Resumo de Papilomatose Respiratória Recorrente
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Resumo de Papilomatose Respiratória Recorrente

Olá, querido doutor e doutora! A papilomatose respiratória recorrente é uma condição benigna ligada ao HPV (tipos 6 e 11) que faz crescer papilomas na laringe e, por vezes, em outros trechos das vias aéreas. O paciente chega com disfonia persistente e, em fases ativas, pode apresentar estridor e dispneia

Na prática, a meta diária é respirar sem sustos e usar a voz com conforto, mesmo sabendo que a doença pode voltar.

O que é Papilomatose Respiratória Recorrente 

Papilomatose Respiratória Recorrente é uma doença causada pelo HPV, especialmente os tipos 6 e 11, marcada pelo crescimento de papilomas benignos ao longo do trato respiratório, com preferência pela laringe e tendência a recidivas após a remoção. As lesões são exofíticas, podem surgir em mais de um ponto das vias aéreas e variam em ritmo de crescimento.

Epidemiologia 

A papilomatose respiratória recorrente é rara. Ocorre em dois perfis principais: início juvenil, mais comum nas primeiras décadas de vida, e início no adulto, geralmente entre 30 e 50 anos. Em crianças, a apresentação costuma ser mais intensa, com intervalos curtos entre procedimentos; em adultos, o curso tende a ser mais lento, embora variável.

distribuição por ambos os sexos, com relatos de leve predominância masculina em algumas séries. A laringe é o sítio mais afetado, mas as lesões podem se estender para traqueia e, menos frequentemente, para brônquios e parênquima pulmonar.

Os tipos HPV 6 e 11 predominam; quando o 11 está presente, observa-se com mais frequência doença de maior agressividade. No início juvenil, existe associação descrita com exposição perinatal ao HPV. Fatores obstétricos como parto vaginal com lesões genitais ativas, primiparidade e trabalho de parto prolongado aparecem de forma recorrente em relatos, embora a maioria dos expostos não desenvolva papilomatose respiratória recorrente.

Classificação

Idade de início: divide-se em início juvenil e início no adulto. A forma juvenil surge antes dos 18 anos, costuma ter curso mais ativo e demanda intervalos menores entre procedimentos. A apresentação no adulto tende a ser mais lenta, porém heterogênea, podendo alternar períodos de estabilidade com recidivas.

Extensão anatômica: a doença pode ficar restrita à laringe ou avançar para traqueia e árvore brônquica. Em cenários raros, há acometimento pulmonar, com nódulos ou cistos no parênquima. Mapear os sítios ajuda a prever risco de obstrução e a planejar a estratégia cirúrgica.

Gravidade clínica: classifica-se em leve, moderada e acentuada, combinando extensão das lesões, impacto na voz e risco ventilatório. Quadros leves têm recidivas espaçadas e mínima alteração vocal; os moderados mantêm disfonia e exigem manejos periódicos. Na forma acentuada, as recidivas são frequentes e pode haver necessidade temporária de traqueostomia.

Atividade da doença: em fase latente, não se observa crescimento entre consultas; em fase ativa, há repovoamento mensurável e necessidade de novo controle endoscópico. Considera-se agressiva quando há múltiplos sítios, rápido retorno após a remoção e piora sintomática a curto prazo. Essa leitura orienta o ritmo de seguimento.

Perfil histológico: predomina o papiloma escamoso sem displasia, mas podem surgir graus leves a moderados de displasia. Sinais de transformação maligna são raros e exigem investigação dirigida e vigilância estreita. A histologia complementa a avaliação de risco.

Impacto na via aérea e na voz: quando sem obstrução relevante, a queixa principal é a disfonia e a fadiga vocal. Em obstrução parcial, surgem estridor aos esforços e piora com infecções respiratórias. Diante de obstrução crítica, prioriza-se a desobstrução rápida para segurança respiratória e, depois, o refinamento fonatório.

Avaliação clínica

Sintomas iniciais

O começo costuma ser silencioso e progressivo. A queixa mais frequente é rouquidão persistente, com fadiga vocal ao fim do dia e quebra de voz em notas agudas. Em crianças, pais relatam “voz áspera” desde cedo. Em adultos, a percepção é de piora gradual do timbre e do alcance vocal.

Manifestações vocais

A disfonia varia conforme localização e volume das lesões. Observa-se instabilidade fonatória, redução do tempo máximo de fonação, sopro vocal e, em fases mais avançadas, episódios de afonia. Profissionais da voz notam perda de projeção e cansaço mesmo em tarefas simples.

Sinais de obstrução de via aérea superior

Lesões volumosas ou em subglote e comissura anterior geram estridor, dispneia aos esforços, retratações supraclaviculares e taquipneia. Infecções de vias aéreas altas e choro em crianças podem descompensar rapidamente, exigindo avaliação urgente. Em lactentes, podem ocorrer pausas respiratórias e dificuldade para mamar.

Manifestações respiratórias inferiores

Quando há extensão traqueobrônquica, surgem tosse crônica, sibilos persistentes, infecções respiratórias recorrentes e, em casos raros, hemoptise leve. Pneumonias de repetição ou atelectasias segmentares levantam suspeita de acometimento distal.

Achados ao exame físico

A ausculta pode ser normal em estágios iniciais ou revelar estridor inspiratório. Em crianças, a combinação de voz áspera, estridor variável e história de “crupe de repetição” é pista clínica importante. A oximetria costuma ser normal fora de intercorrências, mas pode cair em crises obstrutivas.

Padrão evolutivo e gatilhos

O curso é recorrente, com períodos de melhora após debulking e repovoamento em semanas ou meses. Infecções virais, uso intenso da voz e refluxo laringofaríngeo podem agravar sintomas. Alguns pacientes permanecem longos períodos estáveis, enquanto outros apresentam recidivas frequentes.

Particularidades pediátricas

Em crianças pequenas, além da voz rouca, são comuns dificuldade de ganho ponderal por esforço respiratório, sono agitado com roncos e despertares e maior vulnerabilidade a infecções virais. A rotina escolar pode sofrer com fadiga e limitações em atividades físicas.

Diagnóstico 

Exame clínico e sinais de alarme

Avalie esforço respiratório, estridor em repouso, retratações e saturação. Sinais de obstrução significativa indicam prioridade para desobstrução de via aérea e avaliação endoscópica breve. Fora de intercorrência, o exame pode ser pouco expressivo.

Laringoscopia flexível no consultório

A nasofibrolaringoscopia confirma a suspeita ao mostrar lesões exofíticas esbranquiçadas ou avermelhadas, em “couve-flor”, que podem ocupar supraglote, glote e subglote. O exame define a localização dominante, estima volume e orienta a necessidade de abordagem no centro cirúrgico. Quando disponível, narrow band imaging ajuda a delimitar margens e áreas satélites.

Laringoscopia direta e biópsia

A confirmação é histopatológica. Durante a laringoscopia direta sob anestesia, realiza-se debulking terapêutico e coleta de biópsia. O laudo típico descreve papiloma escamoso com eixo fibrovascular e alterações citopáticas compatíveis com HPV. Em casos de evolução atípica, solicita-se pesquisa de displasia.

Estadiamento e documentação

Registre sítios acometidos, tamanho relativo, mobilidade das pregas vocais e grau de obstrução. Fotos e vídeos seriados padronizam o seguimento. O uso de um escore de extensão e gravidade ajuda a comparar consultas e a avaliar resposta a adjuvância.

Exames complementares

A estroboscopia caracteriza a vibração glótica quando a via aérea está segura. Tomografia do pescoço e tórax é indicada diante de suspeita de extensão subglótica ou traqueobrônquica, recidivas muito precoces, pneumonias de repetição ou sinais de comprometimento pulmonar. Broncoscopia é útil quando há estridor traqueal, sibilância inexplicada ou atelectasias segmentares persistentes.

Testes para HPV

A detecção de HPV e a genotipagem podem ser realizadas no tecido, mas não são obrigatórias para condução rotineira. Quando feitas, servem para registro clínico e pesquisa, além de orientar discussões sobre prevenção para familiares.

Diagnósticos diferenciais

Em pediatria, diferencie de laringotraqueíte recorrente, hemangioma subglótico, corpo estranho e laringomalácia tardia. Em adultos, considere edema de Reinke, nódulos ou pólipos de pregas vocais, granuloma de contato e lesões premalignas. Asma e bronquite crônica podem mascarar estridor, sobretudo quando a doença se estende abaixo da laringe.

Tratamento

Princípios do manejo

As metas são garantir via aérea segura, preservar a voz e aumentar o intervalo livre de recidiva, combinando desobstrução endoscópica e, quando necessário, adjuvantes.

Abordagem cirúrgica

A laringoscopia direta com debulking é a base. Use microdebridador ou laser conforme localização e volume, sempre protegendo a margem vibratória e evitando lesão cicatricial. Traqueostomia fica para obstrução crítica ou via aérea difícil, com retirada precoce após estabilização.

Adjuvância quando indicar

Considere adjuvantes em recidivas muito frequentes, repovoamento rápido, extensão subglótica ou traqueobrônquica ou impacto funcional relevante. Opções incluem cidofovir intralesional em séries pós debridamento, bevacizumabe intralesional ou sistêmico em doença agressiva e, em cenários selecionados, interferon ou outras estratégias conforme disponibilidade e tolerância.

Cuidados complementares e seguimento

Inclua fonoaudiologia e higiene vocal, trate refluxo laringofaríngeo quando presente e evite irritantes. Oriente sinais de alerta como estridor em repouso, piora respiratória e hemoptise. Defina o intervalo de retorno conforme o comportamento inicial da doença e registre tempo livre de recidiva, qualidade vocal e necessidade de novas intervenções para ajustar o plano ao longo do seguimento.

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Referências Bibliográficas 

  1. DYNAMED. Human Papillomavirus (HPV) Infection. Ipswich, MA: EBSCO Information Services, 2025.
  2. UNITED STATES. National Institute on Deafness and Other Communication Disorders (NIDCD). Recurrent respiratory papillomatosis or laryngeal papillomatosis. Bethesda, MD: National Institutes of Health, 2017. 

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