequência direta dessa alteração é a queda da pressão parcial de oxigênio nos alvéolos, comprometendo a troca gasosa e induzindo um quadro progressivo de hipoxemia. Essa deficiência de oxigênio afeta principalmente o sistema nervoso central, podendo causar desde sonolência e desorientação até convulsões e perda da consciência.

Em concentrações muito elevadas e com exposição prolongada, os componentes do GLP também podem apresentar efeito anestésico sobre o SNC, intensificando a depressão respiratória. O resultado final é a asfixia, que pode evoluir rapidamente para parada respiratória e óbito se o paciente não for removido do ambiente contaminado e não receber oxigenoterapia de forma imediata.

Fatores de risco

  • Ambientes sem ventilação adequada;
  • Armazenamento inadequado de botijões de gás;
  • Instalações com vazamentos não detectados;
  • Ausência de sensores de gás em cozinhas ou áreas técnicas;
  • Tentativas de suicídio por inalação de GLP;
  • Falta de manutenção preventiva em encanamentos e válvulas;
  • Uso de gás em ambientes subterrâneos ou confinados.

Avaliação clínica

​​As manifestações clínicas da intoxicação por gás de cozinha estão diretamente relacionadas à quantidade de GLP inalado e ao tempo de exposição. Inicialmente, quando a concentração de oxigênio no ambiente cai de forma moderada (entre 15–16%), surgem sintomas como cefaleia, náuseas, taquicardia e taquipneia, refletindo a resposta compensatória do organismo à hipoxemia leve. Também podem ocorrer alterações visuais e discreta queda na saturação periférica de oxigênio.

Com a progressão da exposição e queda mais acentuada da concentração de oxigênio (abaixo de 10%), os sintomas se tornam mais intensos. O paciente pode apresentar rebaixamento do nível de consciência, sonolência, tontura, amnésia, euforia paradoxal, e até convulsões. Em casos extremos, instala-se um quadro de asfixia, com cianose, bradipneia e risco iminente de parada cardiorrespiratória.

Vale destacar que, nos quadros leves, os sintomas podem ser inespecíficos e facilmente confundidos com outras causas de mal-estar. Por isso, a suspeita clínica e a correlação com o ambiente são fundamentais para o diagnóstico precoce.

Diagnóstico 

O diagnóstico da intoxicação por gás de cozinha é essencialmente clínico e depende da correlação entre o histórico de exposição ambiental e os sinais de hipóxia observados no exame físico. A maioria dos casos é identificada a partir do relato do próprio paciente ou de testemunhas, que descrevem episódios de vazamento, permanência prolongada em ambientes fechados ou tentativa de suicídio.

Durante a avaliação, é comum encontrar saturação de oxigênio reduzida ao oxímetro de pulso, além de alterações na gasometria arterial, com queda do pO₂ e, eventualmente, acidose respiratória ou mista, refletindo a gravidade da hipoxemia. Embora não existam exames laboratoriais específicos para confirmar a intoxicação por GLP, exames complementares como eletrólitos, função renal, hepática e marcadores de lesão tecidual (como CPK e lactato) ajudam na avaliação das repercussões sistêmicas da exposição.

Por fim, o eletrocardiograma (ECG) pode ser útil para identificar alterações isquêmicas secundárias à hipóxia, principalmente em pacientes com fatores de risco cardiovasculares prévios.

Tratamento 

O manejo da intoxicação por gás de cozinha deve começar com a remoção imediata do paciente da área contaminada, interrompendo a exposição ao GLP. Essa etapa é crítica para evitar a progressão da hipoxemia e reduzir o risco de complicações graves. Uma vez afastado da fonte, o paciente deve receber oxigênio a 100% em alto fluxo, preferencialmente por máscara com reservatório, com fluxo entre 7 a 10 litros por minuto. Essa medida simples costuma ser suficiente para a reversão dos sintomas em casos leves a moderados.

Pacientes com rebaixamento do nível de consciência, comprometimento ventilatório ou convulsões devem ser intubados precocemente para garantir a via aérea pérvia e suporte ventilatório adequado. Além disso, é recomendado iniciar hidratação venosa vigorosa, geralmente com solução fisiológica ou Ringer lactato, visando manter uma diurese adequada e auxiliar na oxigenação tecidual.

Durante todo o atendimento, é necessário realizar monitorização contínua dos sinais vitais, avaliação de eletrólitos, função renal e parâmetros de oxigenação. Evita-se o uso de fármacos com ação depressora do SNC, como benzodiazepínicos, a menos que haja indicação clara, como controle de convulsões. Em situações com instabilidade hemodinâmica ou sinais de falência orgânica, medidas de suporte avançado devem ser instituídas imediatamente.

Como não existe antídoto específico para a intoxicação por GLP, todo o tratamento é baseado em medidas de suporte ventilatório e hemodinâmico, além do monitoramento contínuo da resposta clínica.

Complicações

  • Insuficiência respiratória aguda;
  • Edema pulmonar não cardiogênico;
  • Arritmias cardíacas secundárias à hipóxia;
  • Isquemia miocárdica;
  • Distúrbios neurológicos transitórios ou permanentes;
  • Convulsões refratárias;
  • Parada cardiorrespiratória;
  • Óbito.

Resumo clínico

AspectoDescrição
Composição do GLPMistura de propano e butano
MecanismoDesloca o oxigênio → causa hipoxemia e depressão do SNC
Formas de exposiçãoVazamentos acidentais ou inalação intencional (suicídio)
Sintomas levesCefaleia, taquicardia, náusea, taquipneia, queda da saturação de O₂
Sintomas gravesRebaixamento de consciência, convulsões, cianose, sonolência, parada respiratória
DiagnósticoClínico + gasometria com ↓ pO₂; ECG e exames gerais para complicações
Tratamento inicialRetirada do local + O₂ a 100% em alto fluxo via máscara com reservatório
Indicação de IOTRebaixamento de consciência, instabilidade respiratória
Complicações possíveisInsuficiência respiratória, arritmias, isquemia miocárdica, óbito
PrognósticoFavorável quando o suporte é precoce; risco de sequelas em hipóxia prolongada

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Referências Bibliográficas 

  1. FUKUNAGA, T. et al. Liquefied petroleum gas (LPG) poisoning: report of two cases and review of the literature. Forensic Science International, v. 82, p. 193-200, 1996. 
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