Resumo de Miringite Bolhosa: etiologia, sintomas e mais!
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Resumo de Miringite Bolhosa: etiologia, sintomas e mais!

Olá, querido doutor e doutora! A miringite bolhosa representa uma forma inflamatória aguda da membrana timpânica que provoca dor intensa e pode estar associada à otite média aguda. O reconhecimento precoce e o manejo adequado permitem rápida resolução dos sintomas e evitam complicações auditivas ou intracranianas.

Mais da metade dos pacientes com miringite bolhosa pode apresentar alterações auditivas transitórias, condutivas ou sensorioneurais, durante a fase aguda do quadro.

O que é Miringite bolhosa 

A miringite bolhosa é uma infecção aguda caracterizada pela formação de vesículas ou bolhas na membrana timpânica, geralmente acompanhada de dor intensa e, em alguns casos, otorreia sero-hemorrágica após a ruptura das bolhas. Essas lesões ocorrem sem comprometimento direto do conduto auditivo externo ou da cavidade timpânica, o que diferencia a condição de uma otite média aguda clássica.

Etiologia  

A miringite bolhosa decorre, na maioria das vezes, de infecções virais do trato respiratório superior que se estendem até a membrana timpânica. Entre os vírus mais relacionados estão o vírus sincicial respiratório e os vírus influenza, especialmente durante períodos sazonais de maior circulação respiratória.

Embora as causas virais sejam predominantes, bactérias também podem estar envolvidas, sendo Streptococcus pneumoniae o agente mais frequentemente identificado. Outros microrganismos associados incluem Haemophilus influenzae, Moraxella catarrhalis, Staphylococcus aureus e Streptococcus do grupo A. Em alguns casos, ocorre coinfecção viral e bacteriana, o que aumenta a inflamação e a chance de recorrência.

Relatos mais raros descrevem participação de Mycoplasma pneumoniae, vírus da varicela, Epstein-Barr, sarampo e fungos. Também pode haver aparecimento do quadro após irritação química ou trauma local, quando há inflamação da membrana timpânica sem infecção primária.

Epidemiologia 

A miringite bolhosa ocorre em todas as faixas etárias, mas apresenta maior incidência em crianças e adolescentes, especialmente entre 2 e 8 anos. Em adultos, o quadro é menos frequente e costuma estar associado a episódios de otite média aguda prévia ou recorrente.

Ocorre com predominância no sexo masculino em crianças pequenas e discreta maior frequência em mulheres em faixas etárias mais elevadas. A sazonalidade é marcante, com aumento de casos durante os meses de inverno, período em que há maior prevalência de infecções respiratórias e piora da função da tuba auditiva.

Estima-se que, entre os pacientes com otite média aguda, cerca de 5 a 6% apresentem miringite bolhosa associada, o que representa aproximadamente um caso para cada vinte episódios de otite média aguda. Estudos sugerem ainda que indivíduos acometidos por miringite bolhosa apresentam três vezes mais risco de recorrência de otite média em comparação àqueles sem essa manifestação.

Casos bilaterais são observados em até 16% dos pacientes, e a condição pode acometer mais de um episódio ao longo da vida, principalmente em pessoas com infecções respiratórias de repetição ou alterações anatômicas da tuba auditiva.

Avaliação clínica

Sintomas principais

O sintoma mais marcante da miringite bolhosa é a otalgia intensa e de início súbito, frequentemente descrita como pulsátil ou em pontadas. A dor tende a ser mais severa do que nos casos de otite média aguda simples. Muitos pacientes relatam irradiação para a região mastoidea, occipital ou articulação temporomandibular.

A febre pode estar presente, embora nem sempre seja alta. Em crianças pequenas, a irritabilidade, o choro persistente e o ato de coçar ou esfregar a orelha são manifestações comuns.

Sinais otoscópicos

A otoscopia revela vesículas ou bolhas sobre a membrana timpânica, frequentemente associadas a hiperemia, espessamento e reflexo luminoso diminuído ou ausente. As bolhas podem conter líquido seroso ou hemorrágico. Quando rompem, liberam secreção sanguinolenta e provocam alívio súbito da dor.

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Alterações auditivas e vestibulares

A inflamação da membrana timpânica pode causar hipoacusia condutiva temporária, mais perceptível quando há presença de líquido na orelha média. Em cerca de metade dos casos, observa-se também alteração sensorioneural transitória, cujo mecanismo ainda não está totalmente esclarecido. Episódios de tontura leve ou sensação de desequilíbrio podem ocorrer, mas costumam regredir com a melhora do quadro inflamatório.

Sintomas associados

A miringite bolhosa frequentemente se manifesta junto a sinais de infecção respiratória alta, como rinorreia, congestão nasal e tosse. Esses sintomas reforçam a relação com disfunção da tuba auditiva e infecção nasofaríngea concomitante.

Diagnóstico 

Avaliação clínica

O diagnóstico da miringite bolhosa é essencialmente clínico. O exame otoscópico identifica bolhas translúcidas ou hemorrágicas localizadas na membrana timpânica, geralmente associadas a hiperemia e espessamento. O aspecto típico das vesículas, aliado à queixa de dor intensa, permite o reconhecimento imediato do quadro.

Critérios diferenciais

É importante diferenciar a miringite bolhosa de otite média com efusão, otite externa, dermatoses bolhosas (como pênfigo vulgar e penfigoide bolhoso) e síndrome de Ramsay Hunt, quando há vesículas no conduto auditivo externo. Se as bolhas se estendem além do tímpano, deve-se considerar outras etiologias virais ou dermatológicas.

Exames complementares

Embora o diagnóstico seja clínico, alguns exames podem auxiliar:

  • Audiometria tonal: recomendada para todos os pacientes, a fim de avaliar o grau e o tipo de perda auditiva.
  • Timpanometria: permite estimar a presença de líquido na orelha média e medir a mobilidade da membrana timpânica.
  • Otoscopia pneumática ou vídeo-otoscopia: úteis para documentar a evolução e confirmar o diagnóstico.

Cultura e estudos laboratoriais

A timpanocentese é raramente indicada, mas pode ser realizada em neonatos ou crianças com aparência tóxica, quando há necessidade de confirmar o agente infeccioso e orientar o tratamento antimicrobiano. A aspiração do conteúdo das bolhas também pode aliviar a dor.

Exames laboratoriais rotineiros não são necessários, exceto em lactentes febris menores de 28 dias, nos quais se deve conduzir investigação completa de sepse conforme as diretrizes pediátricas.

Diagnóstico por imagem

Tomografia computadorizada ou ressonância magnética são reservadas para situações com suspeita de complicações intratemporais ou intracranianas, como mastoidite, abscesso epidural, meningite ou colesteatoma.

Tratamento

Analgesia e controle inflamatório

A otalgia intensa exige tratamento analgésico eficaz. Utiliza-se paracetamol ou anti-inflamatórios não esteroides em doses adequadas, podendo associar descongestionantes nasais para melhorar a ventilação da tuba auditiva. Casos refratários podem se beneficiar da aspiração das bolhas durante o exame otoscópico, o que proporciona alívio rápido da dor.

Antibioticoterapia

Como a maioria dos pacientes apresenta cultura bacteriana positiva na secreção do ouvido médio, a antibioticoterapia sistêmica é recomendada como primeira linha.

  • Amoxicilina (80 a 90 mg/kg/dia) é o antimicrobiano preferencial, desde que não tenha sido utilizado nos últimos 30 dias.
  • Em casos de uso recente de amoxicilina, indica-se amoxicilina-clavulanato.
  • Para pacientes alérgicos à penicilina, as opções incluem azitromicina, claritromicina ou cefalosporinas orais como cefdinir, cefpodoxima ou cefuroxima, conforme a gravidade da reação alérgica.

O tratamento tópico com antibióticos e corticoides, quando associado à terapia sistêmica, tem mostrado boa resposta clínica e rápida recuperação da dor e da audição.

Corticoides

Estudos isolados sugerem que o uso de corticoides sistêmicos poderia reduzir a perda auditiva associada à inflamação timpânica, mas não há evidência suficiente para recomendá-los rotineiramente. O manejo deve priorizar antibióticos e analgesia adequada.

Procedimentos cirúrgicos

A miringotomia pode ser indicada em casos refratários, em pacientes com dor intensa persistente ou quando há suspeita de complicações. O procedimento auxilia na drenagem da secreção e na melhora da audição. Em crianças, a colocação de tubo de ventilação pode ser considerada quando há recorrência frequente.

Acompanhamento e seguimento

Recomenda-se reavaliação clínica após o término do antibiótico, com audiometria de controle para verificar a recuperação auditiva. Persistência de efusão por mais de quatro semanas exige investigação otorrinolaringológica detalhada.

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Referências Bibliográficas 

  1. KASINATHAN, Sushma; KONDAMUDI, Noah P. Bullous Myringitis. StatPearls. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing, 2025. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK553029/
  1. CHAMBERS, Tamara N. et al. Acute Otitis Media in Adults. DynaMed. Ipswich (MA): EBSCO Information Services, 2023. Disponível em: https://www.dynamed.com/condition/acute-otitis-media-in-adults

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