Fala, Estrategistas! Vocês avaliam seus pacientes quanto a risco ou presença de sarcopenia? Esta é uma condição frequente na população idosa mais frágil e todos nós devemos saber realizar o correto manejo desta condição. Para isso, existem manuais nacionais e consensos internacionais para guiar nossas condutas. Vamos conferir os pontos mais importantes delas agora!
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Definição da doença
A sarcopenia é uma das síndromes geriátricas que acometem esse subgrupo de indivíduos vulneráveis, caracterizado por distúrbio muscular esquelético progressivo e generalizado envolvendo a perda acelerada de massa e função muscular que está associada a resultados adversos aumentados, incluindo quedas, declínio funcional, fragilidade e mortalidade.
Desta forma, a sarcopenia é definida por baixos níveis de medidas para três parâmetros:
- força muscular;
- quantidade/qualidade muscular; e
- desempenho físico como indicador de gravidade.
Epidemiologia e fisiopatologia de sarcopenia
A prevalência de sarcopenia na população está diretamente relacionada ao envelhecimento. Em indivíduos com idade entre 60 e 70 anos varia de 5% a 13%, enquanto entre os idosos com mais de 80 anos pode oscilar de 11% a 50%. Atualmente, no Brasil, a expectativa de vida que era de 43 anos elevou-se para 74 anos de idade segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.
A sarcopenia e o risco de queda caminham juntos nos dados epidemiológicos, sendo a queda considerada a terceira causa de incapacidade crônica. O internamento por queda da própria altura do idoso está relacionada a alta taxa de mortalidade intra-hospitalar em mais de 80% dos casos em 5 anos.
As causas de sarcopenia são multifatoriais e incluem o desuso, disfunção endócrina, doenças crônicas, inflamação, resistência à insulina e deficiências nutricionais. As causas primárias estão relacionadas à perda de massa e força muscular relacionada à idade. Causas secundárias relacionam-se a baixa ingestão energética e/ou protéica, deficiência de micronutrientes, má-absorção e outras condições gastrintestinais, como anorexia e problemas orais.
Todas essas causas parecem compartilhar o aumento da gordura intramuscular em comparação com controles saudáveis.
Manifestações clínicas e critérios diagnósticos de sarcopenia
As principais manifestações da sarcopenia incluem a perda da capacidade de caminhar, força muscular, equilíbrio e flexibilidade.
Em 2019, o European Working Group on Sarcopenia in Older People 2 (EWGSOP2) revisou seu consenso atualizando a definição e o algoritmo para o diagnóstico de sarcopenia.
O EWGSOP2 recomenda o uso do questionário SARC-F como forma de obter autorrelatos de pacientes sobre sinais característicos de sarcopenia. O SARC-F é um questionário de 5 itens que é autorrelatado pelos pacientes como uma triagem para o risco de sarcopenia e pode ser facilmente usado em cuidados de saúde comunitários e outros ambientes clínicos.
Se a triagem for positiva ou houver suspeita clínica de sarcopenia, recomenda-se o uso de um dinamômetro para medida da força de preensão palmar ou o teste de sentar e levantar da cadeira.
Considera-se diminuição da força de preensão palmar quando esta for < 27kg para homens e < 16kg para mulheres e, prejuízo no teste de sentar e levantar da cadeira quando o desempenho for > 15 segundos para cinco subidas.
Se esses testes forem positivos, o paciente provavelmente possui sarcopenia. Para confirmar a condição por detecção de baixa quantidade e qualidade muscular, aconselha-se o uso da absorciometria de dupla energia por raios X (DEXA), análise de bioimpedância elétrica (BIA), tomografia computadorizada (TC) ou ressonância magnética (RM).
Para avaliar a gravidade da sarcopenia, é indicado a avaliação de performance física, que inclui velocidade de marcha, teste de equilíbrio e teste de sentar e levantar, além do Timed Up and Go Test (TUGT).
A velocidade de marcha é o teste mais acessível desses descritos acima, sendo que uma há uma lentidão quando a velocidade de caminha é ≤ 0,8 m/s, fechando o diagnóstico de sarcopenia grave.
Manejo da sarcopenia
A base para o manejo da sarcopenia é o treinamento resistido, alimentação com reposição proteica e calórica adequada e, em alguns casos, suplementação nutricional.
A realização de um treinamento progressivo de exercícios resistidos é o que temos com maior nível de evidência científica para melhorar a massa, a força muscular e o desempenho físico. O treinamento deve ser realizado, no mínimo, de duas a três vezes por semana.
A recomendação diária de consumo proteico para um idoso saudável no intuito de evitar a sarcopenia varia de 1,0 e 1,2 g/kg/dia. Nos casos de tratamento da sarcopenia recomenda-se o consumo de 1,2 a 1,5 g/kg/dia.
Em relação a reposição calórica, idosos com peso adequado devem consumir 30 kcal/kg/dia e para aqueles com baixo peso recomenda-se um consumo de 32 a 38 kcal/kg/dia.
A suplementação nutricional é indicada nos casos em que a ingestão calórica seja menor que 70% das necessidades diárias. Para idosos com desnutricão ou em risco de desnutrição deve-se fornecer pelo menos 400 kcal/dia, incluindo 30g ou mais de proteína/dia.
#Ponto importante: Uma metanálise incluiu 1.888 idosos com média etária de 79 anos de alto risco para sarcopenia e verificou-se que os indivíduos que realizaram exercício resistido e suplementação nutricional oral apresentaram melhora na massa magra total, na força de membros inferiores e na deambulação quando comparados aos que utilizaram placebo como suplemento, realizaram somente suplementação, realizaram somente exercício ou não realizaram nenhuma intervenção.
As evidências científicas atuais são insuficientes para recomendar o uso de medicamentos para o tratamento de primeira linha da sarcopenia. A reposição de vitamina D em idosos com baixos níveis séricos, definidos geralmente por valores abaixo de 20 ng/ml de 25(OH) vitamina D, deve ser realizada de acordo com o julgamento clínico.
Outras terapias têm resultados controversos ou evidências insuficientes, como reposição de insulina, testosterona dehi-droepiandrosterona (DHEA), hormônio do crescimento (GH), fator de crescimento semelhante à insulina (IGF-1) e paratormônio (PTH).
Veja também:
Referências bibliográficas:
- Baptistella MKCS, Gomes LF, Paz<sup>3 RC, 4</sup> , Fortes RC, Sottomaior CLC, et al. Análise do risco de sarcopenia (SARC-F) e da força de preensão palmar (FPP) em uma idosa com insuficiência cardíaca. Brasília Med 2021. Disponível: https://rbm.org.br/how-to-cite/374/pt-BR
- Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG). Manual de Recomendações para diagnóstico e tratamento da sarcopenia no Brasil. 2022. Disponível em SBGG.
- Writing Group for the European Working Group on Sarcopenia in Older People 2 (EWGSOP2), and the Extended Group for EWGSOP2. Sarcopenia: revised European consensus on definition and diagnosis. Age Ageing. 2019 Jan 1;48(1):16-31. doi: 10.1093/ageing/afy169. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6322506/
- Crédito da imagem em destaque: Pexels