Resumo de Paragonimíase: transmissão, sintomas e mais!
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Resumo de Paragonimíase: transmissão, sintomas e mais!

Olá, querido doutor e doutora! Paragonimíase é uma zoonose parasitária pouco lembrada na prática clínica, mas ainda presente em diversas regiões do mundo, sobretudo em contextos de exposição alimentar específica. O reconhecimento dos aspectos epidemiológicos, clínicos e diagnósticos permite diferenciar essa infecção de outras doenças respiratórias e neurológicas.

O consumo de crustáceos de água doce crus ou insuficientemente cozidos está diretamente relacionado à transmissão da paragonimíase em áreas endêmicas.

O que é Paragonimíase 

A paragonimíase é uma parasitose causada por trematódeos do gênero Paragonimus, adquirida principalmente pela ingestão de crustáceos de água doce crus ou mal cozidos, como caranguejos e lagostins, contendo metacercárias viáveis. Após a infecção, o parasita migra do trato gastrointestinal para outros tecidos, com predomínio de acometimento pulmonar, onde pode gerar um quadro inflamatório crônico.

Agente etiológico   

A paragonimíase é causada por trematódeos do gênero Paragonimus, helmintos da classe Trematoda, conhecidos como vermes pulmonares. Diversas espécies são capazes de infectar humanos, com destaque para Paragonimus westermani, a mais frequentemente associada a casos humanos em áreas endêmicas.

Outras espécies envolvidas incluem Paragonimus kellicotti, relacionada a casos esporádicos nas Américas, além de P. heterotremus, P. skrjabini e P. africanus, cuja distribuição varia conforme a região geográfica. Esses parasitas possuem ciclo de vida complexo, envolvendo moluscos e crustáceos de água doce como hospedeiros intermediários, e podem utilizar mamíferos silvestres como hospedeiros paratênicos.

Ovo de Paragonimus westermani. Dynamed.

Epidemiologia e fatores de risco

Distribuição geográfica e magnitude da doença

A paragonimíase apresenta distribuição global, com maior prevalência em regiões da Ásia Oriental e Sudeste Asiático, além de áreas endêmicas na África Ocidental e em partes da América Latina. A infecção humana permanece subestimada em muitos países, devido à variabilidade clínica, à semelhança com doenças respiratórias mais prevalentes e à limitação de métodos diagnósticos em regiões endêmicas.

Grande parte dos indivíduos infectados apresenta formas assintomáticas ou quadros leves, o que contribui para a manutenção da transmissão. A forma pulmonar é a apresentação mais frequente, enquanto as manifestações extrapulmonares, embora menos comuns, estão associadas a maior gravidade clínica.

Populações e contextos de maior risco

A doença é mais comum em populações residentes em áreas rurais ou ribeirinhas, onde há contato frequente com ambientes de água doce e consumo tradicional de alimentos preparados de forma inadequada. Casos também são descritos em viajantes ou indivíduos expostos de maneira ocasional em atividades recreativas.

Fatores de risco associados

Os principais fatores de risco para infecção incluem:

  • Ingestão de crustáceos de água doce crus ou mal cozidos, como caranguejos e lagostins;
  • Consumo de carnes cruas ou mal cozidas de hospedeiros paratênicos, como javalis e cervos;
  • Práticas culturais alimentares que envolvem preparo insuficiente dos alimentos; e
  • Exposição ocupacional ou recreativa a ambientes aquáticos endêmicos.

Ciclo de transmissão 

Eliminação dos ovos no ambiente

Os ovos do Paragonimus são eliminados pelo escarro ou pelas fezes de hospedeiros infectados. Em contato com a água doce, esses ovos eclodem, liberando miracídios móveis, que iniciam a fase ambiental do ciclo.

Primeiro hospedeiro intermediário

Os miracídios penetram em caramujos de água doce, onde passam por estágios larvários sucessivos, com multiplicação assexuada. Ao final desse processo, são liberadas larvas capazes de infectar o próximo hospedeiro.

Segundo hospedeiro intermediário

As larvas infectam crustáceos de água doce, como caranguejos e lagostins, nos quais se transformam em metacercárias, forma infectante para o ser humano. Essas metacercárias permanecem viáveis no tecido do crustáceo.

Transmissão ao ser humano

A infecção humana ocorre pela ingestão de crustáceos crus ou mal cozidos contendo metacercárias, ou pela ingestão de carne crua de hospedeiros paratênicos, como alguns mamíferos silvestres.

Migração e maturação no hospedeiro humano

Após a ingestão, as metacercárias atravessam a parede intestinal, migram pela cavidade abdominal e pleural e atingem principalmente o pulmão, onde amadurecem, formam cistos e passam a produzir ovos, que podem ser eliminados e reiniciar o ciclo em ambientes aquáticos.

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Avaliação clínica

Fase inicial da infecção

Nas fases iniciais, a paragonimíase pode ser assintomática ou cursar com manifestações inespecíficas relacionadas à migração do parasita a partir do trato gastrointestinal. Quando presentes, os sintomas incluem febre, dor abdominal, diarreia e mal estar geral, surgindo poucos dias após a ingestão das metacercárias.

Manifestações pleurais

Durante a migração pela cavidade pleural, podem ocorrer sintomas respiratórios iniciais, como dispneia aos esforços, fadiga e dor torácica, frequentemente associados a derrame pleural ou, em alguns casos, pneumotórax.

Forma pulmonar

A forma pulmonar representa a apresentação mais comum da doença. Os pacientes podem apresentar tosse crônica, hemoptise, dispneia e dor torácica. O escarro pode ter coloração ferruginosa e conter sangue, material necrótico e estruturas parasitárias. Sintomas sistêmicos como febre, fadiga e redução do apetite também podem estar presentes.

Formas extrapulmonares

As formas extrapulmonares resultam da migração aberrante do parasita e apresentam manifestações variadas conforme o local acometido. Na paragonimíase cerebral, são descritos cefaleia, náuseas, vômitos, convulsões, déficits neurológicos focais e alterações cognitivas. A forma cutânea pode se manifestar como nódulos subcutâneos dolorosos e migratórios, geralmente localizados no tórax ou abdome. O acometimento abdominal pode cursar com dor localizada e massas inflamatórias.

Diagnóstico 

Avaliação clínica e epidemiológica

O diagnóstico da paragonimíase deve ser considerado em pacientes com sintomas respiratórios crônicos, especialmente tosse com hemoptise, associados a história de ingestão de crustáceos de água doce crus ou mal cozidos ou exposição em áreas endêmicas. A correlação entre manifestações clínicas e antecedentes epidemiológicos é determinante para a suspeição diagnóstica.

Métodos parasitológicos

A confirmação pode ser obtida pela identificação de ovos de Paragonimus em amostras de escarro, fezes ou material de biópsia. A detecção costuma ocorrer semanas após a infecção, quando os vermes atingem maturidade e iniciam a oviposição. Em fases iniciais ou em formas extrapulmonares, os ovos podem não estar presentes.

Métodos sorológicos

Os testes sorológicos auxiliam principalmente nos casos em que a pesquisa de ovos é negativa. Ensaios imunológicos, como testes baseados em detecção de anticorpos, apresentam boa sensibilidade e são úteis tanto na forma pulmonar quanto nas manifestações extrapulmonares, incluindo o acometimento neurológico.

Achados laboratoriais complementares

Alterações inespecíficas podem apoiar o diagnóstico, como eosinofilia periférica, leucocitose e elevação dos níveis de IgE, especialmente nas fases ativas da infecção.

Exames de imagem

Os exames de imagem contribuem para a avaliação da extensão da doença e das complicações. Achados pulmonares e neurológicos são variados e, isoladamente, não confirmam o diagnóstico, devendo sempre ser interpretados em conjunto com dados clínicos, laboratoriais e epidemiológicos.

Tratamento e prevenção

Tratamento farmacológico

O tratamento da paragonimíase baseia se no uso de praziquantel, administrado por via oral, com esquemas de curta duração e altas taxas de resolução clínica e parasitológica. Em alguns pacientes, pode ser necessária a repetição do tratamento, especialmente na presença de persistência dos sintomas ou achados radiológicos.

Nas formas com acometimento do sistema nervoso central, pode ser considerada a associação de corticosteroides por curto período, com o objetivo de reduzir a resposta inflamatória desencadeada pela morte dos parasitas. Os efeitos adversos do tratamento costumam ser leves e transitórios, incluindo sintomas gastrointestinais e neurológicos leves.

Em situações específicas, como intolerância ao praziquantel ou resposta inadequada, outros antiparasitários podem ser utilizados. O manejo cirúrgico é reservado para casos selecionados, como complicações pleurais ou formas extrapulmonares acessíveis.

Prevenção e medidas de controle

A prevenção da paragonimíase está relacionada principalmente à segurança alimentar. A principal medida consiste em evitar o consumo de crustáceos de água doce crus ou mal cozidos, garantindo preparo térmico adequado antes da ingestão.

Outras estratégias incluem educação em saúde em áreas endêmicas, orientação sobre riscos associados a práticas alimentares tradicionais e vigilância de casos em populações expostas. Em alguns contextos, programas de rastreamento podem ser utilizados para identificação precoce da infecção e redução da transmissão comunitária.

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Veja também

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Referências bibliográficas 

  1. CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION. Paragonimiasis. Atlanta: CDC, 2020.
  2. DYNAMED. Paragonimiasis. Ipswich: EBSCO Information Services, 2025. Atualizado em 19 maio 2024.

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