Olá, querido doutor e doutora! A Tinea barbae é uma infecção dermatofítica rara que acomete a pele e os pelos das áreas de barba e bigode, geralmente em homens adultos e adolescentes. Este texto explora os aspectos principais da doença, incluindo conceito, fisiopatologia, epidemiologia, diagnóstico, tratamento e possíveis complicações, com base em evidências atualizadas. Conhecer suas características é fundamental para o diagnóstico precoce e manejo eficaz, evitando sequelas e complicações associadas.
A Tinea barbae inflamatória pode evoluir com querions, caracterizados por nódulos dolorosos, exsudativos e com drenagem purulenta.
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Conceito de Tinea Barbae
A Tinea barbae é uma infecção fúngica superficial que acomete as áreas com pelos da barba e bigode, sendo limitada às regiões do rosto e pescoço. Causada por dermatófitos, especialmente de origem zoofílica e, em menor frequência, antropofílica, caracteriza-se pela invasão de estruturas queratinizadas, como a pele, pelos e folículos pilosos. A doença ocorre predominantemente em homens adultos ou adolescentes, devido à presença de pelos na face a partir da puberdade, e é considerada incomum em mulheres e crianças.
Como ocorre a Tinea Barbae
A Tinea barbae é causada por dermatófitos, fungos queratinofílicos que colonizam estruturas queratinizadas, como a epiderme e os pelos. O processo infeccioso inicia-se com a inoculação das artroconídias (esporos fúngicos) na superfície da pele, onde se fixam às queratinócitos por meio de microfibrilas de carboidratos. Esses esporos germinam e formam hifas, que penetram nas camadas mais profundas do estrato córneo, liberando enzimas como queratinases, proteases e elastases. Essas enzimas degradam a queratina, permitindo a sobrevivência e a disseminação do fungo.
A interação entre os fatores específicos do fungo, como a liberação de metabólitos inflamatórios e toxinas, e os mecanismos de defesa do hospedeiro resulta na ativação de citocinas e interleucinas. Esse processo pode desencadear uma inflamação mais intensa, especialmente nas infecções causadas por dermatófitos de origem zoofílica. Nessas situações, a reação imunológica exacerbada pode levar à formação de lesões características, como os querions, que apresentam nódulos eritematosos, exsudação e drenagem purulenta.
Fatores de Risco da Tinea Barbae
A Tinea barbae é uma dermatofitose rara, com prevalência maior em áreas rurais, especialmente em regiões com temperaturas elevadas e alta umidade, que favorecem o crescimento dos fungos. Embora casos sejam reportados em todo o mundo, a doença é incomum em países desenvolvidos, onde hábitos de higiene e o uso de lâminas descartáveis reduziram significativamente a transmissão. Historicamente, a Tinea barbae era conhecida como “barber’s itch” (coceira do barbeiro) devido à transmissão frequente por lâminas reutilizadas em barbearias.
A doença afeta quase exclusivamente homens adultos e adolescentes, pois a presença de pelos faciais é uma condição necessária para o desenvolvimento da infecção. Casos em mulheres são extremamente raros e geralmente associados a condições específicas, como hirsutismo. Diversos fatores podem aumentar a predisposição para a Tinea barbae, incluindo:
- Exposição ocupacional: trabalhadores rurais, especialmente aqueles que lidam com animais como gado, cavalos e ovelhas, estão mais suscetíveis à infecção por dermatófitos zoofílicos, como Trichophyton verrucosum e Microsporum canis.
- Contato com animais infectados: proximidade com animais domésticos ou de fazenda portadores de dermatofitose é um dos principais meios de transmissão.
- Imunossupressão: condições que comprometem o sistema imunológico, como diabetes, uso crônico de corticosteroides ou terapias imunossupressoras, aumentam o risco de infecção.
- Traumas cutâneos: pequenas lesões na pele causadas por barbear ou manipulação inadequada facilitam a entrada dos fungos.
- História de outras dermatofitoses: indivíduos com tinea pedis, onicomicose ou tinea capitis têm maior probabilidade de autoinoculação para a região da barba.
Sintomas da Tinea Barbae
A Tinea barbae pode se apresentar em duas formas clínicas principais: inflamatória e não inflamatória, com manifestações que variam de acordo com o tipo de dermatófito envolvido e a resposta imunológica do paciente.
Forma Inflamatória
A forma inflamatória, frequentemente associada a dermatófitos de origem zoofílica como Trichophyton verrucosum e Trichophyton mentagrophytes, caracteriza-se por lesões eritematosas, dolorosas e endurecidas, geralmente acompanhadas por pústulas e drenagem purulenta. Essas lesões podem evoluir para querions, formações nodulares com exsudação e crostas. Uma característica comum é a queda de pelos nas áreas afetadas, que geralmente podem ser removidos sem dor. Em casos mais graves, sintomas sistêmicos, como febre, linfadenopatia regional e mal-estar, podem estar presentes. A localização mais comum é na região do queixo, bochechas e pescoço, enquanto o envolvimento do lábio superior é raro.
Forma Não Inflamatória
Já a forma não inflamatória é mais comum em infecções por dermatófitos antropofílicos, como Trichophyton rubrum e Trichophyton tonsurans. Essa variante é caracterizada por pápulas e placas descamativas, com bordas ativas que podem lembrar tinea corporis ou foliculite bacteriana. Em muitos casos, os folículos apresentam pêlos quebrados ou encravados, e a coceira, embora presente, tende a ser leve. A alopecia localizada pode ocorrer, mas é menos evidente do que na forma inflamatória e frequentemente persiste de forma crônica.
Como é Feito o Diagnóstico da Tinea Barbae
Exame Físico
Clinicamente, a doença pode ser reconhecida pelas características das lesões, que variam entre as formas inflamatória e não inflamatória. Na forma inflamatória, nódulos eritematosos com drenagem purulenta, associados à perda indolor de pelos, são sugestivos. Na forma não inflamatória, as placas descamativas com bordas ativas e pelos quebrados são típicas.
Métodos Laboratoriais
Para confirmar o diagnóstico e identificar o agente causador, algumas técnicas laboratoriais são recomendadas:
- Exame microscópico direto: realizado a partir de raspados da borda ativa da lesão e pelos afetados, usando solução de hidróxido de potássio (KOH) a 10-20%. Esse exame permite a visualização de hifas fúngicas ou artroconídios.
- Cultura fúngica: amostras de pelos e escamas são inoculadas em meios específicos, como ágar Sabouraud, contendo inibidores de bactérias e fungos contaminantes. Embora demore de 1 a 3 semanas para resultados, a cultura possibilita a identificação precisa da espécie do dermatófito.
- Exame sob lâmpada de Wood: útil para identificar infecções causadas por alguns fungos fluorescentes, como Microsporum canis. No entanto, a maioria dos dermatófitos que causam Tinea barbae não apresenta fluorescência.
- Biópsia de pele: reservada para casos atípicos ou resistentes ao tratamento. O tecido é corado com ácido periódico de Schiff (PAS) para evidenciar elementos fúngicos nos folículos pilosos e estruturas adjacentes.
Diagnóstico Diferencial
Devido à semelhança clínica com outras condições, como foliculite bacteriana, pseudofoliculite e lupus vulgaris, é necessário diferenciar a Tinea barbae por meio de métodos laboratoriais e avaliação cuidadosa da apresentação clínica. Infecções bacterianas geralmente apresentam dor mais intensa e febre, enquanto a pseudofoliculite é associada ao uso de lâminas de barbear e tem uma distribuição mais difusa.
Tratamento da Tinea Barbae
O manejo da Tinea barbae baseia-se no uso de antifúngicos sistêmicos, uma vez que a infecção compromete os folículos pilosos, tornando os tratamentos tópicos insuficientes.
Antifúngicos Sistêmicos
- Terbinafina: é o tratamento de primeira linha, administrada em doses de 250 mg/dia por 4 a 6 semanas.
- Itraconazol: pode ser utilizado em esquema contínuo (200 mg/dia por 4 semanas) ou em terapia pulsátil (400 mg/dia por 1 semana, repetida após 3 semanas).
- Fluconazol: embora menos documentado, doses de 150 mg uma vez por semana durante 4 a 6 semanas têm mostrado eficácia em casos leves.
- Griseofulvina: é uma opção menos utilizada atualmente devido à necessidade de tratamento prolongado (8 a 12 semanas) e maior frequência de efeitos colaterais.
Evolução
A evolução da Tinea barbae varia de acordo com a forma clínica e a prontidão do tratamento. Lesões inflamatórias frequentemente apresentam remissão espontânea em alguns meses, mas sem tratamento podem deixar cicatrizes permanentes, como alopecia cicatricial. Já as lesões não inflamatórias tendem a ser mais crônicas e persistentes, com risco de recidiva.
Com o tratamento adequado, a maioria dos casos evolui para resolução completa em 4 a 6 semanas. No entanto, a continuidade da terapia por 2 a 3 semanas após a remissão clínica é recomendada para evitar recaídas.
Complicações
As principais complicações da Tinea barbae incluem alopecia cicatricial nas formas inflamatórias graves, superinfecção bacteriana em lesões com querions e disseminação fúngica para outras áreas, como couro cabeludo e unhas. Além disso, alterações estéticas podem causar impacto psicológico negativo, afetando a autoestima do paciente.
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Referências Bibliográficas
- KURUVELLA, T.; SALEH, H. M. Tinea Barbae – Treatment & Management. 2024. Disponível em: https://www.statpearls.com/point-of-care. Acesso em: 12 jan. 2025.
- SCHWARTZ, R. A. Tinea Barbae. Medscape, 2024. Disponível em: https://emedicine.medscape.com/article/1091252. Acesso em: 12 jan. 2025.