Olá, querido doutor e doutora! As náuseas e vômitos na gravidez constituem a manifestação gastrointestinal mais frequente do início da gestação e variam de desconforto leve até quadros severos com repercussões metabólicas. A conduta deve sempre considerar segurança, eficácia e individualização da resposta terapêutica.
Estima-se que até 80% das gestantes apresentem náuseas e metade delas também episódios de vômitos durante o primeiro trimestre.
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O que são náuseas e vômitos na gravidez
Náuseas e vômitos na gravidez representam um espectro de manifestações gastrointestinais que surgem, em geral, nas primeiras semanas de gestação, variando de desconforto leve a quadros incapacitantes. Estima-se que até 80% das gestantes apresentem algum grau de náusea, e cerca de metade delas também relatem episódios de vômitos.
Classificação
A intensidade das náuseas e vômitos na gravidez varia amplamente, sendo classificada de acordo com sintomas, impacto funcional e necessidade de suporte clínico. Essa diferenciação orienta o manejo e permite monitorar a resposta terapêutica.
O quadro pode ser dividido em três níveis:
- Leve: náuseas ocasionais, sem repercussões clínicas ou laboratoriais. A gestante mantém alimentação e hidratação adequadas, sem perda de peso significativa.
 
- Moderado: náuseas e vômitos mais frequentes, com redução da ingesta alimentar e possível perda de peso discreta. Há impacto nas atividades diárias, mas a paciente ainda consegue manter ingestão oral parcial.
 
- Grave (Hiperêmese gravídica): vômitos persistentes e intensos, perda superior a 5% do peso corporal pré-gestacional, desidratação, distúrbios eletrolíticos e possível necessidade de internação hospitalar para reposição hídrica e controle de sintomas.
 
Para avaliação objetiva da gravidade, utiliza-se o Pregnancy-Unique Quantification of Emesis (PUQE), que considera a duração da náusea e o número de episódios de vômito e de engasgos secos nas últimas 12 ou 24 horas.
A pontuação final permite classificar os sintomas como:
- Leves: até 6 pontos;
 
- Moderados: de 7 a 12 pontos;
 
- Graves: 13 pontos ou mais.
 
Em casos de hiperêmese gravídica, pode-se utilizar o Hyperemesis Level Prediction (HELP), instrumento que avalia 12 itens relacionados à gravidade clínica e resposta ao tratamento, classificando o quadro em leve, moderado ou severo.
Epidemiologia
As náuseas e vômitos na gravidez são altamente prevalentes, afetando de 50% a 80% das gestantes em algum momento do início da gestação. A presença isolada de náusea ocorre em até 80% dos casos, enquanto a associação com vômitos aparece em aproximadamente 50% das pacientes.
A hiperêmese gravídica corresponde à forma grave do espectro e ocorre em cerca de 0,3% a 3% das gestações, sendo uma das principais causas de hospitalização no primeiro trimestre e a segunda causa de internação durante a gravidez, superada apenas pelo trabalho de parto prematuro.
Em torno de 15% a 81% das mulheres relatam recorrência dos sintomas em gestações subsequentes, e a chance de reaparecimento da hiperêmese gravídica pode alcançar até 89% em pacientes com histórico prévio.
A condição apresenta maior frequência em mulheres jovens, primigestas, não fumantes e com gestações múltiplas ou mola hidatiforme, situações associadas a maiores níveis de gonadotrofina coriônica humana (hCG).
Observa-se ainda discreta predominância em gestantes que carregam fetos do sexo feminino. Fatores genéticos também contribuem, uma vez que filhas de mulheres acometidas pela condição apresentam risco aumentado de desenvolver o mesmo quadro.
Avaliação clínica
A avaliação clínica das náuseas e vômitos na gravidez deve começar com uma anamnese detalhada e um exame físico direcionado para confirmar a natureza gestacional dos sintomas e excluir outras causas de vômitos.
O médico deve investigar o início, frequência e duração dos episódios, além de registrar o impacto funcional, a tolerância alimentar e a variação ponderal recente. A história clínica deve incluir uso de medicamentos, presença de doenças gastrointestinais, endócrinas ou infecciosas, e episódios prévios de náuseas e vômitos em gestações anteriores.
Durante o exame físico, é importante observar sinais de desidratação (mucosas secas, taquicardia, hipotensão, diurese reduzida) e perda ponderal superior a 5% do peso pré-gestacional, que indicam maior gravidade. Em casos avançados, podem ocorrer alterações neurológicas associadas à deficiência de tiamina, como confusão, nistagmo e ataxia, sugestivas de encefalopatia de Wernicke.
A avaliação laboratorial é indicada quando há vômitos persistentes, perda de peso significativa ou sinais clínicos de descompensação. O conjunto mínimo de exames inclui:
- Hemograma completo, para investigar anemia e infecção;
 
- Eletrólitos séricos, ureia e creatinina, para detectar distúrbios eletrolíticos e desidratação;
 
- Função hepática e amilase, que podem estar discretamente elevadas na hiperêmese gravídica;
 
- Hormônio tireoestimulante (TSH) e T4 livre, pois níveis alterados podem ocorrer por estímulo mediado pela gonadotrofina coriônica humana;
 
- EAS com cetonúria e densidade urinária aumentada, indicativos de desidratação.
 
A ultrassonografia obstétrica deve ser realizada quando há suspeita de gestação múltipla ou mola hidatiforme, situações associadas a altos níveis de hCG e maior risco de sintomas intensos.
O uso de instrumentos validados, como o Pregnancy-Unique Quantification of Emesis (PUQE), auxilia a mensurar a gravidade e acompanhar a evolução clínica, permitindo ajustar o tratamento de forma individualizada.
Tratamento
Medidas dietéticas e comportamentais
Recomenda-se alimentação fracionada e leve, evitando alimentos gordurosos, condimentados e de odor intenso. A ingestão de líquidos deve ser feita em pequenos volumes e em intervalos regulares. É útil substituir suplementos que contenham ferro por opções com baixo teor de ferro quando houver intolerância. O repouso e a redução de estímulos sensoriais ajudam no controle dos sintomas.
Terapias não farmacológicas
Podem ser utilizados extratos de gengibre e acupressão no ponto P6 como alternativas seguras, principalmente em casos leves a moderados. Essas medidas podem reduzir a intensidade das náuseas e o uso de medicamentos.
Tratamento farmacológico
O manejo segue uma abordagem escalonada.
- Primeira linha: uso de piridoxina isolada ou associada à doxilamina.
 
- Segunda linha: anti-histamínicos e fenotiazinas.
 
- Etapas seguintes: metoclopramida e ondansetrona, ajustando conforme resposta e tolerância. A ondansetrona deve ser usada com cautela em pacientes com risco de prolongamento do intervalo QT.
 
- Resgate: em refratariedade, pode-se empregar corticosteroides por curto período, com suspensão se não houver melhora em até três dias.
 
Hidratação e suporte
Em casos de desidratação, realiza-se hidratação intravenosa com solução salina e eletrólitos. A tiamina deve ser administrada antes de soluções glicosadas para prevenir encefalopatia de Wernicke. Antiêmicos podem ser aplicados por via parenteral ou retal quando a via oral é inviável.
Suporte nutricional e internação
Se houver perda de peso persistente, indica-se nutrição enteral; a nutrição parenteral fica reservada a casos graves. Durante a internação, recomenda-se tromboprofilaxia com heparina de baixo peso molecular. A alta ocorre quando há tolerância oral e estabilidade clínica.
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Referências Bibliográficas
- DYNAMED. Nausea and Vomiting in Pregnancy. Ipswich, MA: EBSCO Information Services, 2025. Disponível em: https://www.dynamed.com/condition/nausea-and-vomiting-in-pregnancy.
 



